Resilience escrita por Aurora


Capítulo 10
Capítulo 10




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Estava sendo uma semana complicada.

Lily havia levado Amy para comprar roupas novas, como tinha prometido, e a garota escolheu um urso simples – todo marrom, com uma gravata borboleta e grande sorriso, o tamanho o tornando perfeito para abraçar. Quando voltaram para o hotel, Lily resolver mostrar a verdade sobre Thomas, para que ela não se assustasse futuramente, e como toda criança acredita mais fácil em tudo, Amy perdeu o medo do tigre em questão de minutos.

Elas conversavam bastante, mas a criança quase não sorria e chorava abraçada com Lily todas as noites. Lily a mimava com sorvete e chocolate e a levava para parques – usando seu chame para pagar tudo, o que era errado, mas Lily já estava sem dinheiro – e nada fazia ela dar mais que um pequeno sorriso. A lua cheia seria na primeira semana de janeiro e Lily percebia que ela estava começando a sentir os sintomas da licantropia, mas não conseguia juntar coragem para contar o que aconteceria.

Tudo começou a dar errado quando Lily havia chegado no hotel, após comprar as roupas de Amy e ouviu dois homens perguntando se tinha alguma Lilian Evans hospedada no hotel – Lily havia dado seu habitual nome falso, Clara Smith, então logo eles estavam indo embora, e Lily usou a nevoa para faze-los passar direto, sem vê-las. Haviam descoberto mais rápido do que Lily imaginou que iriam, e no mesmo dia mudou de hotel, dessa vez em Brighton, onde pode levar Amy para conhecer a praia, mesmo que fosse inverno. No mesmo dia, ao voltar para o hotel, encontrou um homem morto no quarto, caído de barriga para baixo no chão, uma poça de sangue ao seu redor. Thomas estava deitado próximo dele, lambendo o sangue de sua grande pata.

Eu não o comi para não assustar a pequena humana, ele informou.

Quando Lily se aproximou, percebeu que Thomas havia o matado rasgando sua garganta com suas unhas, e pegaram a mochila para se mudarem novamente.

— Para onde vamos agora? – Amy perguntou – Parece que eles continuam nos achando.

Ela estava certa, e Lily não fazia ideia de como estavam a rastreando. Para esse tipo de magia, precisava de algo dela, e Lily não tinha deixado nada para trás – havia pegado sua blusa, seu boné e sua varinha, que era tudo que havia tocado o chão. Talvez tivesse caído algum fio de cabelo, mas parecia improvável, já que seu cabelo só caia quando Lily o penteava – até onde ela percebia, é claro.

Ou, o que era extremamente mais provável, estavam seguindo Amy. A garota não só havia deixado seu sangue lá, como seu ursinho e seu vestido rasgado. Tinham mais do que o suficiente para a rastrear, e sabiam que Lily estaria com ela. Se Lily deixasse Amy para trás, não seria mais seguida, mas nunca faria isso com a garota. Amy já havia sofrido demais e Lily iria garantir que o resto de sua vida seria feliz.

Tirando por uma noite ao mês, quando ela fosse se transformar em um monstro.

— Vamos ter que ir para algum lugar que eles não consigam entrar – Lily respondeu.

Se você a levar para o Acampamento, Quíron vai te matar.

Thomas estava certo, ela já havia abusado em levar James, se aparecesse com uma criança mortal, Quíron iria expulsar as duas de lá. Mas não era o Acampamento que Lilian tinha em mente.

— Estamos no recesso de natal, não de férias, então Hogwarts está aberta.

Parecendo concordar, Thomas se transformou em gato e pulou para o colo de Lily, que aparatou direto em seu quarto. Lily não conseguia nem explicar o quanto amava as vantagens de ser semideusa – se qualquer outra pessoa tentasse aparatar dentro de Hogwarts, era capaz de nem sobreviver a tentativa, mas Lily fazia de forma natural e ainda conseguia levar mortais com ela.

— Eu vou te levar para conversar com o diretor – Lily disse para Amy – Vou convencer ele a deixar você ficar aqui comigo, mas ninguém pode te ver até chegarmos lá, ou vão me encher de perguntas.

A loira assentiu e deixou Lily colocar o boné de Annabeth nela, que segurou a mão de Lily para saber onde estava.

Os corredores estavam vazios, já que a maioria dos alunos passavam o feriado em casa. Em seu primeiro ano, Lily havia ficado na escola, para não dar trabalho para ninguém no Acampamento, mas quando Quíron perguntou como foi seu natal, ela disse inocente que havia sido um pouco chato, porque nenhuma de suas colegas tinham ficado. Depois disso, ele nunca deixou a garota sozinha no natal, e Lily era muito grata. Sabia o trabalho que causava por morar em outro país, e como eles sempre inventavam algo para busca-la, já que o Acampamento não poderia pagar passagens de avião.

Logo haviam chegado e Lily falou a senha, que o diretor trocava frequentemente, mas sempre a avisava caso ela precisasse ir conversar. Bateu na porta de seu escritório e logo o escutou pedindo para que entrassem. Amy tirou o boné antes de entrar e Lily o colocou em seu bolso traseiro. Sentaram-se e Thomas deitou no colo de Amy.

— Srta. Evans, gostaria de nos apresentar? – Dumbledore perguntou olhando um tanto desconfiado para Amélia.

— Eu sou Amélia Bonavich – ela disse oferecendo um meio sorriso.

O olhar de Dumbledore se tornou mais sério e Lily pode sentir a insegurança emanando dele – claramente conhecia o sobrenome dela e não fazia ideia de como lidar com a situação.

— Eu sinto muito por sua família, Srta. Bonavich – ele disse, sua mão tocando levemente no Profeta Diário, o suficiente para chamar a atenção de Lily, que leu a manchete: “Antiga família puro-sangue é assassinada a sangue frio”, logo abaixo escrito que não houve nenhum Bonavich sobrevivente.

Para qualquer proposito que estavam a guardando, queriam que pensasse que estava morta.

Segurando a pequena mão de Amy, Lily contou para Dumbledore tudo que havia acontecido, excluindo as informações sobre as horcruxes e porque ela estaria na mansão Malfoy, apenas para resumir melhor. Falaria sobre isso em breve.

— É possível que Amy fique comigo? – Lily perguntou quando acabou – São só seis meses, ela vai ficar comigo no quarto dos monitores, ninguém vai saber. Ninguém além de James, mas ele vai guardar o segredo.

O diretor respirou fundo, entendendo o quão delicada a situação era. O pai de Amy era o último Bonavich vivo, então a garota não tinha família alguma por parte paterna, e sua mãe tinha uma irmã, mas era Comensal assumida. Não tinha amigos próximos da família que pudessem ficar com ela, e não é como se Lily tivesse uma família convencional para ficar com a garota enquanto estudava. A alternativa era coloca-la no orfanato bruxo, mas seria extremamente fácil para algum Malfoy ou Black adota-la.

— Ela não pode ficar – Dumbledore disse, seus dedos batendo repetitivamente em sua cadeira – Eu posso arrumar uma família de confiança para ficar com ela enquanto você termina sua educação...

— Não, diretor, eu não acho que você entendeu – Lily interrompeu – Nós só temos duas opções aqui, ou Amy fica comigo no castelo, ou eu não vou continuar em Hogwarts.

Eles se olharam firmemente durante um tempo, e Lily pode sentir o quão inconfortável Amy estava ficando ao seu lado e começou a acariciar a mão que segurava para conforta-la. Dumbledore percebeu o gesto e encarou pensativo.

— Já tem dezessete anos, Srta. Evans?

— Vou fazer nesse mês.

— Então como conseguiu aparatar por toda a Inglaterra sem o Ministério ser notificado? – ele perguntou, os olhos voltando-se para Lily novamente – E o que você estava fazendo na casa dos Malfoy?

Lily pegou sua mochila, que havia levado sabendo que teria que contar.

— Minha magia é indetectável – ela disse, colocando o diário e a taça na mesa no diretor – E eu estou juntando as horcruxes de Voldemort.

Thomas saiu do colo de Amy, andando um pouco nervoso pelo escritório do diretor.

— Como você descobriu? – ele perguntou, olhando encantado para os objetos.

— Não importa – Lily respondeu com certa ousadia – O que importa é que eu já tenho duas, três com a qual você vai me dar.

O diretor tirou o olhar das horcruxes para voltar a olhar Lily nos olhos, e a garota viu claramente certo divertimento.

— Eu ainda não tenho certeza se é uma horcrux – o diretor disse, tirando o anel de Servolo Gaunt de sua gaveta e o segurando firmemente.

— Eu sei que é – Lily respondeu, estendendo a mão para que ele entregasse.

Dumbledore continuou a segurar e estava olhando para os outros objetos em sua mesa. Lily receou que ele fosse querer pegar, e sabia o quão rápido o diretor era – se decidisse usar o accio e aparatar rapidamente, talvez Lily não fosse conseguir impedir. Como se sentisse a desconfiança da dona, Thomas se transformou em um pulo, e o tigre rosnou para Dumbledore, mas não se aproximou.

— O anel, professor – Lily voltou a pedir, sua voz leve, como se não tivesse um tigre raivoso na sala.

Não queria que Thomas tivesse se transformado. De repente, parecia que Lily estava ameaçando o diretor, o que ela nunca faria – o respeitava demais para isso. A tranquilidade de Lily frente a transformação de Thomas manteve Dumbledore um pouco mais calmo, sem sentir a necessidade de atacar o animal ou tentar prendê-lo.

Receoso, o diretor colocou o anel na mão de Lily, que o guardou junto com os dois objetos. Agora que estavam em segurança, Thomas relaxou, mas não se transformou novamente – sentou no chão e logo Amy desceu da cadeira para ir fazer carinho nele.

— Agora eu só preciso pegar mais duas horcruxes, que estão aqui em Hogwarts – ela disse, mesmo que o diretor encarasse seu animal – E então eu posso continuar aqui e me formar ou ir embora. Independentemente de sua escolha, eu irei entender.

Dumbledore balançou a cabeça, olhando incrédulo para Thomas, que havia segurado Amy no chão com suas patas e lambia a cabeça da menina, que ria baixinho. Lily amava esses momentos dos dois porque era praticamente a única ocasião em que Amy conseguia rir, e ainda assim parecia ser mais pela cocegas que a língua dele fazia do que por realmente se divertir.

Humanazinha suja... não sabe tomar banho... eu tenho que fazer tudo sozinho, a voz de Thomas murmurava na mente de Lily enquanto ele lambia a garota.

— Inacreditável – Dumbledore disse, sorrindo – Srta. Evans, você conseguiu descobrir o maior segredo de Voldemort e, de alguma forma, parece saber onde todas as horcruxes estão, e ainda conseguiu domar um gato-tigre.

Lilian sorriu porque o sorriso dele era contagiante, mas precisava da atenção dele.

— Thomas, se importa em esperar ali fora com Amy? – perguntou e seu tigre a olhou irritado.

O que você acha, que eu sou uma babá? Ou algum tipo de empregado e tudo que você mandar eu vou fazer?

— Eu prometo te levar para caçar depois – disse, revirando os olhos.

Nada feito, os animais daqui não são gostosos e a maioria tem algum tipo de veneno nojento. Eu quero, hum, uns quatro, cinco quilos de carne bovina e alguns quilinhos de bacon.

Lily o olhou sem acreditar no quão folgado seu animal conseguia ser, e pensando se sequer conseguiria convencer os elfos a dar tantos quilos de carne crua para ela.

— Você vai agora ou eu só vou te dar ração a semana inteira, sem direito a nenhum sachêzinho – Lily respondeu e o animal se levantou, resmungando que os humanos são muito ingratos e foi empurrando Amy com a cabeça para fora, onde, Lily esperava, ele voltasse a sua forma de gato.

— Você conversa com ele? – Dumbledore disse, rindo abertamente.

Lily não pode evitar de sorrir. Mesmo que houvesse começado a falar com o felino a menos de uma semana, era como se já conversassem a anos.

— É um animal especial – ela respondeu e ficou séria, decidindo falar sem enrolação – Amy foi mordida por um lobisomem.

O diretor assentiu, seu rosto ficando tão sério quanto o de Lily.

— Eu desconfiei quando vi a cicatriz no rosto dela, parecia ter sido garras – ele respondeu.

— E qual família vai abrigar uma garota procurada por Comensais da Morte e com licantropia?

Dumbledore não respondeu imediatamente, tentando pensar em algum nome. Se fosse apenas os Comensais, ele conseguiria com certa facilidade, mas a licantropia atrapalhava imensamente, ainda mais se tratando um filhote.

— Mesmo que você encontre – Lily continuou – Eles estão a rastreando. Não importa para onde ela seja levada, vai ser fácil de descobrir onde está. Mesmo que encontre, vai estar colocando uma família com o coração tão bom em imenso perigo.

Lilian sabia que tentar manipular Dumbledore era um jogo perigoso. Mas ela também sabia o quanto o diretor gostava dela e a tratava diferente dos outros alunos por seu lado grego. Ela também sabia que estava certa.

— Como vai manter ela em segurança nas luas cheias? – ele perguntou, claramente considerando o plano dela.

Lily contou sobre como os animais mágicos não a machucavam e como nenhum feitiço funcionava nela, se não quisesse, e disse que poderia passar a noite com ela na Floresta Proibida.

— Você pode manter a Srta. Bonavich aqui, mas nenhum outro aluno poderá vê-la, e se ela der qualquer trabalho, vão precisar sair.

Seu lado grego a privilegiava demais com o diretor, e ela amava isso. Lily voltou para seu quarto sentindo-se confiante.

Tinha três horcruxes em sua mochila, sabia onde as outras duas estavam, tinha Thomas e Amy consigo, e tudo parecia estar indo bem. Exceto pelo fato de que em uma semana seria lua cheia, e Amy seria obrigada a passar pelo inferno mensalmente. E Lily ainda não sabia como destruir as horcruxes.

Em seu caminho para seu quarto, uma lufana parou Lily, a chamando para a festa de ano novo que teria no Salão Comunal da Lufa-Lufa, e Lily disse que iria apenas para a garota a deixar em paz. Só então lembrou o quanto perderia em seus últimos seis meses em Hogwarts. Dificilmente iria para Hogsmeade, porque não conseguiria levar Amy, não teria mais seus momentos em paz nos jardins, não poderia participar de nenhuma festa e seria complicado ir para os jogos de quadribol.

Claro, ela poderia fazer tudo isso se simplesmente deixasse Amy sozinha no quarto, mas sabia que não conseguiria. A pequena já precisaria passar todo o tempo em que Lily estivesse em aula sozinha, e eventualmente a irritaria ficar só no quarto e escapar de vez em nunca, tendo que ficar invisível e sem poder falar para que ninguém a descobrisse.

— Lily? – ela chamou naquela noite, Lily a abraçando de conchinha e Amy abraçando seu novo urso, nomeado de Sr. Marronzinho.

Estava quase dormindo, mas forçou-se a ficar acordada e respondeu com um “oi”.

— Você teria mesmo saído de Hogwarts para ficar comigo? – Amy perguntou e Lily a abraçou mais apertado, amando a forma como ela se embolava para pronunciar Hogwarts corretamente.

— É claro – respondeu – O que mais eu podia fazer?

Ela se virou, ficando de barriga para cima, e Lily sussurrou “Lumus” e o quarto se iluminou, mostrando o rosto ansioso de Amy.

— Você podia deixar Dumbledore achar outra família para mim – ela respondeu, apertando seu ursinho com mais força.

— Eu poderia, se você quiser – Lily respondeu, sentindo sua garganta apertar, nervosa com a possibilidade de se afastar dela.

— Eu não quero – Amy respondeu, fazendo o corpo de Lily relaxar aliviado – Eu quero ficar com você, mas não quero te atrapalhar.

Lily beijou a testa da garota e olhou diretamente nos olhos.

— Você nunca vai me atrapalhar, ok? – disse – Eu vou sempre cuidar de você.

Ela assentiu, e Lily sentiu que ela queria falar mais alguma coisa, então esperou um pouco.

— Você é minha família agora?

Lily sorriu com a pergunta, pensando em como havia se sentindo da mesma forma quando pensava que era órfã, a necessidade de sentir que pertencia em algum lugar, de se sentir segura.

— Se você quiser que eu seja – respondeu.

Amy assentiu novamente e virou-se para a posição que estava antes. Lily apagou a luz e quando estava quase dormindo quando Amy resolveu falar novamente.

— Eu te amo, Lily.

Lily sorriu, apreciando como as crianças falavam isso tão facilmente e de forma tão pura, e não pode evitar de reconhecer que sentia o mesmo. Menos de uma semana, e Lily já havia matado, roubado, fugido e ameaçado largar a escola por Amy, e sabia que faria tudo isso e muito mais por ela.

— Eu também te amo, Amy.


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