Isolated escrita por Fanfictioner


Capítulo 10
Televisão e outras memórias


Notas iniciais do capítulo

HELOU PESSOAS!
Eu estou simplesmente radiante que vocês estão realmente gostando da fic e acompanhando com tanto empenho e carinho, espero estar atingindo as expectativas!
Esse capítulo está bem longo e será o único da semana, porque começaram as aulas EAD da faculdade e por hora estarei focada nisso, sem muito tempo para escrever. Mas não se preocupem, semana que vem terá atualização normalmente (eu espero!)
Sem mais enrolações, eis aí o capítulo, nos vemos nas notas finais!



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DIA 10 DE 15

Lily acordou primeiro, e bem cedo, na segunda pela manhã, indo, enrolada em uma coberta, para a frente da lareira. Tinha nevado durante toda a noite e o vento gelado parecia se embrenhar por entre as pedras da parede.

Parou para observar a neve se acumulando no gramado dos jardins de Hogwarts, capturando a beleza do momento, enquanto o dia amanhecia num sol tímido, escondido pelo céu nublado. Demorou algum tempo para os elfos trazerem o café da manhã, e então Lily pediu à um deles uma caneca de chá quente, que foi prontamente atendida.

Sentia-se menos doente pela primeira vez em mais de uma semana. Quando pensava em sua dor de garganta há quase quinze dias, fazia parecer que era outra realidade. Talvez porque fosse mesmo. Uma realidade em que Lily não tinha varíola de dragão, em que não precisava de ficar isolada em uma sala do castelo, em que não precisava de ir ao hospital, em que não era amiga de James Potter.

Era irônica a velocidade com que as coisas mudavam.

— Um galeão pelos seus pensamentos!

Lily saltou de susto, fazendo James rir com gosto e, então, sentar-se a seu lado no sofá, encarando o fogo que crepitava.

— Você realmente tem que ter muito dinheiro para dar um galeão pelo que eu esteja pensando. – Lily fez uma careta de deboche, bebendo seu chá, fazendo James rir.  

— Nevou bastante essa noite, eim? – comentou com casualidade, dando um bocejo. Lily quase estava se acostumando à companhia matinal de James ali com ela. – Parece um tapete fofinho lá fora... Almofadinhas deve estar se roendo por não poder sair e se jogar nele com o Rabicho, ou acertar o Aluado com bolas de neve. – sorriu, achando graça das memórias de anos anteriores.

— Qual é a dos apelidos? – a voz de Lily ainda era baixa, mas sensivelmente menos rouca, e sua garganta não doía mais quando falava.

— Longa história... longa demais para ser contada antes de eu devorar esse café da manhã. – ele deu um suspiro logo, encarando o nada, para então bater a mão nas pernas e se levantar, num convite implícito para que Lily juntasse-se a ele. – E principalmente longa demais para ser contada antes de você me dizer no que pensava, ruiva...

Lily riu. James era realmente divertido quando não estava dando em cima dela. Inclusive, esse era um ponto. James não estava mais dando em cima dela, não desde que ela passara a chamá-lo pelo primeiro nome, e parecia que isso tinha mudado um pouco de tudo, dado uma desbalanceada no universo.

A lógica era simples. Pássaros voavam, peixes nadavam, Professor Binns lecionava de história da magia, Olivaras fazia varinhas, e James Potter dava em cima de Lily. Eram leis naturais! Quando alguma dessas coisas parasse de acontecer, todos estranhariam, e o universo teria virado do avesso. Ninguém acharia normal se passasse a ver peixes andando pelo gramado. Assim era com James. Ele não podia simplesmente parar de dar em cima de Lily e supor que nada mudaria na organização do cosmos.

E o pior era que Lily não sabia dizer o que teria sido alterado no cosmos, ou mesmo porque essa ideia a incomodava. Havia mudanças boas, não havia? Por que era incômodo que, de repente, as coisas parecessem diferentes?

— Ah, não era nada em específico. Eu pensava em tudo, sabe? Nessa quarentena, em ter adoecido, em estar aqui, no isolamento, no que aconteceu... – o coração de James acelerou enquanto ele bebericava seu café, ainda muito quente. No que aconteceu? Então Lily sabia o que tinha acontecido!

— No que aconteceu? – curioso, forçou um pouco o assunto, tentando manter-se o mais calmo possível.

— É, em tudo que aconteceu. Essa piora maluca minha, aquela febre insana e, uou, eu alucinei, não alucinei? – James achou que precisaria de um calmante para evitar que seu coração estourasse suas artérias – E ir ao hospital, a internação... tudo sabe?

E então, tão repentina quanto a adrenalina de segundos atrás, veio uma frustração tão forte, que James não conseguiu evitar que seus olhos murchassem, e quando Lily perguntou-lhe o que acontecera, ele disfarçou comentando que tinha pensado em outra coisa para o café da manhã.

— Pode transfigurar a comida, eu acho... não é um dos casos de exceção à Lei de Gamp... – e Lily continuou falando, ao que ele apenas concordou e focou-se em sua omelete com torradas.

Não. Lily não queria falar sobre aquela noite, aparentemente lembrava-se sim do que acontecera, mas estava nítido que ficara arrependida, envergonhada e constrangida por tudo e preferia esquecer o assunto.

Não era justo, era? Porque de alguma maneira James se sentia usado, e até meio idiota por ter nutrido expectativas todos esses dias sobre aquela madrugada. Não era como se Lily fosse voltar do hospital e se jogar nos braços dele, dando-lhe altos amassos. No entanto, não era novidade para ela também o fato de James gostar dela, e tinha sido no mínimo uma atitude muito amoral da parte dela ter deixado que ele criasse todas essas expectativas.

Essa ideia encheu-lhe de uma tristeza que não sabia explicar. Desejava tão intensamente que Lily retribuísse seus sentimentos que chegava a machucar a lembrança daquele beijo que ela solenemente ignorava.

— É... uhm, complicado. – comentou após um tempo quieto. – Muita coisa aconteceu semana passada, faz parecer que estamos aqui há bem mais tempo, não é?

Lily murmurou um sim que mais pareceu um muxoxo.

— As coisas passam de maneiras diferentes, e sentimos elas de forma diferente também, eu suponho. – e a conversa morreu ali, deixando a manhã para começar com um clima esquisito.

Madame Pomfrey apareceu por volta das onze horas, e depois de ministrar uma única poção a James, e todos os inúmeros remédios de Lily, foi embora, avisando que a menina já não tinha mais febre e estava estável, sem precisar se preocupar mais. 

James passou o resto da manhã e boa parte da tarde concentrado demais em seus materiais de estudo, num esforço mais do que tremendo para evitar colocar Lily contra a parede e resolver de vez a história de terem se beijado. Quando James se retirou para tomar um banho quente (a melhor decisão para esfriar a cabeça, como costumava dizer Sirius), o pouco de sol que existira no dia já estava se pondo, e mal eram quatro da tarde.

Lily empenhou-se em ler e tomar notas de seus conteúdos, 200% focada, lendo até mesmo durante o almoço. Sua relação com James estava particularmente estranha naquele dia e, na realidade, Lily se sentia esquisita até consigo mesma, com a cabeça fora do lugar. Perguntou-se se as cartas que mandara aos pais já teriam chegado em sua casa àquela altura, e divertiu-se internamente ao imaginar a reação de Válter, seu cunhado ranzinza e sem pescoço, ao ver uma coruja invadindo a sala, carregando uma carta da cunhada esquisita que ele mal via.

Essas memórias de sua vida fora de Hogwarts, com sua família 100% trouxa eram gostosas, e faziam seu peito doer um pouco em saudade. Enquanto estudava, Lily mergulhou nesses pensamentos e lembranças, ficando totalmente imersa no mundo não bruxo até a hora do jantar.

— Sabe, uma das poucas coisas trouxas que realmente sinto falta é uma TV... – Lily comentou enquanto comiam.

— TV? – a cara de James não poderia ser mais confusa.

— Sim, sim... tínhamos uma televisão em casa, você não?

— Eu não faço ideia do que seja uma tevelisão, ruiva. – James arqueou as sobrancelhas, gesticulando com seu garfo e fazendo Lily rir.

— Televisão! – corrigiu. – É um aparelho... uhm, uma espécie de rádio... mas com imagens, como uma das fotografias que se mexem no Profeta Diário sabe? Uhm... é complicado explicar se você nunca viu uma... – levantou-se e, indo até sua escrivaninha, rasgou um pedaço de pergaminho e pegou um lápis. – Veja, é mais ou menos nesse formato.

Riscou algo que, com muito otimismo, poderia ser considerada uma TV, se fosse usado um pouco de imaginação e se desconsiderasse-se o péssimo traço de desenho de Lily.

— E serve para...? – James ainda estava confuso, embora conseguisse imaginar um pouco como seria esse tal aparelho.

— Notícias! Jornais, matérias... mas para novelas e séries também. Que são como histórias de livros, mas gravadas em vários capítulos, com pessoas reais atuando nos papéis dos personagens. E todo domingo podemos nos sentar no sofá, ligar a televisão, como um rádio, e ver um capítulo novo. É divertido! – Lily parecia muito empolgada e empenhada em explicar tudo, mas James não estava lá muito convencido de que aquela televisão era divertida.

Parecia meio estúpido imaginar-se assistindo pessoas interpretarem papéis sendo filmada, quando poderiam simplesmente atuar ao vivo, numa peça. Quem preferiria ver as coisas gravadas e não ao vivo? Essa certamente era uma tecnologia que nunca viraria moda no mundo bruxo!

E aliás, como será que essas imagens iam parar dentro da tal caixa que era a televisão? Será que usavam algo como um feitiço de permanência, para deixar a gravação dentro da caixa? Ou a câmera da gravação era duplicada e colocada dentro de cada TV? Eram confusos esses aparelhos trouxas!

— E você sente falta disso? Parece meio monótono só ficar sentado vendo, não acha?

— Pelo contrário! Sinto muita falta! – tinham acabado de comer e Lily sentara-se no sofá, aproveitando o calor da lareira. James se recostou no tapete, prestando atenção na menina. – Na casa dos meus pais tínhamos esse hábito... bom, temos ainda. Meus pais ainda fazem a mesma coisa todos os dias, eu presumo, porque quando estou lá é sempre assim... mas jantávamos cedo, umas seis e meia, e então minha mãe servia a sobremesa.

Lily narrava como alguém que realmente sentia falta daquela convivência e James se questionava se ela se arrependia de ter vindo para Hogwarts.

“Túnia e eu geralmente brigávamos pelo maior pedaço de torta ou o que fosse. Mas éramos muito amigas, antes da carta para Hogwarts, e de Sev... Snape. Enfim.” Sacudiu um pouco a cabeça, como se com isso pudesse afastar as lembranças. “Então íamos todos para a sala, meu pai ligava a televisão no jornal que geralmente passava as sete, minha mãe ficava no canto do sofá bordando, ou costurando, ou lendo, e eu e minha irmã brincávamos em silêncio. Às vezes eu trançava o cabelo dela, e prendia um laço.”

Lily se interrompeu, como se a história tivesse acabado, e ficou encarando as chamas da lareira crepitando, embora James soubesse que provavelmente havia mais história que ela gostaria de compartilhar. Depois de um tempo observando-a, James notou que os olhos de Lily estavam marejados, e se perguntou se ela se emocionara com a memória de quando era amiga da irmã.

“Ainda é assim, sabe? Essa coisa da programação em família, de fazermos algo juntos, quando eu estou lá, em frente a TV. É um dos poucos momentos que Petúnia não fala que sou esquisita ou essas coisas... Sei que é bobo, e monótono, e ultimamente os jornais só falam desses acidentes e mortes esquisitas. Que eu sei que não são acidentais! Você sabe! Você-sabe-quem está fazendo isso tudo, matando todos esses trouxas e nascidos trouxas, e eu estou assustada!” De repente a voz dela foi ficando mais aguda e exagerada, como se já estivesse impossível sustentar a iminente explosão emocional.

“Eu sinto falta deles, James, eu sinto tanta falta dos meus pais! Sinto falta de ser amiga de Túnia, de quando ela não me odiava, de quando ela não era noiva daquela morsa do Válter! Sinto falta dessas novelas bobas de domingo, que eram a coisa mais relevante que eu tinha na vida! A história nem era boa, mas eu só queria que tudo fosse como antes!” E então Lily rompeu em lágrimas, de um jeito que fez o coração de James quebrar em muitos pedaços, tomado por um sentimento de pena misturado com raiva por todos que faziam Lily sofrer daquele modo.

— Ah, ruiva! – levantou-se do tapete, sentando-se ao lado de Lily e pegando em sua mão para confortá-la. – É uma merda que tudo esteja como está, e Você-sabe-quem é um eugenista maluco, mas isso vai passar. Ele vai ser pego e apodrecer em Azkaban, eu garanto! E sua irmã quem perde por não ter você, ela vai se arrepender de tratar você mal, Lily, certeza! Ela não odeia você, e está tudo bem você sentir falta dela...

Lily não pode evitar a comparação da reação de James à Petúnia com a de Snape, anos atrás. Não havia maldade no tom de James, ele realmente queria consolá-la, e não fazê-la ignorar a irmã colocando Hogwarts como a única coisa que importava. Talvez a convivência com Sirius fizesse de James uma pessoa que entendesse o que era o amor de irmãos, coisa que Snape não era capaz.

— Ela pode ter inveja de não ser inteligente, ou bonita ou bruxa como você, mas acredite, ela não odeia você! – James a puxou para um abraço, ao qual Lily prontamente se entregou, chorando mais do que gostaria. – Sabe, aquele dia que você foi para St. Mungus eu quis esganar Madame Pomfrey por ter sido tão racista com você! Como ela teve coragem de falar que você ficou mais doente porque seu sangue não era puro para ter anticorpos! E ela só largou você no hospital, meu Merlin!

James se calou, meio arrependido do que dissera, achando que só piorara tudo, e esperando que Lily se acalmasse. Depois de um tempo fungando, Lily enxugou os olhos e voltou a falar, com o rosto vermelho e inchado.

— E... ela não me... me de... deixou só. – soluçou. James estendeu sua garrafa de água para ela e, foi só então, Lily se acalmou. – Ela ficou comigo todos os dias, James. Não saiu do meu lado a todo momento que pode. Ela pode ter se expressado errado aquele dia, eu mesma me senti muito mal, mas ela não teve a intenção! Eu passei muita coisa lá, em St. Mungus, e Madame Pomfrey não me deixou sozinha um único dia. Ela disse que estava envergonhada pelas palavras, mas que não sabia outro jeito de dizer o que disse, e que não foi por mal...

A ideia de que Madame Pomfrey tivesse sido tão acolhedora e cuidadosa com Lily fez James se sentir menos rancoroso das palavras da enfermeira, embora também o tenha deixado constrangido pelo julgamento excessivo e agressivo. Era claro que Dumbledor não deixaria uma eugenista, aspirante a comensal da morte, trabalhar em Hogwarts.

Embora curioso e interessado em tudo que acontecera no hospital, James não gostaria de ser invasivo e grosseiro pedindo que Lily falasse sobre. Tinha uma vaga ideia, pois Madame Pomfrey o contara que a menina tinha sido sedada, mas, no mais, eram apenas suas especulações do que ocorrera. No entanto, para alívio de sua curiosidade, Lily continuou falando.

— Quando eu cheguei, fizeram tantos exames, tantos! Fiquei isolada num quarto no segundo andar, tiraram sangue para uns testes e depois me deixaram lá por algum tempo, e Madame Pomfrey ficou junto. Eu estava tossindo muito, e minha garganta e meu nariz ardiam muito! Fiquei com medo de ter os episódios de fumaça que ela falou. Perto da hora do almoço eu comecei a ter febre de novo, muita febre, e a esverdear também e entrei em pânico, porque foi aterrorizante, sabe? – Lily parecia realmente transtornada em lembrar. – Achei que fosse ficar assim para sempre!  Alguns curandeiros vieram e falaram algo sobre os exames, mas eu não entendi nada, estava muito assustada.

Os olhos de Lily estavam úmidos e arregalados, e James não tinha soltado a mão dela ainda. Ficou fazendo um carinho entre os dedos e dorso da mão, se contentando que Lily ainda não havia gritado com ele ou se afastado. Era bom e, ao mesmo tempo, doía bastante aquela situação. Queria colocar Lily em seu colo e protegê-la de tudo e, no entanto, não era nada além de um amigo que ela queria evitar conversar sobre tê-lo beijado.

“Aí Madame Pomfrey falou sobre como os exames tinham mostrado o efeito das poções em mim... que tinham machucado meu estômago, tipo uma gastrite, sei lá. E o curandeiro olhou minha garganta também, disse que não tinha alternativa senão me sedar, porque as poções já tinham lacerado muitas mucosas e a febre estava só piorando tudo. Eu só ficava cada segundo mais assustada, e queria minha mãe, meu pai, qualquer pessoa!” – Ela precisou beber um pouco mais de água e limpar as lágrimas silenciosas antes de continuar.

— Não precisa... não precisa contar tudo agora, Lily. Deve ser muito ruim relembrar tudo, e sua garganta ainda está bem ferida...

— Eu quero falar, James. Se puder me ouvir... quero conversar com alguém sobre como foi lá. Foi muito sozinho, apesar de Madame Pomfrey. Eu me sentia apavorada e só o tempo todo que estava acordada. – o olhar dela era simplesmente o mais triste que James já vira, até mais do que no dia da briga com Snape.

— Tudo bem, sou todo ouvidos para você, ruiva. – sorriu, entrelaçando sua mão na dela. Lily observou o gesto e, por um momento, não disse nada.

— Bem... acho que me sedar foi a parte mais fácil. Eles colocaram um acesso na minha veia com as poções e antígenos e tudo mais de que eu precisava, e então me deram um líquido para beber. Tipo uma poção do morto-vivo, mas me explicaram antes que era completamente reversível, e eu até mesmo poderia acordar sozinha quando o efeito passasse. Não sei se fiquei mais calma ou nervosa. – o riso dela foi completamente sem humor. – Madame Pomfrey segurou minha mão, e eu não me lembro de muito mais, porque tudo foi ficando embaçado, escuro e os sons foram abafando, suponho que era minha consciência indo embora.

James soltou o ar pelo nariz numa espécie de risinho pelo humor ácido de Lily. Encarou-a enquanto fazia mais um carinho no dorso da mão, e viu Lily corar, desviando o olhar e puxando a mão de leve, sem, no entanto, tirá-la da mão dele.

— Você se lembra de algo mais? – ele perguntou, genuinamente curioso, e na intenção de quebrar o gelo.

— Algumas vozes... – Lily pareceu pensar. – Mas eram bem ao longe, fracas e eu não conseguia entender. Às vezes tinha a impressão de sentir luz nos olhos, tipo quando o sol pega no seu rosto enquanto dorme, mas quando eu tentava abrir os olhos era pesado demais...

James meneou a cabeça em concordância. Sabia a sensação depois de anos acordando horas depois do jogo de quadribol acabar, na enfermaria, por ter levado um balaço em alguma parte vital do corpo.

— Bom, de qualquer maneira, me acordaram na sexta-feira de tarde, quase noite, não que eu soubesse dia ou hora... fizeram uns testes, aplicaram algo como uma vacina e um tempo depois perguntaram se eu queria canja. Comi muito pouco na verdade, e tive ânsia de vomitar, mas disseram que era normal, e que estavam felizes que eu estava reagindo bem, melhor do que o espera, disseram. Fiquei acordada por quase duas horas, eu acho, e depois apaguei de novo. Acho que foi quando Madame Pomfrey voltou aqui, porque eu a encontrei lá novamente quando acordei no outro dia. – deu de ombros, como se avaliando algo.

— Ela veio todos os dias... por isso achei que ela tinha deixado você só. Ela continuou me vendo todos os dias. Alguns dias mais cedo, outros mais tarde. Mas então, ao que parece, ela realmente ficou lá e cuidou de você, Lily. -  ele sorriu, encarando a mão dela que ainda segurava

— E de cuidou de você também! – ela sacudiu a mão dele e acrescentou, sorrindo – Ela é uma boa pessoa, James, e se esforçou muito esses últimos dias.

— Sim, ela é. – parecia perdido, olhando para o tapete.

— Bem, e por fim eles me deram algo que adormeceu minha garganta, eu não conseguia falar, e mal bebia água. Por isso dormi mais uma noite no hospital e só voltei ontem. Disseram que dali era só melhorar porque tinham estabilizado meu organismo, e me dado uns anticorpos ou coisa do tipo... percebi que vou precisar estudar muito para ser medibruxa! E já chega por hoje ou amanhã eu estarei sem voz! – Lily riu por fim, dando um tapinha na perna de James.

Ele retribuiu o risinho, um pouco pensativo. Por um tempo houve silêncio, e então Lily tornou a se recostar contra ele, numa espécie de aconchego. Naquele ponto, James não questionou nada, gostava demais de Lily, aliás, amava demais Lily para não cuidar dela depois de um momento tão frágil, tão longe de casa, da família e de todos que a acolheriam e apoiariam. Ela só tinha a ele naquele momento, e James faria questão de ser suficiente.

Passou um dos braços em torno dela, e puxou Lily para perto, deixando que descansasse ali. Ela ainda chorou mais um pouco, pois James pode ouvir os suspiros e soluços abafados, e seu moletom ficou úmido. Acarinhou os cabelos ruivos dela, assobiando uma música que nem lembrava mais aonde ouvira... talvez Sirius tivesse cantado primeiro, não lembrava.

— Obrigada, James. Por me ouvir, por cuidar de mim. Obrigada por... – ela murmurou tudo tão baixinho, algum tempo depois, que houve partes que James nem ouviu. O nó na garganta dele era tal que não conseguiu responder, sentindo que doía muito amá-la daquele jeito e nunca poder sentir os lábios dela nos seus.

Não novamente.


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Notas finais do capítulo

Complicado eim? Muita coisa para absorver...
E aí, dá para entender a Madame Pomfrey ou ela será definitivamente cancelada? E Lily, tá usando o James sabendo dos sentimentos dele ou só está fragilizada? O que acham?

Espero vocês nos comentários!