Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 64
Capítulo 63 — Uma Dose de Coragem


Notas iniciais do capítulo

Yo!!! Preparados para descobrir a qual deus pertencerá 1° torre apresentada? Só digo uma coisa: pobre Emily!

Boa Leitura ♥️



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 ◘ Emily Parker ◘

 

Emily não sentiu o impacto.

Na verdade, quando abriu os olhos — sentindo que estava deitada em um chão liso, duro e, felizmente, sólido —, foi como se nunca tivesse despencado para o abismo da morte.

Sua cabeça girava, deixando-a parcialmente enjoada. Haviam alguns efeitos colaterais da situação de antes, afinal. Sentou-se, pressionando a testa com a palma. Estava um pouco suada. 

Olhou ao redor...

... E o sentimento de incredulidade veio instantaneamente.

Estava exatamente no mesmo lugar.

As doze portas continuavam a rodeá-la, as paredes ainda abrangiam as pinturas de raios e nuvens; a luz prateada era tão forte quanto antes.

Como isso era possível? Como poderia estar exatamente na mesma sala? Emily jurava que o chão havia sumido sobre seus pés e que havia, juntamente com os outros três colegas, caído para o desconhecido...

... Foi então que sua ficha caiu.

Estava sozinha.

— M-Mas... — murmurou temerosa, seus olhos varrendo os arredores com desespero, em busca de algum de seus colegas. — ... Cadê eles?...

Nenhum som. Nenhum ruído. Apenas sua respiração tensa e descompassada.

Era uma pegadinha? Seria coisa do Ryman, da Legraund e da Northrop, zombando de sua cara?

Pensamentos absurdos foram sendo formados em sua mente: achou que havia sido deixada ali sozinha no meio da noite para morrer de fome e desidratação; ou que todos estavam esperando-a do lado de fora para rirem de sua cara — ainda que o relógio apontasse uma e meia da manhã —, ou, até mesmo, que tudo fosse fruto de um sonho, ou melhor, um pesadelo-terrível, passando por sua mente.

... Em suma: pensamentos normais de uma pessoa consumida por um medo insano.

"Não... Acalme-se, Emily...", respirou fundo, buscando colocar as ideias em ordem.

Pensou em todos os pontos calmamente. Ela havia ido ali com Matt Ryman para procurar Louisa Northrop e Iris Legraund afim de encontrarem o pedaço do Cristal Maldito — mesmo que tivesse tido ciência dessa última parte por meio da voz estrondosa e misteriosa de antes.

Todos estavam tão tensos e tão nervosos quanto ela, o que levou-a a constatar que não, aquela história não tinha absolutamente nada a ver com uma pegadinha.

Além de que aquela voz não parecia ter sido obra de nenhum deles.

O lado positivo era que ela não estava se manifestando, onde quer que estivesse. Agora, mais calma, buscou arranjar alguma solução para seu problema imediato. Ou melhor: vários problemas imediatos.

Pensou em cada um deles:

 Estava sozinha;

 O lugar onde se encontrava era desconhecido e absurdamente aterrorizante (pelo menos para ela);

 Havia exatamente doze portas para se tomar;

 Não fazia a menor ideia de qual delas seria a saída.

Só tinha uma alternativa nesse caso: checar cada uma delas e torcer para que conseguisse ter sorte na primeira. Levantou-se, esfregando as mãos de nervosismo. Examinou cada uma das portas com atenção.

Todas eram revestidas de cimento branco e enfeitadas com adornos de mármore nas laterais, um tipo de arco se estendendo na parte superior. Tinham três metros de altura, como se aguardassem a chegada de um gigante. Emily tremeu diante dessa possibilidade tenebrosa.

Aproximou-se em passos tímidos da mais próxima, a que se encontrava à sua direita. Pregada em seu centro havia o símbolo de um pavão gracioso. Tocou na maçaneta dourada, seus dedos trêmulos. Apenas torcia para que não saísse em outro lugar esquisito ou que uma voz explodisse com ela como antes, propondo-lhe desafios.

Girou a maçaneta...

... E ela não se abriu.

— Hum?... — franziu o cenho. Tentou de novo. A porta não cedeu novamente. Estava trancada. — Como assim?...

Olhou ao redor. Com passos mais firmes, aproximou-se da porta à direita, que exibia o símbolo de um caduceu. Sabia que era um tipo de arma com cobras em volta, só não lembrava-se a quem pertencia...

Tentou abri-la. Igualmente não teve sucesso.

Emily começou a se preocupar um pouco; contudo, acalmou-se, pensando novamente nas palavras de Hagrid:

"Seja forte".

Adiantou-se, testando a próxima porta. Trancada. Tentou outra. Igualmente trancada.

— Ai, meu Deus... — sussurrou, sentindo uma bile em sua garganta. Estaria trancada ali? Começou a sentir um grande receio até mesmo para testar o resto das outras portas...

E então ele apareceu. Diante de seu rosto, como se tivesse surgido do além.

Emily gritou estridentemente ao ver as asas daquela criatura a centímetros de seus olhos. Deu um salto para trás. Seus pelos se eriçaram.

— O-O que é v-você?! — sua voz saiu tomada de horror.

Quando olhou-o com mais clareza, sua respiração amenizou um tantinho. Era bem menor do que parecia anteriormente (ou isso dava-se pelo motivo de tê-lo visto muito de perto) e decididamente inofensivo.

Tratava-se de um pássaro (um dos mais feios que Emily já vira, mas, ainda assim, um pássaro) de penugem rústica e amarronzada, pernas finas e arranhadas, cabeça magra feito um esqueleto, só em pele rosa.

Parecia um urubu. Só que um urubu de apenas cinco centímetros de altura e largura. Era um pássaro minúsculo. Mas o que o deixava mais exótico ainda era a luz avermelhada que o circundava, como se alguém estivesse segurando uma lamparina à suas costas.

Ele não respondeu à pergunta de Emily — o que era óbvio se tratando de um animal. Apenas a observava com seus olhinhos negros e maldosos como se estivesse decididamente interessado em sua pessoa.

Ou em sua carne, para ser exata.

De repente, a criatura fez um movimento longo com o pescoço, como se fizesse uma reverência. Emily estranhou, mas não abriu a boca. O pássaro então voou lentamente para o outro extremo da sala, parando em frente a uma das portas que Emily ainda não tinha tentado abrir.

Mesmo que temerosa e confusa, Emily não pôde deixar de sentir que ele a chamava para que fosse até lá.

Não seria sua primeira escolha, porém, sua ânsia desesperada para sair dali o mais rápido possível fez com que suas pernas ganhassem vida própria, rumando em direção ao pássaro.

A um metro de alcançar a porta, o pássaro fez algo que deixou Emily de cabelos em pé: flutuou para frente, atravessando a estrutura branca, como se fosse um fantasma.

Emily ficou parada alguns segundos no lugar, digerindo o acontecido. Por fim, mordeu o lábio, erguendo a palma para a maçaneta. Seus olhos repousaram-se sobre o símbolo um milésimo de segundo antes de a abrir.

Seu estômago girou. Uma lança ensanguentada.

Um mau presságio, com toda certeza.

Girou a maçaneta. Um clic suave anunciou sua abertura.

Assim que Emily adentrou o local, antes que pudesse ao menos examiná-lo, a porta se fechou atrás dela. Virou-se para frente novamente e apenas um único pensamento sondou sua cabeça: "Estou perdida".

A sorte, decididamente, não estava ao seu lado. Havia adentrado um lugar ainda mais horripilante que o anterior.

Tratava-se de uma sala retangular. Emily encontrava-se em uma das pontas. Os corredores laterais estavam empilhados de armas de combate, os objetos de luta estando até mesmo pregados nas paredes. Machados, lanças, elmos, facões, adagas, etc... Ou seja, tudo que era necessário para uma guerra.

Guerra. Esta palavra despertou algo em sua mente, mas ainda não sabia ao certo o que significava.

Haviam três estátuas na sala. Duas estavam postadas nos corredores laterais de frente uma para outra. A terceira se encontrava no outro extremo, diante de uma coluna grossa de mármore preto, que alcançava o teto, como se mantivesse o lugar amparado.

Todas eram idênticas. Possuíam quase três metros de altura — isso explicava a observação de antes em relação às portas — e eram rústicas e guerreiras. Usavam trajes de batalha, com lanças e espadas nas mãos. Suas estruturas apresentavam arranhões e cortes, como se tivessem acabado de sair da batalha.

Emily só podia classificá-las como medonhas.

A sala não tinha velas e nenhuma outra fonte de luz, contudo, uma aura avermelhada e intimidadora estava presente, como se houvesse uma fogueira localizada em seu centro, fazendo sombras nas paredes, que mexiam-se em sincronia como se fosse mesmo uma zona de guerra.

Aquela luminosidade um tanto "quente" a fez lembrar de que o sono começava a lhe abater. Seus olhos iam ficando pesados.

... Apenas um único ponto se destacava dos demais.

Do lado direito da sala, a uns seis metros de distância, um pouco depois da estátua, havia uma região coberta por cristais de cores lilás e ametistas resplandecentes, que tornava a luz vermelha da torre parcialmente opaca. Cerca de uma dúzia de armas estavam presas dentro dos cristais...

Cristais muitíssimo familiares.

"O Cristal Maldito está aqui!".

Com esse pensamento, Emily voltou-se com desespero para a porta, forçando a fechadura com o máximo de força que conseguia juntar em suas mãos.

Não adiantava, estava trancada.

O pássaro feioso teria lhe pregado uma peça? Teria ele se retirado da sala, exatamente como entrara, e trancado ela lá dentro?

Seria o cúmulo de azar.

Virou-se na esperança de localizar alguma outra porta no outro extremo da sala...

... E soltou outro grito estridente.

Diante de Emily estavam as três estátuas.

Como elas haviam chegado tão rápido e sem fazer um único ruído, Emily nunca chegaria a saber. Mas ali estavam elas: paradas, os rostos esculpidos lhe mirando com expressões endurecidas.

Quase desfaleceu com aquela visão. Agora sim conseguia imaginar a morte horrível e tortuosa que a esperava para dali alguns segundos.

"Morrer para três estátuas guerreiras...", lamentou, sentindo uma pena absurda de si mesma. "Nunca deveria ter aceitado vir para esse lugar... Nunca".

O que ela estava pensando? Como sequer cogitou a possibilidade de acreditar que seria forte, que encararia as coisas de queixo erguido? Foi uma completa loucura... Um erro. Tudo fora um erro. Nunca deveria ter seguido Anne para começo de conversa, não deveria ter vindo para aquele lugar bizarro com o Ryman... O que ela ganhou com isso?

... Pelo jeito, uma única coisa; ou melhor, três grandiosas e amedrontadoras estátuas prontas para lhe liquidar com apenas um olhar fixo e pedroso.

Havia agachado contra a porta, nem bem lembrando-se quando fizera aquele movimento. Mantinha as mãos estendidas para cima, como forma inútil de defesa.

— P-por f-fav-vor... — sua voz saiu ridiculamente trêmula, as palavras quase indiscerníveis. — P-por favor... N-não... M-me... Matem... — implorou, quase sufocando de pânico.

As três estátuas continuaram lhe olhando fixamente. Suas expressões não se alteraram nem um tiquinho.

Quando Emily começou a se questionar sobre a possibilidade de eles não falarem sua língua (seus idiomas seriam "estatatuês", talvez?), a estátua da direita virou-se para as outras duas.

— Bem... Essa garotinha miúda acha que vamos matá-la? — a voz dela era grossa e cavernosa, contudo, Emily conseguiu identificar a confusão em seu timbre.

— Hunf. — a estátua do meio cruzou os braços (o que originou um rangido tortuoso de pedra friccionando contra a outra), bufando. — Mas que insulto. Nem bem conseguimos nos apresentar e já somos tachados de monstros violentos.

A estátua da esquerda inclinou-se um pouco na direção de Emily.

— Ei, garotinha-miúda, caso não saiba, estamos de férias no momento. Nada de guerra, matança, sangue, tripas e...

— Ah, não me venha com essas palavras de paz, primeiro-irmão tolo. — a estátua do meio (que parecia ser a mais ofensiva e raivosa), brandiu a lança, o que fez com que Emily guinchasse. — A guerra acabou, mas minha sede de sangue continua intacta, como se nunca tivesse sido saciada! Nosso senhor te amaldiçoaria se o visse falar atrocidades desse tipo! — reprovou.

"Mas o quê...?", Emily as encarava um tanto incrédula agora.

Aquelas estátuas não tinham a intenção de matá-la (por enquanto) e pareciam um tanto... Dissimuladas.

Duas das estátuas continuavam absortas em uma discussão de princípios (um concordando com a paz e o outro com a guerra eterna), enquanto a terceira, a primeira que havia se pronunciado, olhou para Emily com atenção.

— Bem, você é o ser humano mais pequeno que já vi. Bem, não tive filhos, então não sei o tamanho de uma criança, e também nunca vi uma pessoalmente por ter crescido no campo de batalha... Bem, acho que você não parece ser um inimigo poderoso, somando com sua estatura fraca e falta de armas... Bem, acho que você é uma guerreira que não apresenta nenhum risco... — ele então olhou para os outros dois, que haviam parado de discutir após começarem a prestar atenção na fala (esquisita, diga-se de passagem) de seu companheiro, ambos perplexos. — Bem, ela deve ser apenas uma informante, não?

A estátua a favor da guerra soltou uma gargalhada que fez os pelos de Emily se eriçarem em sincronia.

— Há! Mas que tipo de informante seria essa? Uma coisinha minúscula e sem músculos...

A outra estátua (a que lutava pela paz), interrompeu o irmão impetuoso.

— Vocês dois precisam fazer um reajuste em suas memórias... Não recordam-se? Ela é a pessoa que irá recuperar a peça do rosto de nosso senhor. Fomos avisados agora há pouco...

— Bem, é verdade isso, primeiro-irmão. — a Estátua-Confusa (Emily a denominou assim) coçou a nuca (ou melhor, cabeça rochosa e esculpida), observando distraída a lança que tinha na mão direita. — Bem, mas achei que seria um participante mais conceituado... Bem, essa garotinha não parece saber ao menos falar... Bem, será que ela é um bebê? — indagou assombrado.

— Claro que não, terceiro-irmão. Você consegue ser ainda mais tolo do que o primeiro-irmão. — a Estátua-da-Guerra desdenhou. — Essa garota deve ter por volta de... — analisou Emily com atenção. — Cinco anos?

As outras estátuas concordaram, e Emily não pôde deixar de sentir-se humilhada, sua face queimando de vergonha. Era tão pequena assim?

Encontrou forças para dizer alguma coisa:

— Q-Quem são vocês? — perguntou baixinho, ainda recuada contra a porta.

As três estátuas se aprumaram, brandindo as lanças simultaneamente.

A Estátua-da-Paz se adiantou:

— Somos os Três Guardiões Sagrados desta torre. Sou o primeiro irmão, Atos¹, que quer dizer "agudo".

A Estátua-da-Guerra pigarreou, orgulhosa.

— Sou o segundo e mais esplêndido irmão, Atos, que quer dizer "agudo".

A Estátua-Confusa deixou cair a lança quando foi se pronunciar, pegando-a desajeitadamente. Seu braço musculoso colidiu com a cabeça da Estátua-da-Guerra, arruinando sua pose vaidosa. Recebeu do irmão uma expressão assassina.

— Bem, eu... Sou o terceiro irmão, Atos, que quer dizer... Bem, "agudo". — ele olhou para os outros irmão empolgado, como se dissesse: "Viram? Me apresentei direitinho!".

"Todos se chamam Atos?", Emily perguntou-se intimamente. E o fato de o significado ser "agudo" era uma contradição completa — suas vozes tinham o som de uma caverna rachando de tão grossas.

— Ah! É ótimo que nossos pais tenham escolhido nomes tão diferenciados para cada um de nós... — a Estátua-da-Guerra suspirou. — Não conseguiria viver com a humilhação de ter o mesmo nome que você, terceiro-irmão...

— Segundo-irmão, respeite o terceiro-irmão. Sabe que ele se magoa fácil. — a Estátua-da-Paz olhou para o outro de forma censuradora.

A Estátua-Confusa fungou.

— Bem... Me magoo fácil, sim.

— E como você se chama, garotinha-miúda? — a Estátua-da-Paz estendeu a mão de pedra para Emily, que recusou rapidamente (não com aquela lança a centímetros de seu rosto!).

Levantou-se, com pernas trêmulas.

— Emily Parker. — disse num fio de voz.

— Hunf, um nome simplório, sem extravagância ou qualquer deslumbrância. Digno de uma criatura fraca como você. — desdenhou a Estátua-da-Guerra.

A Estátua-Confusa franziu o cenho.

— Bem, mas o mestre não era fraco. Tanto que foi ele quem construiu esta torre, assim como as outras onze.

A Estátua-da-Guerra pareceu digerir o lembrete.

— Oh, sim. O mestre com certeza recebeu a benção de nosso senhor, como bem afirmava. Foi um dos únicos bruxos que prestou e apresentou algum valor.

A Estátua-da-Paz pareceu ficar aliviada.

— Parece que voltamos ao que interessa. — olhou para Emily. — Você, garotinha-miúda, deve conseguir cumprir o desafio para que possamos viver em paz novamente.

Emily sentia sua cabeça girar. Piscou rapidamente.

— M-Mas que... Que desafio é esse?! Onde eu estou?!

— Oras, é óbvio, criatura primitiva... — a Estátua-da-Guerra bufou. — Estamos na torre de Marte, o deus mais magnífico e poderoso de todos! — ele brandiu a lança novamente, e a luz vermelha da sala pareceu se intensificar.

Emily sentiu seu peito murchar. Tinha de ter entrado justamente naquela torre que pertencia àquele deus?

— É um e-engano... Não aceitei d-desafio nenhum, por favor, me deixem ir... — implorou.

A Estátua-da-Paz olhou-a confusa.

— Mas foi você mesma que aceitou o desafio, garotinha-miúda-que-se-identifica-Emily-Parker. Disse para a Voz-Absoluta na sala de ligação das doze torres.

— N-não fui eu quem... — antes que conseguisse explicar, foi interrompida pela Estátua-da-Guerra.

— Há! Essa criaturinha não terá a menor chance de passar pelo desafio. Não vejo o fogo da juventude queimar em seus olhos!

— Bem, mas ela precisa conseguir, não é? — a Estátua-Confusa olhou-os com preocupação. — Bem, senão aquele artefato perigoso continuará a destruir nossa torre...

Emily, atenta ao comentário, esqueceu o medo por um segundo.

— Artefato perigoso?

A Estátua-da-Paz assentiu, melancólica.

— Sim, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker. Olhe o que o Cristal Maldito já fez ao nosso lar. — ele então apontou para aquela região coberta por cristais que Emily havia reparado quando entrara.

Então realmente o pedaço de Cristal havia feito aquilo...

— Um absurdo, um completo absurdo! — a Estátua-da-Guerra exclamou revoltada. — Minhas melhores armas estavam ali! É uma desonra para meu senhor! Desde que esse pedaço de Cristal Maldito se instalou nessa região, nossas vidas foram por água abaixo!

— Bem, eu até peguei uma gripe... — a Estátua-Confusa fungou, coçando o nariz.

— A criatura deveria escolher uma arma para passar pelo desafio. — a Estátua-da-Guerra sugeriu, agora mais calma. — Pode ser a sua lança, primeiro-irmão, que é a mais poderosa de todas pelo simples e injusto fato de você ter nascido primeiro... — ele resmungou.

A Estátua-da-Paz negou com a cabeça.

— Nada disso, segundo-irmão. A garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker deve usar a varinha, como todo bruxo faz. Só assim para dar certo.

— Hunf. — o outro cruzou os braços. — Eles ainda usam isso? Parece que não acataram minha recomendação em substituírem esses objetos de madeira para lanças encantadas. Seria muito mais proficiente.

— Bem, eu tenho medo de bruxos... — a Estátua-Confusa comentou, encolhendo-se.

— Como você pode dizer isso sendo o nosso próprio mestre um bruxo?! — a Estátua-da-Guerra reprovou com raiva, brandindo a lança (pela quinquagésima vez). — Você é uma vergonha, terceiro-irmão, uma vergonha!

— Por favor, não comecem... — a Estátua-da-Paz suspirou, ressentida. — Justamente no momento do desafio da garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker deveríamos manter a calma e a compostura.

Emily finalmente explodiu:

— Eu não quero fazer desafio nenhum! Eu nem sei o que devo fazer, por favor, só me deixem ir embora!

Sua voz alta e disparada pareceu deixar as três estátuas surpresas.

— Ora, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker, o desafio é muito simples. Venha cá.

Emily, mesmo não querendo, deixou-se ser guiada até a metade da sala retangular, afinal, aquelas armas nas mãos das estátuas eram motivo suficiente para ir sem reclamar. A região cristalizada estava há apenas alguns metros à direita.

(Manteve-se numa distância de três metros em relação à ela).

As três estátuas tomaram posições nas laterais, deixando o corredor acessível para que Emily pudesse ficar exatamente de frente para o fim da sala, onde havia a coluna grossa de mármore preto.

— Veja bem, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker. — a Estátua-da-Paz começou, calmamente. — Aquela coluna á exatos quinze metros de distância, acima do palco, é o seu desafio. — ao olhar confuso de Emily, ele continuou: — Se apertar os olhos, a não ser que tenha problemas oculares, conseguirá identificar um botão de exatos zero vírgula cinco centímetros de altura, largura e comprimento. Sua tarefa é simples: com sua varinha, você precisa executar um feitiço que acerte no ponto exato do botão, fazendo-o ser perfeitamente comprimido. É isso.

— Só? — Emily indagou num misto de surpresa e incredulidade. Sua tarefa consistia em acertar um botão?

A Estátua-da-Guerra sorriu com sarcasmo.

— O primeiro-irmão disse que você deve acertar no ponto exato, criatura. Falhe nisso e as consequências serão desastrosas. Para você, é claro.

Emily estremeceu. Olhou para a coluna novamente e conseguiu localizar o tal botão minúsculo. Era realmente muito pequeno. Suas chances de acertá-lo já eram pequenas, e ainda considerando esse detalhe do "ponto exato", então...

— Por que vocês mesmos não o apertam? — perguntou, esperançosa, mesmo que no fundo já soubesse que seria em vão.

— É proibido. Nosso senhor nos amaldiçoaria, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker. — a Estátua-da-Paz lhe respondeu. — De acordo com as escrituras dos Três Anjos, crianças bruxas iriam solucionar o problema.

— Hunf, como se fôssemos meros imprestáveis... — a Estátua-da-Guerra resmungou. — Acertaria aquele botão com uma lança quebrada, de costas, e ainda de olhos vendados.

— Bem, acho que eu não conseguiria fazer isso. Bem, é, acho que não. — a Estátua-Confusa olhava para a coluna de mármore pensativa.

Emily mordeu o lábio, vendo que seria perda de tempo insistir.

Olhou para a Estátua-da-Paz — a única que não lhe aterrorizava tanto — uma última vez.

— S-Se eu conseguir... V-Vocês me deixam ir embora?

As três estátuas se entreolharam. A Estátua-da-Paz e a Estátua-Confusa disseram "Sim" em uníssono enquanto a Estátua-da-Guerra disse um "Não!" determinado.

Emily e os outros dois se voltaram para a Estátua-da-Guerra, que dera de ombros, explicando:

— Eu quero ver sangue derramado. Faz muito tempo que não tenho o prazer de retirar os órgãos de meus inimigos. Essa criatura me serviria muito bem, mesmo sendo pequena demais.

Antes que Emily pudesse entrar em pânico, a Estátua-da-Paz adiantou-se.

— O segundo-irmão está apenas brincando, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker. — disse ansioso. — Não está, segundo-irmão? — lançou um olhar endurecido para o outro. — Lembre-se que nosso senhor nos colocou aqui para descansar, e não massacrar as pessoas. Nossos dias de guerra chegaram ao fim, não faz nem um milênio! Pelos deuses, controle-se!

A Estátua-da-Guerra sibilou insultos baixinhos enquanto a Estátua-da-Paz virava-se novamente para Emily.

— Pois bem, chegou a hora do desafio. Prepare sua arma, ou varinha, como preferir. Observaremos ali atrás, não podemos interferir em absolutamente nada. Você estará sozinha, garotinha-miúda-que-se-denomina-Emily-Parker. Chegou a hora de ser forte.

Emily observou as estátuas se afastarem, atônita.

Como a Estátua-da-Paz sabia...? Era como se ela tivesse conhecimento de sua conversa com Hagrid...

A luminosidade da sala pareceu ficar ainda mais escura, o que atraiu a atenção de Emily para a coluna a quinze metros. Precisava acertar o botão.

Agora, com o ambiente mais escuro, conseguiu ver que ele era feito de ouro puro, sua luz dourada cintilando em contraste ao mármore preto.

Que feitiço usaria? Emily imaginou que deveria ser algo que "causasse uma pequena pressão"...

"Já sei!", pensou, aliviada. Havia aprendido ele recentemente nas aulas do prof. Hughes. Mesmo não tendo sido a melhor da turma (o posto era sempre ocupado pela Northrop...), foi até que bem aceitável.

Respirou fundo. Preparou-se. Ergueu a varinha diretamente para o botão, pronta para pronunciar o feitiço...

... Quando aconteceu.

Uma fumaça cinzenta com lascas de fogo explodiu diante de Emily. Ela se uniu, em rodopios e redemoinhos, tomando a forma de uma estátua. Mas não era uma estátua qualquer. Era imensa. Chegava à altura do teto, ocupando toda a largura da sala, as armas presas às paredes soltando-se e espatifando-se no chão ao mesmo tempo. Todo o horizonte de Emily baseava-se somente na estátua-gigante. Uma estátua de traje de guerra, brandindo a maior lança que Emily já vira. As luzes vermelhas a circundava de todos os ângulos.

Parecia vir do próprio inferno.

A estátua abriu a boca. Um grito terrível² cortou o silêncio da sala, como uma avalanche, fazendo o coração de Emily falhar uma batida.

Ela caiu sentada no chão, o medo fazendo-a quase desmaiar. A estátua se aproximava em passos lentos, seus gritos ecoando no fundo de sua alma.

E então, em meio a todo o transtorno e terror, uma voz calma e gentil soou em sua cabeça.

"Seja forte".

Tomada por um ímpeto de coragem desconhecido, Emily colocou-se de joelhos, erguendo a varinha na direção da estátua.

Morreria lutando.

— Depulso! — gritou com todas as forças, fechando os olhos.

Enquanto sua visão estava escura, Emily esperou várias coisas ao mesmo tempo: a perfuração da lança da estátua em seu peito (isso caso tivesse errado o feitiço); o improvável estrondo da estátua sendo lançada no piso (afinal, não tinha muita fé de que a potência de seu feitiço pudesse realizar tal ato); ou pior: as outras três estátuas brandindo suas próprias lanças para cima e atacando-lhe copiosamente, a Estátua-da-Guerra gritando um sonoro "Fracote!"

Apenas esperou. E, no tempo que permaneceu com os olhos fechados, essa espera pareceu durar anos.

Foi então que um som fino e, de certa forma, refinado, cortou o espaço. Quase como se pequenos guizos de Natal houvessem sido tocados com leveza.

O único som que Emily não esperava.

Abriu os olhos. À sua frente, só se via os últimos vestígios da fumaça cinzenta, as pequenas chamas extinguindo-se rapidamente, até não sobrar nada.

A estátua-gigante havia desaparecido.

Ainda respirando com dificuldade, seus olhos assustados dirigiram-se imediatamente até a coluna negra, se arregalando mais do que já estavam ao ver a cena inacreditável:

Uma luz fraca e azulada ia-se espalhando no ar exatamente no ponto à frente do botão de ouro.

"A luz do feitiço!"

Emily estava desacreditada. Havia conseguido acertar! O som agudo fora ocasionado pelo feitiço se chocando contra o botão. Diretamente no alvo.

Ainda sentindo-se em choque (o queixo estava caído para provar), virou-se roboticamente para as três estátuas. Surpreendeu-se ao notar resquícios de orgulho em suas faces apedrejadas. A Estátua-Confusa disfarçou quando foi limpar uma lágrima (se é que isso era possível).

A Estátua-da-Paz se adiantou. O olhar de Emily caiu sobre sua mão, que carregava, ao que parecia, um pedaço de mármore.

— Lhe dou as minhas mais sinceras felicitações, garotinha miúda e, por sua vez, corajosa, que se denomina Emily Parker. Acertou o botão de ouro de olhos fechados. Não são muitos os que realizam tal feito.

— Hunf, foi pura sorte, isso sim... — a Estátua-da-Guerra resmungou, mas dava-se para perceber que estava apenas querendo provocar; a parcial admiração em relação a Emily estava palpável.

— Bem, acho que ela foi incrível... — a Estátua-Confusa pareceu um pouco envergonhada ao fazer tal declaração. Emily achou que suas bochechas de pedra se avermelhariam. — Ela merece levar o rosto.

— Certamente. — assentiu a Estátua-da-Paz. — Tome, garotinha miúda e, por sua vez, corajosa, que se denomina Emily Parker. Coloque essa peça na escultura do banquete dos deuses e orgulhe nosso senhor. Ele admira atos de coragem, especialmente os que vêm de figuras inicialmente questionadoras como você.

Demorou para que Emily compreendesse tudo aquilo como um: "Você está livre. Pode ir embora" .

Pegou o pedaço do mármore tremulamente, vendo que apenas apresentava um rosto (pertencente a Marte) de pedra, igual aos que vira na escultura da torre de Júpiter. Ele não se mexia, fazendo Emily imaginar que a magia só estaria ativa quando fosse encaixada no lugar certo.

Olhou timidamente para as três estátuas.

Pelo pouco, mas traumatizante tempo em que passara na companhia delas, Emily não sabia se a ideia de encontrá-las novamente algum dia lhe agradaria de alguma forma. Mas não podia negar que elas poderiam ter sido maldosas de verdade se quisessem, afinal, estavam com armas em punhos.

— Hum... Obrigada por... Por tudo... — acenou, falhando na firmeza que queria transpassar.

As estátuas não disseram nada, apenas acenaram igualmente com a cabeça, fazendo Emily entender que aquele devia ser o adeus definitivo.

Começou a caminhar na direção da porta.

— A propósito, criatura — virou-se ao inesperado chamado da Estátua-da-Guerra. —, não fique triste por conta da sua situação com seu pai. Se serve de consolo, o pai de nosso senhor Marte também não gostava muito dele.

Emily não soube receber aquilo como um verdadeiro "consolo", mas imaginou que a Estátua-da-Guerra estava apenas tentando ser legal.

Acenou em agradecimento.

Num lapso, perguntou-se se os outros colegas estariam em melhor situação que a sua e, por fim, saiu. 


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Notas finais do capítulo

♥ Curiosidades ♥

Atos¹ — Nome grego, oriundo de “Athos”, um nome comum na Grécia. Significa “agudo”, “livre”, “ileso”, “isento” etc.

grito terrível ² — Quando estava em campo de batalha, diziam que os gritos ensurdecedores proferidos por Marte/Ares, eram capazes de gerar o mais puro pânico em cada soldado.

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O que acharam do capítulo???? Sério, ele foi muuuuito divertido de escrever, eu simplesmente amei pesquisar mais sobre a mitologia!

Ares, Ares… deus da guerra. Coitada da Emily, não poderia ter pegado torre pior kkkkk Parece que errou um palpite já, Gabriel, hehe.

De qual estátua vocês gostaram mais? Eu preferi a Estátua-da-Guerra ♥️

E aí? Algum palpite de qual será a próxima torre? E quem será o felizardo a passar pelo desafio? Um rosto já foi! (◠‿◕)

Até o próximo!

Malfeito, feito. Nox.



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