Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 65
Capítulo 64 — Charadas Narcisistas


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem voltou depois de quase um mês sumida!
Eu poderia inventar um montão de desculpas bem elaboradas, mas vou dizer simplesmente a verdade: estava desanimada demais para postar e também me foquei em outros projetos nessas semanas. Foi isso. Mas prometo, de verdade, postar mais rapidamente, pois já estamos na reta final, afinal! Peço desculpas, viu?

Boa Leitura ♥



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♦ Louisa Northrop ♦

 

Quando a espécie de luz alaranjada e quente — que mais lembrava um minúsculo sol soltando pequeninas labaredas de fogo — passou direto pela superfície de uma das portas brancas, Louisa achou que as coisas não poderiam ficar mais esquisitas.

Olhou ao redor novamente. Já era mais do que assombroso o fato de, após ter caído na escuridão sem fim, o cenário ainda ser exatamente o mesmo:

A grande sala oval com doze portas circundando-a; o pedestal de antes continuando em seu âmago.

Contudo, um único detalhe tornava tudo diferente:

Estava sozinha. Não se via rastro algum dos colegas por ali. Era como se, desde o começo, Louisa tivesse sido a única a ter entrado na torre de Júpiter.

"Que estranho...", fez uma careta, incomodada.

Louisa nunca fora muito chegada à mitologia. Muitos bruxos gostavam, pois não foram poucas as figuras mitológicas famosas que, na verdade, tratavam-se ou derivavam de assuntos mágicos (fato que, logicamente, os trouxas desconheciam), como exímios usuários de magia dos tempos antigos, além dos animais bizarros.

Em suma, Louisa não era tão leiga no assunto.

E, olhando os desenhos de raios espalhados pelo revestimento das paredes, pegou-se lembrando de repente de um de seus tios por parte de mãe, que era completamente fascinado por Júpiter. Sempre que Louisa estava por perto, ele a obrigava a escutar intermináveis histórias sobre o "Senhor do Olimpo".

Felizmente (ou não), fazia alguns anos desde seu último encontro com o tio, e tudo por causa de um infeliz acontecimento.

Louisa possuía ciência de que Victor Black detestava mitologia mais que tudo. Todavia, coincidentemente, sempre que seu tio estava presente, o garoto também não estava muito longe. Sendo assim, ele tinha de ficar escutando todas aquelas histórias por pura educação.

No entanto, um dia, Victor deveria ter se enchido de tudo aquilo pra valer, pois não demorou para bolar um plano:

Na época, um dos irmãos Avery havia confidenciado que objetos grandes e metálicos eram bastante propensos a atrair raios. Com essa informação em mente, uma vez Victor presenteara o tio de Louisa com um chapéu bem chique e bonito, que possuía uma fivela de metal enorme acima da aba.

Sendo assim, no mesmo dia, enquanto o homem contava mais uma das intermináveis histórias sobre Júpiter para Victor e Louisa (algo sobre ele ter sido criado por várias pessoas, sendo uma dessa Melissa, uma ninfa que o amamentava com leite e mel), uma coisa terrível aconteceu:

Geralmente, o tio de Louisa mostrava-se adorar conversar enquanto chovia em sua cabeça, pois alegava que assim "Júpiter estava mais presente".

O problema era que o chapéu com a fivela metálica continuava em sua cabeça. E quando um raio horrível atingiu em cheio o acessório, Louisa achou que houvesse ficado surda com o barulho tremendo.

Depois disso, tudo o que lembrava era de ter caído no mais completo choro (afinal, achava que o fato de o próprio tio estar estirado e imóvel no chão significava que ele estava muito longe de continuar fazendo parte do mundo dos vivos) enquanto Victor gargalhava feito louco, dizendo impiedosamente entre os intervalos que fazia para puxar ar: "Uau, sr. Shafiq¹! Júpiter realmente deve ter achado que falta energia na sua história!"

Desde aquilo, Louisa nunca mais vira o tio, que felizmente conseguiu se recuperar de quase todos os danos psicológicos que o raio causara.

A esposa dele ficou num verdadeiro pé de guerra com a família Black (que alegaram insensivelmente que Victor era só uma criança, e que o sr. Shafiq devia ter um pouco mais de bom senso quando começava a fazer papel de inconveniente), antes de se mudar para outro país com o marido.

Agora, tudo o que Louisa sabia sobre o tio era que ele continuava a ter algumas alucinações de vez em quando, além de não sair mais de casa em dias de chuva.

Forçou-se a esquecer de toda aquela história ao seus olhos-safiras baterem novamente na porta à sua frente, a mesma que a "luz-solar" atravessara há alguns segundos.

Levantando um pouco a cabeça, a imagem de um símbolo de lira, feito com uma moldura extremamente elegante, fez-se nítida em sua retina.

Louisa passara os últimos minutos tentando (em vão) abrir o restante das portas daquela sala antes que aquela luz aparecesse de repente.

Olhou para a maçaneta "Hum... Vejamos essa...", forçou-a, e surpreendeu-se com o "click", assim como o movimento que a porta fez para frente, abrindo uma pequena brecha.

Louisa ficou mais alguns segundos pensando. Entrava ou não entrava?

Olhou uma última vez ao redor, na esperança de que algum de seus colegas aparecesse, nem que fosse caindo do teto...

... E nada.

Superando esse fato, deu um passo à frente e adentrou a sala.

A primeira impressão que teve foi de ter mergulhado num ambiente caloroso e suave. Era como se o próprio sol estivesse a milímetros de distância, contudo, a sensação era serenamente aquecedora, em vez de um calor causticante (como seria de se esperar se o sol realmente estivesse perto).

Impressionou-se com a beleza do cômodo. A primeira impressão era que tratava-se de uma sala de visitas comum. Havia uma lareira acesa, de onde ouvia-se lascas de madeira queimando (um som bem aconchegante); no canto esquerdo da sala, repousava, em um suporte, uma linda lira dourada, com contornos de louros em sua extensão. Uma bonita melodia era tocada enquanto as cordas do instrumento mexiam-se sozinhas.

Uma mesa de madeira perfeitamente polida (também com adornos de louro) estava situada próxima da lira, suas pernas tendo (curiosamente) formato de serpente. Uma bandeja cheia de frutas estava sobre ela. Havia ainda muitas mobílias, o que deixava quase nenhuma parte do belo piso cerâmico à mostra.

Embora parecesse um ambiente normal esteticamente, havia ali, em cada canto, móvel e objeto, uma calorosidade indescritível, como se tudo expressasse aconchego.

Louisa também não conseguia despregar os olhos das paredes: feitas de granito de cor exuberantemente creme, era totalmente preenchida pelos mais diversos desenhos: vários sóis (que apresentavam uma luminosidade fascinante); cantos repletos de louros (essa característica estava começando a fazer Louisa se lembrar de algo...); uma manada de monstros sendo atingidos por uma saraivada de flechas, apresentando uma derrota sangrenta; e um lindo desenho de uma carruagem voadora que brilhava absurdamente, sendo puxada por admiráveis grifos (aves mitológicas).

Louisa sentia-se fascinada.

As preocupações em relação ao pedaço do Cristal Maldito começaram a desaparecer, e a menina viu-se, de repente, tentando controlar o impulso de se acomodar num sofá e apreciar a música e a paz do ambiente.

Olhou para a lareira. Em frente a ela estava um grande e confortável sofá vintage, com várias almofadas para se acomodar, quase tão belo quanto o par que a família Black possuía na própria sala. Um belo lugar para se receber visitas...

"Onde será que..."

— Shhh!! Silêncio, Kaiki! Vai acabar nos expondo! — um sussurro repreensor soou de algum lugar da sala inesperadamente.

— Sinto muito, Ravi. — outra voz respondeu, soando um pouco envergonhada. — Você sabe que fico angustiado quando passo muito tempo sem tocar...

— Mas nos escondemos não faz nem dois minutos! — a primeira voz retrucou, entre perplexa e irritada. — Você não iria morrer se largasse essa lira por algumas horas...

— Mas...

— Kaiki, Ravi. — uma terceira voz fez-se presente, interrompendo a pré-discussão das duas primeiras. — Se ainda não se deram conta, nossa visita já chegou há um tempo...

— Ahá! — a primeira voz exclamou, triunfante. — A visita cruzou as portas exatamente às 2:37! Assim como profetizei!

 Na verdade ainda são 2:20... — a segunda voz observou. — Girassol quem na verdade acertou...

— Por mais que seja fato eu possuir um senso evidentemente mais apurado para profecias do que vocês, ainda temos uma visita para receber. — a terceira voz relembrou, bastante concentrada. — Quem fará as honras?

Silêncio. E Louisa imaginou que, quem quer que fossem as verdadeiras pessoas por trás daquelas vozes, a ideia de receber alguém não devia ser tão animadora assim.

Foi então que a primeira voz anunciou:

— Kaiki quem vai!

— Hum? Mas por que e...

Um barulho alto de algo sendo chutado foi escutado exatamente na mesma hora em que algo atravessou/caiu do teto, pousando na frente de Louisa de cabeça para baixo.

A menina deu um salto para trás. O que era aquilo?!

O primeiro pensamento que lhe ocorreu era que se tratava de um anjo. Era pequeno, enrolado num tecido branco (o que fazia parecer que ele trajava uma espécie de vestido), cabelos castanhos encaracolados e um rosto perfeitamente angelical. As bochechas eram um pouco rosadas e seus cílios longos criavam um perfeito contraste com seus lindos olhos avelãs. Uma lira prateada estava em suas mãos, e as belas asas (reforçando ainda mais que tratava-se realmente de um anjo) batiam suavemente em suas costas, evitando que ele se chocasse de cabeça no chão.

O pequeno ser arregalou os olhos no momento em que eles cruzaram com os de Louisa.

— Aah!... — ele assustou-se um pouco, tratando de virar o corpo de volta para cima. Suas bochechas coraram violentamente. — A visita... Quer dizer, você deve ser a visita... — ele pareceu um pouco perdido, apertando fortemente o instrumento entre os dedos. — Eu... Precisava receber? Mas como...?

Ele devia estar uma pilha de nervos, pois, no mesmo momento, começou a tocar sem parar. Talvez ele achasse que, ao fazer aquilo, concretizaria assim sua missão.

Enquanto isso, Louisa estava mais confusa do que nunca.

Que trasgo estava havendo ali?

Porém, antes que pudesse pensar em alguma explicação plausível (e ainda estava difícil raciocinar com toda aquela música desesperada), outra figura caiu do teto, certamente tendo sido chutada também.

Tratava-se de um anjo novamente, mas dessa vez de cabelos louros e vestimenta creme, com um arco na mão e uma aljava nas costas . Assim como o primeiro, tinha aparência extremamente bela e angelical, contudo, os olhos âmbar apresentavam um brilho ferino e malandro.

— Francamente, Kaiki. — ele passava as mãos nas vestes tranquilamente, como se tirasse algum tipo de vestígios de imundícies invisíveis. — Com certeza você precisa melhorar suas técnicas de receber as pessoas. Ainda mais quando a visita trata-se de uma verdadeira beldade... — ele aproximou-se de Louisa, beijando a palma de sua mão descaradamente. — Sou Ravi, querido raio de sol. Estou aqui para responder todas as dúvidas dessa sua linda cabecinha loura.

— Achava que isso era trabalho do Girassol... — o anjo da lira continuou a tocar fervorosamente.

O anjo do arco fez um gesto de desleixo.

— Besteira. Todos aqui sabem que sou o único que realmente manda muito bem! E devo dizer, gracinha — ele enrolou uma mecha do cabelo de Louisa, deixando-a paralisada com tamanho atrevimento. —, que você alegrou bastante essa tediosa madrugada.

"O que é isso??"

— Ah!... — numa mistura de susto e incômodo, Louisa se afastou. — Err... Desculpe, mas terei de pedir que não se aproxime mais desse jeito. É falta de bom senso...

Na mesma hora o anjo arqueiro fez uma careta azeda e confusa, tratando de voar um metro para trás.

O acontecimento devia ter animado o anjo da lira, pois ele começou a dedilhar uma música mais animada em seu instrumento.

— Ai, ai, francamente... — sendo surpreendida, Louisa olhou com rapidez para cima ao ver mais um anjo surgindo do teto (mais um...?). A única diferença estética que ele possuía dos dois irmãos eram os cabelos negros e olhos cinzas tão brilhantes quanto os de August. Ele balançava a cabeça em negação. — Realmente sou o único quem deve possuir alguma classe... — ele se aproximou, lançando um olhar censurador para os dois outros. — Há anos eu digo que o primeiro gesto que precisa-se ter com uma visita é convidá-la a se acomodar. — ele apontou para o aconchegante sofá em frente a lareira.

— Blé... — o anjo arqueiro fez muxoxo. — Mas isso não é nada fabuloso. É imensamente melhor um dia inteiro praticando arqueria. Isso sim seria um bom convite.

— Eu acho que um bom concerto musical seria mais emocionante... Uma apresentação com diversos instrumentos, o som do violino e piano soando juntos... — o anjo da lira comentou, os olhos enchendo-se de lágrimas em intensa comoção. — Seria tão lindo...

O terceiro anjo que descera (Louisa reparou que ele carregava consigo um tipo de maleta parecida com a dos médibruxos) fez pouco caso.

— Tenho a mais indiscutível certeza de que assuntos medicinais são, sem dúvidas, mais atraentes. Contudo, isso não vem ao caso agora. — ele virou-se para a menina, e Louisa percebeu que ele devia se tratar do "mais centrado" dos três. Ele esticou a pequena e delicada mão em sua direção. — Venha, senhorita de beleza profundamente encantadora. Irei te receber da maneira correta.

Louisa hesitou por alguns segundos. Elogios costumavam embaraçá-la um pouco. Contudo, não captou nenhum brilho de maledicência ou algo inclinado para más intenções nas íris cinzentas do anjo. Sendo assim, pegou timidamente em sua mão, no que foi guiada para o sofá. O calor da lareira pareceu dar mais energia para seu corpo, diminuindo um pouco a desconfiança que sentia sobre aqueles serezinhos.

Os três postaram-se à sua frente.

Olhando-os mais de perto, Louisa percebeu que, mesmo se quisesse, não conseguiria concluir com exatidão a idade que teriam — ou pareciam — ter. Olhando aqueles belíssimos rostos angelicais, não soube dizer se tratavam-se de crianças, jovens ou adultos.

"Hum...".

Ajeitou-se mais no sofá, agora, possuindo certa curiosidade no olhar. — Quem são vocês?

O anjo arqueiro sorriu sagaz, da mesma forma em que o da lira pareceu um tantinho mais animado. O anjo médico apenas acenou levemente, como quem acabasse de permitir algo.

Com a deixa, o anjo arqueiro se prontificou:

— Eu sou Ravi! Anjo da Arquearia e da Caça! O mais forte, o mais rápido e o mais irresistível! — ele colocou o arco sobre o peito estufado, totalmente orgulhoso.

— Eu sou Kaiki, o Anjo da Música... — a voz do anjinho de cabelos castanhos era sensível, contudo, a alegria que aquele tipo de momento devia fazê-lo sentir era-se captável. Era uma pena que a terrível timidez quase a encobri-se toda. — Me considero m-muito bom...

— E eu — o inesperado olhar sereno e analítico que o anjo do meio lhe lançou fez Louisa ficar um pouco desconfortável. — sou Girassol, Anjo da Medicina. — apresentou-se educadamente. — E você, senhorita, está na torre de Febo.

"Ah! Bem que eu já tinha cogitado...", Louisa não pôde evitar de ficar surpresa.

Agora toda aquela calorosidade da sala, assim como os louros e sóis desenhados nas paredes, faziam mais sentido...

Mas ainda não sabia se aquilo significava algo bom ou ruim, pois Febo nunca fora um deus muito convidativo para ela (ainda mais considerando as intermináveis histórias dos diversos casos amorosos que o deus tivera).

É, realmente lembrar-se disso não era algo que lhe aliviaria muito...

— Oh, o nosso senhor é incrível! — Ravi, o anjo arqueiro, suspirou de repente. — Deus do Sol, oráculos, profecias, doenças, música, poesia, arco e flecha, beleza masculina e perfeição, além de muitos outros. Ele é incrível! — repetiu.

— Tem razão. — Girassol concordou. — Sou imensamente grato por agir nas áreas medicinais. — olhou para a maleta, sua expressão transpassando uma espécie de respeito para com o objeto. — Ajudar os outros com humildade é a marca de nosso senhor.

— Hã... Mas ele lançava muitas pragas também...

— Aos que mereciam, Kaiki. — Girassol o cortou, fazendo o outro se afundar em mais melodias tristes em sua lira. — Aos que mereciam.

Louisa estava começando a sentir a cabeça girar. Até o momento os anjos não haviam informado nada relevante além de dizerem que aquela era a torre de Febo (além de suas personalidades serem nitidamente questionáveis para os padrões comuns).

Finalmente uma luz acendeu-se em sua cabeça, recordando-se de um fato importante:

— Ei — chamou a atenção dos três, que pararam de conversar. — , vocês estão dizendo que essa é a torre de Febo, mas... — se concentrou. — Como poderia, se eu estava agora mesmo na torre de Júpiter? Para que isso fizesse sentido, eu teria de ter saído para o pátio das doze torres e entrado na de Febo, não?

Girassol, o anjo da medicina, negou pacientemente com a cabeça.

— A explicação para isso não é complicada, srta. Northrop. — "Como ele sabe meu nome?" — A torre de Júpiter, pai de nosso senhor Febo, está diretamente conectada, por magia, com as onze Torres restantes. Nosso mestre foi muito sábio ao planejar esse mecanismo.

"Mestre...?", Louisa estranhou, franzindo as sobrancelhas cautelosamente.

Decidiu não entrar no tal assunto por hora.

— Hum... — pegou-se olhando tudo ao redor, desde o chão até o teto. — Aqui não é um lugar para observar os planetas? — perguntou, sinceramente encucada. Estranhou não avistar ali dentro nenhum meio que desse acesso aos telhados da torre, como era comum de se esperar num local para fins como aquele.

Kaiki, o anjo da lira, errou uma nota.

— B-Bom... — ele tentou se recompor. — Assumimos formas e ambientes de acordo com os desejos das visitas...

— E é isso o que eu quero ver? — olhou-os, confusa.

— Você quer o Cristal Maldito, não quer? — Girassol perguntou retoricamente na lata, surpreendendo Louisa. Antes que a menina pudesse perguntar como ele poderia saber disso, o anjo continuou, calmamente: — Assim como nosso senhor, também trabalhamos com profecias e oráculos. Sabemos todos os dramas e inquietações que preenchem sua cabeça neste momento: preocupação com seus amigos e com seu próprio bem estar, considerando que este é um ambiente desconhecido; a esperança que sente de o Cristal Maldito ser achado logo, acabando, por fim, com toda a onda de cristalizações; a hesitação que sente por conta de certos assuntos familiares...

— Hunf, e pelo que analiso, você não possui culpa alguma para se auto-acusar, raio de sol. — Ravi cruzou os braços, continuando a opinar: — E daí que alguém da sua família incendiou aquele orfanato-trouxa? Você não tem nada a ver com isso.

— Tenha um pouco mais de sensibilidade, Ravi...

— Ah, fique quieto, Kaiki!

Louisa estava embasbacada. A ideia de eles conseguirem lê-la de alguma maneira lhe assustou mais do que esperava.

Normalmente mantinha-se reservada sobre assuntos que a envolviam, especialmente na frente de outras pessoas.

... E se eles resolvessem adentrar no assunto de alguns de seus problemas pessoais?

Girassol, ignorando o desentendimento entre os dois anjos, apenas encarou-lhe com mais atenção, como se acabasse de ficar a par de seus receios. Felizmente, não comentou tão intrometidamente sobre eles.

— Olhe, somos guardiões dessa torre, portanto é normal termos certos... Artifícios convenientes. Consigo ver nitidamente aqui, no seu coração — ele apontou com o indicador —, o grande desejo que sente em ser aceita. Bom, devo avisar que milagres não acontecem de um segundo para o outro, mas vejo uma boa aura em seu destino.

Piscou algumas vezes, tentando colocar os pensamentos em ordem, pensando brevemente na declaração do anjo.

Seria aquilo uma boa notícia, então?

Pigarreou.

— Hum... Sobre o pedaço do Cristal... — decidiu mudar de assunto. — Ele está aqui?

Ali estava outra ideia que não lhe agradava muito, mas tinha que perguntar.

Na verdade, a coragem que teve quando confirmou (diante da voz cavernosa da torre de Júpiter) que queria encontrar o pedaço do Cristal derivou-se principalmente do motivo de pensar que faria tal coisa em companhia de Iris, Matt e Emily.

Mas, agora, vendo-se sozinha, perguntava-se que atitude teria de tomar caso se visse frente a frente com o artefato mágico.

Para seu alívio, o anjo negou.

— Não. Você precisa executar outra tarefa antes de encontrá-lo. — ele lançou um breve olhar para os outros dois, como se notificasse que o assunto do momento requeria seriedade. — Creio que a senhorita deve ter ciência de que o pedaço do rosto de nosso senhor Febo não está no pedestal da torre de Júpiter.

Recordou-se do que a voz cavernosa falara:

"PARA OBTÊ-LO, PRECISAM CONSEGUIR DE VOLTA OS ROSTOS PERDIDOS DOS QUATRO DEUSES".

— Ah... Sim. — fez um gesto afirmativo. — Eu lembro. Então apenas preciso pegar o rosto do deus... Ele está aqui?

Ravi acenou prontamente, os belos olhos âmbar assumindo um alto brilho de contentamento.

— Ah, sim! Está comigo.

— Em nome dos sagrados poderes medicinais de nosso senhor Febo: o que raios o rosto de nosso senhor está fazendo com você? — pela primeira vez Girassol mostrou alguma indignação. — Devia estar comigo, Ravi!

— Pare de se achar, tenho muita mais competência do que você. — o anjo encolheu os ombros de maneira arrogante.

Kaiki coçou o queixo suavemente, pensativo.

— Hum... Mas Ravi, se isso é verdade, então por que mesmo depois de você tendo descido, Girassol quem realmente teve de receber a visita?...

— Cale a boca!

— Basta. — Girassol interviu duramente, respirando fundo. Louisa imaginou que ele devia estar se segurando para não acertar a maleta na cabeça dos dois. — Já não importa mais. Ao final do teste da srta. Northrop, você quem entregará o pedaço da escultura, Ravi.

Ele tentou parecer cem por cento tolerante, mas a voz saíra com uma má vontade extrema.

Ravi pareceu satisfeitíssimo, e antes que alguma provocação pudesse vir à tona, Louisa se adiantou:

— Mas se o rosto está em suas posses, por que vocês mesmos não colocam o pedaço de volta na escultura?

Kaiki segurou tremulamente a lira entre as mãos.

— M-Mas isso faz parte do desafio, madame...

— Como assim?

Devido a atenção que Louisa proporcionou a ele, o anjo enrubesceu de maneira inacreditável e saiu voando e tocando fervorosamente pela sala.

Girassol suspirou diante das notas da música, que agora saíam desgovernadamente.

— O Cristal Maldito não está fazendo bem algum para a maior parte da região. — gesticulou como se indicasse as torres como um todo. — Vejamos a torre de nosso senhor, por exemplo. Não há nenhum dano aparente, pois aqui, nenhum elemento de natureza fria ou sombria entra.

"Por que é como se fosse o Sol...", pensou.

— Exatamente. — ele concordou, como se Louisa houvesse pensado em voz alta. — Contudo, se for olhar em outras torres, há danos gravíssimos. Os outros guardiões não estão nada felizes, e por vezes perguntam se podem passar alguns dias aqui. Infelizmente as Três Vacas, guardiãs da torre da madrasta de nosso senhor Febo, têm-se mostrado as mais persuasivas...

— Há! Imagine só! — Ravi empinou o nariz. — Já é a segunda vez que aquelas máscaras de Baco pedem permissão para usar minha banheira de água maravilhosamente morna! — praguejou. — Da próxima vez, lançarei flechas sem dó!

Girassol balançou a cabeça, como se o fato de ter que conviver com alguém como Ravi fosse o castigo de sua vida.

— Voltando... — revirou lentamente os olhos. — Para resumir, não estamos nos sentindo afortunados com o Cristal por aqui. Por isso, pedimos humildemente que a senhorita passe no teste, coloque o rosto de nosso senhor de volta na escultura, e, por fim, leve o Cristal Maldito embora daqui para sempre.

— Espere aí... — Louisa franziu o cenho ante o pensamento que passou por sua mente. — Se o pedaço do Cristal Maldito está nesse local, como toda essa magia — fez um gesto amplo com a mão, apontando para a torre e aos próprios anjos. — não está sendo sugada?

Girassol deu um sorriso astuto.

— Temos conhecimento sobre essa pequena... “propriedade” do Cristal. — ele olhou para os outros dois. — Irei tirar sua dúvida, srta. Northrop, pois trata-se de algo simples. O Cristal Maldito, após se “alimentar” de toda a energia necessária, que, no caso, trata-se da magia no presente momento, ele precisa... Como posso dizer... Descarregar um pouco toda essa energia em algum lugar. Que, no caso, trata-se de toda essa região das Doze Torres.

— Servimos como um tipo de depósito... — Kaiki, o anjo da lira, pronunciou-se timidamente. — Já que o Cristal descarrega a magia obtida pelo castelo de Hogwarts nessa região, nossos fluídos mágico não são afetados, e sim, tornam-se ainda mais potentes.

— Contudo, em contrapartida, o Cristal está arruinando nossos lares, como já dissemos antes. — Girassol completou.

Louisa digeriu tudo aquilo lenta e concentradamente. Fazia bastante sentido...

Voltou-se para eles novamente. — E quanto ao teste? O que, exatamente, devo fazer?

— Ah, isso é fácil, raio de sol. — Ravi se apressou, levantando três dedos da mão direita. — Apenas será preciso que você responda à três charadas.

— Contudo — Girassol se intrometeu, lhe encarando agora em nítida advertência. —, deverá responder de maneira correta. Não haverá segunda chance caso um erro seja cometido.

— Hum... E se um erro acontecer?

— Seria catastrófico. Desastroso. Terrível.

— Mas — Ravi inclinou a cabeça, sorrindo de canto. — sabemos que uma menina tão graciosa não seria capaz de nos decepcionar. Não é mesmo, Girassol?

O outro acenou.

— Certamente. Kaiki, venha aqui.

Louisa ficou pensativa enquanto Kaiki se colocava ao lado dos outros. Não parecia ser complicado... Contudo, não podia esquecer que Febo era deus dos oráculos e profecias...

Engoliu em seco. Com certeza viria uma pergunta difícil.

Pensou no que sua mãe diria num momento como aquele.

"Você é uma menina inteligente, Louisa! Claro que vai conseguir!"

Que saudade que sentia dela...

Mirou os três anjos, a convicção espalhando-se sobre o brilho de seus olhos.

Levantou o queixo, determinada.

— Podem perguntar.

Ravi e Girassol olharam para Kaiki, revelando que ele quem iria começar.

O tímido anjo pareceu ter que juntar todas as forças para encará-la nos olhos, as mãos dedilhando o nada, como se tentasse tocar um instrumento invisível (Ravi havia arrancado a lira de suas mãos). Ele engoliu em seco, tentando se acalmar. Enfim, respirou fundo.

Olhou para Louisa: — "Qual é o ser mais magnífico e esplêndido, que possui a perfeição na arte de tocar e cantar, iluminando e encantando a todos com suas entonações angelicais?"

Silêncio.

Algo naquela pergunta não cheirou nada bem... Ou melhor, nada profissional. Louisa fez uma careta.

— Hã... — sua voz saiu entre incerta e duvidosa. — Seria... "Febo"...?

Os anjos pareceram impressionados, fazendo Louisa entender que havia acertado.

Logo, Ravi foi o próximo:

— "Qual o ser que é estupendo e magnífico ao manejar um arco nas mãos, que não erra uma flecha sequer, que guia todos os caçadores em suas jornadas, e que, mesmo assim, permanece irresistivelmente irresistível?"

Pausa.

— Hum... "Febo"?

E mais surpresa vinda dos anjos.

Por fim, Girassol deu um "passo" à frente.

— "E agora, quem é o ser mais fabuloso e excepcional na arte da cura de doenças, não existindo barreiras para se criar antídotos para qualquer enfermidade existente?".

A essa altura, Louisa já estava entediada.

— "Febo"?

— Ela é um gênio! — Ravi exclamou espantado, olhando para os outros dois.

— Realmente. — Girassol acenou.

— M-Mas, e-eu nunca vi isso... — Kaiki parecia verdadeiramente assombrado. — É-é mesmo possível?

Antes que Louisa se perguntasse seriamente se eles não estavam zombando de sua cara, um pedaço de mármore surgiu entre as mãos de Ravi.

O entregaram para Louisa.

— Você merece, raio de sol. — Ravi piscou. — Sabe, se já não estivesse com problemas do gênero, eu certamente te convidaria a ser minha bela anjinha.

"O quê?"

— Ah... — levantou-se, segurando o pedaço firmemente entre as mãos. — Obrigada pela... Hospitalidade. Preciso apenas colocar no lugar, é isso? — levantou a peça.

— Sim, madame... — Kaiki fungou, penoso. — Sentirei sua falta. Não sou muito bem tratado por aqui, sabe?

— Está livre para ir, senhorita. — Girassol limitou-se a apenas acenar com a cabeça, educadamente.

Louisa acenou também, dando a volta no sofá e tomando o caminho da porta.

Que loucura toda foi aquela que havia acabado de acontecer ali...?

— Ei! Olhem só! — virou-se surpresa com a voz de Ravi, que apontava para a superfície da parede acima da lareira. De repente, letras douradas e embaralhadas começaram a se mover rapidamente sobre a cor creme, logo formando palavras concretas.

— Isso quase nunca acontece... — Girassol segredou, aproximando-se com interesse.

Após mais alguns segundos, esperando as letras se juntarem corretamente, Louisa finalmente conseguiu ler as frases que haviam surgido:

"O Mistério do Cristal Maldito será desintrincado."

"O traidor irá perecer."

"O mascote de falsa pureza, incisado."

"Todavia, a mente mestra THA THRIAMVÉFSEI"

"... A mente mestra, o quê...?".

— Ei, vocês...

— Creio que não tenhamos tempo agora, senhorita. — no mesmo segundo Louisa viu-se sendo puxada por Girassol pela mão, que viera voando rapidamente até onde estava. — Acabo de sentir que mais dois rostos foram recuperados nesse momento. Você deve voltar logo.

— O quê?... — mas não houve tempo de dizer nada.

Sendo assim, a última coisa que viu da Torre de Febo (antes de ser encaminhada para fora) foram aquelas frases curiosas na parede, que Louisa mal teve tempo de pensar em seus verdadeiros significados.


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Notas finais do capítulo

♥ Curiosidades ♥

Shafic¹ — Um das família bruxas puro-sangue, pertencente à lista dos Sagrados Vinte Oito.

§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§

Gente, nem preciso explicar quem é Apolo/Febo, né? É somente um dos deuses MAIS MARAVILHSOS e MAIS PERFEITOS desse mundo! ♥
Gente, deu muita vibe de Percy Jackson esse capítulo, né? Confesso que adoro kkkk

Uma pequena curiosidade: os nomes dos três anjos (Kaiki, Girassol e Ravi) são todos relacionados ao sol ^-^

Quem será o deus da próxima torre? Conseguem adivinhar? E repararam que tem profecia na jogada, né? ;)

Mais uma vez sorry pela demora, guys. Prometo atualizar ainda essa semana mesmo! Quero acabar essa fanfic de verdade, é tudo que quero. Até a próxima.

Malfeito, feito. Nox.



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