Inquebrável escrita por Danielle Alves


Capítulo 24
Vinte e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Voltei! ♥
Tudo bem com vocês? Espero que sim. Deixa eu atualizar vocês, minhas amoras...
Consegui um notebook temporariamente para poder escrever pra vocês. Não é tão bom quanto o antigo, mas... Ao menos poderei deliciá-las com a minha história. Espero que gostem dos próximos capítulos e me perdoem pela imensa demora. Desde já agradeço a todas pelos comentários, pela força e pelo carinho. Vocês são dez! ♥



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Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. — William Shakespeare

 

LETÍCIA PADILHA SOLÍS

— E você chama isso de vingança?

Torci os lábios numa linha fina. Contei o que havia acontecido, e ele pareceu nada satisfeito com o rumo da minha decisão.

— Você faria algo melhor? — ataquei tendo um repentino surto de raiva; nos últimos adquiri dificuldade em conter minha raiva.

Ele me encarou como se fosse óbvio, nenhum pouco afetado com meu excesso de raiva. Nós estávamos em um restaurante de um hotel luxuoso, da qual não me recordava o nome, mas a franquia era norueguesa. Cassian me convenceu a conversar com ele antes de voltar para casa com as minhas tralhas porque poderia causar uma comoção, porém estava ciente que cedo ou tarde teria de contar a verdade para os meus pais.

E embora eu estivesse destruída demais para aproveitar qualquer coisa, me rendi ao prato de frango com aspargos ao molho de queijo e cerveja. Cassian, por outro lado, pediu carne de rena com purê de batata e molho cranberry. Apesar da minha cara de nojo, ele me assegurou que era delicioso. Dei de ombros. Cada um com seus gostos.

Concordamos em beber vinho.

— Talvez eu começasse tomando a empresa — sibilou como uma voraz serpente. — Ou os deixaria acreditar nisso. Demitiria alguns funcionários, especialmente aqueles que tentaram me sabotar, reduziria gastos e iniciaria um novo projeto para fazer a empresa crescer.

Arqueei a sobrancelha.

— A empresa já está crescendo, em menos de seis meses vão se reerguer, principalmente com os projetos que iniciamos juntos, esqueceu?

Cassian sorriu enigmático.

— É mesmo? — dúvida preencheu minha mente, mas ele continuou. — De qualquer forma, você tem boa relação com os clientes, com os bancos. Acredito que você faria a Conceitos sair do vermelho antes desse período.

O lindo homem só poderia estar louco. Será que ele não entendia? Neguei.

— Não quero pôr as mãos nesta maldita empresa, nem fazê-la crescer para devolver no fim. Quero apenas distância dessa gente.

— Você está sendo covarde. — ressarciu. Não me importei.

— E prudente. Não quero problemas na justiça, apesar de duvidar e muito da palavra de seu Humberto. Essa gente não tem coração.

A expressão de Cassian arrepiou-me dos pés à cabeça. Ele pareceu sombrio demais.

— Não entendo porque hesita, então. — ele sorveu um gole de vinho elegantemente. — Neste caso, tome a empresa, erga-a e não devolva. Se está convencida de que enfrentará a justiça, então use as armas necessárias para se defender, afinal de contas, a empresa está no seu nome não porque a roubou, e sim porque Fernando a pôs em seu nome, doçura.

Suspirei. Ele pode ter razão, mas...

— Eu me sentiria péssima. Não é de minha índole retribuir o mal.

— Toda ação gera uma reação, Letícia. Isso tudo teria sido evitado se tivessem agido como seres humanos, e não carrascos.

Fitei os lindos olhos azuis, ponderando acerca de suas palavras. Tinha a leve impressão de que estava sendo seduzida pelo demônio, era tão tentador. Uma parte de mim queria destruí-los, deixá-los na rua, dar-lhes uma dose da realidade. Do quão cruel pode ser a vida de quem começava por baixo. Entretanto, havia meu pai e seus conselhos. Ele me assegurou que a vida era capaz o suficiente de vingar-se por nós.

Mas a minha mente conturbada recobrou-se da forma como Humberto me tratou, o olhar de desprezo da dona Márcia, e a maldita e dolorosa carta do Omar, e o seu Fernando... Como puderam fazer isso comigo? Eu estava disposta a dar a vida pelo seu Fernando. Grunhi, sentindo o gosto amargo da traição na boca. Era sufocante lidar com todos aqueles sentimentos. Com a amargura de ser tratada como lixo desde minha infância. Ainda assim, uma vozinha me disse que não adiantaria me vingar apenas deles, senão de todos os que me fizeram mal.

Larguei o frango na metade, meu estômago ficando embrulhado com a narrativa cansativa que minha cabeça fazia dia após dia desde a carta do Omar. Eu fui tão estúpida. Como eu odeio aqueles homens, como eu odeio o seu Fernando. Eu estava disposta a deixar tudo que vivi para trás, estava convencida de que minha vida seria diferente com o seu Fernando, convicta que não reviveria o meu catastrófico relacionamento com Miguel. É difícil ignorar a sensação de que não é meu destino viver o amor. Isso está fora de cogitação para alguém como eu ao que parece.

Tomo minha decisão.

— Prefiro desaparecer, Cassian. Quero começar uma nova vida, longe de tudo e todos. — declarei após um momento.

Meu amigo havia concentrado toda sua atenção no meu rosto. Ele me analisava com aqueles lindos olhos azuis encantadores e perscrutadores. Esbocei um leve sorriso tranquilizador; era realmente o que eu queria.

Cassian suspirou em resignação.

— Como quiser. — Ele voltou a beliscar sua costela e gesticulou que eu continuasse comendo. Apesar da náusea, eu obedeci.

Ficamos num confortável silêncio até terminamos de comer, então ele disse:

— Que tal trabalhar para mim?

Arregalo os olhos de espanto após me limpar com um guardanapo.

— Por que eu deveria? Não preciso de sua pena, Cassian.

Ele revirou os olhos e dispensou meu comentário com um safanão.

— Pare de dizer bobagens. Nós precisamos de uma assistente corporativa já que a anterior pediu demissão porque vai se casar em Londres.

Mordi o lábio inferior. Parecia coincidência demais que eu recebesse tal proposta, ainda mais para me tornar assistente de Cassian. Seus olhos se fincaram nos meus lábios por um momento e em seguida seu olhar se agarrou ao meu. Ignorei a comoção que meu estômago teve com aquilo.

— Eu não sei se é uma boa ideia me tornar sua assistente.

Ele sorriu malicioso demais para o meu gosto.

— Isso é medo de repetir a história? Você sabe que eu jamais machucaria esse coraçãozinho.

Fiquei tentada a jogar meu garfo nele, mas apenas balancei a cabeça.

— Não seja inconveniente.

Cassian bufou e puxou uma das minhas mãos. Quebrei o contato visual, me recusando a acreditar em qualquer baboseira que sairia daquela linda boca. Estava me convencendo que aqueles olhares que me lançou eram apenas coisa da minha cabeça, não me submeteria mais uma vez a esse fetiche obsceno de destruir e iludir mulheres feias que esses homens possuíam.

— Eu falei a verdade, — ciciou ao beijar meus dedos. Estremeci, sem entender o que aquilo significava. Mas talvez eu devesse admitir que era agradável ser confortada por um homem bonito. — porém você não será a minha assistente, e sim de minha irmã, Gwendollyn.

Menos mal. Chega de homens bonitos no trabalho.

— É?

Seus lábios roçaram meus dedos e dessa vez decidi que era prudente puxar a mão. Cassian piscou para mim e eu rapidamente perguntei:

— Como ela é?

— Se você está preocupada com a conduta de minha irmã, vou tranquilizá-la dizendo que a pirralha só é megera com aqueles que realmente merecem.

O mesmo garçom que nos atendeu nos perguntou se queríamos alguma sobremesa, e eu percebi que o enjoo havia sumido e estava louca pelo milkshake de morango que vi no menu.

— Se a dona Gwendollyn é como você, então acho que me sinto à vontade para aceitar.

Ele riu. Cassian parecia um garotinho rindo daquele jeito. Notei que se criavam covinhas em ambos os lados da sua boca, que o deixava mais charmoso. Como se isso fosse possível.

— Não a chame desse jeito ou ela terá um sincope.

Corei suavemente.

— Então como devo chamá-la?

— Minha irmã é bem direta, vai informar tudo que você precisa saber. Mas antes, irei contatá-la.

Eu apenas assinto, sem muito mais o que dizer. Me sentia cansada, extremamente cansada entretanto repentinamente esperançosa com uma nova oportunidade para provar meu valor.

— Lamento por tudo. Eu gostaria de poder arrancar toda dor que está sentindo. — sussurrou com sinceridade, novamente segurando minha mão. Seu toque era acolhedor.

Abro um leve sorriso de canto.

— Eu também queria arrancar tudo isso, me livrar desses sentimentos, desses traumas. Queria ser livre.

Os dedos dele roçaram nos meus e me perdi naquele intenso olhar de mar cristalino.

— Você pode ser livre se quiser, Tícia, mas pra isso precisa sair da zona de conforto.

Concordei com a cabeça. Ele tinha razão. Eu precisava sair do conformismo. Logo teria trinta anos e precisava viver mais.

— E como faço isso?

O sorriso travesso que se expandiu em seu rosto fez com que eu me arrependesse logo em seguida.

 

FERNANDO MENDIOLA

 

O desespero me consumiu. Era incapaz de pronunciar qualquer palavra conforme todos me abordavam. Meu pai segurou meu braço, e só então percebi que estava de pé. Não conseguia escutá-los, me preocupava unicamente com a Letícia. Eu fitei o rosto do homem que me criou e confiou em mim.

— Me perdoe, papai, mas preciso ir. — soltei involuntariamente.

Humberto Mendiola pressionou meu braço como nunca, os olhos endurecidos e decepcionados. Posso supor tudo o que está pensando, que não passo de um moleque irresponsável e egoísta. Talvez eu seja mesmo, porém naquele momento eu não dava a mínima. Eu sabia que não merecia a Conceitos — nunca mereci.

— Onde pensa que vai, Fernando? Depois de tudo que fez, vai simplesmente fugir?

Pisquei algumas vezes. Por onde eu começaria? Como diria que estava mais interessado em saber o paradeiro da mulher que eu amava? Que eu precisava ir atrás dela e implorá-la de joelhos que me perdoasse? Que o feitiço se virou contra mim e agora era seu escravo?

Olhei ao redor sem exatamente notar os rostos dos que me fuzilavam. Estava perdido, emergido e submerso ao mesmo tempo, ciente e inconsciente de tudo. Eu apenas queria escapar dali — daquela prisão familiar, do meu próprio fracasso em manter a empresa. Ao mesmo tempo queria o perdão daqueles dali, mas principalmente... Eu queria...

Senti algo quente deslizar pelo meu rosto, não precisei de muito para entender que aquilo eram lágrimas. De tristeza ou alívio, eu não sabia. Novamente dirigi a atenção para o rosto do meu pai, e eu disse, com toda sinceridade que consegui extrair do meu coração:

— Perdão, papai, eu fracassei. Ariel estava certo, eu não mereço o cargo de presidente desta empresa.

Ouvi a risada dele, daquele homem tão desprezível quanto eu. Daquele que desde muito jovem possuía tudo que eu queria. Mas agora não importava mais. Que ele dizimasse a empresa, que fizesse o que quisesse. Eu não me importava mais.

— Finalmente você está agindo como homem, Fernando, estou impressionando. — seu tom era asquerosamente malicioso, sem um pingo de compaixão. Não que eu esperasse isso dele.

— Como você nunca fora, Ariel, mas não quero discutir com você. Não lhe devo nada, senão aos nossos pais. — rebati sem me alterar.

Lágrimas grossas deslizaram por meu rosto, e eu segurei firmemente o braço do meu pai e encarei o rosto de todos aqueles que confiaram em mim.

— Eu fracassei e assumo a responsabilidade de tudo. Mas agora... Não posso dar-lhes explicações.

Márcia bateu o punho na mesa, com os olhos azuis marejados de raiva.

— Como você pôde? Como pôde ter confiado naquela mulher e não em mim? Depois de tudo que fiz por você, como... O que ela fez com você, Fernando? Me diga!

Não a fitei, incapaz de suportar a culpa.

— Eu preciso... eu preciso ir.

Não esperei por respostas deles, simplesmente saí, deixando todos em silêncio.

 


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