Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 26
Capítulo 25 — Traquinagem


Notas iniciais do capítulo

Que manhã fria, meus bruxinhos! Puxa, aí onde vocês moram está chovendo? Aqui na minha casa não para de chover desde ontem á tarde!

Confesso que esse clima de frio me deixa um pouco entediada... Lavei uma louça enorme agora há pouco e minhas mãos parece cubos de gelo ;/ Ô sofrência!

Sem mais delongas, bora para o capítulo! Acho que muitos de vocês irão se divertir com ele *-* Até as Notas Finais!



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◘ Emily Parker ◘

 

Emily ainda estava muito assustada.

Não havia conseguido pregar os olhos quando fora dormir. Não com uma notícia medonha daquelas: um corredor inteiro do 1° andar havia sido completamente cristalizado!

E, de quebra, por um artefato mágico que Emily nem ao menos conhecia — e que a qualquer momento podia agir novamente e resultar em outras vítimas como a Northrop. 

No jantar, momentos antes de todos subirem para os dormitórios, o diretor Dippet apenas fez uma breve declaração sobre os recentes e preocupantes acontecimentos. 

Ele disse que não era preciso tumulto e alarde, e que as buscas por mais pistas sobre o fundo do problema continuariam sem cessar.

Ele ainda deixou bem claro que todos poderiam ficar tranquilos; apenas continuando com suas rotinas diárias e vivendo suas vidas normalmente no castelo.

“Não se deixem levar apenas por meros boatos de mentes deveras “criativas”. — ele dissera. — Quando enfim os fatos forem finalmente esclarecidos, poderemos, então, julgar se a situação é, ou não, importante.”

Contudo, era evidente o nervosismo estampado no rosto velho e franzino do diretor, que afagou os chumaços de cabelos brancos incessantemente durante seu discurso, o que só fez com que o medo de Emily aumentasse ainda mais...

Era verdade que ela ainda continuava receosa em relação às manifestações mágicas que pareciam acontecer a todo momento naquele lugar, entretanto, suas “queixas internas” poderiam ter algum valor agora.

Quando aceitara ir para Hogwarts, jamais havia passado por sua cabeça que coisas perigosas poderiam ocorrer por lá. Ninguém lhe avisara sobre esse fato...

E agora havia esse estranho caso que, aparentemente, deixava até mesmo bruxos experientes preocupados e aflitos.

… Quem dirá ela?

No dia seguinte as aulas voltaram ao normal, e o excesso de cochichos vigilantes e eufóricos sobre o incidente do “Corredor-Cristalizado” pareceram diminuir um pouco.

Na aula de Herbologia daquela manhã, ninguém estava muito interessado em ouvir sobre as “maravilhas” das picadas venenosas das Urtigas ou sobre como os Beijos-de-Moça tinham os lábios femininos e sensuais (surpreendentemente, até mesmo os garotos ignoraram estas últimas). Mas qual não foi a surpresa geral quando o prof. Beery separou a classe em duplas; o que levou os alunos a cogitarem de imediato que algum projeto estaria por vir...

... E eles estavam certos.

Herbert Beery¹ era um dos professores mais velhos em Hogwarts.

Após poucas aulas com ele, notava-se claramente o quanto o homem parecia ser um verdadeiro amante de teatro amador, sempre recitando e falando de maneira poética — o que era ao mesmo tempo engraçado e um pouco irritante, dependendo do ponto de vista.

A aula era a seguinte: ele entregou vasos contendo diferentes tipos de plantas para cada dupla, e a missão dos alunos era conseguir o êxito de mantê-las vivas por uma semana inteira. 

Antes de qualquer um se alarmar, o professor os tranquilizou, informando que poderiam ter acesso aos livros que continham informações sobre suas plantas.

Todos se entreolharam. 

— Mas, professor... — Clara Green ergueu a mão, sem jeito. — A biblioteca foi interditada. E bem... Vários livros foram carbonizados, incluindo os de Herbologia. 

 O homem pareceu refletir com bastante precisão as palavras da Green, pois ficou por aproximadamente três minutos inteiros acariciando o “lábio” inferior da Beijo-de-Moça postada na entrada da Estufa n° 3. 

 — Certamente... Tinha esquecido desse gigantesco detalhe. — comentou divagante. —  Bem! — ele bateu uma estrondosa palma, levando todos a se assustarem. — Tenho certeza de que darão seus jeitos! Afinal de contas, todos nós, seres humanos, possuímos a arte da criatividade e improvisação!

Anne Crystal explicou para Emily que havia um boato que dizia que o prof. Beery fora ver uma peça de teatro trouxa uma vez por engano, e depois disso ficou completamente viciado no entretenimento (houve uma ocasião em que uma plateia inteira, incluindo os artistas, tiveram suas memórias alteradas quando o professor, não contendo sua euforia após o final do espetáculo, soltou fogos de artifícios que explodiram em formato de Orquídeas da Morte no céu coberto por estrelas).

Após as duplas serem escolhidas, Emily sentiu-se meio tristonha de não ficar junto de Anne. 

Era verdade que o jeito um tanto “nervoso” que a Crystal demonstrava às vezes (especialmente com os garotos) lhe intimidava um pouco. Mas Anne sempre tratara Emily muitíssimo bem, com bastante gentileza na maioria da vezes.

(Além disso, ela era ótima em Herbologia...).

Emily caiu com Violet Valentine, aluna da Lufa-Lufa.

A frágil garota parecia ser alguém simpática, mas, assim como Emily, um pouco perdida na disciplina. Ela apenas ofertou-lhe um sorriso um tanto ansioso, dizendo que seria bom se elas apoiassem uma à outra para que aquela tarefa saísse, ao menos, satisfatória.

Enquanto Violet entretinha-se lendo o catálogo da planta que foram incumbidas de cuidar (haviam recebido uma Abútua), Emily observou outra dupla logo ao lado: Iris Legraund e Louisa Northrop.

Fora de singela surpresa para todos o fato desta última ter aparecido para a aula — a garota havia passado o dia anterior inteiro na Ala-Hospitalar, e aparentemente já estava recuperada de seu ferimento...

Emily estremeceu. Ouvira dizer que algo havia cortado o braço da Northrop; porém, por conta de não haver nenhum curativo à vista na garota, não sabia se era verdade ou não...

Todavia, ninguém deu-se ao trabalho de dirigir uma única manifestação preocupada á Louisa, agindo como se nada houvesse acontecido — na verdade, a única atenção que a maioria dirigia para a garota eram os olhares atentos e cautelosos em sua direção, como se esperassem que algo grandioso e desastroso pudesse acontecer a qualquer momento por causa dela.

Terminada a aula, Violet se ofereceu para cuidar da planta naquela noite, o que fez Emily suspirar de alívio. Ia rumando para a saída e, nem bem havia cruzado as portas da estufa, quando sentiu alguém lhe puxar pelo braço.

... E a revelação foi uma Anne que parecia estar extremamente agitada.

“Essa não...”. Emily conhecia aquela expressão. Algo ruim estava por vir. 

Após ser puxada para um lugar deserto, Emily finalmente conseguiu ter uma reação, estando completamente assustada. 

— A-Anne, o que...

Shhhh, espere! 

A garota enfim parou. As duas estavam em frente a uma janela levemente discreta num dos corredores do 2° andar.

A Crystal olhou para os dois lados do corredor atentamente, antes de voltar-se para si.

— Eu ouvi, Emily, ouvi! — ela anunciou eufórica e bastante ansiosa. — Aqueles Matt Ryman e Billy Sánchez! Estão planejando alguma gracinha, e será daqui a pouco!

Emily (que se perdeu um pouco tentando lembrar-se dos rostos dos tais garotos ditos por Anne), balançou a cabeça tímida e um pouco confusa.

— Mas... — engoliu em seco, já prevendo que algo de bom não viria da expressão selvagemente pensativa que crescia no rosto da amiga. — O que isso tem a ver com a gente...? — perguntou hesitante.

Anne, acordando de seus pensamentos que deviam estar a mil, encarou-lhe espantada.

— O que está dizendo, Emily?! Como “não teríamos nada a ver?”. — a garota mostrou-se incrédula com sua tremenda ignorância. — Somos alunas daqui, então qualquer um que aborrecer nosso espaço não tem direito algum de fazer isso! Olhe — ela mirou rapidamente algumas pessoas ao longe, certificando-se de que estas não escutariam nada. —, temos que acabar com esse plano, custe o que custar! — ela sussurrou verídica. — E tem que ser agora, então vamos! — apressando-se em cortar qualquer provável interrupção amedrontada de Emily, Anne puxou-lhe pelo braço, levando a pequena e assustada amiga firmemente aos andares de cima.

 

[...]

 

— ... A-Anne, não acha que isso é exagero demais?... — Emily perguntou num fio de voz, sentindo uma aflição causticante em cada canto de seu corpo. 

Shhh, silêncio, ou alguém pode nos ouvir. — Anne fez um sinal impaciente com o dedo que levara aos lábios, logo pondo-se a espiar o corredor entre as frestas das enormes Heras na qual estavam escondidas atrás.

A planta era grande o suficiente para uma pessoa tornar-se invisível quando abaixada; contudo, Emily era uma exceção: graças à seu porte pequeno, as duas não tiveram problemas com esse detalhe.

Anne resmungou.

— Eles ainda não parecem ter chegado, mas viemos na hora certa; veja. — ela apontou em uma direção em particular.

No meio do corredor havia um banco alto, onde estava postada, acima dele, uma caixa de madeira lacrada.

— Aqueles pestes já começaram com a primeira parte de seu planinho... — Anne continuou, cerrando os dentes.

— M-Mas... Que plano é esse, Anne? — olhou-lhe em dúvida. — Não acha que possa ter ouvido errado?...

— Não! — a Crystal tratou de lhe cortar. — Ouvi muito bem: sentei-me perto deles na aula de Herbologia, e quando vi que os dois começaram a cochichar, me aproximei discretamente, fingindo que iria examinar alguns Beijos-de-Moça. — ela não parecia nem um pouco envergonhada em dizer aquilo. — Eles pareciam estar finalizando os últimos detalhes de uma pegadinha, e o provável alvo se trata de Sebastian Rosier. Eles falaram que seria nesse corredor... — ela continuava atenta aos arredores. — Então me ajude a identificar a direção em que aqueles bobocas vão aparecer.

Emily suspirou tristemente. Não dava para fazer Anne mudar de ideia quando já estava decidida. Uma triste característica que havia notado logo nos primeiros dias de convivência com a menina de madeixas negras...

... Mas não queria fazer parte dos planinhos dela.

Emily não tinha nada a ver com o que os outros faziam, na verdade, nem ao menos se importava. Anne quem parecia sempre querer “dar um jeito” em tudo que ela achava que mancharia o nome da Grifinória.

Tentou analisar o corredor, vendo as poucas pessoas que passavam, a maioria desviando ou parando por alguns segundos para examinar curiosamente a caixa no meio do caminho.

Embora intrigados, ninguém nunca chegava a verificar seu conteúdo. Talvez achassem que fosse coisa do “caolho sr. Ogg”, que fazia algumas esquisitices às vezes.... Como quando pendurava sapatos velhos com camundongos em alguns batentes das janelas, alegando que eles precisavam dormir com um pouco de sol. 

... Ninguém achou aquilo agradável. Principalmente pelo motivo de os camundongos pularem em cima das pessoas que passavam perto das janelas. Aquilo também gerou algumas crises histéricas por parte das garotas.

Emily evitava fortemente olhar para sua esquerda, sentindo o suor pingar por sua testa.

Ao seu lado, havia uma estátua tenebrosa de uma bruxa que aparentemente fora construída há séculos. Essa estátua era um grande motivo para que Emily nunca passasse pelo 3° andar sozinha. Uma plaquinha a apresentava como “Gunhilda de Gorsermoor² (1556-1639)”.

Enquanto estava preocupada demais em vigiar a estátua (temia que ela pudesse fazer algo bizarro, como pular de repente em cima de si e começar a cozinhá-la em um caldeirão fervendo), Anne agitou-se ao seu lado, sussurrando ansiosamente:

— Ei! Acho que é o tal do Rosier chegando, não estou vendo bem... — ela inclinou-se um pouco por detrás das Heras. — Sim, é ele... E está acompanhado! — olhou animada para Emily. — É agora, Emily, vamos dar um jeito nisso! Só precisamos encontrar uma brecha... — murmurou pensativa.

As duas ficaram em silêncio para não perder nenhuma palavra do que se desenrolaria a seguir.

Emily apertou os olhos para esquadrinhar o tal Sebastian e os outros dois garotos que o acompanhavam. 

— ... É, Sebastian, comece a prestar mais atenção nas aulas, ou ganhará cada vez mais matérias extras, e no fim sou sempre eu que tenho que ficar te ajudando... — um dos mais velhos, August Lestrange, resmungou evidentemente irritado enquanto o outro garoto, que Emily reconheceu como sendo Victor Black, riu zombeteiro.

O Rosier pareceu se embaraçar um pouco.

— Eu sei... Eu até tento me concentrar, mas as coisas estão cada vez mais complicadas, sabe? E também tem aquela coisa do Bicho-Papão e... Ei! — o garoto parou o passo de repente. — O que é isso? — apontou para a caixa de madeira, olhando-a com curiosidade.

— Deixe aí, Sebastian. Preciso entregar logo o meu questionário para o prof. Hughes... — Victor continuou andando enquanto o Rosier começava a dar umas cutucadas na superfície da caixa com o indicador. 

— Mas... Olhe! Apareceu uma frase nela... — Sebastian aproximou-se para ler. — “Abra-me”. Está dizendo para abrir! — o garoto pareceu se animar e, quando começou a destravar o fecho, o Lestrange o repreendeu:

— Não abra isso, Sebastian! Você é idiota ou o quê? Não mexa em algo que desconhece!

O Rosier piscou para o outro confuso, mas logo entortou a boca evidentemente desapontado.

— Ah... Tudo bem... — ele foi se afastando da caixa em passos lamuriados.

“Ah, que bom...”, Emily pensou aliviada. Com a caixa permanecendo fechada, nada de ruim aconteceria...  

 ... Ou talvez sim. 

 De repente, Anne alarmou-se ao seu lado, exclamando com voz fina:

 — Eles estão ali, Emily! Estou vendo o Sánchez e... Essa não! — de repente, Anne sacou a varinha e, num impulso, lançou um jorro alaranjado na direção da caixa: — Flipendo!

 ... Ao mesmo tempo em que outro jorro (de cor azulada), vindo da outra extremidade de onde as duas estavam, tomava exatamente o mesmo rumo. 

 O impacto foi, sem dúvidas, estrondoso quando os dois feitiços colidiram-se contra a caixa em cheio. 

 

       

♠ Iris Legraund ♠

       

— Ah, mas que chatice!

Iris Legraund olhava com aborrecimento para Louisa Northrop ao seu lado. Carregava diversos livros e frascos nos braços, mas sua verdadeira vontade era de chacoalhá-la inteira até que aquele cabelo-branco milimetricamente arrumado disparasse para todas as direções.  Continuou com suas reclamações insatisfeitas.

— Você não me deixa fazer nada com a nossa planta! — exclamou frustrada.

Louisa respirou fundo, parecendo começar a se irritar gradualmente.

As duas já estavam naquela discussão há alguns minutos. Mais precisamente, desde que a Northrop tentara, em vão, conseguir algum livro com a Madame Belga na Biblioteca sobre a planta que ambas cuidariam. 

Logicamente, a mulher dissera que aquilo não seria possível, dada as circunstâncias. Ela até mesmo derrubou algumas lágrimas “Oh, meus pobres livros, tão jovens para irem ao céu dessa forma lastimável...”, o que arruinou por completo sua pose de “bibliotecária-medonha”.

Iris recusou-se a encarar a mulher, permanecendo do lado de fora da sala (ainda tinha receio de que ela pudesse ler em seu rosto o “furto” que fizera sem querer por causa de uma certa pessoa). 

Neste momento, o livro “Feitiços de Proteção para Cavernas” estava muitíssimo bem guardado no fundo de seu malão, apenas aguardando o momento em que seria jogado em algum buraco ou vala que daria para o núcleo da Terra (afinal, os resquícios de um crime tinham que ser meticulosamente destruídos). 

Retornando ao assunto, o grande problema era apenas um:

Louisa queria fazer tudo sozinha.  

— Olhe, a Cocleária é uma planta um pouco perigosa. Já vi algumas nos jardins da minha casa... — a Northrop explicou com paciência. — Estas folhas, quando nuas — ela indicou a muda que carregava nos braços, de folhagem extremamente branca. —, podem literalmente “inflamar o cérebro dos bruxos”. E você é um pouco... Confusa quando tenta fazer as tarefas... — fez uma pequena careta.

Iris levantou as sobrancelhas.

— Eu? Confusa? — não pôde deixar de sentir-se ofendida (embora recordasse vagamente de momentos em que fizera alguma besteira em aula por conta de sua distração).

Suspirou. 

— Tudo bem que fazer meu caldeirão pegar fogo na primeira aula de Poções e destruir acidentalmente o retrato do Magpie do prof. Hughes podem ter sido um erro meu... — admitiu. — Mas eu aprenderia muito mais rápido se você me deixasse cuidar da Cocleária por pelo menos cinco minutos!

As duas andavam pelos corredores com destino à Sala Comunal. Depois da aula de Herbologia, Iris a acompanhou durante toda a tarde, mesmo sem a garota pedir, pois, afinal, o trabalho era para ser feito em conjunto.

A Northrop, porém, queria fazer tudo do jeito dela, não deixando que a Legraund sequer pegasse na planta.

A pequena discussão entre a garota de cabelos vermelhos e a garota de cabelos louros parecia chamar a atenção dos que passavam ao redor, que observavam curiosamente a intriga. 

— Olhe, vamos fazer um acordo, Legraund. — a Northrop suspirou. — Você poderia estudar as informações da Cocleária nos livros...  E eu ficar com a parte prática. — ela propôs com certa relutância enquanto as duas viravam no corredor do terceiro andar onde havia a conhecida estátua da bruxa. 

— Uma grande tarefa... — Iris ironizou. — Vou ter tantos livros à disposição...

Louisa apenas deu uma discreta revirada de olhos. Aparentemente, decidiu ignorá-la de vez. 

Iris sentiu a raiva fervilhar em sua cabeça.

Não queria fazer apenas metade do trabalho! A condição que fizera para si mesma era de aproveitar e experienciar ao máximo tudo que colocassem à sua frente...

... Mas, aparentemente, a Northrop não confiava em deixar uma nota de projeto em suas mãos.

Chegava a se arrepender de ter sentido culpa no dia anterior quando soube do incidente da garota. 

 — Ah, então quer saber? — seus dedos apertaram as abas velhas dos livros “Mil Ervas e Fungos Mágicos de Fílida Spore” e “História da Magia de Batilda Bagshot” com força. — Faça tudo sozinha, pra mim já chega! — num ato impulsivo, os jogou com violência contra o chão, alguns metros à frente...

… No mesmo instante em que viu, num lapso, brilhos alaranjados e azulados cortarem o ar diante de seus olhos...

BOOOM!!

... E uma tremenda explosão de estourar os tímpanos ecoou por toda parte (desconfiou que até quem estivesse passeando no Lago Negro teria escutado o barulho).

Em seguida, Iris sentiu um líquido quente e pegajoso cobrir cada parte de seu corpo. Por estar de olhos fechados no momento da “explosão”, não conseguiu identificar o que era. 

Com o susto, acabou por se desequilibrar quando alguém esbarrou bruscamente em si. Caiu por cima de Louisa, que tinha a cabeça em sua panturrilha.

 As pessoas que haviam lhe empurrado também foram ao chão, e Iris viu se tratarem de Matt Ryman e Billy Sánchez, que pareciam ter surgido do além. 

 Limpou o líquido azul-berrante de seus olhos, que tinham um cheiro horrendo de galinha podre e peixe estragado.

 Todos ao seu redor também estavam ensopados de cima a baixo, com as mais variadas misturas e colorações, todas exalando odores que faziam seu estômago revirar. 

 “O... Quê?...”, seu cérebro parecia ter virado pudim. 

 O que havia acontecido ali? O que explodira? E por que diabos estavam cobertos por aquilo?! 

  Desvencilhou suas pernas enroscadas entre os braços do Ryman, dando-lhe um chute no cotovelo. Ajoelhou-se, ignorando o protesto doloroso do garoto enquanto tentava tirar o excesso daquele líquido nojento de seu casaco e saia. 

 — I-Iris... O que você fez?! 

 Louisa também ergueu-se, tão suja quanto Iris — os cabelos claros estavam em uma mistura de verde, violeta e marrom. Ela parecia estar ao mesmo tempo brava e enojada. 

 Iris abriu a boca, indignada.

— O-Oras, nada! Eu não fiz isso!... — olhou confusa para os livros que jogara no chão no exato momento em que a explosão se desencadeara.

Era simplesmente impossível ter sido culpa dela, aquilo era loucura...

— Seus malditos, quem fez isso?! 

Iris olhou adiante e ficou surpresa em ver o Black, Lestrange e Rosier na zona de guerra também.

A frase havia vindo do Lestrange, que não expressava uma cara nada boa em suas direções; os olhos cinzas pareciam soltar faíscas de ódio. Em outra situação, Iris até poderia ter sentido medo dele; contudo, o Lestrange estava mais para um “palhaço-ridículo” com aquele “bigode” verde na cara do que um “assassino-cruel”.

— Era isso que tinha na caixa, então? — indagou furioso

Iris não compreendeu uma única palavra dita pelo sonserino.

“Caixa?...”, pensou confusa. “De que caixa ele está falando?!”.

 Sua atenção então voltou-se para o Sánchez e para o Ryman. 

 Os dois garotos pareciam extremamente desapontados com alguma coisa, suas expressões denunciando tédio.  

— É, mi hermano... Não foi bem assim que planejamos. — Billy revirou os olhos escuros, fazendo uma careta. A maioria das moscas que o acompanhava estavam agora grudadas em seus fios encaracolados por conta do líquido colorido (uma mistura de roxo, azul e, para completar, pontinhos pretos em volta, como granulados. Um perfeito festival de sorvete para os míopes).

— Com certeza, parceiro, mas nem sempre as coisas saem do jeito que queremos. — Matt suspirou descontente. Em seguida, num ato desafiador e debochado, gritou para os sonserinos: — Esperamos que tenham gostado da surpresa! 

Ele e Billy se puseram, então, a rir.

Iris olhou rapidamente para a Northrop, que parecia tão incrédula quanto ela. O que estava havendo ali?

— Ah, seus miseráveis... — o Lestrange tirou a varinha da manga, juntamente com Victor e Sebastian (este último parecia extremamente confuso, obviamente apenas imitando os outros dois).

Os três brecaram o ato quando Louisa guinchou de repente ao lado de Iris:

— Arre! O que são essas coisas!? 

Ela apontava para uma caixa de madeira tombada no chão, parcialmente quebrada. De dentro dela estavam saindo cerca de uma dúzia de criaturas gordas e coloridas, do tamanho de um palmo de mão. Possuíam peles enrugadas e gosmentas, e arrastavam-se lentamente para fora do que sobrou de sua “morada”. 

Iris não fazia ideia de que bichos eram aqueles; não dava-se para identificar perninhas. Logo começaram, um a um, a pular como verdadeiros sapos em suas direções conforme ganhavam mais familiaridade com o ambiente.

Mas o pior veio a seguir:

Perfeitamente sincronizados, os bichos abriram as bocas e começaram a vomitar mais daquele líquido pegajoso, fedorento e colorido acima de todos.

Criou-se o caos.

Os sonserinos, juntamente com os quatro grifinórios, puseram-se a lutar e evitar, com asco, os bichos gordos e nojentos, recebendo ainda mais jorradas coloridas em troca.

As criaturas tentavam a todo custo pular em seus corpos e guinchavam enraivecidas quando barradas, parecendo verdadeiros diabinhos. Não tinham dentes, somente gengivas rosadas e cheias de sujeiras. 

Iris, com um dos livros que pegara do chão (Batilda que a perdoasse), buscava rebater aquelas coisas para longe quando pulavam em sua direção.

Não era nem de perto eficaz. 

O corpo daquelas coisas parecia ser feito de gelatina: emagreciam e diminuíam para passar pelas frestas que os alunos deixavam abrir em suas defesas.  Algumas puseram-se a sair do corredor, vomitando no chão e nas paredes, fazendo com que os quadros e os alunos que observavam de longe saíssem correndo para não serem atingidos. 

Quando a situação pareceu ficar ainda pior (e mais desagradável do que já estava), sem chances de terem sucesso contra os bichinhos, a ajuda apareceu inesperadamente:

Immobilus!

Iris ouviu uma voz soar atrás de si e, na mesma hora, as criaturas estacaram por completo. Algumas ficaram paradas sobre o chão enquanto outras flutuavam no ar, ainda no meio de um pulo.

— Prof. Marshall! — Sebastian Rosier exclamou aliviado; um dos bichos parecia ter conseguido se prender em seu cabelo loiro-queimado, e o garoto já estava tentando soltá-lo há um tempo. A criatura agora permanecia imóvel sobre sua cabeça.

O professor de D.C.A.T olhava para tudo extremamente pasmo. 

— O que aconteceu aqui?! — observava todas as quatro dimensões do corredor, cobertas pelo líquido colorido e pegajoso (um verdadeiro cenário digno de circos, na opinião de Iris). — Quem fez isso?!

— Foram esses idiotas, professor! — o Black erguia-se evidentemente irritado, apontando para o quarteto, que também se colocavam em pé. Jogou uma das criaturas grudada em sua perna com extrema força contra o chão. — Vá! Pergunte a eles o que houve! 

O professor virou-se para Louisa, Iris, Matt e Billy. Sua expressão ficou séria. 

— E então? É verdade? Os quatro fizeram isso?

Iris, esperando que os garotos tomassem primeiramente a defesa delas, dizendo que eles eram os responsáveis (afinal, ela e Louisa não haviam feito absolutamente nada além de estarem no lugar errado, na hora errada), ficou desacreditada quando Matt respondeu, decidido:

— Sim, professor, fomos nós mesmos que armamos esse plano! — (Iris viu Louisa arregalar os olhos para o garoto). — Fizemos isso porque eles merecem, pegam no pé de todo mundo, acham-se melhores que os outros...

Espera aí! Nós não tivemos nada a ver com isso!... — Iris o interrompeu, indicando a si mesma e Louisa, porém, o professor tomou a palavra:

— Foi muito sério o que fizeram, sabiam disso? — Marshall parecia desapontado. — Esse castelo é muito antigo e prestigiado, e vocês tentam arruinar esse patrimônio com brincadeiras inadequadas? — balançou a cabeça negativamente.

— São um bando de bebezões, professor; sem um miolo sequer no cérebro... — o Lestrange bufou. 

— É! — Sebastian concordou, gesticulando como um idiota. — Com miolos desse tamaninho, ó. — ele uniu o indicador e polegar no tamanho de uma noz. 

Iris negava com a cabeça, inacreditada. Não conseguia crer que estava sendo acusada de algo que não tinha ajudado um dedo sequer (pelo menos desta vez, ela era realmente uma inocente!).

Cerrou as mãos, pronta para se defender, quando o prof. Beery surgiu apressado no local, ficando igualmente assombrado ao visualizar o estado do corredor.

— Pelas Barbas de Merlim! — o rosto parcialmente enrugado do professor de Herbologia franziu-se em indignação. — Mas que cena de extrema assombração é essa que tenho diante de meus olhos?! — sua voz saiu em tom dramático, como se estivesse lendo um roteiro. — Um ultraje! Um absurdo! Marshall, o que houve aqui para desencadear tamanha destruição?!

(Faltava apenas a faca para que ele fechasse a cena do espetáculo com um suicídio).  

O prof. Marshall massageou a nuca, embaraçado.

— As crianças fizeram isso, Beery, mas já estou com tudo sobre controle...

— Oh, mas que horror! — o professor de Herbologia aproximou-se da estátua da bruxa, também coberta pelo líquido berrante. — Olhe o estado em que ficou a honorável Gunhilda de Gorsermoor! Um de seus olhos foi drasticamente decepado de seu rosto! Drasticamente decepado! — apontou para uma cratera na cútis da estátua, onde realmente faltava-lhe a visão direita.

— Ah, é mesmo... — o prof. Marshall analisou com atenção. Seu semblante então iluminou-se de repente. — Mas sabe! Pensando em um detalhe, a verdadeira sra. Gunhilda também não possuía um dos olhos, se não me engano...

Deu então um sorriso ansioso para o colega de profissão.

— Agora ela está a caráter da original, não? Uma verdadeira: “Bruxa de um olho só”!³

O prof. Beery pareceu refletir.

— Hum... Agora que disse isso, me recordo de já ter escutado tal afirmação antes... Disseram que os construtores da estátua haviam se confundido no finalizamento, esquecendo-se de que ela não tinha um dos olhos...

— Exatamente! — Marshall pareceu aliviar-se. — Bem, quanto a estátua, então: caso encerrado! — o professor de D.C.A.T bateu palmas. — Poderia fazer o favor de recolher essas criaturas e levá-las para o Ogg, Herbert? São as famosas Lasmentas, não? — comentou, tentando amenizar o clima. — Deixe que eu cuido de dar a detenção aos alunos...

— Professor, eu não fiz nada! Só estava passando... — Iris finalmente pôs-se a protestar. 

Nós que não fizemos nada, fomos as verdadeiras vítimas disso tudo! — o Black retrucou com raiva.

— É, é! Eles quem tem de receber castigo, não nós! — Sebastian concordou, acenando diversas vezes com a cabeça, num gesto patético.

E a discussão tomou sua forma: As vozes dos alunos embolavam-se uma acima da outra, todas buscando enaltecer suas defesas.

O prof. Marshall, que tentava, em vão, fazê-los se acalmar, finalmente perdeu a paciência.

Chega! Me decidi: todos vão receber detenções! E não quero ouvir mais nenhuma argumentação. — advertiu quando Victor e Iris fizeram menção de abrir a boca novamente. — Retirarei 70 pontos da Grifinória e da Sonserina. — aquilo foi o suficiente para que a cor sumisse do rosto de todos. — E sugiro que desfaçam seus planos para amanhã, pois passarão o dia limpando o Corujal. E sem usar magia. — acrescentou duramente.

Pero maestro, esto es demasiado exagerado!... — Billy protestou. Iris não entendeu a frase, mas apoiou-a fazendo gestos afirmativos. Matt não havia proferido nenhuma palavra desde o início, apenas observava ao redor com as mãos enfiadas no bolso e com semblante fechado.   

— Deveria ter pensado nisso antes de fazer essa brincadeira descabida, sr. Sánchez. — o professor foi irredutível. — Varinhas. — estendeu a mão. Ninguém se moveu. —  Agora. — falou com autoridade, e todos entregaram-nas em meio aos resmungos. — Tentei ser legal, mas vocês não colaboraram. Quero que dirijam-se para suas salas comunais; estão dispensados de seus planos para o final do dia também.

Vendo que não teria mais nenhuma chance de convencer o professor, Iris suspirou frustrada, sentindo a raiva da injustiça borbulhar em sua cabeça. Fuzilou o Ryman e o Sánchez com o olhar antes de virar-se e sair dali batendo o pé, fazendo as poças coloridas das tais “Lasmentas” espirrarem para várias direções. Já estava suja mesmo, um pouco a mais não faria diferença.

Quando passou ao lado de Louisa, escutou a garota murmurar em um lamento enquanto olhava para algo aos pés da estátua da “bruxa-agora-meia-cega”:

— Essa não...  

A Cocleária jazia destruída no chão, suas folhas espalhadas e seu vaso totalmente quebrado, despejando areia úmida e fresca pelo piso apedrejado.

Iris sentiu mais uma onda de amargor.

Além de ela e Louisa terem sido castigadas injustamente, ainda tirariam zero no projeto de Herbologia.

Iris já tinha passado por muita coisa em sua vida; mas aquilo sim era o que a garota denominaria como a mais verdadeira e puríssima “má-sorte”.


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Notas finais do capítulo

♥ Curiosidades ♥

Herbert Beery¹ — Professor de Herbologia e devoto entusiasmado de teatro amador, Beery acabou deixando o cargo algum tempo depois de comandar a adaptação da fábula “The Fountain of Fair Fortune” em uma pantomima durante o Natal para os estudantes de Hogwarts (e esta acabar em um grande desastre). Será substituído por Pomona Sprout, futuramente.

Gunhilda de Gorsermoor² — A famosa “Bruxa de um Olho Só”. Gunhilda foi uma curandeira caolha e corcunda que descobriu a cura para a varíola de dragão. A estátua dela em Hogwarts guarda uma das passagens para a Dedosdemel em Hogsmeade.

“Bruxa de um olho só”!³ — Na verdade, esse acontecimento que vocês leitores viram acima tratou-se de uma adaptação de nós, autoras. Esse incidente com a Estátua da Bruxa nunca aconteceu, mas achamos divertida a ideia de mostrar “como poderia ter sido a história dessa estátua” em Hogwarts e como ela começaria a ser conhecida pelas futuras gerações como “A Estátua da Bruxa de um Olho Só”.

Lasmentas⁴ — Criatura Mágica Original. As Lasmentas são uma espécie de sapos-lesmas, molengas, grudentas e natas saltadoras. Gostam de viver em ambientes úmidos e escuros, como cavernas ou grutas. Seus poderes baseiam-se em vomitar um líquido cor marrom-ocre que causa uma dormência temporária em seus inimigos (em humanos a potência é menor).

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E aí minha gente! O que acharam desse capítulo MONSTRUOSO? Credo, se eu estivesse no lugar dessas pobres crianças eu iria ficar vomitando junto com as Lasmentas kkkkkk

Mas falando sério, você gostaram da pegadinha? Eu AMEI planejá-la, lembro que eu e minha irmã estávamos passeando na rua com nossa mãe e discutindo sobre uma “traquinagem” que resultaria em detenção. Vimos uma lesma perto de uns arbustos e voilá! A ideia das Lasmentas surgiu! (é estranho como a inspiração surge nos momentos mais estranhos).

Pobres Louisa e Iris… Se deram bem mal, e tudo por causa desses moleques bobos kkkk E parece que a Anne e a Emily conseguiram fugir rapidinho do local… Garotas espertas! ahuahuaha

Espero que tenham achado legal essa adaptação que fizemos com a estátua da Gunhilda. Não sei se vocês lembram dela, o Harry recebeu a dica do Fred e do Jorge sobre essa passagem que dava para Hogsmeade no terceiro ano. Como não tinha muitos detalhes sobre a construção dessa estátua, não vi problema em colocar essa cena “histórica”, digamos assim :)

O próximo capítulo tratará da Detenção no Corujal. Já esperem BASTANTE titicas de corujas, esse povo vai sofrer muito kkkkk

Ah, e Gabriel (posso te chamar assim?), em relação a nossa conversa sobre “piratas-bruxos”, eu dei uma pesquisada, viu? Não achei nada oficial (na verdade, o google estava me mandando para sites de pirataria hauhauah), mas encontrei no Amino uma criação de um fã potterhead que dizia sobre Edward Teach, ou como todos o conhecem, “Barba Negra”. O post dizia que ele poderia ter sido um bruxo das trevas e que fundou a escola de magia SeteMares Bruxos em seu próprio navio. A ideia do autor que se trata por Dayron White foi TÃO genial que eu vou até colocar o link aqui:
https://aminoapps.com/c/potter-amino-em-portugues/page/blog/escola-de-magia-e-bruxaria-setemares/Q3km_KvFXu3WLa08ZN3pprqZ1BvkxvkeKa

(Como é chato ter que copiar e colar numa nova guia, sugiro que vá direto no Google e pesquise “Edward Teach bruxo” que vai aparecer rapidinho o blog ;) Você também devia dar uma olhadinha, Juliana, acho que vai gostar!).

Coloquem blusas de frio que o clima tá bem feio e cuidem-se! Próximo sábado haverá novo capítulo e na terça-feira também! Até!

Malfeito, feito. Nox.



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