Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 62
Capítulo 61 — As Doze-Torres


Notas iniciais do capítulo

Yooooooo!!!!

Preparados para o início do Arco Final????? Sentem-se, peguem as pipocas e acomodem-se, pois a aventura começa agora!

Boa Leitura ♥



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♠ Iris Legraund ♠

 

Iris olhou o relógio pela quarta vez em menos de dez minutos.

Seu coração vibrava de ansiedade; as palmas permaneciam frequentemente recobertas de suor, fazendo-a secar a umidade na capa, em vão.

“Mais cinco minutinhos e então saímos…”, cronometrou, querendo que tudo saísse exatamente como o planejado. Olhou para o lado, na direção de Louisa. A garota estava sentada em um dos sofás, certificando-se pela décima vez o conteúdo da pequena bolsa que tinha sobre o colo.

A Sala Comunal estava deserta e escura, as luzes já haviam sido apagadas uma hora antes, quando o toque de recolher foi acionado. Embora a lareira permanecesse acesa, ambas as garotas iluminavam o local com as varinhas.

Aproximou-se dela.

— Louisa, é agora, vamos. — chamou-a com voz baixa e agitada.

Conseguiu ver a garota engolir em seco discretamente. Louisa ergueu-se, retirando então dois frascos da bolsa, como parte do plano.

— Tudo bem. — ela estendeu um para Iris. — Vamos tomar logo, temos que ficar acordadas o máximo de tempo que der. Se as poções estiverem novas o efeito é mais forte, o que será bom, pois ficaremos sãs a noite toda se a busca pelo pedaço do Cristal demorar.

Iris retirou a rolha que tampava seu frasco, aproximando-a do nariz para checar o cheiro. Fez uma careta. Não era dos melhores, mas Iris recordava-se que a “Poção de Inviabilizar o Sono” tinha um cheiro semelhante a esse quando a prof. Picquery a apresentou aos alunos, pedindo a eles que reproduzissem-na perfeitamente em seguida.

— Acho que estão novas, sim. — comentou, contudo, sem muita certeza.

Não havia sido uma tarefa “simples” furtar meia dúzia daquelas poções da sala da prof. Picquery nas Masmorras àquela tarde. Se não fosse por Louisa, que distraiu a mulher enquanto Iris estava ocupada lá dentro, teria sido pega com toda certeza.

Claro que foi um plano orquestrado às pressas. Mas o tempo era um luxo que elas não tinham por hora.

Trocou um olhar hesitante com Louisa por um segundo, ambas com os frascos a meio caminho da boca. Por fim, deu de ombros como quem diz: “se for veneno, pelo menos há uma ala-hospitalar apenas alguns andares abaixo”.

Beberam a poção. Ela tinha um gosto enjoativo, como se tivessem misturado dez colheres de açúcar com calda de pêssego amargo. Não era horrível, só um pouco “doce demais da conta”.

O efeito não ocorreu imediatamente, talvez pelo motivo de Iris ainda não estar caindo de sono. Entretanto, conseguiu sentir uma leve diferença em relação aos seus olhos, que pareceram ficar em alerta e mais abertos do que antes.

Guardou o frasco de volta na bolsa, passando a língua pelos lábios que estavam deveras adocicados. Sentia-se cheia de energia!

— Pronto! Agora que não há mais riscos de nenhuma de nós “tirar um cochilo” durante nossa missão... — abriu um largo sorriso. — Vamos para o quinto andar!

Ao passarem pelo retrato, Iris pensou ter escutado um som ecoando atrás de sua cabeça, vindo da direção das escadarias que levavam aos dormitórios. Antes, porém, que pudesse checar qualquer coisa, o retrato fechou-se. Não se preocupou muito — com certeza deveria ser algum gato ou sapo que fugira do quarto do dono.

Saíram no corredor deserto e extremamente tomado pela escuridão.

— Lumus. — Louisa ergueu a varinha, e Iris fez o mesmo, permitindo que discernissem o reflexo dos quadros pendurados nas paredes. Todos eles pareciam estar absorvidos em seus próprios sonhos, alguns roncos altos soando alguns metros dali.

— Pelo menos o Mister Narciso não está acordado. — Iris sussurrou com certo alívio. — Seria péssimo inventar alguma história mirabolante para ele. E com certeza ele nos seguraria aqui horas e horas falando sobre o quanto é belo e encantador…

Louisa fez um gesto rápido.

— Shhhh, fale mais baixo, Iris. — disse em tom quase mudo. — O zelador Rancorous faz as rondas em todos os andares. Além disso, de duas em duas horas, os professores fazem seus próprios turnos também.

Iris fez uma careta.

— Que exagero da parte deles...

— A segurança foi redobrada depois da cristalização em massa. — Louisa explicou, óbvia. — Agora, mais do que nunca, não podemos ser pegas infringindo o toque, ou nem posso imaginar como será nossa detenção... — ela estremeceu.

— Tomar chá e fazer bolinhos com o zelador Rancorous com certeza está fora de cogitação... — Iris murmurou, pensativa.

Na realidade, a ideia tornou-se tão bizarra em sua mente — imaginar o zelador usando um avental de coraçõezinhos enquanto assava massas de bolo era uma imagem aterrorizante o suficiente para fazer um bebê chorar —, que Iris descartou-a na mesma hora.

— Vamos por aquela escadaria que dá acesso direto ao quinto andar, Louisa, em vez de ir pelas principais. Com certeza não deve ter ninguém por lá... — sugeriu.

Louisa acenou.

— Certo.

Andaram cautelosamente pelos corredores à direita, dirigindo-se até a escadaria indicada, que ficava alguns metros adiante. Iris verificou a primeira virada que, cerca de 300 metros para dentro, daria na Torre de Astronomia. Não havia ninguém por ali.

Seguiram em frente. Decidiram por “desligar” a luz das varinhas por hora, a fim de não exporem suas localizações imediatamente. Chegaram na escadaria, e foram descendo os lances na ponta dos pés. Quando passaram pelo sexto andar, foi com aflição que pensaram ter ouvido o som de passos, até que viram tratar-se de Mia, a gata de Anne Crystal, rondando por ali.

— Diferente da dona, essa aqui é um docinho... — Iris comentou, acariciando a parte detrás das orelhas da gata, que ronronava gostosamente. Iris sempre adorou gatos, mas, infelizmente, sua mãe era alérgica desde pequena, o que a impossibilitou de ter um.

Louisa franziu o nariz.

— Iris, os gatos são nojentos... sempre os vejo caçando ratos pelo castelo, principalmente essa gata da Crystal. Além disso, eles soltam muito pelo... — ela permaneceu alguns metros longe, com certeza não querendo estragar seu casaco chique de linho branco.

Olhou-a de forma engraçada.

— Ué, e as corujas comem o quê, então, Louisa? Aqueles esqueletos espalhados pelo chão do Corujal não se assemelhavam em nada com “anjinhos-perfeitos-e-limpinhos”. — ironizou.

— Duvido que minha Alva tenha se juntado com um grupo tão anti-higiênico. Ela só come ração especial. — Louisa empinou o nariz, resoluta.

Iris revirou os olhos discretamente.

— Claro, claro... — ergueu-se, deixando Mia seguir seu caminho. — Vem, vamos continuar a descer.

Finalmente chegaram ao 5° andar; sem muitos problemas para suas alegrias. Apenas o quadro de um velho barrigudo e rabugento, trajando o que parecia ser uma vestimenta típica do século XVI — tecido pesado com um tipo de saia-vinho até os joelhos que nem mesmo a avó de Iris se atreveria a olhar (ele apresentou-se orgulhosamente como “sr. Floard, o Defensor dos Desprezados”) —, havia chamado a atenção das duas garotas.

Ele ameaçou cantar bem alto se elas não retornassem imediatamente até a torre da casa à qual pertenciam; entretanto, não foi preciso muito trabalho para que Iris o convence-se a mudar de ideia — elogiar a roupa dele com palavras sublimes e prometer espalhar tais virtudes para todos os quadros femininos do castelo foram motivos suficientes para que o sr. Floard as deixasse passar.

Louisa sorriu admirada na direção de Iris enquanto seguiam para a Torre do Relógio.

— Muito bom, Iris! Vai mesmo falar bem do sr. Floard, o Defensor dos Desprezados, para os retratos de todas as moças em Hogwarts?

Iris olhou-a como se ela viesse de outro planeta.

— Claro que não, Louisa. Só falei aquilo para enrolá-lo. Além disso, é um favor que faço para as inúmeras coitadas que seriam maldosamente enganadas. Aquele cara é um bobalhão.

— Ah... — Louisa soltou o ar. Depois de alguns segundos, sua voz soou novamente: — Estou sentindo um pouco de pena dele, agora. Você não deveria tê-lo iludido tanto assim... — falou com semblante parcialmente culpado.

Iris riu.

— Acho que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos. — ergueu uma sobrancelha. — Mas posso prometer que, quando tudo acabar, voltarei lá para dar a ele algumas noções de roupas e tecidos melhores. Aí sim haverá uma boa chance de eu espalhar comentários positivos sobre sua “formosa” pessoa.

Não soube dizer, mas Louisa pareceu um pouco menos incomodada após sua proposta.

Embora irritasse às vezes, esse lado que Louisa possuía em “se preocupar com os outros” era algo muito admirável. Fazia com que Iris pensasse que se todos no castelo parassem um segundo para conhecer a “detestável Northrop” (como a denominavam) um pouco melhor, suas opiniões com certeza mudariam.

Já na metade do caminho, vendo que aparentemente nenhuma alma viva encontrava-se naquele andar, Iris decidiu começar um assunto que estivera incomodando-a já há algum tempo.

— Louisa... — começou devagar. — Você já pensou que é esquisito o fato de que a maioria dos nossos planos em relação ao Cristal Maldito sempre são interrompidos nos momentos mais inoportunos?

Louisa a encarou confusa, talvez não esperando uma conversa desse tipo naquele momento.

— Como assim?

Respirou fundo, concentrando-se em sua lógica.

— Por exemplo: o nosso interrogatório com o Rosier. Bem quando íamos falar com Sebastian para descobrirmos alguma informação sobre o suspeito... Puff, ele foi cristalizado. E quando descobrimos que o paradeiro do Cristal era na área das Torres Oeste, antes que pudéssemos ao menos começar as buscas, puff de novo — estalou. —, o amuleto some. E, agora, quando o Sánchez enfim descobre quem é o “ele”, bem quando estava prestes a revelar para algum de nós, puff outra vez: ele também foi atacado... Está entendendo onde quero chegar?

Louisa avaliou o horizonte à frente. Haviam acabado de passar pelo corredor do Banheiro dos Monitores, que ainda encontrava-se interditado, por estar totalmente cristalizado; o brilho dos cristais ametistas iluminou completamente o semblante da Northrop por alguns segundos, denunciando que ela estava pensativa.

— Hum... Por acaso está querendo dizer que o tal de “ele” — ela deu uma pausa. —, está por trás disso?

Iris encolheu os ombros.

— Sinceramente, não sei. Mas é o que parece, não é? Com todas essas coincidências... É quase como se ele estivesse controlando o Cristal Maldito para atacar quem representa algum risco para ele.

Louisa comprimiu os lábios.

— Seria uma boa sugestão, Iris, mas há um porém: — levantou uma sobrancelha. — Se ele controlasse o Cristal, o que, na minha opinião, é algo impossível de se fazer... — Iris fez menção de abrir a boca, mas Louisa continuou rapidamente antes que fosse interrompida: — Mas se por acaso ele realmente possuísse esse “poder”... — frisou. — Por que ele precisaria do amuleto para localizar o pedaço escondido sendo que poderia facilmente controlá-lo? As hipóteses não se batem. — ela explicou de uma maneira tão precisa que Iris sentia-se como se estivesse tendo uma mini-aula.

... E não pôde deixar de concordar com o ponto de vista de Louisa.

— É mesmo... — mordeu o lábio inferior, meditativa. — Não sei bem o que pensar. Só achei esquisito todos esses acontecimentos... É muita “obra do acaso”, não? Enfim... — decidiu mudar de assunto. — Estamos quase lá.

Haviam acabado de passar pela Torre do Relógio, a sala de Estudos dos Trouxas estando logo à esquerda. Mais alguns corredores e chegariam nas cortinas altas de jacquard, localizada entre duas salas de depósitos, que escondiam a escadaria que dava acesso às Doze Torres.

Uma brisa fria atingiu-as, fazendo os cabelos de Iris esvoaçarem sobre seus ombros e um arrepio despontar em sua nuca.

Voltou os olhos para uma janela aberta ali perto, constatando imediatamente o motivo de ela estar aberta: a copa de uma árvore que aparentemente crescera muito havia invadido o seu interior. O prof. Beery, obviamente, devia ter sido terminantemente contra a decisão de cortá-la...

De repente, os ouvidos de Iris aguçaram-se.

A princípio, achou que estivesse delirando, até que notas agudas e afinadas foram ficando cada vez mais nítidas, como um eco distante...

— São os sapos do coral. — Louisa clareou, indicando que também estava ouvindo. — Eles moram numa sala aqui perto, eu acho, onde o prof. Beery os treina.

— E cantam até essa hora da noite? — Iris indagou, questionadora.

Louisa deu de ombros.

— Ouvi dizer que o famoso Grufus canta até mesmo dormindo.

— Ah, esse eu conheço... O tal “Sapo-Divino”.

Talvez Louisa tivesse identificado o tom irônico em sua voz, pois acrescentou seriamente:

— Ele é bem incrível. Você nunca deve tê-lo ouvido cantar num show. — ela suspirou. — É divino... Meus pais disseram que já dançaram uma vez ao ritmo da voz encantadora dele...

“Estavam mais para coaxos engasgados na noite de Natal…”, Iris pensou; contudo, decidiu guardar o pensamento para ela mesma.

— Uau, que coisa mais... — franziu o cenho, buscando uma palavra que não mostrasse sua clara perturbação. — Romântica. — A palavra custou-lhe a sair, sorrindo forçadamente.

Louisa acenou, satisfeita.

— Certamente. Ah, olhe, chegamos. — apontou para as portas dos depósitos, separados pela cortina.

Iris admirou-se por não ter prestado atenção nesse “detalhe” — o assunto dos sapos era bizarro demais para ela. Ficaram de frente para a cortina, e Iris tateou sua extensão com júbilo. Admitia que o tecido ainda possuía um efeito encantador sobre seu coração. Abriu uma fresta.

— Vamos.

Acenderam novamente as varinhas na escadaria tomada pelo breu. Subiram rapidamente, dando na porta amadeirada. Louisa estava na frente. Ela respirou fundo e girou a maçaneta. Iris apertou a varinha mais forte...

... E nada aconteceu.

— Não abre. — Louisa forçou a porta. — Está trancada?... — murmurou.

— Deixe-me ver. — Iris adiantou-se. Igualmente, não obteve sucesso. — Que esquisito, da última vez não estava trancada...

Algo naquilo lhe trazia uma má sensação... Contudo, espantou essa impressão da cabeça.

Louisa deu de ombros.

— Bem, sendo assim, basta utilizar o Aloho...

— Espere! — Iris a brecou, uma ideia empolgante formando-se em sua cabeça. — Não faça nada, deixe eu testar uma coisa. — avisou, pondo-se a descer.

— Iris, aonde vai?! — Louisa sussurrou agitada. — Você vai ser pega e... — Iris ouviu a garota resmungar quando atravessou as cortinas e saiu no corredor novamente, ignorando seu chamado.

Não havia perigo, só iria voltar poucos metros.

Dirigiu-se até a janela aberta com as folhagens da árvore espremidas em sua abertura. Pegou vários gravetos grandes, satisfeita por estarem firmes.

Voltou até a passagem na cortina.

— Sempre quis testar isso! — falou animada, pegando um graveto particularmente grande e o enfiando na tranca. Louisa a olhou como se fosse uma completa pirada. — Já li isso num livro de detetive, sabe. — explicou. — O cara conseguiu abrir um cofre com um grampo de cabelo que pegou da filha. Não deve ser tão difícil...

Infelizmente para Iris, era mais complicado do que pensava. Girou, entortou, remexeu, puxou... E não conseguiu absolutamente nada além de pedaços intermináveis de madeira sendo esmagados. Logo, havia apenas um mísero toco em sua mão.

— Puxa vida... — suspirou, tristonha.

Louisa — que demonstrou uma paciência descomunal durante todo o processo de Iris em destrancar a porta sem sucesso — abriu caminho, pigarreando.

— Permita que eu abra agora? — a voz dela saiu sem um pingo de gentileza.

Iris resmungou, descendo alguns degraus. Como poderia ser tão fácil nos livros? O problema deveria ser com ela própria...

— Alohomora. — Louisa pronunciou com clareza. Girou a maçaneta (com certo convencimento, na opinião de Iris), mas logo sua expressão entortou-se. — Ainda não abre.

Iris pensou por alguns segundos.

— Bem, acho que vai ter que ser na base da “força bruta”.

Louisa não pareceu ficar muito contente. Abraçou o próprio corpo.

— Minha mãe disse para eu nunca fazer um esforço que prejudicasse minha saúde.

Por pouco Iris não a chamou de “filhinha da mamãe”.

— Vamos, Louisa, não são só os garotos que possuem músculos, afinal. — arregaçou as mangas.

Agarrou a maçaneta, ficando de lado, preparando-se para empurrar. Louisa suspirou, assumindo posição ao seu lado, um tanto relutante.

Antes que começasse a juntar forças para impulsionar seu corpo, Iris pensou em várias coisas ao mesmo tempo, como se um jorro de questionamentos surgisse em sua mente. Deu-se conta da situação perigosa em que se encontrava, podendo até mesmo perder a vida para o Cristal Maldito. Foi com surpresa e pesar que a lembrança de alguns dias atrás, de quando estava para atravessar aquela mesma porta pela primeira vez, jogou cruelmente em sua cara que agora estavam sozinhas, sem a presença de Matt Ryman ou Billy Sánchez.

O segundo tinha motivos suficientes para estar ausente (e como tinha)... Iris só poderia torcer para que tudo desse certo para ele.

O Ryman já era uma outra história...

Iris entendia a dor dele, afinal, já perdera alguém importante em sua vida, alguém que considerava de sua própria família. Contudo, aquele era o momento ideal para que Matt se sentisse mais motivado que nunca em resolver de uma vez por todas o mistério do Cristal Maldito.

Billy era o melhor amigo dele. Iris não conseguia entender e muito menos aceitar uma atitude dessas...

Antes, recusou-se terminantemente a pensar no diálogo infrutífero que haviam tido com o garoto naquela manhã — todavia, agora, meio que entendia o motivo de ter ficado tão chateada por um momento.

Deu-se conta de que vê-lo desistir daquela maneira a entristecia de uma forma maior do que esperava.

Não foi algo bom de assistir.

Tudo isso passou como um raio por sua cabeça, voltando então ao presente.

Piscou um pouco desnorteada. Objetivo imediato? Ah, sim: abrir a porta!

— No três, nós empurramos. — avisou para Louisa. — Um... Dois... Três!

A primeira sensação que Iris teve foi o ar gelado batendo em seu rosto, seguido de uma dor lancinante no ombro. A porta abriu-se bruscamente, o que a fez cair para dentro do pátio. Louisa ajudou-a a se erguer e, Iris não soube ao certo, mas havia um nota de culpa em seus olhos.

— Você está bem? — ela perguntou.

— Você não me ajudou nem um pouco, não é? — fincou os pés no chão coberto de neve, não esboçando uma expressão muito boa. Massageou o ombro dolorido.

Louisa pareceu constrangida.

— Bem, eu empurrei a porta... Um pouco, mas empurrei.

Iris suspirou, voltando os olhos para o cenário em frente. Não tinha tempo para alimentar uma intriga infrutífera — ainda que sua real vontade fosse prender a garota na escadaria novamente e fechar a porta com toda a força para que ela tivesse de abri-la sozinha dessa vez.

Quando seus olhos bateram nas torres, seu queixo caiu com a visão que tinha.

“O que aconteceu aqui?!...”, pensou, perplexa.

As Torres estavam completamente diferentes de quando as viram da última vez, como se uma equipe de decoração prestigiada e, evidentemente, mágica, tivesse passado o dia todo enfeitando cada uma delas.

Analisou primeiramente a torre de Júpiter, no centro da extremidade oposta do pátio.

A princípio, parecia ser uma torre normal, sem nada especial, até que seus olhos ergueram-se e visualizaram o céu acima do topo. Raios e relâmpagos cortavam aquela área, como se uma tempestade estivesse rolando somente acima daquela torre.

A torre de Netuno, à sua esquerda, apresentava outro tipo de “decoração”. Água jorrava de suas janelas do topo, descendo como ondas pelas paredes de tijolos e umedecendo todo o solo ao redor. Dava a impressão de estar inundada por dentro.

A torre à direita da de Júpiter, pertencente à deusa Juno, estava resplandecente com os flocos de neve que haviam formado um manto brilhante e extenso ao seu redor, lembrando um véu de noiva.

Iris voltou-se para a torre de Diana. Ela não estava tão diferente, apenas era mais escura que as outras e parecia refletir com mais intensidade a luz da lua recebida, resplandecendo uma luminosidade misteriosa. Iris lembrou-se vagamente de que a Lua era um dos símbolos que a representavam.

A de Febo era o completo oposto da irmã gêmea. Exalava uma luz dourada e nitidamente quente, não sendo afetada pelo clima gélido, como se os raios de um sol invisível estivessem banhando-a. Iris pensou estar escutando uma melodia calma e suave soar de dentro dela, deixando-a com aparência ainda mais agradável.

As outras torres também apresentavam lá suas peculiaridades:

A de Baco exalava um aroma altamente notável de uvas e álcool, e dava-se para identificar meia dúzia de garrafas lacradas em frente à sua porta. A de Vênus (surpreendentemente) não tinha nada de especial além de um ar indiscutivelmente “romântico” que rondava sua volta. A torre de Marte tinha uma cor avermelhada e intimidadora, como se desafiasse mortalmente quem se atrevesse a entrar.

Ambas as torres de Vulcano e Mercúrio não tinham nada fora do comum: totalmente brancas pela neve.

De longe, as torres que Iris mais gostou foram as de Minerva e Ceres.

A da deusa da Sabedoria era, digamos, a mais “bem acabada” em relação às outras. Seu topo era definitivamente maior e ladrilhado por pedras de brilhantes, causando destaque em seu símbolo de coruja. Sua estrutura era a mais simétrica e revestida por material compacto e firme, a entrada possuía até mesmo uma escadaria seguida de bules de chá com xícaras à espera.

A da deusa da agricultura, por outro lado, parecia fazer parte de um jardim. Plantas, raízes, frutos e flores compunham cada milímetro da torre, nem dando para identificar o símbolo dela — que, outrora, revelava-se ser uma cornucópia. Embora não estivessem na Primavera, as plantas irradiavam saúde e cores vivas.

A luz da Lua banhava cada milímetro do espaço, deixando todas as torres tomadas por uma aura mágica e, curiosamente, viva.

Era uma sensação encantadora e assustadora ao mesmo tempo.

Deviam estar há mais de dez minutos apreciando a estrutura de cada torre, quase como enfeitiçadas. Finalmente, Iris encontrou sua voz:

— Por que... Elas estão desse jeito? — virou-se impressionada para Louisa.

— Eu... Eu não faço ideia. — Louisa balançou a cabeça, tão surpresa quanto Iris. — Achei que elas fossem apenas um ponto de observação... Bem, foi o que vimos da primeira vez, pelo menos. Que extraordinário... A representação de cada deus... — ela comentou, admirada.

Iris acenou.

— Belíssimo, não é? Será que seus interiores também foram modificados? — perguntou mais para si mesma. — Bem, só iremos descobrir se entrarmos! — bateu palmas. — Em qual vamos primeiro?

Louisa analisou as torres uma de cada vez, como se estivesse fazendo milhares de cálculos que indicariam a melhor escolha (enquanto isso, Iris estava a um passo de apostar na cantiga de escolhas que fazia na escola: "a, bê, cê, eu escolho vo-cê!").

Finalmente Louisa apontou para a torre do centro.

— Vamos na de Júpiter. — ela disse, começando a marchar na direção dela.

Iris correu para acompanhá-la.

— Algum motivo específico? — seu olhar subiu para as nuvens de raios e trovões que cortavam o topo da torre. “Muito” convidativos.

Louisa fez um meneio com a cabeça.

— Júpiter é o mais importante entre os outros. Além disso, a torre dele fica exatamente no centro. Imagino que deva ser a mais vultosa.

— E onde possivelmente abriga o pedaço do Cristal. — Iris acrescentou, e um silêncio tenso recaiu sobre elas.

É. Não devia ter feito aquele comentário.

Pararam diante da porta. A maçaneta tinha o símbolo de um touro. As duas entreolharam-se. Iris sentia como se seu coração estivesse subindo por sua garganta, mas não tinha como voltar atrás. Não agora.

... Apenas rezava para que não fossem cristalizadas assim que cruzassem a porta.

Finalmente, estendeu a mão, tocando a maçaneta de ferro. Uma parte sua desejava que ela não se abrisse como acontecera com a porta anterior, o que as faria dar de ombros e dizerem: “É isso, a porta não vai abrir. Pelo menos tentamos, não é mesmo?!”. Após isso dariam as mãos e sairiam saltitando e cantarolando até a Torre da Grifinória.

... Mas que bobagem.

— Bem... — sorriu nervosamente. — Vamos em frente!

Girou a maçaneta...

E, para seu horror, ela abriu-se num clique suave.

 


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Notas finais do capítulo

GLOSSÁRIO:

Júpiter: Zeus — Deus dos Céus
Netuno: Poseidon — Deus dos Mares
Febo: Apolo — Deus do Sol
Diana: Ártemis — Deusa da Caça
Marte: Ares — Deus da Guerra
Vênus: Afrodite — Deusa do Amor
Minerva: Atena — Deusa da Sabedoria
Ceres: Deméter — Deusa da Agricultura
Juno: Hera — Deusa do Casamento e Fertilidade
Mercúrio: Hermes — Deus da Sorte e Mensageiro
Vulcano: Hefesto — Deus do Fogo
Baco: Dionísio — Deus dos Vinhos

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Manoooooo, é real!!!!! Não sabem o quanto estou emocionada com esse momento, é totalmente chocante saber que estamos na reta final ;-;

Quanto ao capítulo: tem quem curte Percy Jackson aí?? Se tiver, com certeza se empolgou tanto quanto eu! Simplesmente A-M-O mitologia greco-romana ♥ Introduzir isso na fanfic foi uma das minhas partes preferidas, com certeza.

Bem, agora é ver o que as aguarda nas torres, né? O que será que vai acontecer?...

Até sábado, pessoal, e obrigada por tudo! Não sabem o quanto estou feliz por estarmos nesse patamar, parece que comecei a postar ontem mesmo! Já já tenho que começar a planejar o texto de agradecimento, e não estou preparada para isso ;-;

Até sábado!

Malfeito, feito. Nox.



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