Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 38
Capítulo 37 — Ataque Espantoso


Notas iniciais do capítulo

Yooooo!! E aí, meus bruxinhos, como estão nesse sábado? Eu estou óóóótimaaaa!!! Ainda mais por ser dia de atualização!

E QUE CAPÍTULO será o de hoje, viu? Só pelo título já dá pra ter uma ideia, "Ataque Espantoso", hehe. Segurem seus coraçõezinhos e já vão adiantando as Mandrágoras, pois o que verão a seguir deixará todos vocês… Petrificados! HAUHUAH

Ps. Como podem ter notado, numerei os capítulos desde o início, pois confesso que estava começando a me embaralhar kkkk Também adicionei mais alguns gêneros que faltavam, só estou deixando avisadinho aqui, ok?

Sem mais delongas, boa leitura ^-^



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♠ Iris Legraund ♠

 

O dia do grande incêndio…

Aquela manhã raiou como todas as outras; límpida, amena e fresca, carregando um toque acalorado que certamente se intensificaria quando o sol estivesse em seu ponto mais alto. O ar puro e suave, que dava a impressão de acariciar a pele, não poderia estar mais convidativo e predizendo um dia adorável, daqueles que guardamos na memória como a mais deliciosa xícara de chá recém-preparada.

Nenhuma alma em Kidderminster imaginaria o que estaria para acontecer poucas horas depois de o dia clarear. Infelizmente, poucos são os que têm o dom de prever tragédias. Você pode até sentir um aperto no peito, uma ansiedade estranha lhe acompanhando; contudo, no fim, você sempre será surpreendido pela tão cruel e sempre repentina tragédia.

Era uma quarta-feira. Iris e sua mãe caminhavam juntas pelas ruas largas e parcialmente movimentadas, tomando o caminho da escola, como de costume. Seu pai não havia retornado para casa na noite anterior. Ele tinha tido tantos pedidos que acabou tendo que dormir na sapataria, mas ainda assim achou importante mandar uma cartinha para não preocupar a mulher.

A escola não era muito longe de sua casa. Tratava-se de um típico colégio rígido, com mais regras do que se pode contar e professores com feições endurecidas e vozes ásperas. Além disso, eles não permitiam atrasos, e sempre anotavam os nomes das crianças em um livro feio cor-carvão quando um deles perdia o horário. Naquela manhã em particular, Iris e sua mãe não estavam atrasadas, um triunfo que raramente elas conseguiam obter.

De toda forma, ainda que cumprindo perfeitamente a “regra do atraso”, Iris não chegou a entrar no prédio da escola naquele dia.

Após se despedir de sua mãe, a garota escondera-se atrás de algumas árvores quando atravessou os portões médios. Havia um velhinho mal-humorado que era encarregado de supervisionar os portões e que sempre dava umas “bengaladas” nas crianças que tentavam fugir da escola sorrateiramente. Iris, portanto, tivera de esperar uns vinte minutos até que o homem se distraísse com seu cachimbo e, aproveitando-se da oportunidade, escapuliu para fora de modo ligeirinho.

Iris tinha uma ideia fixa em sua cabeça. Uma ideia que passara a noite toda pensando e planejando até os mínimos detalhes.

Charlie era fascinado por dinossauros. O garoto passava horas e horas tagarelando sobre as criaturas pré-históricas; às vezes o exagero era tamanho que ele chegava a ficar rouco de tanto falar e falar sobre elas. Iris já conhecia de cor cada nome, altura, comprimento e até mesmo quantas unhas cada dinossauro possuía de tanto ouvir Charlie falar sobre o assunto.

Depois daquela desastrosa conversa que tivera com seus pais no dia anterior, em que eles negaram-se a adotar Charlie e torná-lo parte da família, Iris lembrou-se de uma frase que havia dito para Charlie algumas semanas antes. Ela disse a ele que sua mãe estava costurando uma blusa para o filho de uma de suas clientes mais soberbas — uma blusa que, por um acaso, teria em sua costura um enorme “tiranossauro-rex” estampado bem na parte da frente. Charlie ficou completamente extasiado, pois tratava-se de seu dinossauro favorito. Ele ainda disse, num suspiro, que daria tudo para ter uma blusa daquelas.

Iris sabia que a blusa já estava pronta. Sua mãe a terminara duas noites antes, e estava agora preparando um caprichoso embrulho para entregá-lo na tarde daquele mesmo dia.

Iris não queria encontrar Charlie e dizer-lhe que seus pais não iriam adotá-lo. Não suportaria ver o rosto dele quando soubesse que fora rejeitado. Não aguentaria ter que dizer que ele não teria um nome de família. O menino ficaria muitíssimo triste...

Decidiu, então, dar vida a seu plano. Faria uma baita surpresa para Charlie: entregaria a blusa de dinossauro para ele e, logo em seguida, daria a notícia ruim. Acreditava que se fizesse as coisas dessa forma, pelo menos ele não ficaria assim tão chateado. Seria algo parecido como quando seu pai destruiu sem querer sua coleção de petecas e só dera a notícia para ela depois de comprar mais dez delas novinhas.

Tudo dera certo. Iris fugiu da escola e voltou para sua casa, na Worcester St. Escondeu-se do olhar das vizinhas enxeridas e entrou pela janela aberta da Sala de Estar.

A blusa de dinossauro estava exatamente onde sua mãe deixara: acima da estante onde guardava os potes de algodões. Pegou-a e saiu pela janela novamente, tomando o caminho do Orfanato CroumstSaid.

Já lá dentro, não fora fácil para Iris conseguir chamar a atenção de Charlie.

A garota não podia em hipótese nenhuma deixar que as cuidadoras a vissem, ou contariam para sua mãe que ela não estava na escola. Tendo isso em mente, Iris entrou pelas portas dos fundos e esperou pacientemente o sino do lanche bater. Sabia que as crianças passariam perto dos banheiros quando seguissem em direção ao refeitório, e ela se aproveitaria desse momento para contactar o amigo.

Pegou Charlie pela camisa quando ele passou, distraído. Iris puxou o garoto para o lado de fora do orfanato, fechando a porta dos fundos atrás de si em seguida. Planejava fazer tudo aquilo rápido, pois não queria colocar o amigo em apuros. Ambos caminharam até a calçada ensolarada da Prospect Hill, com Charlie metralhando-a com palavras cheias de contentamento, dizendo que não via a hora de ser adotado e que havia sonhado com aquele dia desde que viu-se “preso” naquele orfanato.

Iris, sentindo uma fisgada de pesar, levou-o até a sombra de uma frondosa árvore, aproveitando o grosso tronco dela para que pudessem ficar invisíveis aos olhares alheios.

Seu jovem coração apertou-se ao ver a alegria e espontaneidade de Charlie, que tinha os olhos brilhantes e repletos de expectativa. O garoto estava tão feliz e contente...

Iris não se conteve: decidiu mentir para ele.

Por que dar aquela notícia tão rápido? Iris só havia falado com seus pais uma única vez. Talvez, se insistisse mais, poderia conseguir convencê-los a adotar Charlie nas próximas semanas. Iris via frequentemente os pais de alguns colegas mimados darem tudo que os filhinhos desejavam, simplesmente porque eles faziam um escândalo ou pediam muito o que queriam. Se desse certo com ela, seus pais certamente aceitariam trazer Charlie para dentro da família. Por que não tentar?

Com esse pensamento servindo-lhe de fonte de inspiração e esperança, Iris decidiu fazer o seguinte: disse para o garoto que seus pais falaram que iriam pensar no assunto, e que ele deveria esperar um pouco até que eles tomassem uma decisão.

O rostinho corado de Charlie murchou um pouco.

— Mas por que eles não querem me adotar logo? Queria que viessem hoje mesmo...

— Eles falaram que é um assunto sério ter outra criança na família. Disseram que precisam pensar muito bem antes de vir falar com a diretora do orfanato. — explicou. Não se sentia mal em mentir daquela forma. Se tudo desse certo, poderia esquecer esse pecado. Com certeza, Deus não a castigaria por isso; afinal, ela estava fazendo uma coisa boa, e Charlie nunca teria de ficar triste, certo?

Charlie olhou para baixo, seus olhos azuis perdendo um pouco do brilho.

— Que chato... — fez bico. — Sua mamãe e seu papai me acham estranho também?

— Não, Charlie. — balançou a cabeça. — Eles não te acham estranho. E pare de falar que você é estranho, porque você não é. — bagunçou seus cachinhos louros. Vendo que ele ainda continuava cabisbaixo, decidiu mudar o rumo da conversa. Olhou-o com empolgação, vendo que aquele era o momento de agir. — Ei! Olhe o que eu trouxe pra você!

Retirou a blusa colorida com o tiranossauro estampado de dentro da bolsa escolar, estendendo-a para ele com os olhos brilhando.

O garoto arfou, dando um salto no mesmo lugar.

— Ohhhh! O tiranossauro-rex! Isso é para mim?! — ele pegou a blusa como se fosse um tesouro. Seus olhos estavam arregalados e um sorriso de orelha a orelha ia surgindo em seu rosto.

Iris também sorria, radiante.

— Sim! Gostou?

Charlie sacudiu a cabeça freneticamente em concordância. Tratou de colocar a blusa sobre a cabeça, a fim de vesti-la. Iris ajudou-o a passar os bracinhos pela abertura e ficou feliz em ver que coubera perfeitamente.

— Obrigado, obrigado! — ele lhe abraçou forte. Não parava de olhar para o próprio umbigo, admirando o desenho do dinossauro, como se este fosse pular para fora e dar seu “rugido” amedrontador a qualquer momento.

— Não suje muito, viu? E se alguém perguntar, diga que ganhou de... — Iris pensou, colocando a mão no queixo. — ... presente de um desconhecido, isso! — olhou ao redor, vendo que não havia muita gente nas ruas. — Agora temos que ir. Você precisa voltar antes que as cuidadoras notem que não está tomando café, e eu preciso voltar para a escola.

— Uhum, certo! — Charlie acenou prontamente. — Volte mais tarde, assim brincamos de ilha-perdida outra vez; agora posso ser o próprio tiranossauro-rex! — anunciou alegre.

Ambos andaram até a calçada onde se situava a entrada dos fundos do orfanato. Iris achou melhor ficar do lado de fora, pois assim seria mais fácil para Charlie arranjar uma desculpa caso fosse pego por uma das cuidadoras a caminho do refeitório.

Acenou para Charlie.

— Sim, eu venho depois da escola. — fez menção de dar as costas para o garoto, mas parou ao sentir ele segurar sua mão e dar-lhe outro abraço.

— Você vai ser a melhor irmã do mundo! — ele disse e saiu correndo para dentro. Antes de fechar as portas, deu um último aceno para a garota.

Iris saiu dali extremamente satisfeita. Nada tinha dado errado, e Charlie não ficou triste. Contudo, ainda possuía uma tarefa para os próximos dias: insistir com seus pais até que eles fossem adotar Charlie. Não importava o que iria fazer; gritar, chorar, espernear ou até mesmo parar de comer: eles iriam adotar Charlie, sim! Começaria hoje mesmo a bolar algumas estratégias...

Iris, em total divagação, estava há apenas um quarteirão e meio de distância do orfanato, virando à esquerda na Bromsgrove St, quando ouviu o alto som da explosão.

Os berros e gritos estridentes ecoaram céleres; a movimentação energizada das pessoas na rua foi crescendo em questão de segundos...

... E o inconfundível cheiro de brasas queimando adentrou suas narinas. O doce cheiro da morte.

Iris olhou para trás, voltando alguns passos confusos e bamboleantes pelo caminho que havia feito. Estacou no lugar quando seus olhos esquadrinharam a visão ao longe:

O Orfanato CrousmstSaid estava em chamas.

Labaredas de fogo saíam pelas dezenas de janelas, a fumaça preta era lançada em direção aos ares, uma multidão ia se formando ao redor da construção; gritos e choros começavam a brotar por toda parte.

Depois do que pareceu horas, Iris enfim saiu de seu estado de choque. Sem pensar, ela desatou a correr para ver o que estava acontecendo. Foi quando...

Trep, Trep, Trep

Iris, de súbito, foi tirada bruscamente de suas memórias, voltando à realidade instantaneamente. Tudo desapareceu: as chamas, a escuridão da fumaça, as sirenes que logo começaram a soar…

A sensação era que tinha acabado de despertar de um sonho. Ou melhor, de um pesadelo.

Olhou ao redor um tanto desorientada. A sala redonda parecia ter escurecido ainda mais, e o vento que entrava pela janela aberta ficara mais forte e gelado. Estreitou os olhos ante o breu, fixando-os na direção da porta, local de onde vieram os inconfundíveis sons de passos soando no assoalho e que tiraram-na de suas temidas lembranças.

O som foi diminuindo até não restar mais nenhum requisito, denunciando que, quem quer que tivesse passado, encontrava-se agora longe dali.

Iris olhou o relógio. Dez e meia. O jantar já terminara e o toque de recolher já estava acionado. Não pôde deixar de ficar surpresa. Quase duas horas haviam se passado desde que entrara ali?...

Passou a mão pelo rosto, sentindo o cansaço lhe abater em cheio. Suas faces estavam parcialmente úmidas. Nem notou que havia chorado...

Realmente ainda era difícil lembrar daqueles tempos. Tudo voltava a ficar fresco e real. Por esse motivo, prometeu a si mesma que nunca mais pensaria em Charlie.

Isso havia funcionado durante anos. Em sua cabeça, ele praticamente nunca chegou a existir. Nem ele e nem aquele orfanato.

Em sua cabeça, nunca havia sequer ido morar naquela cidade-amaldiçoada.

… Mas tudo voltara como um verdadeiro avalanche agora que descobrira a verdade. A tão surrealista verdade...

Um membro da família de Louisa havia feito tudo aquilo. Era quase inacreditável pensar que seus caminhos, de alguma maneira, haviam se cruzado. O destino realmente era uma piada. Uma piada cruel.

Era por isso que Louisa nunca conversava sobre sua família quando Iris perguntava? Esse crime hediondo feito por seu parente era o peso que impedia a Northrop de adentrar em qualquer assunto com quem quer que fosse?

O que mais ela escondia? O que mais Iris poderia descobrir vindo dela? Algo que a afetaria novamente? Algo que a faria sofrer ainda mais do que havia sofrido quando aquele orfanato foi arruinado, levando Charlie consigo?

O que essa família realmente representava?

Pensou nas dezenas de crianças que morreram naquele incêndio. Nenhuma delas tinha família, apenas umas às outras. Foram enterradas na solidão, sem nenhuma alma viva que viesse visitar ou trazer flores.

Esquecidas. Sem pais, irmãos, ou qualquer familiar para relembrar um sorriso, uma fala, um gesto. Um destino frio e cruel.

Iris não queria ver mais feridos. Não queria ver mais mortes.

O episódio da queda de Andy Stimers adentrou seus pensamentos. Aquilo foi perigoso. Algo ruim poderia ter acontecido se não fosse pelo ato heroico de Griselda Milles.

O Cristal Maldito era o inimigo desta vez; possivelmente tendo mais alguém por trás de tudo. Iris não suportava a ideia de ver um inocente ser ferido. Não mais um.

Levantou-se, decidindo-se firmemente. O conselho de Louisa que fosse para os ares — não estava com cabeça para ouvir qualquer coisa que tivesse a ver com a Northrop. Muito menos uma advertência.

Verificando com o auxílio dos ouvidos se não havia alguém passando no corredor por trás da porta, girou cuidadosamente a maçaneta e saiu para o breu absoluto.

 

[...]

 

Iris estava diante do corredor cristalizado do 1° andar.

O castelo estava silencioso. Nenhum som era-se ouvido. Os habitantes dos quadros por quais passou encontravam-se todos presos em um aparente sono, alguns resmungando ofensas e palavras inteligíveis de vez em quando.

Iris ficou aliviada de não ter visto nenhuma alma viva vagando pelo castelo. A pessoa de quem escutara os passos deveria ter se recolhido ou, quem sabe, tratava-se do zelador Rancorous (o que não era uma boa hipótese de qualquer maneira); contudo, acreditava que, por hora, estava completamente sozinha.

Segurava a varinha na mão direita, mantendo-a abaixada. Não queria ter surpresas desagradáveis, embora não planejasse utilizá-la naquela noite, a menos que quisesse fazer luz ou coisa do tipo.

... O que também não seria necessário.

O corredor interditado exalava a mais pura luz. Isso, é claro, dava-se crédito aos cristais postados em toda sua superfície. Era como se uma enorme pedra-ametista estivesse recebendo a luz de uma potente e grandiosa lanterna para que aquele cenário roxo e resplandecesse tivesse vida. Iris sentia-se rodeada de milhares de estrelas lilás e roxas, ao mesmo tempo em que parecia estar no fundo do oceano iluminado pela Lua.

Era uma visão deslumbrante, não dava-se para negar.

Contudo, algo naquela luz a deixava com uma má sensação, como se um ar intimidante e perigoso estivesse presente em cada canto, apenas esperando o momento de surpreendê-la desprevenida.

Afinal, aquela cristalização havia sido feita pelo próprio Cristal Maldito.

Cerrou os olhos, esquadrinhando a imagem que tinha à frente. O enorme espinho de cristal que estava postado no meio do corredor (exatamente onde a porta da sala de Transfiguração se localizava) ainda continuava da mesma forma como a de meses atrás. Nenhuma estaca afiada havia derretido ou sequer mudado de posição. Totalmente brecada no tempo.

Iris respirou fundo e andou em passos hesitantes, porém decididos, até lá.

Tinha de manter o pé firme no chão tomado pela cristalização, ou escorregaria violentamente se cometesse uma falha. Parou em frente ao enorme espinho, não podendo continuar pelo motivo de este estar bloqueando a passagem para o outro lado do corredor.

Analisou-o atentamente. Eram cristais de verdade... Frios, mas não frios demais; transparentes, mas um transparente ametista extremamente brilhante e, tocando com as pontas dos dedos em sua superfície lisa, dava-se para sentir que era duro como pedra.

Os espinhos eram bem afiados e ameaçadores, fazendo Iris indagar-se se bastaria um leve toque para ter sua pele cortada. Não iria pagar para ver.

De repente, em meio aos espinhos menores, um pouco adentro dos cristais, Iris viu um lampejo verde perpassar por seus olhos. Olhou com atenção o local, inclinando-se um pouco para frente a fim de ter uma melhor visão...

... E ficou surpresa em ver a corrente de um objeto pendurada em um dos espinhos mais fundos. Pegou-o e examinou-o com a ajuda da luz que vinha dos cristais.

Era um amuleto. Possuía formado hexagonal, quase alcançando o tamanho de sua palma. Achou-o grande e pesado demais para um simples objeto de colocar no pescoço. Tinha cor preto-carvão, tanto no cordão quanto na superfície que recobria sua extensão. Iris reconheceu um fecho dourado quase invisível de tão pequeno na extremidade direita.

Mas o que mais a deixou curiosa foi um sinal marcado na parte da frente, com tinta verde-fluorescente:

“R”

... Pelo menos parecia ser um “R”... Apenas era um pouco mais repuxado nos traços, mas decididamente era uma letra “R”.

Estava tão absorta examinando o amuleto que mal reparou nos passos sorrateiros à suas costas, sendo pega de surpresa quando uma voz conhecida ecoou pelo recinto silencioso:

— Ah! Sabia que estava fazendo algo de errado, Legraund... Faz parte da sua natureza, é claro.

Virou-se e deu de cara com Anne Crystal, que a olhava com expressão de triunfo e um sorriso bem satisfeito nos lábios.

“Maldição...”, trincou os dentes ao mesmo tempo em que, num gesto discreto, guardou o amuleto dentro do bolso do casaco, tirando-o de vista.

— E parece que você gasta todo o seu tempo xeretando coisas que não são da sua conta, Crystal. — retrucou, sentindo-se irritadiça.

Agora sim conseguira um grandessíssimo problema...

— Está enganada, Legraund, pois o que é regra em Hogwarts, é regra para todos. — Anne ergueu o queixo. — E agora você está bem encrencada, pois contarei sobre sua “caminhada” pelos corredores durante o toque...

— Você está esquecendo de um pequeno detalhe. — interrompeu-a. — Não sou só eu que estou transgredindo o toque... Você também conta, Crystal. — sorriu. — Se me dedurar, levarei você comigo. São as regras, afinal. Correto, Anne? — enfatizou o nome dela com ironia só para provocar.

Por um segundo, viu o semblante presunçoso de Anne murchar e a preocupação invadir seus olhos negros. Contudo, não durou muito e ela logo assumiu sua costumeira pose superior novamente.

— Bem... Eu digo que tentei impedir que você saísse da torre, e que só a segui porque temia que algo ruim acontecesse, considerando as cristalizações. Direi que estava procurando um professor ou outro adulto para levá-la de volta para a torre “em segurança”. — fez aspas, sorrindo vitoriosa ao ver Iris cerrar os punhos.

— Não faria isso... — falou entredentes. Como ela podia ser tão falsa?

— Ah, sim, faria. E de muito bom grado. — ela acenou com a cabeça, lançando-lhe um olhar desafiador. — Vou agora mesmo procurar o zelador Rancorous, talvez ele tenha uma boa punição planejada para o próximo desordeiro... — dizendo isso, ela deu-lhe as costas e saiu rapidamente daquele corredor.

Iris, vendo que iria levar uma detenção de qualquer maneira, decidiu não facilitar a vida da Crystal: saiu correndo em seu encalço, buscando pará-la.

Anne apertou o passo quando viu que Iris a seguia, e logo ambas estavam no meio de uma correria; Iris a perseguindo a todo custo, tentada a fazê-la não encontrar o zelador de jeito nenhum.

Subiram para o segundo andar, e Iris já sentia seu peito arder com a insistente locomoção. Para uma garota que detestava esportes, Anne até que era bem resistente quando o assunto tinha a ver com arruinar a vida dos outros...

— Crystal, pare!... — sussurrou com raiva, sua voz fina ecoando pelos corredores desertos.

— Não até que receba sua punição, Legraund! — ela falou de volta, virando no corredor à direita.

Iris resmungou e continuou a segui-la. Sentindo uma aura assassina circundar seu corpo, decidiu pegar pesado.

Sacou a varinha no meio da perseguição, não importando-se se pudesse causar um incidente grave, e apontou-a para Anne Crystal.

“A azaração das Pernas-Presas vai resolver o caso... Tomara que ela quebre o nariz”, desejou ardentemente.

Mirando nas costas de Anne, gritou:

— Locomotor Mortis!

Iris ficou indignada ao ver a garota continuar correndo normalmente, virando a próxima esquina em seguida. O feitiço falhara.

— Impossível! — praguejou. — Que droga, eu falei o feitiço corretamente, caramba... — mordendo a língua para não dizer uma palavra feia, continuou a correr atrás de Anne, maldizendo sua má sorte. Com os segundos de vantagem que havia dado a ela, Anne talvez já estivesse há vários metros de distância agora...

Quando iria virar o mesmo corredor em que fora a outra, repentinamente, Iris sentiu uma coisa ferver em sua coxa esquerda, como se uma um ferro em brasa estivesse sendo pressionado contra sua pele.

Antes que pudesse pensar no assunto, colidiu bruscamente com Anne ao virar o corredor — esta, por algum motivo, encontrava-se parada no lugar.

As duas foram ao chão.

O ombro de Iris doía infernalmente com a colisão. Retirou os cabelos teimosos que cobriam-lhe o rosto e, ainda que confusa, olhou para Anne com tremenda irritação.

— Por que parou, garota? Ficou malu...

O olhar petrificado de Anne fez com que sua voz morresse instantâneamente. O rosto da Crystal estava tomado pelo mais puro pavor; os olhos fixados no corredor à frente.

Iris voltou o olhar na direção...

... E foi como se levasse um soco seco, pesado e completamente esmagador no estômago.

Um tremor violento percorreu todos os seus membros. Sua expressão deveria estar tão assombrada quanto a de Anne agora.

Cerca de dois metros à frente, postado exatamente no centro do corredor, havia outro cristal-ametista enorme. Este, diferente do outro, não barrava o corredor. Dessa vez havia a ausência de espinhos em sua extensão; contudo, esse bloco-de-cristal possuía algo mil vezes pior:

Clara Green estava cristalizada em seu interior — o rosto normalmente gentil e bondoso da garota retorcido numa das piores expressões de horror que Iris já vira na vida.


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Notas finais do capítulo

PELOS DEDOS MINDINHOS DE MERLIM, O QUE ACONTECEU NESSE FINAL???!!!

FINALMENTE tivemos nossa 1° vítima do Cristal Maldito: Clara Green. E agora? O que Hogwarts fará? Não se pode simplesmente mandar uma carta para os pais dizendo: “Olha, é que aconteceu uma coisa aqui envolvendo o tal do Cristal Maldito e a sua filha e… Bem… Ela não tá muito legal não”.

E a morte do fofo do Charlie? Ah, eu escrevi com o coração apertado todo esse Flashback da Iris, sabendo desde o início o que iria acontecer… Não me azarem por ter feito isso, ok, pessoal? Só segui o roteiro.

E parece que temos uma pista: um amuleto BEM suspeito. O que será que significa esse “R”? Botem as cacholas pra trabalhar: quero as teorias na minha mesa pra ontem!

E tenho uma surpresinha para vocês, Ju e Gabriel: Terça-Feira tem mais capítulo! ÊEEEEE!!!

Espero que tenham gostado do capítulo e deixem seus feedbacks, please! O que acharam dessa cristalização-humana? Esperavam por isso? E de quem é esse amuleto? Fantasminhas, apareçam, nem que seja para dizer um oi ou digitar um simples D+.

Até terça, pessoal ^-^

Malfeito, feito. Nox.



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