Resilience escrita por Aurora


Capítulo 13
Capítulo 13




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 James realmente gostava de Amy, mas estava começando a desejar que ela não ficasse mais lá.

O único momento sozinho que conseguia com Lily era quando Amy dormia, e eles mal podiam aproveitar antes de Thomas aparecer miando, exigindo comida e estragando o clima – ainda era melhor do que quando ele aparecia como tigre rosnando alto, encarando James como se fosse um pedaço suculento de carne.

Lily não saia mais. James sempre havia apreciado a paz que tomava conta dela quando estava ao ar livre, mas agora o mais próximo que ela tinha disso era quando ficava com Amy no pátio da sala dos monitores. Frequentemente, ela aparatava com Amy e voltavam algum tempo depois com roupas novas e brinquedos, mas o máximo que já haviam conseguido ficar antes de algum Comensal as encontrar tinha sido três horas, e Amy não conseguia esconder a decepção de ter que fugir no meio do passeio, o que deixava Lily para baixo.

James havia pensado em fazer uma festa na sala dos monitores para levantar um pouco a moral, mas não poderia, porque chatearia Amy, que iria ter que ficar invisível, trancada no quarto de Lily, e então Lily iria ficar furiosa com James. Ele nem podia mais levar seus amigos lá, porque Lily não queria que eles soubessem que a garota estava lá, o que era compreensível.

Cada motivo era extremamente egoísta, então ele não compartilhou nenhum com Lily. Sabia o quanto ela se importava com Amy, o quanto estava se esforçando para devolver alguma qualidade de vida para a garota, e ele seria um monstro se pedisse que ela tirasse a garota de lá, depois de tudo que Amy havia sofrido.

Mas Lily parecia entender James, mesmo que ele não falasse nada.

Faltava poucos dias para a primeira partida de quadribol desde o natal, que havia sido adiada três vezes. Toda vez que marcavam, alguma família era atacada, e parecia sempre coincidir com algum integrante de algum time de Hogwarts, e os professores adiavam a partida por respeito. Só na última semana, cinco famílias trouxas haviam sido destruídas, e todos os dias tinha notícia no Profeta Diário sobre ataque em residências de nascidos-trouxas. Estava piorando rapidamente. Antes tinha um ataque por semana, as vezes menos – ir disso para diariamente da noite para o dia era estranho, e James não pode evitar de pensar que era culpa de Lily. Voldemort estava enfurecido e descontava sua raiva em trouxas e nascidos-trouxas.

Quando ele entrou no seu quarto, encontrou Lilian terminando de fechar uma mochila que não era dele – era marrom e de couro, diferente da que ela usava para guardar as horcruxes, que era preta com corações roxos.

— Aqui – ela disse, entregando para ele.

Ele abriu e encontrou suas próprias roupas dentro. Passou a mão pelo cabelo, sabendo o que ela queria dizer com o gesto, e se sentiu culpado. Não queria adicionar mais estresse para ela, não queria que ela pensasse que ele não suportava mais ficar ali ou algo do tipo.

— Está tudo bem – Lily disse – Eu não estou brava, nem nada assim, só acho que vai fazer bem para você passar um tempo no seu antigo dormitório.

Ela sorriu e James não aguentou olhar. O sorriso não alcançava seus olhos, era só uma expressão vazia, e James odiava como esse era o único sorriso que ela conseguia dar nos últimos dias. Cuidar de Amy estava a esgotando, suas notas, que antes eram perfeitos O’s, agora estavam abaixando, pela falta de tempo para estudar. Lily ia para todas as aulas e se focava enquanto estava lá, mas quando ia para seu dormitório não podia estudar como fazia antes de Amy – ela se sentia culpada por precisar deixar a criança sozinha por tanto tempo e brincava com ela, dava toda atenção possível, até Amy dormir, o que era sempre cedo. Só então Lily conseguia estudar e cumprir suas responsabilidades como monitora chefe, e para conseguir dar conta de tudo, precisava ir dormir tarde, e as vezes nem dormia, tentando diversos feitiços para destruir as horcruxes, e nada funcionava. Ela não corria mais pelas manhãs, não fazia mais nada que gostava, e James não sabia como ajudar.

Ele fazia a maior parte dos trabalhos de monitor chefe, cobria as patrulhas que ela deveria fazer e brincava com Amy, mas não fazia muita diferença. O luto de Amy estava destruindo Lily, o que acabava afetando James também.

— Hoje é lua cheia – Lily disse quando James estava prestes a sair do quarto.

Ele parou e se virou para ela. Desde a primeira transformação de Amy, dois meses atrás, Lily simplesmente não falava sobre o assunto. Ela havia voltado com a aparência mil vezes pior que Amy e parecia muito mais traumatizada, e James achou melhor dar espaço para as duas.

— Tem uma clareira na Floresta, logo no início – ela continuou – Leva Remus para lá hoje e me deixa um pouco sozinha com ele.

— Por que? – James perguntou, achando o pedido estranho.

— Só faz, ok? – ela respondeu, deu um beijo rápido em James e foi para seu quarto.

Pela primeira vez desde que havia entrado em Hogwarts, Lily não se sentou no meio da arquibancada, no melhor lugar possível, não estava com seu rosto pintado, super animada e provocando o time inimigo. Ela se sentou na primeira fileira, onde todos evitavam sentar por não conseguirem ver nada direito, e toda vez que algum garoto perguntava se poderia sentar ao seu lado, ela dizia que estava guardando para alguém e James teve a certeza que era Amy que estava sentada ali, invisível.

Grifinória ganhou o jogo, e Lily não apareceu para comemorar, e sua ausência foi notada por praticamente todos. Lily costumava ser a alma da festa, dançava incansavelmente, bebia mais que todos, mas nunca era encontrada chorando ou vomitando – continuava dançando com qualquer um que se aproximasse, contava as piores piadas, fazia com que fosse impossível ficar perto dela sem gargalhar o tempo inteiro. Sem ela na festa, não era a mesma coisa.

De noite, após Remus estar completamente transformado, James fez o que Lily pediu. Ela não estava lá, mas ele não esperava que estivesse. Quando Remus parou para beber a agua do lago, James voltou para sua forma humana por tempo o suficiente para dizer que escutou algo estranho, e quando correu pela Floresta, Sirius o seguiu, e ele não sabia se Peter estava seguindo também – era difícil ver o pequeno rato de noite.

O cervo correu com o cachorro durante certo tempo, até Sirius se cansar e retornar a forma humana.

— Não tem nada acontecendo, Prongs – ele disse, recuperando o folego.

Bem quando James iria concordar e falarem para voltar, ele escutou um grito feminino e soube na hora que seria de Lily. Correram de volta para a clareira, onde encontraram Remus em sua forma humana jogado no chão, algo negro saindo de sua boca. Perto dele, estava Lily, que chorava e se contorcia no chão. Peter estava perto dela, segurando a varinha tremulo, tentando lembrar de algum feitiço que pudesse ajudar com a dor.

— Ele a mordeu – Peter disse, seus olhos arregalados — Eu voltei antes de vocês e ele já estava a mordendo, e aí ele caiu...

Ambos em sua forma humana, James e Sirius se agacharam perto de Lily.

— Lily? – Sirius chamou, tirando o cabelo do rosto suado – Ela está com muita febre.

— Eu a levo e você leva o Remus? – James perguntou, referindo-se à enfermaria.

— Não – Lily disse, sua voz tremula, seu rosto contorcido com a dor – Me deixa aqui... vai passar.

Dessa vez, James não confiaria cegamente. A pegou no colo, mesmo com os protestos dela, que não duraram muito. Mesmo dizendo que iria passar, a dor parecia estar piorando. Lily precisava morder a boca com tanta força para não gritar que seu lábio inferior sangrava.

Na enfermaria, Madame Pomfrey estava completamente perdida. Todos os feitiços para fechar a ferida não funcionavam, não importava quantas poções ela forçava Lily a beber, não fazia efeito, não conseguia nem fazer ela dormir. Lilian gritava em agonia e seu ombro, onde Remus havia mordido, gotejava um liquido preto e grosso, igual o que havia saído da boca dele.

— Não é assim quando um lobisomem morde alguém – Pomfrey repetia – Não faz sentido.

Eventualmente, Dumbledore e McGonagall apareceram, e nem eles conseguiram entender o que acontecia com Lily, e estavam tão perdidos quanto Pomfrey para ajudá-la.

— Você é Alvo Dumbledore! – James gritou eventualmente, irritado com os três, que apenas olhavam inutilmente – Você tem que fazer alguma coisa!

Mas o diretor apenas balançou a cabeça, parecendo derrotado, o que fez James se sentir ainda pior. Lilian gritava e se contorcia, e as vezes alguma parte do seu corpo começava a se dobrar como se o osso fosse quebrar e então voltava para o lugar.

Remus, por outro lado, estava completamente bem, e dormia profundamente, mesmo com os gritos de Lilian na cama ao lado.

Ficaram na ala hospitalar durante a noite inteira, mesmo que, eventualmente, não tivesse mais nada que poderiam tentar, e tudo que poderiam fazer era sentar e murmurar palavras incentivadoras para Lily, como “vai passar”, “estamos aqui com você”. Não fazia diferença alguma para ela, mas dava a impressão que estavam fazendo algo.

Peter foi obrigado a voltar para o Salão Comunal – era o mais sensível e não conseguia parar de chorar. Eventualmente sugeriram que James e Sirius saíssem também, já que não teria nada que pudessem fazer para ajudar. James os ignorou, seus olhos focados em Lily, e Sirius disse que não o deixaria sozinho. O amigo certamente iria perceber que algo acontecia entre os dois, pela forma que James passava a mão no cabelo de Lilian, por como tentava ao máximo segurar as próprias lágrimas porque ela estava consciente e ele precisava ser forte por ela ali, mas ele não se importava. Assim que ela melhorasse, ele contaria tudo para Sirius e então ficaria com ela e não sairia do seu lado.

Conforme a noite passava, Lily ficou cada vez mais rouca, ao ponto de não conseguir vocalizar sua dor, e convulsionou algumas vezes. Quando começou a amanhecer, Lilian se tornou cada vez mais quieta, até estar apenas respirando pesadamente, os olhos encarando o teto de forma vazia. Dizia não ter ideia do que havia acontecido. Pomfrey queria mantê-la por mais alguns dias, ter certeza que estava bem, mas quando Lily pediu que a liberasse, Pomfrey não conseguiu negar. Era um poder que James realmente invejava.

Lily não quis falar com nenhum dos marotos quando saiu da enfermaria, andando fracamente e recusando ajuda. James pediu que Sirius ficasse com Remus, que iria precisar dos amigos quando descobrisse que mordeu alguém, e seguiu Lily, achando que ela iria direto para o quarto dos monitores. Com certa irritação, percebeu que ela estava indo para a cozinha. James a esperou do lado de fora, que não demorou para aparecer, flutuando a comida atrás de si pelos corredores vazios. Ela havia limpado sua boca, mas o machucado em lábio inferior era bem evidente. Seus olhos estavam inchados, estava pálida, e James andava atrás dela, pronto para a pegar caso caísse.

Andaram em silencio e James pensou que ela fosse conversar quando entrassem, mas Lily foi direto para o quarto de Amy, que havia acabado de acordar.

— Bom dia, princesa – Lily disse, beijando a testa da garota e sorrindo.

Se não fosse por sua aparência abatida e sua voz rouca e fraca, era como se nada tivesse acontecido.

— Como você voltou para o quarto? – James perguntou, olhando para Amy.

— Lily me trouxe depois do jogo – ela respondeu, parecendo confusa.

James cruzou os braços, a falta de sono e a preocupação que havia sentido a noite inteira o deixando irritado.

— Você é lobisomem, lembra? – ele disse – Como voltou da Floresta e ainda teve tempo de dormir, se acabou de amanhecer?

— Eu não sou mais lobisomem – Amy respondeu, como se fosse algo óbvio – Lily me curou.

Levantando-se, Lily puxou James para fora do quarto e sentou com ele no sofá.

— Você a curou? – ele perguntou.

Ela respirou fundo e parecia estar juntando forças para falar. Por mais que ele queria que ela ficasse bem, ele estava cansado de tantos mistérios, estava cansado de nunca saber o suficiente, de se sentir sempre para trás. Ele queria apenas a abraçar e deixar ela dormir em paz depois da noite que havia tido, mas não conseguia. Estava tão irritado. Havia passado a noite inteira escutando-a gritar como se estivesse sendo torturada e ela agia como se nada estivesse acontecendo.

— Se alguma criatura mágica machucar um semideus, a criatura morre – ela disse – E lobisomem é metade criatura, metade humano.

Lily inclinou a cabeça para trás, encostando-a no sofá, e a culpa atingiu James com força. Que direito ele tinha de ficar irritado? Lily estava se matando para conseguir manter Amy não só segura, mas bem e feliz, e havia passado pelo inferno para prevenir que a garota sofresse as transformações mensais. Como se não fosse o suficiente, havia feito o mesmo por Remus, sentido toda aquela dor de novo para ajudar o rapaz que mal havia conversado com ela no último ano.

— Se eu te avisasse, você poderia querer me impedir – ela disse com os olhos fechados, pensando que ele ainda estava bravo – Me desculpa se eu te assustei.

James a puxou para deitar em seu colo, seu corpo leve e tremulo. Estava muito mais pálida que o normal e se não tivesse o encanto de Afrodite, James tinha certeza que ela teria grandes olheiras.

— Você está se matando tentando cuidar de todo mundo – ele disse, tirando o cabelo dela de seu rosto e o segurando.

— E ainda estou sendo péssima – ela disse baixinho – Amy continua quebrada e você está começando a me odiar.

James abriu a boca para corrigi-la, mas Lily falou mais rápido que ele:

— Eu sou filha de Afrodite, lembra? Eu sinto o quanto você está com raiva e eu não sei o que fazer, James. Eu não sei como te ajudar.

Pela sua respiração e fala embolada, James soube que em segundos ela estaria dormindo, então quando Amy apareceu segurando seu ursinho de pelúcia, James levou o dedo indicador até a boca, pedindo que ela ficasse em silencio. Uma palavra dela e Lily acordaria e se forçaria a ficar acordada para cuidar dela durante todo o sábado. Ficaram em silencio até James ter certeza que Lily estava dormindo e ele levou Amy para brincar no pátio, mesmo que tudo que ele quisesse depois da noite em claro, fosse dormir.

Thomas apareceu depois de um tempo, bem mais alto que Amy quando estava em sua forma de tigre, e, pela primeira vez desde que conheceu o gato, ele não olhava para James de forma assassina, como se só não o almoçasse por respeito a Lily.

Naquele dia, James fez tudo que Lily normalmente faria, e quando a garota acordou, apenas na manhã de domingo, sorriu abertamente para James, e pela primeira vez em meses, o sorriso era verdadeiro. Foi a melhor recompensa que poderia receber.


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