Resilience escrita por Aurora


Capítulo 11
Capítulo 11




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Amélia estava cada vez mais doente.

Faltavam quatro dias para a lua cheia e ela se encontrava cada vez mais fraca, ao ponto de não conseguir se alimentar sozinha. Seu café da manhã era vitamina de alguma fruta que gostava, e Lily tentava ajudá-la a comer pelo menos um pedaço de bolo, mas Amy não conseguia mastigar direito. O almoço e jantar era sempre sopa, e Amélia não tinha forças nem para levar a colher até a boca, então Lily a alimentava. Estava com febre e seu corpo dolorido, e Lilian estava cada vez mais receosa que a pequena não fosse aguentar sua primeira transformação.

Lily apenas se lembrou que os alunos haviam voltado para o castelo quando James apareceu na porta de seu quarto, olhando desconfiado para a cena. Lily estava lendo um livro trouxa de conto de fadas para Amy, que já estava quase dormindo, e o garoto teve o bom senso de esperar Lilian terminar o livro antes de chama-la para conversar.

Assim que saiu do quarto, James a abraçou e, simples assim, Lily começou a chorar, seus braços apertando firmemente o corpo do garoto, que estava completamente confuso, mas entendia que ela precisava do consolo. Ele sempre sabia o que Lily precisava, como se tivesse algum tipo de manual de instruções. Quando Lily conseguiu se acalmar, o levou para sentar no sofá, onde contou tudo, falou sobre como ela não deveria ser filha de Afrodite, como sua mãe havia irritado Kairós, explicou porque ela deveria derrotar Voldemort e falou sobre as horcruxes, sobre como encontrou Amélia Bonavich e tudo que fizeram com ela, falou tudo o que tinha para contar, e James não a interrompeu nem uma vez.

— Eu não acho que ela vai sobreviver – Lily disse no final, e doía tanto pensar naquilo. Ela sentiu lágrimas voltando aos seus olhos, mas segurou. Já havia chorado de mais.

— Remus foi transformado quando ele tinha cinco anos – James disse – E ele sobreviveu, Lily. É horrível e vai ser muito dolorido, mas ela vai ficar bem.

Até o mês seguinte, quando teria que passar por tudo de novo. Não estava nada bem e Lily queria encontrar quem a transformou e mata-lo e depois ir atrás de cada Comensal que participou do ataque aos Bonavich. Estava furiosa com a situação e sua raiva apenas aumentava quando pensava em quantas outras crianças tiveram sua vida destruída por culpa deles. Acenou com sua varinha e sua mochila voou até onde ela estava. Lily tirou as horcruxes de dentro e começou a lançar todos os feitiços que conhecia nelas, e nada parecia fazer efeito.

— Nós vamos pesquisar sobre elas e descobrir o que fazer – James disse quando Lily começou a repetir os feitiços que já havia tentado, dessa vez gritando. Ele se levantou e segurou o braço dela, que o empurrou.

— Eu não quero enfiar minha cara em livros e passar meses pensando no que fazer – Lily gritou – Eu quero matar ele agora, James, eu quero ajudar Amy, eu quero fazer algo!

— Eu sei, eu sei – ele a puxou para perto, a abraçando.

Lily não ficou muito tempo no abraço. Não queria receber carinho ou ser consolada, então se afastou e foi deitar ao lado de Amélia. Não foi para nenhuma aula nos dias seguintes, só saiu do quarto para buscar comida e passava seu dia revezando entre tentar animar a criança e ler todos os livros possível sobre licantropia. Ainda não havia visto nenhuma de suas colegas, e na reunião de monitores preferiu ficar trancada em seu quarto e ouviu James falar para os alunos que ela estava doente. Se não fosse pelos Comensais que a seguiam, Lily teria saído de Hogwarts sem hesitar, indo morar em algum lugar próximo a praia, onde pudesse colocar Amy em uma boa escola e dar a infância que ela merecia – como fariam com o dinheiro, Lily não sabia, obviamente não estava pensando de forma clara.

James conversou com Remus sobre como havia sido quando ele passou pela primeira transformação e ele disse que estava quase morrendo antes de se transformar por não conseguir comer nada direito, até sua mãe perceber que ele não tinha problema nenhum em comer carne extremamente mal passada, e assim ele conseguiu ficar mais forte para sobreviver. Quando tentou alimentar Amélia, primeiro ela fez cara feia ao ver o quão vermelha a carne estava, mas ao dar a primeira mordida seu rosto se transformou completamente e ela comeu tudo. Estava menos pálida e conseguia até se levantar sozinha para ir ao banheiro.

No dia da lua cheia, Lily soube que não tinha mais o que fazer e foi conversar com Amy. A loira estava brincando com Thomas, que, em sua forma de gato, não tinha problema nenhum em tentar morde-la toda vez que Amy encostava em sua patinha.

— Eu sei o que você vai falar – Amélia disse.

Ela não olhava para Lily, nem mesmo quando Thomas se afastou.

— O cachorro que me mordeu não era um cachorro – ela afirmou, seus lábios se curvando em um biquinho infantil – Eu vi você marcando a lua cheia no calendário.

Lilian havia esquecido o quão bem Amy lia, já que quando tinha a idade dela, Lilian tinha dificuldade até para escrever seu nome completo. No fundo, ela preferia que Amy tivesse descoberto sozinha – aquela era uma conversa que ela simplesmente não queria ter.

— Nós precisamos ir para a Floresta agora – Lily disse – Eu vou ficar contigo o tempo inteiro e vai ficar tudo bem.

Para garantir que ninguém as encontrasse no caminho, Lily aparatou com Amy e Thomas direto para o coração da Floresta Proibida, onde dificilmente Remus devia ir.

Não demorou muito para Amy começar a sentir dor e Lily apenas desejava que fosse ser rápido. Ver a criança apertando os lábios com força para não gritar de dor era simplesmente errado. Ela não tinha feito nada para merecer aquilo, seus pais eram pessoas decentes que não queriam nenhum envolvimento com essa guerra, que só queriam manter a filha segura, e o que haviam feito com ela e as coisas que fariam se Lilian não tivesse a tirado de lá era revoltante. Primeiro, estava abraçando Amy e tentando a distrair da dor, mas depois de um tempo ela soltou um grito alto e Lily viu horrorizada seus ossos começarem a quebrar.

Era uma visão horrível, seu corpo jogado no chão, sua coluna se levantava formando um arco e então voltava para o lugar, apenas para se levantar novamente depois e ficar naquela posição dolorosa. O barulho constante dos ossos sendo quebrados era abafado apenas pelos gritos agudos dela, lembrando Lily da semana anterior, onde ela gritava da mesma forma segurando o corpo de sua mãe.

Tem algo que você deveria saber.

Lily virou-se para o tigre. Havia esquecido que ele estava lá.

A pequena humana vai ser um lobisomem bebê, e bebês nunca sabem de nada.

— Ta bom – Lily respondeu, sem dar muita importância. O que importava se Amy saberia ou não sobre sua forma lupina? Como isso poderia ser importante logo naquele momento?

Não tinha mais Amélia ali. Seu corpo havia esticados uns bons centímetros, sua pele tão lisinha agora estava peluda. Remus era maior e cinza, mas Amy era branca, talvez por ser filhote, ou talvez a pelagem dos lobisomens variasse, Lily não fazia ideia. Quando a loba completamente transformada se levantou desajeitadamente, os olhos tão lindos de Amy não estavam mais lá – em seu lugar haviam íris azul tão escura quanto o azul poderia ser, sua pupila dilatada. Era o olhar frio de um predador.

Ela não sabe que não pode te atacar, Thomas respondeu enquanto circulava a loba, que olhava receosa para o tigre e Lily, Ela entende que você é mais forte, assim como entende que eu sou mais forte, mas ainda não tem o instinto de sobrevivência tão bom.

— O que você quer dizer? – Lily perguntou, começando a ficar com medo quando Amy abaixou levemente seu corpo, parecendo se preparar para atacar – Ela não vai me atacar, não é?

É um filhote assustado, é claro que vai atacar, Thomas respondeu, seu rabo balançando de forma ameaçadora, Depois de alguns meses, vai começar a entender o que pode ou não pode atacar, mas até lá você tem duas opções, humana. Ou foge ou deixa ela te morder.

— Se ela me morder, ela morre – Lily respondeu, olhando alarmada para o tigre. Foi um erro desviar a atenção da loba, que rosnou se aproximando, sentindo-se mais segura para atacar quando Lily estava distraída.

A criatura morre, Thomas disse, e só então Lily percebeu que ele ainda não havia se colocado entre as duas. Se ele quisesse, seria fácil espantar o filhote assustado, mas havia apenas o rodeado, o deixado receoso para não atacar ainda, mas não o suficiente para deixar a carne humana que parecia ser tão apetitosa para trás.

A criatura morre, mas Amélia não era só criatura, era humana também.

— Você tem certeza? – Lily perguntou rapidamente, dando um passo para trás quando a loba rosnou mais alto.

É sua decisão, eu posso ainda posso afasta-la, Thomas disse tão rápido que Lily por pouco não teria conseguido entender. Seu cérebro estava trabalhando mais rápido que o normal, a adrenalina circulando por seu corpo, e sabia que com apenas uma palavra, Thomas pularia no lobo a tempo de Lilian não ser mordida, mas se aquilo era o que precisava para que Amy nunca mais se transformasse, então Lily nem sentia que era realmente uma escolha. Quando a loba pulou em sua direção, a boca aberta, o olhar assassino, Lily apenas fechou os olhos, se preparando para a dor.

As presas pontudas perfuraram a pele de Lily com facilidade, e mesmo no meio da dor, não conseguiu evitar de se sentir grata por ser mordida na coxa e não na barriga, onde poderia ter atingido vários órgãos. Sentiu os dentes saindo de sua pele, e Lily caiu no chão, segurando os gritos de dor, colocando a mão inutilmente em cima de seu ferimento como se aquilo fosse fazer para de sangrar. Na sua frente, a loba tossia sangue negro, os olhos arregalados com medo, o corpo magro e peludo tremendo, o barulho dos ossos quebrando novamente, e em questão de minutos, Amélia Bonavich estava deitada no chão frio da floresta, totalmente nua. Sem conseguir usar sua perna direita, Lily se arrastou pelo braço para perto da garota inconsciente, o medo bloqueando quase completamente sua dor. Segurou o pulso da menina, mas não precisou se concentrar para encontrar o batimento cardíaco – o pequeno corpo tremulo levantava e abaixava constantemente com a respiração forte de Amy.

— É isso? – Lily perguntou – Ela não vai mais se transformar?

A criatura morreu, Thomas confirmou, deitando ao lado de Amy no chão para tentar mantê-la aquecida.

Conforme Lily deixava o alivio percorrer seu corpo, sua dor se tornava cada vez mais forte. Quando seu corpo começou a arder, como se algo estivesse queimando dentro dela, veio o medo de se tornar um lobisomem. Era sequer possível?

Você não vai se transformar, Thomas disse, como se soubesse o que ela estava pensando. Seu corpo vai lutar contra o veneno agora e vai doer muito até conseguir tira-lo completamente.

“Doer muito” não começava a descrever o que Lily estava sentindo. Seu corpo inteiro queimava e ela podia sentir seus anticorpos lutando contra o veneno, e por mais que tentasse sofrer em silencio para não acordar Amy, em determinado momento Lily não aguentava mais e os gritos escapavam sem consentimento. Seu ferimento aberto não sangrava, mas gotejava gotas pretas e grossas iguais às que havia saído da boca de Amy, e Lily supôs que deveria ser o veneno saindo. O problema é que não saia nem de longe tão rápido quanto com Amy. Horas passavam e apenas gotas inúteis saiam pelos furos em sua coxa, e a dor não parecia diminuir. Em determinado momento, Lilian começou a ter convulsões, seu corpo se balançava violentamente no chão gelado e ela apenas desejava ficar inconsciente para não precisar sentir mais nada. Não tinha mais voz para gritar, sua garganta doía, seus olhos já estavam inchados de tanto chorar, seu corpo não tinha mais força para continuar se contorcendo dolorosamente como antes. Tudo que Lily sentia era dor, pura dor, de forma que nunca havia sentido antes. Não tinha nenhuma parte de si que não ardia intensamente, como se seu sangue estivesse tentando sair de sua pele, como se seus ossos estivesses tentando com esforço se quebrar, sua pele tentava se rasgar, mas algo os segurasse com força no lugar.

Lilian estava no inferno, mas quando olhava para Amy e lembrava que ela nunca mais sentiria aquela dor, Lily sabia que faria tudo de novo.


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