Para sempre e mais um dia escrita por Isolt Sayre


Capítulo 5
The summit of my desires


Notas iniciais do capítulo

Hey there!

Cá estou eu, às 2h da manhã, postando capítulo novo. Sei que estou um pouco atrasada, tinha me planejado postar um cap por semana. Masss, eu tive mais dificuldade em escrever esse. Foi um tal de escrever e e reescrever tão grande, tive um bloqueio criativo que achei que não fosse conseguir terminar. Os comentários ajudaram muuuito. Obrigada de verdade a todos vocês! Estou ficando bem feliz mesmo.

Não deixem de ler as notas finais!

Boa leitura! Beijo



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Não era simples conseguir uma carruagem com tanta prontidão, na maioria das vezes era necessário um agendamento prévio. Para a sorte de Gilbert — ou realmente o destino estava conspirando a seu favor —, um garoto alojado no mesmo dormitório que ele também estava a caminho da estação de trem. Não precisou insistir muito para poder acompanhá-lo, uma vez que prometera dividir o valor da carruagem.  

O percurso até a Union Station de Toronto levou vinte longos minutos, nos quais Gilbert manteve-se inquieto, espiando o relógio de momento em momento. O outro garoto na carruagem — que Gilbert descobrira ter o nome de Arnold —, tentou iniciar um assunto aleatório sobre política e condições climáticas, mas Gilbert estava tão ansioso que mal prestou atenção. 

 Antes mesmo da carruagem parar por completo, Gilbert estendeu uma nota ao cocheiro, despediu-se rapidamente de Arnold e pulou para a calçada, disparando logo em seguida para dentro da estação. Desviando de viajantes e recebendo várias cotoveladas desagradáveis , ele conseguiu chegar até o guichê de passagens. Ofegante e ligeiramente atordoado, Gilbert solicitou um bilhete para o próximo trem para Charlottetown, na Ilha do Príncipe Edward. 

— Receio que o trem pelo qual deseja tenha acabado de partir, senhor — revelou o atendente. 

Gilbert consultou o relógio inutilmente, como se aquilo fosse realmente modificar a informação que acabara de receber. 

— Quando sairá o próximo? — perguntou com ansiedade. 

— Apenas amanhã, senhor. 

Gilbert suspirou, completamente frustrado. Reprimiu a vontade de gritar com o atendente sobre quão injusta era sua sorte, mas não havia justificativa para ser rude daquela forma. Talvez o destino não estivesse totalmente ao seu favor, afinal. Considerando que há poucos minutos não havia sequer possibilidade dele embarcar em um trem, parecia um pouco patético sentir-se desapontado daquela forma. O problema é que sua mente já havia sido totalmente iludida pela possibilidade de encontrar Anne. Precisava existir outra maneira. 

— Ainda vai comprar a passagem, senhor? — perguntou o atendente, impaciente.  

Gilbert não percebera que ainda estava parado diante do guichê. 

— Perdão. Será que poderia me informar qual é a primeira estação depois de Toronto? 

O homem bufou, impaciente. 

— Guildwood. 

— O quão longe é daqui? 

— Cerca de 20 milhas. Deseja comprar o bilhete? — perguntou o atendente mais uma vez, o tom de voz já bem irritado naquele ponto. 

— Não, senhor. Obrigada.  

Gilbert se afastou. Precisava pensar em uma maneira de chegar a Guildwood antes do trem, e rápido. Se o atendente estivesse certo e a cidade estivesse realmente há vinte milhas de distância de Toronto, significava que o trem provavelmente demoraria quase uma hora para fazer o percurso. O que ele poderia usar? A opção mais acessível seria uma carruagem, embora duvidasse muito que fosse conseguir alguém que o levasse até Guildwood de forma tão súbita. Um cavalo seria a escolha mais rápida, sem sombra de dúvida, mas parecia uma ideia tão improvável quanto a carruagem. O tempo estava passando e o rapaz precisava admitir, suas opções eram escassas e igualmente impossíveis naquele cenário. Mas ele não queria dar-se por vencido. Não ainda.  

Saindo da estação, Gilbert deparou-se mais uma vez com a avenida encardida da Union Station. Carruagens requintadas cruzavam o caminho de um lado ao outro, homens de terno e chapéu andavam apressadas e conversas em diversas línguas se misturavam no ar. Os lojistas já abriam suas portas e feirantes montavam suas bancas. Gilbert parecia um mero espectador estatelado ali na calçada. Em outra ocasião, ele estaria admirando o movimento e gravando as imagens na mente, mas naquele momento seus pensamentos focavam-se unicamente em achar uma maneira de chegar a Guildwood.  

Como uma prece atendida, Gilbert avistou sua esperança do outro lado da rua, sobre uma bicicleta motorizada e reluzente. Nunca a figura impassível e elegante de Elizabeth Bagshaw havia deixado-o tão feliz quanto agora. Talvez fosse mais simples implorar para que alguém lhe emprestasse um cavalo ao ter que pedir um favor a Elizabeth, mas situações drásticas exigem medidas desesperadas. E ele estava, de fato, desesperado para ver Anne Shirley-Cuthbert. 

Antes que perdesse a moça de vista, Gilbert atravessou a rua correndo, ignorando os gritos raivosos atrás de si. Ele não tinha tempo a perder. Correu mais rápido pela calçada, desviando de um bueiro e um imponente Pastor de Shetland, até que alcançou Elizabeth no final do quarteirão.  

— Lizzie! — gritou ele, antes que a moça atravessasse a rua. 

Elizabeth franziu as sobrancelhas ao encontrar o olhar do garoto, agora postado bem ao lado dela.  

— Gilbert? O que faz por aqui em pleno sábado de manhã? — perguntou ela, confusa 

Gilbert ofegou. 

— Preciso de sua bicicleta. — declarou ele. 

Elizabeth arqueou uma sobrancelha. 

— E por qual motivo?  

— Não tenho tempo de explicar. — disse, ansioso. 

Ela o encarou, cínica. 

— E você tinha expectativa que eu emprestaria minha bicicleta sem ao menos ter uma explicação? Bom dia para você também, a propósito.  

Gilbert precisava admitir, não tinha começado aquela conversa da melhor forma. Rapidamente, quase cuspindo as palavras, ele contou a Elizabeth os acontecimentos dos últimos minutos. Ao terminar, esperou que ela dissesse algo como “sim” ou “não”, mas é claro que isso não aconteceu. Gilbert começou a perder as esperanças com o olhar impassível de Elizabeth. Talvez não tivesse sido uma ideia muito inteligente, afinal. 

— Gilbert. —  começou Elizabeth, calmamente. —  Você quer que eu te empreste minha bicicleta para que possa chegar em Guildwood a tempo de embarcar em um trem para a Ilha do Príncipe Edward? — repetiu ela usando um tom que fez parecer o plano de Gilbert bastante idiota. Ele se irritou. Conseguia entender quando Duncan dizia que a amiga era uma irritante sabe tudo e estraga prazeres.  

— Elizabeth, isso é realmente importante. — insistiu Gilbert. 

— Importante seria você estudar para os exames da próxima semana. 

Ele não podia acreditar que estava perdendo tempo naquela conversa. 

— Estou estudando desde que as aulas começaram. Por Deus, Elizabeth, eu só quero passar um dia na minha cidade natal. 

— Mas está incluindo minha bicicleta nessa maluquice toda. 

— Sua bicicleta ficará bem! 

— Oh, deixe o menino ir! — a voz rouca de uma feirante obrigou os dois a olharem para trás. Uma senhora bem idosa os observava, aparentemente ouvia toda a conversa desde o princípio. — Deixe o rapaz encontrar a tal moça. Quem sabe se você fosse mais agradável, algum rapaz viria a sua procura também. 

Gilbert fechou os olhos por alguns segundos. Aquela senhora definitivamente não conhecia Elizabeth Bagshaw ou não teria feito aquele comentário. Duncan era mestre em provocá-la e a moça sempre devolvia com respostas curtas e ríspidas. Tudo que Gilbert menos queria naquele momento era ter que apartar uma discussão entre uma jovem impetuosa e uma velha bastante insolente — aparentemente. Gilbert até poderia concordar com a senhora em um certo grau, mas naquele momento ele jamais contradiria Elizabeth. Se a moça afirmasse sobre a Terra ser plana, ele concordaria apenas para agradá-la.  

Gilbert pôde vê-la tremendo de raiva por dentro, provavelmente remoendo aquele comentário mentalmente. Mas de uma forma incrivelmente equilibrada, ela virou-se para a feirante. 

— Esse rapaz é imprudente se a senhora deseja saber. — e virando-se para Gilbert, completou. — São vinte milhas perigosas para ir pedalando, sabia disso? 

Não, Gilbert não sabia. 

— Prometo ter cuidado. Não vou me machucar. 

— Não estou preocupada com você. Estou preocupada com a bicicleta.  

Claro que se tratava da bicicleta. Gilbert aguardou pelo veredito final e podia ver, de soslaio, que a senhora feirante fazia o mesmo. Sentia-se até bastante grato pelo comentário dela, pareceu ter pressionado Elizabeth de uma certa maneira. Ela ponderou por um tempo, variando o olhar entre Gilbert e a bicicleta, visivelmente dividida. 

— Pare de me olhar desse jeito — censurou Elizabeth um tanto ríspida — Está parecendo um maluco.  

Gilbert rolou os olhos e desviou sua atenção da amiga. Sua expectativa exagerada não devia estar ajudando muito na decisão da moça. E finalmente, Elizabeth bufou e desmontou da bicicleta. 

— Se algo acontecer com minha bicicleta, Blythe... — intimidou Elizabeth. 

— Você vai me matar. — completou Gilbert. — Eu já sei. 

— E o Duncan, por ter incentivado você a fazer isso. 

Relutante, Elizabeth entregou a bicicleta a Gilbert.  

— Obrigada, Srta. Bagshaw. Sabe o quanto é magnificente, não sabe?  

— Eu bem sei.  

Gilbert riu, ignorando totalmente o humor da amiga. Inesperadamente, ele se inclinou e beijou-lhe a face. Elizabeth permaneceu indiferente ao gesto, com certeza sabia que Gilbert havia feito aquilo apenas para irritá-la.  

 — Viu só? Não é tão difícil ser legal com os amigos. — provocou Gilbert, impressionado por sua audácia, provavelmente fruto de sua convivência diária com Duncan. 

— Cale a boca, Blythe. Suma da minha frente antes que eu mude de ideia. 

Gilbert sorriu novamente e virou-se para a senhora feirante. Ela ainda assistia a cena, aparentemente bem entretida com a situação. 

— Obrigada a você também, Madame. — falou Gilbert educadamente, acenando com o chapéu. 

— O amor sempre vence, garoto. Boa sorte. 

Gilbert subiu na bicicleta e bastante desajeitado, começou a pedalar pela rua. Não olhou para atrás, sabia que se o fizesse poderia se acidentar gravemente. Ele definitivamente precisaria de sorte. 

Não mencionou a Elizabeth que nunca tinha andado de bicicleta em sua vida. 

*** 

Anne apreciava os finais de semana em Avonlea assim como apreciava o as cores do mês de outubro. Não voltava para casa na frequência que gostaria, mas era suficiente para diminuir a saudade que tanto tinha de sua antiga vida. Estar em Green Gables, perto das pessoas que mais amava no mundo, parecia recarregar suas energias e dar-lhe forças para mais algumas semanas maçantes no Quenn’s.  

A viagem de Charlottetown para Avonlea era curta — não durava mais que algumas horas — e Anne gostava de desfrutá-la apreciando a paisagem da Ilha. Na grande maioria das vezes, Diana estava sempre junto dela e aquele dia não era diferente. As outras meninas já haviam ido no dia anterior, de forma que apenas as duas embarcaram na manhã de sábado. 

Haveria muito a se fazer ao chegar em Green Gables. As garotas prometeram a Srta. Stacy que ajudariam organizar sua festa de aniversário. Anne intrigava-se com o fato de que sua antiga professora parecia alguns tons mais entusiasmada que o normal para a ocasião. Não era do feitio de Muriel Stacy amar festas de aniversário, na verdade, Anne notava que depois de uma certa idade as pessoas não se empolgavam muito em ficar mais velhas. Desde que recebera a carta convidando-a para a festa, Anne perguntava-se se poderia existir algo mais do que apenas um aniversário. Havia bastante espaço para imaginação naquele pequeno mistério. 

— Sabe o que eu acho? — começou Anne, o olhar direcionado para a vidraça, mas a mente viajando para bem longe dali.  

Diana, desde o início da viagem, mantinha sua atenção em um livro, de modo que não tirou os olhos da páginas quando ouviu a voz de Anne. 

— Hmmm?  

— Acho que a Srta. Stacy está aprontando alguma coisa. — declarou Anne convicta. 

Demorou alguns segundos até Diana erguer os olhos do livro e arquear as sobrancelhas para amiga 

— Claro que está. É o aniversário dela.  

— Bom, nós a conhecemos há alguns anos e eu nem sequer sabia a data de seu aniversário até poucas semanas atrás. E então, de repente, ela convidou quase Avonlea inteira para a festa. Não acha isso um tanto quanto curioso?  

Diana pareceu refletir sobre o que a amiga dizia. 

— Não é todo dia que se faz 35 anos, certo? 

— Concordo que seja uma magnífica razão para se comemorar. Mas tenho sensação que exista algo mais. 

Parecendo estar ligeiramente  mais interessada no que Anne dizia, Diana esticou o pescoço na direção da amiga e estreitou os olhos, a covinha se revelando na bochecha 

— Convença-me Srta. Cuthbert. — pediu Diana, o tom de voz quase soando como um desafio. Ela bem sabia que dar corda para as teorias de Anne era um caminho sem volta, mas também não negava que se divertia e apreciava suas especulações.  

— Talvez ela anuncie seu noivado. — sugeriu Anne com tanta naturalidade que o queixo de Diana caiu. A covinha sendo substituída por uma expressão evidente de surpresa. 

— Anne Shirley-Cuthbert, sobre o que você está falando? 

Anne riu da reação da amiga. 

— Consegue imaginar a cara da Sra. Lynde se a Srta. Stacy anunciasse um noivado com outro homem que não fosse o filho dela? 

O entendimento voltou ao rosto de Diana. Ela já deveria esperar que fosse apenas a imaginação da amiga e não um fato. Srta. Stacy casando-se novamente?  Oh, com certeza soava mais como um conto do que com uma verdade. 

— Sabe, você quase conseguiu me enganar — admitiu Diana ligeiramente desapontada. — Por um segundo pensei que realmente teríamos um casamento. 

— Seria adorável, de fato. Mas acredito que a Srta. Stacy não esteja mais interessada em uma vida com outro homem, uma vez que ela ame irrevogavelmente seu falecido marido. 

— Bom, talvez seu coração ainda tenha espaço para outra pessoa. 

— Talvez — concordou Anne, pensativa. — Mas acho que a Srta. Stacy escolheu a si mesma. Ela com certeza é uma noiva da aventura. 

Diana sorriu sugestivamente para Anne. 

— E você?  

Anne sabia exatamente onde a amiga queria chegar. Ela fez o melhor que pôde para  reprimir aquele familiar sorriso que a acompanhava todas as vezes que aquele tipo de assunto surgia. Sabia que não estava fazendo um bom trabalho e que devia estar com o mesmo brilho nos olhos o qual a tia Jo e Cole haviam se referido. Diana a observava com atenção e soltou uma risada, Anne corou. 

— Nada mudou. — falou ela com firmeza, tentando ignorar a provocação da amiga. — Você sabe disso. 

Diana arqueou uma sobrancelha, cética. 

— Nada? Não minta para mim. Se Gilbert pedisse sua mão amanhã, você negaria e diria que já é "noiva da aventura”?  

— Primeiro, Gilbert não pedirá minha mão até ele se formar... 

— Você não sabe disso... 

— Segundo — interrompeu Anne, subindo o tom e fazendo Diana rolar os olhos. — Eu jamais disse que negaria. Amo Gilbert Blythe com todo meu coração e de alguma forma, sinto que ele me... — Anne parou no meio da frase, os olhos vagando para o infinito em busca de uma palavra perfeita. Diana a encarava com expectativa. — Transborda. — ela completou simplesmente, o sorriso estampado no rosto sardento. — Mas as aventuras e sonhos que me fazem acordar pela manhã continuam vivos como nunca. Gilbert sabe disso e tenho certeza que também sabe que em meu coração existe espaço o suficiente para amá-lo e viver a vida como planejei.  

Diana ouvia Anne com atenção, ponderando cada palavra com cuidado. Sabia que seu destino teria um rumo bem diferente e que o amor não seria pré-requisito para seu casamento. Dentre os privilégios que as pessoas de sua classe carregavam, ter um romance sem precedentes não estava na lista. Aquele era um direito que não lhe pertencia. As palavras de Anne vieram como um doloroso lembrete de que não era tão fácil assim ser Diana Barry, embora todos pensassem o contrário. 

A figura atraente de Jerry Baynard invadiu a mente da moça. Nas últimas semanas, os pensamentos sobre o rapaz haviam se tornado mais frequentes, como se quisessem lembrá-la que talvez tivesse cometido um grande erro. Nunca um “e se” a incomodara tanto.  

— Diana, está tudo bem? 

A garota despertou para a realidade ao sentir o aperto caloroso de Anne em sua mão. Piscou demoradamente e encontrou os olhos grandes e preocupados da amiga. 

— Sim — mentiu ela. — Estou apenas pensando no vestido que minha mãe escreveu ter comprado para mim. Temo que seja extravagante demais para ser usado hoje a noite. 

Anne permaneceu medindo-a, pouco convicta com aquelas palavras.  

— E você deveria falar com Gilbert — completou Diana rapidamente, tentando disfarçar o quanto sua voz tinha ficado abafada. — Isso que acabou de me dizer. Tenho certeza que ele iria gostar de ouvir. 

E conhecendo cada tracinho da personalidade de Diana, Anne entendeu que o assunto deveria ser encerrado ali. Ela sabia que algo não estava certo, como também sabia exatamente os momentos em que o silêncio era, na verdade, um ato de apoio e cumplicidade.  

Anne também tinha certeza que sua melhor amiga não havia superado Jerry Baynard. Afinal, quantos romances trágicos caberiam na Ilha do Príncipe Edward? 

***

*** 

Gilbert não pensou que pedir a bicicleta para Elizabeth fosse ser a parte fácil do seu dia. Em sua ingenuidade, controlar uma bicicleta seria tão simples quanto guiar uma carroça. Como estava errado. No momento em que seus pés se encaixaram nos pedais, ele percebeu que sua ideia era longe de ser considerada genial. Ele tinha uma postura bastante equilibrada pelos anos andando a cavalo, mas ainda assim, o percurso até Guildwood foi longo, exaustivo e em algumas porções, perigoso. Por sorte, a linha do trem era facilmente vista da estrada, permitindo que Gilbert fosse guiado por ela até a estação.  

Ele tinha a sensação que o ar seco e frio cortavam sua traqueia sem piedade, e o fato estar fazendo um grande esforço físico não ajudava em nada naquele processo. Gilbert gostava bastante do mês de outubro, mas ele precisava admitir que não era uma época do ano favorável para subir morros de bicicleta.  

Se alguém perguntasse como era a entrada da cidade de Guildwood, Gilbert com certeza não saberia como responder. Ele viu seu trem adentrar a estação e parar e naquele instante, o garoto começou a suar frio. Pedalou com mais força e freando bruscamente a bicicleta com os pés, ele desmontou e adentrou a estação logo em seguida. Por sorte, o lugar não estava nem de longe tumultuado como a Union State de Toronto. Empurrando a bicicleta de Elizabeth ao lado de si, o garoto comprou sua passagem e ofegante, chegou a plataforma indicada.  

Sua surpresa não podia ser maior. 

O trem estava quebrado e portanto, atrasado. Gilbert bufou e passou a mão pelo rosto, inconformado com o fato do seu dia estar oscilando mais do que as chuvas no verão. 

Ainda não sabia se a sorte estava ou não a seu favor.  

*** 

Fazia alguns minutos que Anne tentava —  sem muito empenho — se concentrar naquela conversa. Havia começado por algum  assunto relacionado ao Quenn’s e flutuado até as cores dos vestidos que seriam usados na Island Fair. Honestamente, o dia tinha sido tão longo e cansativo, que Anne preferia estar a caminho de sua cama ao ter que participar daquela conversa. Tentava parecer interessada nas coisas que as meninas diziam, mas sabia que não devia estar tão convincente. Ela era péssima em fingir sentimentos. Precisou que Ruby chamasse sua atenção três vezes para que respondesse a uma pergunta. 

A saudade chegara sem avisar, quase como se escancarasse uma porta. A ausência de Gilbert era notável e um pedaço daquela festa estava definitivamente faltando. Por alguns segundos, imaginou Gilbert conversando com os garotos do outro lado da sala. Imaginou ele observando-a eventualmente, da mesma maneira que fez durante anos. Imaginou seus olhares se encontrando e se perdendo, como se fossem os únicos ali. Por Deus, como era difícil não poder vê-lo. 

— Podem me dar licença? — pediu Anne para as cinco meninas. — Preciso de um pouco de ar. 

— Quer que eu a acompanhe? — perguntou Diana, gentilmente. 

Anne sorriu. 

— Não precisa. Não vou demorar. 

Discretamente, ela caminhou até a porta da frente da casa da Srta. Stacy e saiu para a noite. O vento lembrou-lhe que não vestia casaco, mas ela resolveu ignorar, uma vez que o frio era bem menor que sua vontade entrar novamente. Sentou nos degraus de entrada e se encolheu,  abraçando os braços junto ao corpo e escondendo as mãos dentro das mangas do vestido. Não pensou que Gilbert fosse fazer tanta falta na festa e ela refletiu se sempre seria assim. Precisava se acostumar com a saudade, conviveria com ela por vários anos ainda. Perguntou-se se num futuro bem distante, haveria algo capaz de diminuir a distância entre as pessoas. “O quão maravilhoso isso não seria”, pensou ela. 

Ela respirou profundamente e fez uma careta ao sentir o ar frio encontrando seus pulmões. O lado ruim dos meses de outubro era definitivamente a despedida dos dias quentes. Ela apreciava o  frio e a neve, mas também não  negava que a vida ficava bem mais complicada nessa época do ano. Desde as questões de vestimenta até o transporte e cuidado com os animais, tudo mudava. E as pessoas precisavam se adaptar, precisavam ser resilientes. 

— Resiliência. — pronunciou ela de forma clara. — Que bela palavra. 

E estava ali uma palavra que precisava defini-la dali em diante. Anne sabia que deveria ser flexível e ter pensamentos otimistas. As mudanças eram parte do processo de amadurecimento e ninguém disse que seria totalmente indolor. Ela tinha fé que, ao final, tudo valeria a pena. Tinha fé que os estudos no Quenn’s dariam bons frutos e que talvez, num futuro, ela pudesse compartilhar todos os dias com Gilbert e com as outras pessoas que amava. E com os pensamentos otimistas, ela olhou para o céu pontuado por estrelas. Só conseguia pensar que o universo era  lindo e surpreendente, igualzinho a sua vida. 

— Que eu possa ter uma alma-água, — sussurrou ela, como se estivesse fazendo uma pequena prece. — que se adapte ao corpo em que estiver, da melhor forma que puder*. 

Fechou os olhos por alguns instantes, como se estivesse gravando o momento e a prece na mente. Tão logo fez isso, conseguiu visualizar a imagem de Gilbert sentando-se ao lado dela, naquele mesmo lugar, apenas alguns meses atrás. 

“Quem diria, que depois de tantos anos nós formaríamos um ótimo T-I-M-E?”. 

Sorriu com tristeza com aquela lembrança, porque sabia que as coisas podiam ter sido diferentes logo naquele momento. Ela tinha percebido o olhar de Gilbert. Ela tinha notado os olhos dele em seus lábios. Assim como ela havia percebido seu interesse quando mencionou o Take Notice Board, e sua decepção quando disse o nome de Ruby no  final. Tantos mal entendidos, tantos erros... Mas o que podia ter feito de diferente naquela noite, afinal? Pelo que sabia, Gilbert estava quase noivo de Winfred e por mais que houvessem várias pistas, ela  não tinha absoluta certeza dos sentimento dele em relação a si. Anne cobriu o rosto com as mãos. Definitivamente odiava remoer o passado, apesar de ser algo que ela fazia com uma certa constância. O famoso “e se” incomodava-a de uma maneira profundamente dolorosa e em momentos nada convenientes.  

Os sons de galhos partindo-se e de folhas secas sendo esmagadas, fizeram Anne voltar a realidade. Levantou-se de imediato, se colocando em estado de alerta. Os sons não pareciam nada com passos. Eram contínuos, não havia o momento de silêncio o qual um pé está pendido no ar e o outro parado no chão. A única coisa que mudara fora o ritmo, que antes parecia mais urgente e agora já vinha diminuindo a velocidade. Os sons estavam cada vez mais próximos, mas Anne não recuou. Não conseguia pensar em ninguém ou algo que pudesse lhe fazer mal, sua curiosidade só havia se aguçado ao nível máximo. 

E então, uma figura surgiu na penumbra, na verdade, duas figuras. Anne desceu mais um degrau, intrigada com o estranho convidado que se aproximava. Estreitou os olhos e seu queixo caiu quando, finalmente, conseguiu reconhecer quem estava ali. Não era possível. 

Há poucos metros de distância, um rapaz firmado no guidom de uma bicicleta a encarava, parecia tão chocado quanto ela. Os cabelos escuros estavam demasiado bagunçados pelo vento, os lábios entreabertos e os olhos pareciam desacreditar no que viam, como se Anne fosse uma miragem ou algo do tipo. 

— Gilbert... — sussurrou ela, quase soando como uma pergunta, desconfiava que sua imaginação ou mesmo seus sonhos estavam pregando-lhe peças.  

A ruga entre as sobrancelhas do garoto pareceu suavizar após ouvir a voz de Anne, como se agora ele pudesse acreditar que ela realmente estava ali. Anne não saberia dizer quanto tempo ficaram apenas se encarando, perdidos no olhar um do outro,  tentando se convencer que aquilo era real. Anne chegou a piscar várias vezes, conferindo se realmente não estava sonhando. E quando pareceu “seguro” confiar em sua mente, ela finalmente reagiu. 

— Oh, Deus, Gilbert!  

Anne correu e se atirou nos braços do rapaz, enterrando o rosto em seu peito. Gilbert soltou a bicicleta e  envolveu a garota em um abraço apertado, cheio de saudade e certeza. Ela fechou os olhos e sentiu aquele tão conhecido perfume, aquele que fazia cada pedacinho de seu corpo vibrar. Ele tocou os lábios em seus cabelos e suspirou, abraçando-a com mais força. Não trocaram palavras, aquele silêncio era a paz que precisavam, era necessário e parecia simplesmente revelar tudo que sentiam. 

Depois de um tempo, se afastaram por alguns centímetros, apenas o suficiente  para se olharem nos olhos. Gilbert mantinha uma mão de Anne entrelaçada a sua. Os dois sorriam como não faziam há tempos. Os olhos desacreditados, provavelmente brilhando mais do que as estrelas no céu.  

 Anne podia sentir a respiração ritmada e quente de Gilbert, e com tal proximidade, perguntou-se se ele ouvia seu coração martelar no peito. Os olhos dele eram definitivamente um labirinto, uma rua sem saída e quando ela abriu boca, não conseguiu produzir um som sequer. Gilbert pareceu ter sentido algo parecido e os dois sorriram juntos, cúmplices, como se simplesmente dissessem em uníssono, “Sim, você provoca o mesmo efeito em mim”. 

E então, seguiu-se aquele breve momento de hesitação antes do grande clímax. Uma troca de suspiros e olhares carregados de admiração e expectativa. É aquele momento pelo qual se sonha e se perde o sono, às vezes melhor que o próprio beijo. 

Anne tomou a inciativa de aproximar-se mais de Gilbert, perdendo a mão em seus cabelos e encostando delicadamente seus lábios nos dele. O rapaz retribuiu o beijo gentilmente, e como se seguisse notas de uma partitura, foi aumentando o ritmo devagar. Podia senti-la sorrir entre cada breve respiração que davam, e ele retribuía o sorriso inevitavelmente. Quando a intensidade do beijo mudou, tornando-se bem mais urgente que no princípio, as mãos de Gilbert desceram para a cintura de Anne e ele a puxou para ainda mais perto, praticamente reduzindo a zero o espaço entre eles. Por um momento, ela teve certeza que seu corpo se reduziria a faíscas, e agradeceu mentalmente por Gilbert segurá-la firmemente pela cintura.  

Quando seus lábios se separaram, Gilbert manteve os braços ao redor de Anne e delicadamente, tocou sua testa com a dela. Sorriu mais uma vez, fechando os olhos demoradamente logo em seguida. Anne fez o mesmo, queria lembrar daquele momento para sempre.  

E quase que instintivamente, ainda com os olhos fechados, ela levou a mão direita ao pulso esquerdo e estava prestes a se beliscar, quando Gilbert a impediu. 

— Você não está imaginando. — falou ele, os olhos abertos e os lábios curvados em um sorriso discreto. Tinha a mão de Anne segura sob a sua e desenhava pequenos círculos em seu dorso.. — Eu estou bem aqui. Nós estamos bem aqui. 

E ouvindo aquelas palavras tão doces, Anne deixou escapar uma lágrima teimosa pelo rosto claro e delicado. Gilbert sorriu suavemente diante da reação. Os dois sabiam que compartilhavam os mesmos sentimentos de emoção e saudade. Ele tocou gentilmente o polegar no rosto da menina, enxugando a lágrima azulada. Percorreu o dedo sob o contorno dos seus olhos, caminhando com suavidade até ponta de seu queixo. As sardas dela destacavam-se contra o céu escuro, pareciam estrelas particulares, um infinito debaixo de seus olhos e Gilbert estava encantado por cada pequeno detalhe. 

— Eu sei que não é minha imaginação. — falou Anne depois de um tempo, totalmente perdida nos olhos de Gilbert e nos braços dele ao redor de seu corpo. — Esse é um dos poucos momentos que minha imaginação não seria capaz de melhorar.  

Gilbert sorriu, completamente fascinado, e como se não conseguisse se controlar, beijou-a nos lábios novamente. Anne sentiu seus pés saírem do chão, não tinha certeza se era efeito do beijo ou se Gilbert realmente a levantava. O fato é que o universo parecia único e exclusivo deles, o frio da noite não era nada comparado aquele calor, o tempo ao redor devia ter congelado. 

— Tem alguma ideia do quanto eu senti sua falta? — Gilbert perguntou.

Anne fingiu pensar, tentando ocultar o quanto tinha se derretido com aquela confissão.  

— Na verdade, preciso que você me diga exatamente o quanto. 

Gilbert riu e balançou a cabeça, rolando os olhos para o céu estrelado 

— Você não facilitará muito para mim, não é? 

— Definitivamente não, Gilbert Blythe.  

O sorriso de Gilbert cresceu ainda mais pela forma engraçada que ela pronunciara seu nome. 

— Acho que eu não poderia esperar menos vindo de você, Anne-girl.

— Você ainda não disse o quanto sentiu minha falta. — provocou Anne. 

Gilbert ponderou sua resposta por alguns instantes. O olhos de Anne ainda o mediam, como se o desafiassem. Ela era fogo em fogo e Gilbert precisou realmente se concentrar para responder-lhe dignamente. 

— O suficiente para saber que o tempo vale muito pouco sem você. —  declarou ele. — E que a levarei comigo para Toronto quando eu partir amanhã. 

Anne arqueou uma sobrancelha, falhando miseravelmente em reprimir o sorriso. 

— Gilbert Blythe, você está querendo me sequestrar? 

Gilbert a olhou sugestivamente. 

—.Acho que não poderíamos chamar de sequestro, uma vez que eu teria seu consentimento. 

— E o que te faz pensar que terá meu consentimento? 

Gilbert soltou uma risada.

 — Tenho um palpite. 

— Acho que alguém está seguro demais de si mesmo.  

— Achei que tínhamos combinado que você não me contradiria.  

Anne riu e deu-lhe um leve empurrão, na tentativa de escapar dos braços de Gilbert. Mas ele era bem mais forte do que ela, e obviamente não a soltou. 

— Combinamos que você não iria me contradizer. — exclamou ela, indignada. 

Gilbert balançou a cabeça, fingindo não compreender. 

— Não me lembro de nada disso.  

Anne semicerrou os olhos. 

— Sendo assim, também não me lembro da T-R-E-G-U-A. 

— Mesmo? Porque da última vez que nos vimos você parecia estar bem familiarizada com ela. 

Anne estava prestes a contra argumentar, mas Gilbert a silenciou com um beijo. 

— O  que você estava dizendo? — sussurrou ele com os lábios muito próximos do ouvido de Anne.  

Ela sentiu um arrepio descer-lhe a nuca.  

— Você joga sujo, Gilbert Blythe. 

— Não ouvi você reclamar alguns minutos atrás sobre isso. 

— Não é uma reclamação — rebateu ela. — Mas esse é um jogo para duas pessoas. E eu sou muito competitiva. 

Gilbert confirmou prontamente com a cabeça. Definitivamente, fogo no fogo. 

 — Eu sei. Mas estou acostumado com isso.  

Anne respondeu com uma risada única e os dois pareceram se perder novamente um no outro. Ela apreciava aqueles breves momentos de silêncio assim como um leitor aprecia os espaços entre parágrafos de uma história. Pausas curtas, sutis e necessárias. O músico bem sabe que o silêncio também dá ritmo a uma canção. E o que podia ter de tão diferente entre aquela conversa e uma música?  

Só naquele momento, Anne deu-se conta que Gilbert vestia seu velho casaco vermelho – xadrez. Ela lembrando-se em como gostava de vê-lo vestido com ele. Lembrou-se também que não era a única a pensar assim. 

— Eu gosto desse casaco — revelou e Gilbert ergueu as sobrancelhas, descrente. — É sério. Lembra-me os velhos tempos.  

— Também costumava gostar das tranças. 

— Eu definitivamente notei isso quando você puxou meu cabelo — comentou ela, apenas para incomodá-lo. 

Gilbert fechou os olhos por alguns segundos e jogou a cabeça para trás. 

— Nunca vai me perdoar por isso, não é? 

Anne ponderou. Aquilo já era um passado muito distante, mas não perderia a chance de provocar Gilbert. 

— Nunca é uma palavra forte. Mas você terá que se esforçar. 

—  Farei meu melhor — disse ele com firmeza, abrindo um sorriso que trouxe as borboletas de volta ao estômago de Anne. — Também sei jogar esse jogo. 

Anne riu e Gilbert a acompanhou. Ela estava tão feliz que sentiu que poderia facilmente levitar. 

— Ainda não acredito que está aqui... 

Anne foi interrompida pela porta da frente da casa se abrindo. Parada ao batente, Diana teve sua linha de pensamento interrompida ao encontrar o olhar de Gilbert. Seu queixo caiu.  

— Gilbert! — exclamou ela e correu em direção aos dois.

Diana abraçou o rapaz com força e ainda segurando seus ombros, perguntou, agitada: 

— O que faz aqui? Anne sabia que estava vindo? — o olhar dela vagou de Gilbert para a amiga.  

Anne balançou a cabeça, como se dissesse “Estou tão surpresa quanto você”. Os olhos de Diana encontraram a bicicleta de Elizabeth e ela franziu o cenho. 

— Você não pedalou de Toronto até Avonlea, certo? 

Gilbert riu. 

— Não... 

— Não sabia que tinha uma bicicleta — falou Anne. Os minutos anteriores foram tão intensos que ela nem cogitara perguntar como Gilbert tinha chegado ali. 

— Não tenho. Peguei emprestada — contou e seu rosto se iluminou imediatamente. — Você me enviou dinheiro? 

Anne franziu o cenho, totalmente confusa com  a pergunta. 

— Não. 

— Hmm, estranho. Hoje de manhã eu recebi um envelope sem remetente com dinheiro suficiente para duas passagens de trem.  

— Uau! — exclamou Diana, impressionada. 

— Não poderia ter sido Bash? — indagou Anne. 

— Não acho que tenha sido ele. Não é do seu feitio enviar-me dinheiro e menos ainda de forma misteriosa. 

— Mas se conseguiu embarcar no trem, por que a bicicleta? — perguntou Anne, visivelmente intrigada. 

Gilbert respirou fundo. 

— É uma longa história... 

— Que ele pode nos contar lá dentro, certo? — perguntou Diana rapidamente. — Está tão frio aqui. Não estão quase congelando... ? — a pergunta dela se perdeu no ar, sendo respondida  quando seus olhos notaram a proximidade dos dois. Ela automaticamente compreendeu o resto. — Claro que não.  

Gilbert e Anne se entreolharam, com sorrisos cúmplices. 

— Vocês são uns doces — comentou Diana, observando-os — Gilbert, você chegou em um momento maravilhoso. Esperaremos os dois lá dentro, sim? Todos estão te procurando, Anne.  

— É muito bom vê-la, Diana — falou Gilbert com sinceridade, olhando para Diana com muita gratidão. A moça pareceu entender que as palavras dele também tinham esse significado de agradecimento, porque ela balançou a cabeça e sorriu levemente.  

Antes de desaparecer dentro da casa, Diana trocou um olhar muito sugestivo e satisfeito com Anne. O momento que a garota Barry tanto queria havia chegado. Não havia para onde fugir, Anne não só contaria às amigas sobre Gilbert, como elas veriam os dois juntos. O coração da garota gelou. 

— O que houve? — perguntou Gilbert, a atenção voltando-se para Anne novamente.  

— Nada. — mentiu, tentando disfarçar com um sorriso amarelo. 

— Você não contou nada sobre nós, não é? — adivinhou Gilbert, parecendo até estar se divertindo com aquilo. 

— As pessoas mais importantes sabem. — defendeu-se Anne. — O problema é... 

Gilbert pareceu entender imediatamente o problema.  

— Ruby. — completou Gilbert, colocando o braço ao redor da cintura de Anne e conduzindo-a em direção a porta. 

Ela acenou levemente com a cabeça, confirmando. É claro que Gilbert sempre soube sobre os sentimentos de Ruby em relação a ele, eram bastante explícitos por sinal. 

— Achei que ela tinha superado. Achei até que gostava de Moody agora. 

— Ela gosta, eu acho. Eu só não queria correr o risco de ferir seus sentimentos. 

Gilbert balançou a cabeça, parecendo entender. 

— Sei que não quer magoá-la, mas sinceramente não acho que esconder sobre nós dois seja a  solução mais sensata.  

Anne suspirou. 

— Eu sei. 

— Além disso — emendou ele, já estavam diante da porta, de frente um para o outro novamente. — Realmente acho que passamos tempo demais afastados um do outro, não concorda? E não me refiro apenas aos últimos meses. Temos alguns anos para colocar na conta. — completou, um pouco mais sério do que alguns momentos atrás. 

Ela não tinha outra opção senão concordar com Gilbert. A verdade era que os dois mereciam estar juntos, era uma ideia justa. Com certeza seria bastante frustrante fingir que eram apenas amigos depois de esperarem tanto para se ver. 

Vendo que a moça ponderava suas palavras, Gilbert entrelaçou seus dedos com os dela. 

— Juntos. — falou ele, decidido. — Não pode ser diferente disso. 

Anne respirou fundo e balançou a cabeça, como se confirmasse que estava pronta. Gilbert girou a maçaneta da porta e olhou para Anne mais uma vez. 

Naquele momento, ela reconheceu o mesmo garoto que a salvou na floresta anos atrás. E naquele mesmo olhar, Anne conseguiu visualizar, em menos de trinta segundos, seu futuro inteiro.  

Não podia ser diferente.  


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Notas finais do capítulo

*Essa fala que eu marque da Anne (sobre resilência) é de autoria do escritor João Doederlein.

Oiii de novo!

Gente, espero de verdade que vocês tenham gostado. Queria compartilhar o quanto foi difícil escrever esse capítulo e que não ficou exatamente como eu pensava. Planejava escrever mais sobre a viagem do Gilbert e tal... Mas nossa, não estava levando a lugar nenhum.
Anyway...
O nome do capítulo é o nome de um dos episódios da 3ª temporada da série (se não me engano é o capítulo 5 ou 6, me corrijam).

Tenho jogado umas palavras em inglês, em itálico, que eu não quis traduzir. Tipo o Take Notice Board (acho tão mais legal o nome em inglês) e Anne-girl (quem leu o livro já viu que o Gilbert chama a Anne assim várias vezes. Sei lá, só não soa bem chamar de menina Anne. Mas podem opinar!).
Lancei essa "cena" com a Elizabeth, porque minha intenção era vocês conhecerem o temperamento insuportável dela. Muito estranho criar uma personagem que você odeia, mas cá estou, odeio ela haha
E em relação a Diana, lancei esse conflito tão importante na vida dela e pretendo abordá-lo no decorrer da história. Vamosss ver...
Genteee me contem o que acharam da Anne e Gilbert juntos de novo, pleaseee! Foia a parte mais gostosa de escrever!

Muuuito obrigada a quem leu e também chegou até o final dessa nota! Beijos!

See ya!



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