Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 47
Capítulo 46 — O Segredo do Amuleto


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, bruxinhos!
Como vão?
Como podem ver pelo título, hoje finalmente desvendaremos o segredo desse amuleto misterioso!
Boa Leitura ♥



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♦ Louisa Northrop ♦

 

Enquanto seguia Iris e os meninos rapidamente pelos corredores, Louisa Northrop não conseguia tirar a tenebrosa imagem de Sebastian Rosier cristalizado da cabeça, a expressão de pavor no rosto do garoto nítida em sua retina mesmo quando piscava.

No decorrer do caminho, pareceu que todos os alunos de Hogwarts seguiam em direção ao 3° andar, com certeza já tendo escutado os rumores de um novo ataque. A maioria carregava expressões animadas e elétricas, certamente ansiosos para ver o que estaria acontecendo e, em seus íntimos, torcendo para que fosse algo "explosivo".

Afinal, todos adoravam uma confusão.

Com surpresa, Louisa percebeu que Billy Sánchez ainda tinha Conan, a pequena coruja, presa entre os braços. Provavelmente o garoto havia esquecido de soltá-la, mas, felizmente, a avezinha não apresentava mais tanto desespero para fugir como antes.

Ao chegarem na Sala Comunal, esta encontrava-se até que bem vazia. Não foi difícil para eles deduzirem que, àquela altura, todos os curiosos já estariam nos andares debaixo, certamente esboçando suas próprias reações transtornadas ao saber que o Cristal Maldito havia atacado mais uma vez.

Louisa até mesmo conseguia imaginar o pobre diretor Dippet desfalecendo de tanta preocupação e estresse. Sendo ele um senhor de idade, vê-lo passando por tanto nervoso era algo que lhe despertava certa preocupação.

Logo, voltou-se aos colegas, que, pelas expressões franzidas, pareciam matutar sobre qual seria o melhor lugar para debaterem sobre o que acabara de acontecer. Billy já havia soltado Conan há um tempinho, que saíra por uma das janelas da torre, piando bem alto.

Matt foi o primeiro a decidir-se.

— Ei, venham. — ele chamou as meninas enquanto se aproximava do arco que dava acesso ao dormitório dos garotos. — Não há muita gente aqui, vamos subir rápido.

Louisa arregalou os olhos no mesmo instante em que Iris pareceu compreender.

— O quê? — a ruiva perguntou, pasmada. — Querem que a gente suba para o dormitório dos... meninos? — a maneira como ela falou deu a clara mensagem de que aquilo era algo extremamente descabido.

— E tem ideia melhor? — ele retrucou. — Não é hora para pensar nesses detalhes, precisamos conversar sobre o que aconteceu. Portanto — Matt indicou a passagem meio impaciente. —, venham logo.

Louisa deu um passo para trás, recuando.

— N-Não! Quero dizer, fazer isso seria um escândalo... — tentou explicar. — Minha mãe jamais permitiria, e...

— E que eu saiba ela não se encontra aqui agora. — Billy relembrou. — Vamos luego, Northrop. Você não manchará sua dignidade apenas por entrar no nosso quarto. — falou, mas deu para perceber que ele mesmo achou a frase um pouco estranha ao dizê-la por inteiro. Pigarreou. — Errr... sim, vamos antes que os outros cheguem.

Sendo assim, as garotas foram obrigadas a subir as escadarias — com uma Iris meio sem-graça e uma Louisa ainda estando imensamente relutante. Felizmente, o dormitório de Billy e Matt não se situava nos níveis muito elevados, o que foi de certa forma um consolo para Louisa, pois poderia sair rapidamente de lá quando chegasse o momento.

Ao entrarem, o primeiro pensamento que ocorreu-lhe foi que aquele espaço necessitava urgentemente de uma passada de vassoura, esfregão, espanador e tudo que servisse de limpeza. Para todo lado via-se roupas espalhadas, armários abertos, livros, pergaminhos, penas jogados no chão e mais um monte de objetos masculinos fora do lugar.

Louisa não ficou nada surpresa quando Billy e Matt anunciaram que seus companheiros de quarto eram Setrus Fisheer e Derek Hawley.

Entretanto, não estavam com cabeça e nem tempo para discutirem sobre o estado do dormitório.

Sentaram-se os quatro na cama de Billy. Aparentemente, o lado do latino era a única parte do quarto que estava muito bem arrumada, reforçando ainda mais que o garoto tinha asco à sujeira — o que contradizia às variadas mosquinhas pretas que rodeavam irritantemente sua cabeça. Sem enrolações, puseram-se a colocar todas as opiniões para fora, exibindo seus comentários recheados de perplexidade e choque.

Na verdade, em relação a Iris (ela havia demorado um bom tempo para sentar na cama, o que levou Louisa, numa análise atenta, a constatar que a ruiva parecia sentir desconforto em dobrar as pernas por algum motivo), foi mais um lamento desesperado, fazendo a linha de raciocínio dos outros três, que no momento não estava lá grande coisa, perder-se ainda mais.

— Vocês fazem ideia do que acabou de acontecer?! Por pouco não acabamos cristalizados junto com o coitado do Rosier! — a menina parecia estar extremamente incrédula e assustada com aquela hipótese apavorante.

A própria Louisa sentiu um calafrio. Realmente poderiam ter sido eles as vítimas...

— Mas não fomos nós, e isso é o que importa. — Matt falou de maneira um tanto dura. — Não percebem? Não tratou-se apenas de sorte, posso sentir que o destino está nos dizendo que estamos no caminho certo. Foi muita coincidência o Cristal ter atacado justamente a pessoa que iríamos interrogar, não acham? Então, agora, mais do que nunca, não podemos recuar. Entenderam?

Na visão de muitos o Ryman poderia estar sendo um tanto "sólido" demais, contudo, Louisa entendeu qual era o medo dele. Matt possuía receios de que o foco e a determinação deles pudesse diminuir por causa daquele incidente, e por isso buscou lembrá-los do que realmente importava antes que fosse tarde demais.

Não demorou muito para que os outros dois também compreendessem os argumentos do colega, pois logo trataram de se acalmarem um pouco também.

Billy baixou os olhos desanimados para o lençol de sua cama que, curiosamente, exibia um desenho gigante de um caldeirão de poções, o que era de se estranhar: Billy era péssimo em poções.

— Mas que falta de sorte a nossa, no? — ele murmurou, emburrado. — Não me refiro à parte em que estamos sãos e salvos neste momento — ele falou rápido quando Iris abriu a boca para interrompê-lo. — Falo sobre termos perdido nossa melhor "fonte de informação"... — ele ficou pensativo. — Não que o Rosier não tivesse outras utilidades, quero dizer... Era sempre engraçado quando ele acabava pisando sem querer na capa do prof. Lukar, fazendo-o se engasgar por alguns segundos...

Matt revirou os olhos, mas parecia estar mais tranquilo.

— O que devemos fazer agora é achar outro meio de descobrir quem é o nosso alvo...

De repente, Iris soltou um grito enguiçado.

— O amuleto! E-Eu... — ela engoliu em seco, já revirando os bolsos da capa. — Eu o joguei no chão, mas não lembro de tê-lo pego de volta...

— Ah. Acalme-se, está aqui comigo. — Iris e os meninos suspiraram de alívio quando Louisa colocou o objeto no centro da cama. Tinha até mesmo esquecido de que estava carregando-o. — A propósito, por que você o jogou no chão, Iris? — olhou-a curiosa.

De súbito, o rosto da ruiva se contorceu numa careta duvidosa, como se ela própria estivesse se lembrando de algo.

Por fim, respondeu:

— Ah, é muito... estranho. Quando corremos para socorrer o Rosier e aquela claridade toda apareceu, senti como se houvessem encostado um carvão em brasa na minha pele. No mesmo segundo percebi que era o amuleto. Por isso o atirei para longe. — ela ergueu a palma da mão direita, que estava muitíssimo avermelhada e brilhante.

— Wow, es realmente feo... — Billy comentou com horror.

— É melhor tratar disso logo, Iris. — Louisa recomendou, olhando para a mão da outra um pouco preocupada. Queimaduras eram coisas bem sérias...

A ruiva fez um gesto de descaso.

— Ah, já tive queimaduras piores, podem acreditar. — quis mudar de assunto. — Voltando ao assunto, o que teria levado o amuleto a "pegar fogo" daquela maneira eu não faço ideia...

A exposição de Iris era nitidamente estranha e questionável; contudo, não demorou para que Louisa recordasse que, quando pegara o amuleto em mãos, sentiu-o estar numa temperatura meio quente.

Contou isso aos outros também.

— Quer dizer que ele... simplesmente esquentou? — Matt pegou o objeto pelo cordão, como se temesse que o amuleto pudesse atirar fogo pelo quarto à qualquer instante. — Mas como? — ele perguntou-se, confuso. Desviou os olhos verdes para Iris. — Foi a primeira vez que ele fez isso?

Iris mostrava-se tão confusa quanto todos ali. No entanto, após a menina parecer pensar sobre a pergunta por alguns segundos, seus olhos se arregalaram.

— Não... Ele já fez isso uma vez! — ela contou, olhando-os ansiosa. — Na noite em que Clara Green foi cristalizada!

Billy arqueou as sobrancelhas.

— Soube que a Green foi atacada quase de madrugada. — comentou, admirado. — O que você fazia nos corredores a essa hora, Legraund?

Repentinamente, o semblante de Iris escureceu e ela pareceu evitar os olhos de Louisa quando respondeu de forma evasiva e esquiva:

— Longa história, isso não vem ao caso.

"Hum... Ela fugiu da explicação novamente...", Louisa pensou, recordando-se da forma como Iris havia ficado um tanto fria com ela quando fez a mesma pergunta semanas atrás, após retornar para Hogwarts e descobrir sobre o ataque do Cristal à Clara.

Iris continuou:

— Bem, o caso é que quando estava correndo atrás da Crystal para evitar que ela me dedurasse ao zelador Rancorous, senti uma quentura na perna segundos antes de me deparar com Clara, que havia acabado de ser cristalizada. Não me dei conta de que era o amuleto que tinha ficado quente... — Iris murmurou mais para si mesma.

Ficaram em silêncio. Aquilo realmente era muito estranho, mesmo para Louisa; aquele cordão não transparecia ter nenhuma manifestação mágica além das letras que surgiam nele todos os dias...

— E se... — os olhos de Matt estavam vidrados no nada, os pensamentos provavelmente girando céleres em sua mente. — E se esse amuleto for uma espécie de... Guia? — ele o ergueu. — Um guia para achar o pedaço do Cristal Maldito?

— Si, si! — Billy ficou animado, desistindo de espantar as moscas (como fazia segundos atrás). — Quando ele esquenta, significa que o Cristal está por perto! No incidente de Clara, por exemplo, o pedaço do Cristal devia ter acabado de ir embora, por isso esquentou apenas um pouco, não é, Legraund? — olhou para Iris.

— E, no caso de hoje, presenciamos um ataque a pouquíssimos metros de distância... — Louisa colocou a mão no queixo, concentrada. — Isso explica a razão de ele ter ficado tão quente. O pedaço do Cristal deveria estar muito perto.

Iris ficou ainda mais agitada do que Billy com todas aquelas novas hipóteses e deduções.

— Ei, ei, é como se fosse a brincadeira "Inverno e Inferno"! Quando o Cristal está longe, o amuleto fica no estado "Inverno", quando perto, "Inferno"! Oras, vamos! Não venham dizer que nunca jogaram! — reclamou após ver as expressões perdidas dos colegas.

Matt pigarreou, olhando novamente para o amuleto.

— Bem, devo admitir que os conceitos parecem ser os mesmos, Legraund. — admitiu. — Nossa... Esse amuleto é ainda mais precioso do que achávamos... — ele sussurrou, a expressão distante.

O silêncio recaiu novamente pelo quarto, todas as mentes voltadas para um único ponto: o quanto toda aquela história era mais séria do que parecia ser e os riscos nela contida.

— Prejudicamos a prof. Picquery, não é? — Iris falou de repente. — Será que o Dippet irá despedi-la? — sua voz saiu com bastante culpa.

Louisa encolheu os ombros, incerta.

— Não tenho certeza... Mas o diretor ficou muitíssimo bravo. Espero que não tenhamos feito algo que possa colocar em risco o emprego dela. — disse com preocupação.

Matt negou com a cabeça.

— Fiquem tranquilas, nada vai acontecer com a Picquery. Sua inocência vai falar mais alto, certamente. E, se não for esse o caso, quando resolvermos tudo ela irá ser perdoada.

Louisa e Iris não pareceram tão convencidas assim, contudo, Billy logo mudou de assunto.

— E o amuleto, hein? Como anda a sequência? — indagou naturalmente, como para amenizar um pouco o clima.

Iris deu de ombros. — Ela já acabou, na verdade.

— O quê?! — Matt virou-se para ela com altivez. — E como não sabíamos disso?! — exclamou indignado.

— Vocês estavam tão ocupados que não tive vontade de compartilhar a novidade. — ela revirou os olhos. — Mas, de toda forma, acho que não vão ficar tão animados. Eu e Louisa não achamos nada de especial ou significativo na sequência formada.

Com isso, a garota colocou a mão no bolso — trincando os dentes em seguida, por ter feito isso com a mão queimada — e retirou de dentro dele um pedaço de pergaminho velho, estendendo-o aos garotos.

— Deem uma olhada.

Embora já tivesse visto aquele papel dezenas de vezes, Louisa inclinou-se para enquadrar as letras à sua visão:

"R, M, O, T, L, D, A, O, V, R, E, M, I, O, D, L"

Os garotos ficaram olhando para o papel por um longo tempo, ambos os cenhos franzidos. Matt virou-se para as garotas.

— A sequência só vai até aqui?

Louisa fez um aceno enquanto Iris respondia:

— Acreditamos que sim. Após esse último "L", o amuleto ficou em branco no dia seguinte, sem nenhuma letra grifada. Então, no outro dia, apareceu um "R" e depois um "M" e depois um "O"... Ou seja, a sequência sendo repetida.

— ... Realmente não sei o que ela quer dizer. — Billy balançou a cabeça, perdido. — Dá para formar as palavras "vômito" e "lerdo"... Mas algo me diz que esse não é o caminho correto... — ele falou confusamente.

— Hum, dá para fazer "morte" também. — Matt estalou os dedos. — Pode ser um sinal!

Louisa franziu o cenho.

— Não acho que dê para denominar isso como algo verdadeiramente concreto...

— Bem, de qualquer forma, acho que não vamos conseguir desvendar essa sequência tão cedo. — Iris falou rapidamente, como se quisesse pular aquela parte do "deciframento". Louisa entendia bem o motivo dessa atitude da ruiva: Iris ficara praticamente a noite toda tentando formular as mais diversas frases com aquelas letras, e não chegou em absolutamente lugar nenhum. — Agora: o que faremos em relação a essa nova, interessante e suposta — fez questão de frisar. — utilidade do amuleto em localizar o pedaço do Cristal Maldito?

— Simples: temos que procurá-lo com o auxílio dele. — Billy falou de forma óbvia.

— Ahã, por todo o castelo, você diz? — Matt riu zombeteiro e incrédulo. — Billy, Hogwarts é gigantesca, levaríamos meses para explorar todas as salas, corredores, torres, masmorras... E isso sem contar que o Cristal pode se locomover de vez em quando.

— É verdade. — Louisa falou de repente. — Temos que ter pelo menos uma noção de onde começar as buscas. Fazer isso às cegas e sem direção pode ser um erro fatal e que só nos custará tempo; e tempo é algo que não temos. Agora nós temos absoluta certeza de que o amuleto pertence a essa "figura-desconhecida", considerando sua utilidade peculiar. Quem quer que seja deve estar atrás dele desesperadamente.

Iris mordeu o lábio inferior, incomodada.

— Tem razão, Louisa. Bem, realmente não podemos desperdiçar tempo com buscas infrutíferas, não sem antes termos um senso de direção.

— ... Então voltamos ao ponto em que estávamos estacados: descobrir quem é esse "ele". — Matt suspirou, descontente. — Perdemos o Rosier, que poderia ter sido uma ótima fonte para nós... Bem, acho que isso quer dizer que só nos resta o Lestrange e o Black.

À menção dos dois nomes, Louisa sentiu o estômago afundar.

Como August e Victor reagiriam quando vissem o que havia acontecido com Sebastian?

— Ah, o Lestrange está fora de cogitação. Aquele cara é o pior dos três. — Billy logo falou. — Teremos que apostar no Black.

— Hum... Usaremos a mesma tática de "abordagem-agressiva"? — o tom de Iris saiu um tanto esperançoso.

O moreno negou com a cabeça.

— Acho que dessa vez é melhor apelar para a boa e velha conversa civilizada. O Black não é tapado que nem o Rosier e não estou a fim de ser um novo "Nathan-Engasgado".

— Sem dúvidas. — Matt concordou, porém, parecia pensar concentradamente em algo. — Contudo... Acho que o Black não irá ser muito receptivo com pessoas que não conhece, principalmente tratando-se de membros da Grifinória e pelo incidente da caixa cheia de lasmentas de meses atrás.

— A não ser... — Iris de repente virou os olhos para Louisa, uma luz acendendo-se em suas orbes azul-gelo. — ... Que você fale com ele, Louisa.

A mente de Louisa explodiu em avisos e advertências acumulados como um verdadeiro vírus em seu cérebro durante semanas. Eles berravam incessantemente: "Ahá! A hora esperada chegou, você não pensou que iria fugir disso para sempre, não é, Louisa?".

Na mesma hora, tratou de levantar-se e negar veementemente com a cabeça.

— Não, isso está fora de questão. — falou com firmeza.

Os três a encararam confusos.

— Por que não? É algo importante, Northrop... — Matt inclinou a cabeça.

— Apenas não quero falar com ele, só isso. Iremos todos juntos. — insistiu em sua decisão. Nunca que falaria o verdadeiro motivo para eles.

— Entretanto, seria mucho más fácil se fosse você, Northrop. — Billy insistiu em tom impaciente. — Todos sabemos que você conhece essas pessoas há muito tempo, suas famílias são frequentemente vistas juntas em comemorações...

— Isso não é argumento. Não irei falar com Victor e ponto final. — foi resoluta, seu tom dando aquele assunto por encerrado.

Matt resmungou audivelmente enquanto Billy retornava a espantar as moscas com mais vontade que nunca.

Iris apenas olhava para Louisa com expressão pensativa. Ela fora a única a não insistir com a garota.

— Bem, se é assim, teremos que buscar outra alternativa para isso, então. — Matt falou com certa irritação. Respirou fundo. — Sessão encerrada. Já estão tempo demais aqui garotas, é melhor saírem antes que alguém as veja. Pensarei em alguma coisa durante o dia e avisarei se encontrar uma solução.

Essa foi a deixa para que Iris e Louisa se encaminhassem para a saída do quarto.

Como tradição, o Ryman abriu a porta para as duas. Antes que Iris saísse, ele estendeu o amuleto para ela.

— Guarde-o bem e fique atenta se algo de diferente acontecer. E, Legraund... — ele baixou os olhos para a mão machucada da garota, continuando em seguida: — Desça para a ala-hospitalar e peça uma pasta de Acanto. Irá curar essa queimadura em um piscar de olhos. — ele acenou. — Até depois.

A porta foi fechada e logo Iris e Louisa puseram-se a descer a escadaria rapidamente, torcendo para que nenhum garoto estivesse subindo e desse de cara com elas.

— ... O que é um Acanto mesmo? — Iris perguntou enquanto continuava a descer com mais lerdeza que a outra.

— Uma planta. — Louisa respondeu, pondo-se então a verificar se a Sala Comunal estava com alguém presente. Ninguém. — Vem, vamos logo para o nosso dormitório.

O quarto também estava vazio, o que era aliviante. Ter a presença desagradável de Suzanne e Zoe não seria algo bem-vindo por agora para Louisa, que ainda encontrava-se incomodada o suficiente com o assunto de antes.

Sabia que uma hora ou outra eles retornariam com aquilo: apostar em Louisa como a última opção para conseguir informações com os sonserinos.

Já havia se preparado para uma futura ocasião em que seria pressionada, mas nada a impediu de sentir-se extremamente fatigada e frustrada.

Teve sua atenção voltada para Iris, que nem bem entrou no quarto e desabou sentada sobre a cama de Naomi Young. A respiração dela estava curiosamente entrecortada.

Não demorou muito para que Louisa notasse que ela parecia estar sentindo dor.

— O que houve? — aproximou-se confusa da colega, franzindo o cenho.

Iris deu mais algumas inspirações profundas, antes de fazer um gesto impaciente.

— Ah, não é nada... Só... — ela fechou os olhos por um momento, comprimindo os lábios. — ... Minha perna que está ardendo como o inferno.

Só então Louisa reparou que a garota tinha uma das mãos apertando forte a extremidade da coxa direita.

— Foi o amuleto? Ele...

— Sim, sim. — Iris falou rápido, como se cada palavra lhe custasse cem galeões. — Essa coisa maldita me queimou bonito aqui... — ela retirou o amuleto do outro bolso, pousando-o na cama. — Por isso que soltei um grito na hora. Achei que minha pele tinha sido derretida... — ela estremeceu, abalada.

Louisa mordeu o lábio, não sabendo bem o que fazer. Ao ver que Iris tentava desabotoar a capa, tendo dificuldades por causa da mão ferida, resolveu tomar uma iniciativa.

— Aqui, deixe-me ajudá-la. — retirou a capa da garota rapidamente e fez uma careta ao olhar o tecido.

Havia um considerável buraco na parte inferior da capa preta onde se localizava o bolso, antes invisível pelas dobras do tecido. As pontas estavam desgrenhadas e chamuscadas.

Iris assoviou.

— Uau... Isso vai dar um trabalhão para consertar. — ela olhava para a saia, que também tinha uma considerável abertura em sua extensão. Dava para ver a pele avermelhada de Iris pela fenda, denunciando que ali fora o local afetado.

— Suponho que é melhor ir para a ala-hospitalar o mais rápido possível, então. — Louisa advertiu, com certo nervosismo.

— Nhá, estava falando da roupa. — Iris balançou a cabeça com um toque de divertimento. — Precisarei daquela coisa que remove as partes queimadas... Talvez minha mãe me mande se pedir a ela... — ela murmurou mais para si mesma. — Bem, o resto é fácil.

Louisa fez uma careta, entre admirada e indignada com a tranquilidade de Iris quanto às queimaduras.

... Se fosse consigo, certamente estaria aos prantos.

— Por que não disse nada antes? — censurou. — É algo sério, que pode deixar sequelas conforme o tempo passa...

— Não é óbvio, Louisa? — a garota revirou os olhos, descrente. — Ter entrado no quarto daqueles garotos já foi escândalo o suficiente. Omitir certas coisas — ela indicou o corpo. —, é o melhor a se fazer em certas ocasiões. Meus pais agradecem.

Louisa ficou um pouco envergonhada por não ter lembrado desse detalhe. Como bem diria sua mãe: "Ela está certíssima!".

Inclinou a cabeça.

— Entendi. Bem... Acho que é melhor irmos logo encontrar a madame Clirony. Como o Ryman disse, uma pasta de Acanto é muito eficaz e cura queimaduras rapidamente.

— E depois ele diz que sou eu quem pareço com Anne Crystal... — Iris murmurou, levantando-se com cuidado. — Sim, vamos logo, também quero ver como está a situação lá embaixo... — ela rumou até sua própria mala, retirando outra capa de dentro e colocando a queimada no lugar. Ajeitou-a para que cobrisse a abertura em sua saia. — Deixarei o amuleto aqui.

Louisa fez expressão de dúvida. — Tem certeza?

Iris encolheu os ombros.

— Só por um breve momento, depois que voltarmos guardarei-o comigo. A enfermeira pode estranhar se acabar vendo-o... — esboçou então um semblante incomodado. — ... E não quero que ele me machuque de novo. Pelo menos por agora.

Louisa estranhou o termo "enfermeira", mas não fez objeções.

Após isso, Iris colocou o amuleto embaixo do travesseiro; este postado sobre uma cama toda desfeita e bagunçada. Louisa já tinha recomendado que Iris a arrumasse de vez em quando, mas a garota nunca tinha tempo por acordar frequentemente atrasada para as aulas.

As duas iam rumando para a porta de saída quando, de repente, Iris segurou o braço de Louisa.

Virou-se para ela — imaginando que talvez a garota não conseguisse andar sozinha sem algum auxílio — e atentou-se com o olhar sério da ruiva direcionado para seu rosto, como dois cubos de gelo (literalmente).

— Há algum motivo em especial para que você não queira falar com Victor Black ou qualquer outro membro da Sonserina? Por favor, seja sincera.

Louisa ficou um tanto desnorteada com a mudança súbita de assunto e demorou um pouco para se recuperar do pequeno baque (fruto da conversa altamente desagradável para si).

Acalmou-se, respirando fundo. Decidiu não se esquivar, inventar ou perder a calma de forma alguma. Apenas disse em um tom firme e resoluto, mais intenso do que utilizara no quarto de Billy e Matt:

— Isso não lhe diz respeito, Legraund. Trata-se de um assunto estritamente pessoal. E é a única coisa que lhe direi sobre isso.

As duas se encararam por alguns segundos. A energia tensa e pesada que se espalhara sobre o ambiente foi extremamente nítida.

Iris apenas abriu um sorriso amargo, antes de soltar seu braço.

— Suponho que tenha algo a ver com sua família. Bem... — ela passou por Louisa e abriu a porta, pronunciando, agora de costas, palavras que perturbariam Louisa por longos dias: — Prefiro não atravessar o caminho dos Northrop novamente. Com certeza dispenso tal encontro. — e saiu. 


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Notas finais do capítulo

Parece que a tensão e desconfiança está começando a baixar nessas duas... :/

O que acharam do capítulo? Algum expert aí terá o incrível êxito de decifrar as letras do amuleto?? Será que algum leitor consegue acertar? Quero só ver *piscadinha*

Até o próximo!

Malfeito, feito. Nox.



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