Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 37
Capítulo 36 — Lembranças Revividas


Notas iniciais do capítulo

Yoooo!!!! Como vão nesse sábado MARAVILHOSO, meus amados pelúcios!?
Acordei hoje muito animada, tive um bocado de inspiração e fiquei escrevendo desde às 8:00 até agora, até perdi a noção do tempo kkkk Mas eis o ditado: "quando a inspiração bate, nada mais importa para um autor".

Bem, o que dizer desse capítulo? Vocês irão conhecer agora o passado da nossa Iris, um passado bem amargo e cinzento :( Essa daí passou por muita coisa difícil...

Ah, e leiam bem as Notas Finais, viu? Coloquei informações adicionais e que são bem interessantes, principalmente para entender tudo direitinho do que lerão abaixo ^-^

Sem mais delongas, boa leitura ♥



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♠ Iris Legraund ♠

 

Iris Legraund ainda sentia seu coração extremamente abalado e falhando algumas batidas.

Sem perceber, baixou os olhos para o colo, respirando rapidamente, sentindo o ar faltar-lhe. “Orfanato CroumstSaid¹...”, balançou a cabeça atordoada ante a pronúncia daquele nome, buscando espantar as lembranças terríveis que lhe vinham de forma automática.

Fazia mais de cinco anos que Iris não ouvia o nome daquele lugar. Havia sido uma época tão distante e tão traumática que nem parecia ter-se ocorrido em sua esquecida e dolorosa infância. Era quase como se tudo aquilo que aconteceu não tivesse sequer existido...

... E, agora, esse assunto voltava para lhe assombrar, como um fantasma que volta para puxar seu pé quando você menos espera durante a noite. Um assunto que estava sendo revivido justamente no último lugar que ela esperava: Hogwarts.

Iris ergueu os olhos para Anne Crystal, tentando regular sua respiração acelerada. A adrenalina e a ansiedade que preenchiam seu peito, ambas responsáveis pelos tremeliques em seus pés e suor frio em suas palmas, começaram gradativamente a sufocá-la. Anne, por outro lado, parecia estar satisfeitíssima em ver sua reação, como se tivesse acertado um tiro no escuro exatamente no alvo.

Iris tentou recompor-se o máximo que podia, endireitando-se no assento. Olhou para Anne com seriedade.

— O que... O que está dizendo, Crystal? — engoliu em seco, sentindo um nó em seu peito. — O que esse... — sua garganta travou ante sua atitude de pronunciar o nome do orfanato. Respirou fundo, controlando-se. — …. O que esse lugar tem a ver com Louisa Northrop?

Daniel e Clara Green desviaram os rostos dela, num misto de incômodo e covardia. Não foi difícil para a ruiva concluir que ambos não dariam nenhum comentário sobre o assunto.

Anne, porém, parecia extremamente à vontade. Ela sorriu levemente, piscando com graciosidade. Levou uma generosa colherada de espinafre a boca, mastigando devagar, saboreando a suculência da folha.

Engoliu.

— Hum, suponho que a Northrop não lhe contou sobre esse... Detalhe, não é mesmo? — ela ironizou, e Iris não deu-se ao trabalho de responder, encarando-a fixamente, esperando que a garota continuasse. Anne pigarreou. — Todos aqui sabemos da grande tragédia que abateu o pobre Orfanato CroumstSaid numa bela manhã… — ela indicou à todos do Salão, incluindo os professores. — Saiu até nos jornais dos bruxos, sabia? Mas isso foi totalmente compreensível, visto que o responsável pelo incêndio era um dos nossos... — Anne ergueu as sobrancelhas, divertindo-se com a “narrativa”.

— Não... O que você está dizendo?... — Iris balançou a cabeça negativamente, franzindo o cenho. A confusão súbita que adentrou sua mente deixou-a um tanto lerda para pensar bem nas palavras da Crystal. Não havia conseguido entender o que elas significavam.

“Um dos nossos?... Como assim?”, indagou em pensamento.

Voltou-se para Anne e olhou-a num misto de confusão e desentendimento.

“Aquele incêndio... — começou, engolindo em seco. — Foi feito pelos nosso inimigos da guerra, eu me lembro…”

O olhar de pena que Clara lançou-lhe a fez parar de falar. A Green suspirou, desviando as orbes verdes para as mãos entrelaçadas acima da mesa.

— Bem... Acho que isso foi o que os trouxas quiseram que parecesse, Legraund.

— Mas é óbvio! — Anne estalou a língua, revirando os olhos. — Os trouxas são muito lesados... Sempre que algo “peculiar” acontece, eles inventam várias outras histórias mirabolantes para encobrir o fato. E isso é algo ótimo, claro, pois assim o Estatuto de Sigilo não sofre riscos. — encolheu os ombros.

— Mas lembre-se que há casos em que eles são induzidos a pensar em outras respostas, Crystal. No caso desse incêndio, por exemplo, algumas pessoas tiveram de ser rigorosamente confundidas. Um incidente daquele tamanho orquestrado por um bruxo não passaria despercebido pelos trouxas. — Daniel relembrou.

Iris sentia sua cabeça girar; as luzes douradas, esmeraldas e prateadas que piscavam por todo o salão inundaram sua retina com ainda mais intensidade, causando-lhe dores nas têmporas. Não estava entendendo absolutamente nada do que eles diziam.

Num gesto automático, bateu a palma contra a mesa, derrubando seu copo de suco e chamando a atenção dos três.

— Esperem um pouco!... — tentou concentrar seus pensamentos tomados por uma euforia imensa. — Todos sabem quem foram os responsáveis pela tragédia! Alguns soldados alemães estavam infiltrados pelo país e, como a guerra estava chegando ao seu fim e a Alemanha se encontrava praticamente derrotada, fizeram isso como um último ato de vingança. Saiu nos jornais e rádios! Foi exatamente isso que aconteceu! — frisou, olhando-os com tremenda perturbação.

Anne apenas esboçou um doce sorriso.

— Está completamente errada, Legraund. Não foi nada disso. — ela tomou uma generosa quantidade de seu suco de amora antes de continuar, fixando Iris diretamente nos olhos. — Tudo foi obra de um membro da família Northrop.

Iris sentiu um impacto absoluto. Não acreditava no que havia escutado.

Não… Não era isso... Não poderia ser verdade, era algum engano, tinha que ser...

No entanto, o olhar incomodado de Daniel e a expressão de tristeza estampada nas feições de Clara denunciavam que aquilo tratava-se da mais pura realidade.

— Como... Como vocês sabem que foi alguém da família Northrop? — não conteve-se em perguntar. Tinha que ouvir da boca de Anne; precisava ouvir.

— Como já disse, saiu no profeta... — Anne levantou uma sobrancelha. — E foi um verdadeiro escândalo. Lembro que mamãe até desmaiou… — comentou em tom de riso. Fixou Iris com um brilho de triunfo no olhar. — Mas é, foi isso. Um Northrop foi responsável por aquele ato desumano. Era um fiel seguidor de Gellert Grindelwald, e não aguentou quando viu seu mestre ser derrotado, entende? Resolveu começar um incêndio no orfanato como prova de devoção... Fico imaginando como aquelas pobres crianças devem ter sofrido antes de morrerem, e tudo por causa daquele monstro...

Anne. — Daniel pigarreou. — Vamos parar de falar nesse assunto... É Natal, poxa. Não é agradável para ninguém ouvir isso. Deixemos o passado no passado. — o olhar dele brecou rapidamente nos nós brancos exibidos nos dedos de Iris, que apertava fortemente as mangas do casaco.

— Oras, não é errado lembrar dessas pobres almas inocentes. — Anne retrucou. — Devem estar tão furiosas com o destino injusto que tiveram... Aquele homem deve sonhar com elas todas as noites em sua cela fria em Azkaban, lugar onde merece apodrecer. Um verdadeiro assassino.

— Anne! — Clara repreendeu, em sinal de que a outra havia ido longe demais. — Por favor... Acabemos com essa conversa, sim? Está no passado agora, como Daniel já disse.— apoiou o irmão. — De que adianta insistir?

Anne tratou logo de responder num tom altamente ríspido; contudo, Iris sequer estava prestando mais atenção na conversa. As bocas de seus colegas se moviam, mas nenhum som era-se ouvido, como se ela estivesse em um plano diferente do deles. Apenas uma única palavra estava presa em seus pensamentos...

“Assassino...”

Então era essa a verdade? Todos... Todos foram... Assassinados? Ele fora assassinado? Por tantos anos acreditou em algo que nem ao menos existiu, uma completa farsa?

E ainda por cima vindo de um membro da família de Louisa...

De repente, Iris sentiu o salão inteiro rodar; sua nuca pesou, a visão turvou e seu estômago contraiu-se horrivelmente com o cheiro das comidas, despertando-lhe uma ânsia de vômito intensa.

Anne, Daniel e Clara continuavam a debater entre si, os gêmeos unindo-se contra a Crystal, acusando-a de ter um “coração-peludo²”. Iris, por outro lado, já não aguentava mais escutar as vozes deles e muito menos o assunto nelas contidas.

Deixando seu prato pela metade, ergueu-se do assento imediatamente. Pôs-se a se dirigir para as portas que davam a saída do salão, passando pelos outros estudantes que aproveitavam a noite de Natal com alegria e entusiasmo, ignorantes ao estado alterado da garota. Atrás de si, escutava os incessantes chamados de Clara e Daniel, pedindo-lhe para voltar.

Iris encontrava-se tão atordoada que mal reparou nas formas transparentes que surgiram inesperadamente diante dela, flutuando alegres e sorridentes para o interior do Salão Principal, prontas para “participar” da festa.

O estômago da garota embrulhou em um nível ainda mais alto, se é que isso fosse possível.

“Fantasmas, não...”

Iris sentiu o puro medo atingir-lhe. Aquelas almas escolhiam chegar justamente quando estava de saída? Ela não tinha sorte mesmo...

Uma boa noite de Natal para todas as damas e cavalheiros! — eles iam atravessando as paredes com energia e facilidade, logo pondo-se a rodear todo o salão. O que havia falado tratava-se de um fantasma conhecido; aquele que era “quase-decapitado”...

Iris respirou fundo. Fechou os olhos e abraçou o próprio corpo quando passou rapidamente pelas portas, evitando chegar perto de qualquer um deles. Já havia presenciado diversas cenas de quando seus colegas atravessavam um fantasma que perambulava os corredores e a reação deles não era nada boa. Lhe causavam calafrios...

Exatamente a mesma sensação que Iris sentia quando era pequena.

Ela caminhou sem rumo pelo térreo, sentindo a angústia crescer em seu interior a cada segundo que passava. As palavras frias e zombeteiras de Anne haviam-na destruído completamente.

Como? Como aquilo era possível? Achava que aquela história havia sido extinta! Havia virado um verdadeiro tabu na família Legraund; pensava que nunca mais teria de ouvir sobre aquele orfanato novamente...

... E, de repente, tudo era revivido justamente ali, em Hogwarts. E, ainda por cima, contada em outra versão. Uma versão conhecida apenas pelos bruxos.

Iris estava tão distraída que mal reparou quando sua mão virou a maçaneta de uma sala qualquer do 1° andar. Nem lembrava-se de ter subido alguma escadaria, para falar a verdade. Mas seria melhor assim; precisava ficar sozinha, precisava pensar em tudo aquilo que ouvira ou sua cabeça iria explodir como um balão!

Diferente do que pensara a princípio, não havia entrado numa sala de aula. Extremamente pequena e em formato oval, as paredes eram revestidas de tijolos cor-jambo, e havia apenas um único armarinho postado ao lado de um quadro que encontrava-se vazio. Ele exibia a pintura de um bosque ornamentado com flores e plantas coloridas.

Uma pequena mesa estava postada ao lado da única janela que compunha a sala, em formato de cilindro. Esta encontrava-se aberta, o que ocasionava uma brisa gélida no interior do recinto.

Não havia luz ali, mas isso não era um problema: a Lua irradiava a sala com seu jorro brilhante, iluminando cada centímetro do local com extrema eficiência.

Iris desabou sobre a mesa madeira-vinho, sentando-se num dos assentos altos. Deitou a cabeça sobre os braços. Suas forças haviam ido embora.

“Orfanato CroumstSaid...”, apenas o nome lhe causava um tremendo mal-estar. Era como se voltasse anos atrás e tudo fosse revivido novamente. Todo aquele terror e perda...

As pessoas tinham traumas com infinitas coisas. Traumas com animais, com perdas familiares, demissões, pobreza, traição…

Já o trauma de Iris era, peculiarmente, as lembranças. Ela tinha trauma de lembrar de períodos de seu passado. Conseguir esquecer custou-lhe meses e mais meses de terapia-infantil, e o processo não foi nem um pouco agradável...

Não conseguia acreditar. Então o verdadeiro responsável pela tragédia do Orfanato CroumstSaid fora um bruxo. Surreal. Era nessas horas que Iris via o quanto os dois mundos estavam entrelaçados, trouxa e bruxo. Tudo mesmo antes de descobrir ser uma bruxa.

Ergueu os olhos para a Lua. Sua luz banhava todo seu rosto. Ela era tão brilhante e tão… Sozinha. Nenhum som alto ou estridente era-se ouvido — apenas os grilos ao longe e pios distantes de corujas atravessavam as janelas abertas...

Tão solitário. Assim como havia ficado naquela época...

Estando finalmente sozinha, Iris permitiu-se reviver todo aquele acontecimento, pela primeira vez em anos, desde o início. Precisava tirar aquilo de sua mente, precisava... superar.

Primavera de 1945. Início de Maio. Uma semana antes da Alemanha se render e sair da guerra. Foi quando tudo aconteceu.

Iris morava em Kidderminster, numa média cidade em Worcestershire, na época. Faziam alguns poucos meses que ela e seus pais haviam se mudado para lá. Iris tinha quatro anos.

Seu pai, Raymond Legraund, havia sido dispensado do esquadrão militar ao qual pertencia. Ele servira na Guerra por quase três anos, e fazia muitos meses que não via a mulher e a filha pequena. Iris nem lembrava-se dele; foi como se o tivesse conhecido a partir do momento em que retornara para elas.

Lembrava que sua mãe havia ficado muito feliz com a volta do marido, aliviada por aquela tormentosa separação ter chegado ao fim. Seu pai, porém, explicou que o comandante de seu regimento fizera um acordo com ele, e que se ele não cumprisse as demandas no prazo certo, voltaria a servir nas forças armadas na mesma semana.

O pai de Iris sempre foi bom em confeccionar sapatos. Sua mãe dizia que ele mesmo fez os calçados de seus irmãos e os dele próprio na adolescência, e assim riscava da lista um gasto desnecessário para os pais. Durante a guerra, ele utilizou as horas de descanso para fazer sapatos mais estufados e confortáveis para andar, pois os calçados que os soldados recebiam, embora específicos para o exército, não estavam com a mesma resistência inicial considerando a pobreza que começava a se abater sobre vários setores da economia inglesa. Portanto, os pés de muitos homens acabaram por tornar-se frangalhos nos primeiros meses.

Quando o comandante tomou conhecimento dos sapatos feitos por seu pai, viu ali um benefício imenso para a tropa. Os calçados duravam três vezes mais que os habituais, e os soldados que os trajavam tinham melhor locomoção e vigor durante os treinamentos.

Logo seu pai parou de ir aos treinos diários a fim de confeccionar sapatos para a própria tropa. Não demorou muito para que vários batalhões fossem se interessando pelo novo produto.

O governo, então, vendo a oportunidade, mandou uma carta ao comandante da tropa de seu pai, oferecendo ao soldado uma oficina em Kidderminster, com empregados e tudo mais, visando que a comercialização dos tais sapatos se multiplicasse abundantemente.

O pai de Iris mal havia voltado e os três já tiveram de fazer as malas e rumar para a nova cidade. Iris já havia perdido a conta de quantos lugares já havia passado juntamente com sua mãe nos últimos meses. Por algum motivo, elas sempre tinham que mudar e mudar, fugindo eternamente daquela guerra malvada...

No entanto, essa mudança em particular para Kiddeminster poderia ter sido sorte ou destino, pois a tropa a qual seu pai servia, coincidentemente, acabou sendo aniquilada uma semana depois de ele ter saído do regimento.

Após algumas semanas, eles finalmente pareciam estar se adaptando ao clima ameno e simples de Kidderminster. Iris fora matriculada em uma escola a quatro quadras de casa, e passava algumas poucas horas de seu dia lá. Seu pai trabalhava dia e noite customizando os sapatos, e ela não o via muito.

Sua mãe ficava triste muitas vezes quando ele não chegava para o jantar, mas o homem tinha que conseguir bater os números de pedidos toda semana, ou as consequências poderiam ser piores, ameaçado afetar até mesmo sua mulher e filha.

Aquele cenário difícil foi amenizando-se conforme os meses passavam. A guerra estava chegando ao seu fim e todos pareciam estar esperançosos. Os pedidos de sapatos haviam diminuído, mas isso não queria dizer que seu pai parou de trabalhar.

Ele havia descoberto sua verdadeira vocação, afinal. Sendo assim, continuou a seguir com a oficina, agora como legítimo sapateiro. Pessoas de todas as classes faziam solicitações, principalmente mulheres que ficavam encantadas com os modelos chiques que seu pai deixava à mostra nas vitrines.

A mãe de Iris também tinha seu próprio “negócio”, que não era bem um negócio de verdade.

Ela costurava todo tipo de roupa em casa e vendia para várias madames que gostavam de seu trabalho. Na maioria das vezes, sua mãe doava as roupas para pessoas necessitadas, como velhos, doentes, desabrigados e, principalmente, crianças. Com os últimos suspiros da guerra, esse tipo de ação era altamente necessitado.

… E foi assim que o Orfanato CroumstSaid entrou em suas vidas.

Muitas crianças do orfanato precisavam de roupas e sapatos novos. A maioria delas eram denominadas pelos adultos como “órfãos de guerra”. Iris não entendia bem, mas parecia ser algo triste. Sua mãe, então, após ouvir os comentários de algumas vizinhas sobre o assunto, interessou-se em ajudá-las. Levava Iris toda semana com ela quando ia entregar as cestas cheias de calças e camisas feitas de algodão, sem cobrar nada.

Não demorou muito até que Rosana insistisse ao marido para que produzisse sapatos de graça para as crianças necessitadas. Ela sabia que a oficina do marido tinha material e mão de obra o suficiente para oferecer uma caridade como essa. Raymond não ficou muito satisfeito, mas aceitou aos apelos insistentes da mulher.

Iris gostava de ir ao orfanato. Tinha crianças, comida e muitos brinquedos por lá. Ela costumava despistar sua mãe quando ela ia conversar com as cuidadoras, misturando-se entre as crianças órfãs e brincando com elas. Passou um tempão fazendo isso.

Obviamente, nunca demorava muito para que fosse encontrada, pois seus cabelos se destacavam em relação aos das outras crianças. As cuidadoras estavam até acostumadas com a presença de Iris por lá, algumas achando até mesmo que ela também era uma órfã, às vezes.

Foi assim que Iris acabou conhecendo Charlie.

O garoto era um ano mais novo que Iris, e não tinha amigos no orfanato. Iris nunca entendera o motivo disso, pois o menino era um anjo em pessoa. Até sua aparência lembrava a de um anjinho, com seus cabelos loiros claros e olhos azul-bebê.

Ela lembrava-se da primeira vez que falou com ele.

O garoto queria brincar com um dinossauro de brinquedo, mas os outros órfãos estavam negando-lhe o objeto, não o deixando participar. Charlie era o mais baixinho, e nunca conseguia pegar os brinquedos das mãos dos outros quando estes eram erguidos para cima.

O pobre Charlie havia começado a chorar, e Iris acabou vendo a cena.

Olhando com raiva para os meninos que faziam chacota dele, Iris pegou um pote de tinta preta que havia na ala de pintura e jogou-o sobre os cabelos dos valentões. Vendo que eles abririam o berreiro, Iris saiu rapidamente de lá, temendo levar uma bronca.

Quando estava perto das portas de saída do orfanato, porém, Charlie a seguiu.

Ele ainda tinha vestígios de lágrimas nos olhos. Deu uma pequena fungada.

— O-Obrigado... Você é legal.

Iris sorriu para ele. Aproximou-se, colocando as mãos em seus ombros. Ele era um palmo mais baixo que ela, então precisou abaixar-se um pouco.

— Não chore quando eles te importunarem, ou eles vão achar que você é uma menininha. Arrume uma maneira de se defender. — sugeriu.

Charlie olhou triste para o chão.

— Eles me acham estranho. Todos me acham estranho. Não sei me defender, eles são muito altos! — ele ergueu os bracinhos pequenos o máximo que conseguiu para cima. — Você me ajuda quando eles não me deixarem brincar? — perguntou esperançoso.

— Hum... Quando eu estiver por aqui, sim. Mas você não é estranho. Não acredite neles. — deu uns tapinhas em sua cabeça loura. — Tchau!

— Tchau! — ouviu ele gritar à suas costas, a voz alegre e fina, parecendo ter ficado extremamente feliz de ter arrumado uma nova “protetora”.

O tempo passou e logo os dois se tornaram melhores amigos.

Depois da escola, Iris sempre ia até o orfanato para vê-lo, e já era costume Charlie lhe esperar na entrada do prédio, todo animado. Sua mãe permitia as visitas, contanto que uma das cuidadoras levasse Iris para casa quando ficasse tarde. As mulheres aceitavam de bom grado tal serviço, pois eram muito gratas pela ajuda que a sra. Legraund dava ao orfanato.

Seu pai, por outro lado, não gostava nada da situação. Vivia dizendo que era estranho “uma garota de família passar o tempo junto com um bando de órfãos” e talvez as pessoas começassem a comentar sobre isso.

Iris, inocente como era, concluiu então que, se o problema era o “bando de órfãos”, a solução seria passar seu dia com uma só criança órfã, é claro!

Portanto, após ter essa ideia, Iris passou a levar Charlie para fora do orfanato. Os dois se divertiam à beça nas ruas, vez ou outra juntando-se com alguns filhos de vizinhos. As cuidadoras nem davam a falta da presença de Charlie, o que era algo intrigante. Quando Iris o questionou, o menino disse que era pelo motivo de ninguém gostar dele.

Iris notava que ele sempre dizia essa mesma resposta e acabou finalmente perguntando o porquê de ele achar isso.

— Eu não sei... Só que eles me tratam diferente, sabe? Acho que é porque não tenho nome. — Charlie dissera numa tarde, quando os dois haviam acabado de apostar uma corrida. Estava perto de Iris ter de levá-lo de volta ao orfanato, usando a porta dos fundos, então quis terminar rápido a conversa.

— Nome? Mas você tem um nome: Charlie! — levantou os braços, confusa.

Ele olhou para o chão. Sempre fazia esse mesmo movimento quando estava triste.

— Não, não, eu não tenho um nome de família. — ele explicou, fazendo um bico. — A maioria têm, mesmo não tendo pais. Eu sou só Charlie. Você é Iris Legraund. Tem um nome de família.

Pequena como era na época, Iris entendeu o pensamento infantil. E achou que fazia muito sentido.

Teve então uma ideia súbita. Pegou as mãos de Charlie, o olhando com animação.

— Então vamos colocar um nome de família em você também! Charlie Legraund! Você mora num orfanato, e nos orfanatos os adultos adotam crianças... Minha mãe e meu pai são adultos! Ele podem adotar você!

Os olhos do pequeno Charlie encheram-se de entusiasmo e alegria.

— É verdade, posso ser seu irmão! Você já é como minha irmã mais velha, Iris, agora só falta o nome de família!

Foi como se todos os problemas do mundo tivessem se resolvido na cabeça de ambos. As duas inocentes crianças voltaram para suas casas (ele no orfanato e ela em sua casa de verdade) completamente radiantes com a ideia.

Infelizmente, o sonho acabou por não ser concretizado.

Seus pais ficaram incrédulos quando Iris contou para eles o que tinha planejado. Na mesma hora, ela teve de ouvir intermináveis explicações sobre como o processo de adoção era algo demorado e sério, não podendo ser feito de uma hora para a outra. Além disso, uma criança a mais causaria muito prejuízo.

Iris não entendeu e nem aceitou os argumentos na época. Sendo assim, ficou muitíssimo brava.

Tão brava que decidiu dar uma de rebelde no dia seguinte.

Justamente no dia marcado para tudo ir abaixo.

O dia do grande incêndio.


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Notas finais do capítulo

♥ Curiosidades ♥

Orfanato CroumstSaid¹ — Tanto o nome quanto TODA a história que gira em torno desse orfanato não existiu. Foi apenas uma criação que nós, autoras (aproveitando do fim da 2° Guerra Mundial e da queda de Gellert Grindelwald), introduzimos para preencher a trama da obra, visando unir o mundo bruxo e o mundo trouxa num momento tão histórico e, de quebra, ainda entrelaçar as histórias de duas das protagonistas: Iris Legraund e Louisa Northrop.

Coração Peludo² — Expressão Bruxa retirada de “O Coração Peludo do Mago”; um dos cinco contos presentes no livro-infantil: “Contos de Beedle, o Bardo” (aquele que o Dumbledore deixou para a Mione em seu testamento em Relíquias da Morte, capiche?). Para os bruxos, um “coração-peludo” seria como “um coração de gelo”, alguém insensível, alguém incapaz de sentir amor por outra pessoa. Esse conto foi considerado o mais sombrio dentre os cinco, fazendo alguns pais pularem a narrativa e partir para a próxima a fim de não amedrontarem seus filhos.

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Uma Breve e Resumida Aula de História (tanto Trouxa quanto Bruxa):

Como todos devem saber, o fim da 2° Guerra Mundial ocorreu em 1945. Coincidentemente, foi no mesmo ano em que a “Grande-Batalha” de Alvo Dumbledore e Gellert Grindelwald aconteceu, resultando na caída de Grindelwald e, consequentemente, dando fim a seu reinado de terror. Não se sabe ao certo em qual mês ocorreu essa batalha lendária; contudo, se optarmos pelo mês de Maio, foi na mesma época em que a Alemanha, coincidentemente, se rendeu. O Ministério da Magia, sabendo disso, correu para confundir os trouxas presentes no dia do incêndio ao Orfanato CroumstSaid, com uma ideia já em mente. Embora eles soubessem que o verdadeiro culpado fora um bruxo, visando manter intacto o Estatuto de Sigilo, os obliviadores levaram os trouxas a acreditar que a responsabilidade de toda aquela monstruosidade pertencia à alguns soldados alemães que, revoltados pela eminente caída de sua pátria, decidiram, por vingança, incendiar o orfanato inglês. (Lembrando que toda a trama girando em torno desse orfanato NUNCA aconteceu no universo de HP e NEM na vida real, capiche?)

Espero que tenha ficado tudo bem explicadinho *-*

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Pois bem, pessoal, não vou me prolongar muito, pois acho que já exagerei no tamanho do meu quadrinho de falas kkkkk

O que acharam do capítulo? A parte 2 desse drama no orfanato será revelada na próxima postagem. Surpresos com a revelação? Um membro da família da Louisa foi o responsável por tudo isso; agora sim compreendemos o motivo de todos odiarem tanto essa família :/ Pobre Iris… E pobre Charlie também. O que será que vai acontecer com ele?

Puxa, a 2° Guerra foi cheia de coisas, né? Eu, particularmente, sou FASCINADA por esse período. Já li e assisti muitos filmes retratando essa época e sempre me senti vazia ao terminá-los :( A humanidade ainda tem muita conta pra pagar pelos seus erros.

Espero que tenham gostado e até sábado que vem, pessoal!

Malfeito, feito. Nox.

Ps. Sei que extrapolo nos tamanhos das notas; contudo, é o único momento em que posso falar com vocês, leitores. Além de que eu adoro conversar com vocês, me faz sentir mais perto ^-^

Ps2. Algum de vocês leu “Os Contos de Beedle, o Bardo”? Eu li e recomendo, são maravilhosos :D



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