Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 61
I - Conflito


Notas iniciais do capítulo

Dando início a terceira fase, finalmente! o/
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787674/chapter/61

 

Dohyeon havia finalmente dormido, Kyungsoo constatou depois de quase duas horas ninando o filho nos braços. Fechou os olhos por um momento e deixou um suspiro escapar baixinho dos seus lábios, estava tão cansado. Andou até o berço e colocou o filho ali devagar, tomou cuidado para não acorda-lo novamente. Lançou um olhar para a janela aberta do seu quarto naquele verão, nenhuma brisa entrava, o que era ruim o suficiente para que quisesse um banho a cada uma hora e tivesse que aguentar Dohyeon irritado com o calor.

Mas naquele momento, enquanto o filho dormia, decidiu que tomaria um banho antes de ir para a cama. Apressou-se em direção ao banheiro e agradeceu por ter um banheiro no quarto, afinal se o garotinho acordasse, o escutaria. E para o bem da verdade, pretendia não demorar-se embaixo da água apesar de cada parte do seu corpo desejar isso fervorosamente. Estava há tanto tempo sem um descanso decente que sentia como se pudesse dormir pelos próximos 100 anos se Dohyeon não fosse tão barulhento.

Uma vez dentro do banheiro, não perdeu tempo se olhando no espelho. Correu para baixo do chuveiro e fechou os olhos quando a água escorreu por sua cabeça. Era tudo o que precisava, afinal. Um bom banho gelado. Quando terminou, foi em direção a pia e escovou os dentes e só então, reparou na sua aparência. Estava com olheiras enormes, um tanto pálido e visivelmente cansado. Apertou as próprias bochechas atrás de alguma cor e quando satisfeito, saiu do banheiro. Vestiu algo leve e jogou-se na cama.

O sono não demorou a vir, mas acabou indo embora rápido quando quase cinco horas depois Dohyeon o acordou. Dessa vez, seu pai Ryeowook apareceu e se ofereceu para fazê-lo dormir depois que Kyungsoo o amamentasse. Não contestou, afinal só queria mais horas dormindo. Acordou horas mais tarde, o sol estava alto no céu, indicando mais de meio-dia e quando constatou o horário no relógio do celular, arregalou os olhos. Não podia ter dormido tanto sem que Dohyeon o acordasse. Lançou um olhar para o berço e ao vê-lo vazio, se pôs de pé em um rompante, o coração aos saltos.

Colocou a mão no peito, tentando acalmar o coração. Seus pais deveriam tê-lo levado para passear ou algo assim apenas para lhe dar alguma folga. Ninguém havia roubado seu bebê, se assegurou enquanto soltava o ar pela boca. Colocou os óculos no rosto e foi até o banheiro, escovou os dentes e tomou banho. Saiu do quarto, se Dohyeon estava com algum dos seus pais então tinha algum tempo para comer algo. Foi direto para a cozinha.

Não havia ninguém lá, mas o café da manhã ainda estava posto, por isso, sentou-se à mesa e comeu sozinho. A casa estava silenciosa, ao que parecia nem mesmo seu pai alfa estava em casa, agradeceu por isso porque ainda não sabia como se comportar diante do mais velho. Sempre se sentia confuso quando o fitava, como se um bolo de coisas estivesse preso na sua garganta. Sabia que tinham que sentar e conversar, resolver as pendências, mas Kyungsoo não sabia por onde começar, na verdade, não lembrava do começo e isso parecia o suficiente para apenas se manter longe como se assim fosse conseguir resolver algo.

Não ia, tinha plena certeza disso porque fazia o mesmo com Chanyeol. Empurrava aquele relacionamento com a barriga, sem coragem para segurar ou soltar de vez a mão do Byun. Era besteira, mas tudo para Kyungsoo soava tão diferente como se o mundo estivesse de cabeça para baixo. As suas lembranças não estavam voltando da forma que deveriam, a rapidez que queria parecia nunca chegar. Tudo o que tinha eram borrões de imagens e sensações, algumas palavras sussurradas aqui e ali fora de contexto que só serviam para deixa-lo mais confuso e frustrado.

Tentara conversar com Ryeowook sobre isso, mas tudo o que queria saber estava fora do alcance do seu pai e mesmo Heechul, que sempre fora o mais próximo de si entre os mais velhos, não sabia muita coisa. Poderia ter recorrido à Chanyeol, mas seria constrangedor demais pedir que ele narrasse sua vida além de um tanto doloroso e tudo o que menos queria era machucar ou dar falsas esperanças ao alfa. Chanyeol estava sendo um ótimo pai e não queria prejudicar o relacionamento dele com Doheyon só porque não lembrava-se do que haviam vivido juntos.

No fim, a única pessoa que podia tê-lo ajudado não estava mais ali. Minseok, que era seu confidente, seu melhor amigo, ainda estava desaparecido e ninguém sabia se voltaria. Junmyeon estava tentando encontra-lo, mas tudo culminava para um beco sem saída, coisa que só servia para deixar Hangeng impaciente e acusa-lo de traição, de estar acobertando a fuga e o crime do ômega. Crime. Ainda era difícil para si acreditar que seu irmão realmente fizera aquilo. Minseok não era daquele jeito, não agia assim. Ele nunca teria coragem de atacar alguém daquela forma, mas se não havia sido ele, quem seria? Que tipo de pessoa atacaria Jaehyun daquela forma?

Todas as vezes que fechava os olhos lembrava-se do corpo do jovem alfa no meio do quarto de Minseok, com tanto sangue no chão e o rosto congelado em uma surpresa fria, se sentia tremer. Jaehyun não se mataria daquela forma, não havia forma de uma terceira pessoa estar envolvida naquilo, só lhe restava um suspeito. Um único culpado. Mas pronunciar aquilo em voz alta, usando aquele tom, deixava-o enjoado.

Minseok não era daquela forma.

Minseok nunca agiria daquele jeito.

Mas mesmo quando repetia isso para si mesmo, sabia que só estava se enganando.

— Olha só quem chegou! — a voz de Heechul o tirou dos pensamentos. Virou o rosto em direção a entrada da cozinha e um sorriso despontou em seus lábios quando ficava em pé.

Dentro do carrinho de bebê estava seu filho. Aproximou-se e o pegou nos braços. Dohyeon balançou-se nos seus braços, um sorrisinho nos lábios, feliz por ver o pai de novo. Kyungsoo deixou um beijo na sua testa, se deu conta de que estava com saudade do filho.

— Onde estavam? — perguntou ao pai.

Heechul bebeu um pouco de água antes de responder.

— Passeando. — deu de ombros. — Só o suficiente para que descansasse o máximo. Como está se sentindo? — encostou o quadril na bancada da pia, o copo de água quase vazio nas mãos e o chapéu ainda na cabeça.

— Melhor.  — Kyungsoo puxou a cadeira e sentou-se ali com o filho apoiado sobre suas coxas. — Acho que não dormia tanto assim há anos.

Heechul riu. Deixou o copo vazio dentro da pia e tirou o chapéu.

— Os primeiros meses são os mais difíceis, mas logo isso acaba. — passou pelo filho, bagunçou-lhe os cabelos e foi em direção a saída da cozinha. — Preciso voltar ao trabalho, você vai ficar bem?

Kyungsoo assentiu e o pai lhe sorriu mais um pouco antes de se afastar de vez. Escutou os seus passos seguirem pelo corredor, se afastando até o quarto onde se trocaria para voltar ao trabalho no clã. O ômega pegou o olhar do filho na sua direção.

— Parece que somos só nós dois agora. — falou e Dohyeon sorriu banguela.

Levou o filho para quarto, deu-lhe um banho por conta do calor da tarde e o fez dormir. Foi para a cozinha e fez alguma coisa para o almoço, Junmyeon apareceu algum tempo depois e comeu apressado, não conversou muito consigo. Jongin lhe fez companhia pelo resto da tarde e o ajudou com Dohyeon. Viu Leeteuk uma vez ou outra na casa, mas não falou consigo. Seu tio Hangeng apareceu para uma visita rápida, estava atrás de informações sobre a investigação mas Kyungsoo não sabia o que lhe contar, em parte porque todos pareciam se esforçar para deixa-lo no escuro. O homem bem tentou tirar-lhe alguma informação e quando não conseguiu nada de relevante, saiu irritado da casa.

Ryeowoook e Heechul só apareceram no finzinho da tarde. Kyungsoo havia acabado de se despedir de Jongin na varanda quando percebeu os pais chegando juntos. Estavam conversando sobre alguma coisa engraçada, porque sorriam um pro outro. Kyungsoo se pegou sorrindo também, o peito se enchendo de felicidade em ver a forma como ambos pareciam mais leves quando na presença um do outro. Gostava de vê-los daquela forma: apaixonados e confortáveis.

A vida não havia sido gentil com nenhum dos dois, por isso, apreciava a forma como estavam colhendo reciprocidade agora. Contudo, o sorriso no seu rosto aumentou involuntariamente quando notou a figura alta de Chanyeol não muito atrás dos pais. Usava terno, a gravata estava frouxa no pescoço e a maleta de couro balançava na sua mão enquanto usava a mão livre para tentar arrumar o cabelo. Kyungsoo sentou-se no banco que havia na varanda, os olhos focados em cada um dos gestos do alfa, mesmo que nem ao menos notasse o que estava fazendo. A boca do estômago tremeu quando o pegou o olhar dele na sua direção.

Não viu quando Heechul olhou para trás e depois, comentou alguma coisa com Ryeowook. Ambos riram e quando pararam em frente ao filho, um resquício de malícia ainda vivia no canto das suas bocas. Kyungsoo fitou-os confuso.

— Passei o dia com saudade. — Ryeowook inclinou-se e pegou Dohyeon nos braços. — Sentiu saudade do vovô também? — encostou seu nariz do dele e o garotinho sorriu.

Dohyeon sorria bastante para um bebê de dois meses. Os pais começaram a se afastar com o bebê, deu um passo em direção à eles, pretendia segui-los mas o barulho do portãozinho sendo aberto o fez desviar atenção para lá. Seus olhos encontraram a figura de Chanyeol ao mesmo tempo que os pais sumiam casa adentro com o filho. Kyungsoo recolheu uma mão na outra, ficou parado na entrada bem em frente a porta e deixou que o alfa se aproximasse.

Ele vinha devagar como se para apreciar todos os detalhes do seu rosto, por um segundo Kyungsoo segurou a respiração. Achou que se não sentisse nenhuma fração do cheiro dele podia conseguir organizar os pensamentos ou ao menos pensar em alguma coisa que não fosse aquela vontade de se atirar nos braços dele numa saudade engraçadinha que não combinava com o momento, ainda mais quando se dava conta de que o tinha visto no dia anterior e no outro e no outro antes deste e que o veria amanhã e no outro dia e no outro, porque Chanyeol sempre estava ali, pairando a sua volta e da de Dohyeon, oferecendo suporte para tudo o que precisasse.

— Chegou cedo. — Kyungsoo disse quando o alfa chegou perto o suficiente.

— Uma reunião foi cancelada de última hora. — contou e deu um passo em sua direção. — Como você está? — a mão se ergueu, ia tocar-lhe o rosto, Kyungsoo corou antes que o ato acontecesse e entrou em casa, apressado.

— Eu e Dohyeon estamos bem. — falou, nervoso, não olhou para trás enquanto avançava pela casa, não queria que Chanyeol visse o modo como se desconcertava por tão pouco.

Chanyeol mordeu o lábio e seguiu-o, meio se perguntando se não estava passando dos limites com o ômega. Era um fato que estava apaixonado, não escondia seu sentimento por Kyungsoo e quem sabe, fosse toda essa franqueza que o assustava, pois bem conseguia ler o pavor estampado nos trejeitos do Kim quando estava na sua presença e mesmo que isso o magoasse, ainda assim se via tentando de novo e de novo ter a atenção dele para si.

O Byun foi até a cozinha, deixaria que Kyungsoo viesse até si com Dohyeon. Bebeu um pouco de água e quando saiu da cozinha, encontrou o ex-namorado no corredor.

— Meus pais levaram Dohyeon para dar um passeio. — o Kim contou.

Chanyeol olhou para o caminho atrás de si, que levava até a sala e depois, para o caminho atrás de Kyungsoo, que conduzia até os quartos da casa e a saída dos fundos, como se assim pudesse encontrar alguma explicação para o que o ômega havia dito. Contudo, não havia nada com o que se preocupar, podia lidar com o fato de estar sozinho com Kyungsoo mesmo que conseguisse ler o desconforto na sua face.

— Se você quiser, eu posso voltar amanhã. — optou por dizer.

Não queria que o outro o visse como um intruso, alguém que o obrigava a ficar na sua presença só porque era o pai do seu filho.

— Não. Estava tudo bem. — balançou a cabeça, colocou a mão na nuca em claro desconforto. — Está com fome? Posso fazer alguma coisa. — ofereceu.

Assentiu e o acompanhou de volta para a cozinha. Sentou-se à mesa e o viu ir de lá para cá, apressado. Por vezes, resmungava alguma coisa aqui e ali, mas não parecia precisar de ajuda para fazer qualquer coisa e Chanyeol gostava disso, dessa energia que Kyungsoo exalava como se ele fosse o único no mundo capaz de fazer tal coisa.

— O que foi? — Chanyeol piscou, não percebera que estava o encarando por tanto tempo. — Tem alguma coisa no meu rosto?

O alfa balançou a cabeça em confirmação antes que pudesse se conter e o Kim ergueu a mão, tentou limpar qualquer que fosse a coisa, mas sem sucesso. Chanyeol riu enquanto ficava de pé e ia até ele. Iria para o inferno por mentir para Kyungsoo daquela forma, tinha plena certeza disso, mas estava tão mergulhado naquela saudade, que só se deixou ir. Parou na sua frente, tocou-lhe o rosto, tirando a sujeira inexistente da bochecha esquerda.

Kyungsoo o fitou de baixo, o cheiro de alho e cebola não mascarava nenhum pouco o cheiro floral da sua pele e que parecia se espalhar por aquele lugar inteiro, que impregnava na sua roupa e o acalentava nas noites solitárias. Chanyeol o fitou de volta, quis tanto trazê-lo para mais perto que o peito doeu, mas ao contrário do que planejara ao inventar aquela aproximação, só se viu abaixando a mão, balançando a cabeça em confirmação para alertar que havia limpado seu rosto.

O ômega encostou o quadril na bancada atrás de si e Chanyeol se afastou, prometendo a si mesmo que só se aproximaria de Kyungsoo quando o mesmo quisesse, quando cada parte do corpo dele respondesse a si da forma como acontecia consigo. Voltou até a mesa, não viu quando Kyungsoo ficou de frente para a pia e apertava os dedos uns nos outros, em nervosismo demais para só um toque.

Antes que pudesse se sentar, o telefone tocou. Chanyeol puxou-o de dentro do bolso interno do paletó e saiu da cozinha, foi direto para a sala atender. Kyungsoo viu naquilo alguma folga para soltar o ar que segurava. Fechou os olhos, respirou fundo todo o cheiro que Chanyeol deixou para trás e quis entender o que acontecia consigo. Tinha a sensação de que estava enlouquecendo.

***

A reunião no Conselho havia sido marcada para aquela terça-feira ensolarada, um pouco depois do café da manhã como se temesse que seus convidados desaparecessem tão logo depois da convocação. Baekhyun não pretendia fugir, muito menos aparecer sozinho naquele lugar. Cogitou levar um advogado, mas achou que poderia parecer suspeito demais para alguém que estava sendo acusado injustamente, por isso, só deixou que Park Jongdae o acompanhasse mais para causar certa irritação em Kim Junmyeon do que por precisar dele realmente. E admitia, secretamente, que fazia aquilo para punir Park Dasom ao menos um pouco. Não queria parecer ressentido, mas era exatamente assim que se sentia e desde a fuga de Minseok do território Kim, sentia-se um pouco cauteloso demais, como alguém que teme ser pego em uma armadilha. Exposto. Era essa a palavra.

Terminou de arrumar a gravata em frente ao espelho do seu quarto, mas acabou tirando-a logo em seguida. Desabotoou os dois primeiros botões da camisa e colocou o terno por cima, estava agitado o suficiente para que não quisesse aquilo no pescoço. Saiu do quarto rápido, as palavras que tinha ensaiado se embolavam na sua mente, mas sabia que não falharia. Estava acostumado com aquele tipo de pressão, com a ideia de ser posto a prova. Tinha sido criado para ser um líder, seu pai havia o feito aprender a se portar diante daquele tipo de situação.

No meio do corredor encontrou com Jongdae. Estava bem vestido, usava um dos ternos novos que Donghae lhe comprara na semana passada quando soube da aproximação dos dois alfas. Era apenas um presente bobo, Baekhyun sabia, mas não conseguia evitar pensar se Jongdae estava jogando charme para cima do seu appa ômega, manipulando-o com boas maneiras da forma como tinha feito com os Kim’s.

Não dava para confiar nele ainda, apesar dos seus esforços para achar Minseok e conseguir informações do que acontecia no Clã Kim. Era um fato que Jongdae sabia lidar melhor com aquilo do que Dasom e que conseguia saber de mais coisas, era um dos motivos pelo quais Baekhyun resolvera o manter perto. Mas não perto o suficiente para lhe contar sobre o ômega. A desconfiança é uma amiga constante quando se é um líder, seu avô costumava dizer e Baekhyun não podia concordar mais.

— Está pronto? — Jongdae perguntou ajeitando a lapela do seu paletó, os óculos escuros no rosto lhe davam um ar despojado apesar da vestimenta.

Baekhyun assentiu e começou a passar por si, pretendia descer até a sala de refeições e comer alguma coisa antes de dirigir até a Sede do Conselho. Jongdae o acompanhou e só então, notou que ele carregava um bloquinho de notas no bolso da frente do paletó, uma caneta presa entre uma das folhas.

— O que é isso? — olhou em direção ao bolso dele.

Jongdae desviou o olhar até ali também, deu uma batidinha e sorriu ao erguer o rosto em direção ao irmão mais novo.

— São seus horários. — contou.  — Anotei sua agenda de hoje.

— Jongdae, você não é meu secretário. — alertou e girou a aliança no dedo, em um tipo de mania que parecia ter adquirido desde o casamento e não conseguia abandonar agora que não era mais. — Esse trabalho é de Kangin.

— Mas ele não está indo com você para a reunião, então eu pensei...

— Pensou errado. — Baekhyun cortou parando no topo da escada, virou-se para encarar o Park. — Não dei ordem para fazer isso e você só faz o que eu mando, certo?

Jongdae engoliu em seco, as mãos fecharam-se ao lado do corpo e Baekhyun continuou encarando-o. Sabia que o Byun esperava algum deslize, algo para poder afasta-lo de vez de cada um da sua família, mas o alfa não estava disposto a se deixar pegar tão fácil. Havia prometido a si mesmo que consertaria os seus erros e Baekhyun era o caminho para isso, só precisava se aproximar o suficiente. Contudo, ele não parecia nenhum pouco disposto a facilitar isso e Jongdae entendia, afinal a marca que carregava no rosto não lhe garantia nada além de desprezo dos outros.

Certo. — respondeu, as mãos voltaram a se abrir e Baekhyun olhou para frente, começou a descer os degraus da escada.

Era preciso manter o Park a uma distância segura dos seus passos, o Byun pensava. Tudo o que menos queria era que ele descobrisse sobre seu envolvimento com Sehun a cerca do paradeiro de Minseok, pois já tinha problemas demais para lidar. O principal deles parecia ser Dasom, que não se conformava por ter sido limitada dentro do clã.

Os pais estavam sentados à mesa de café da manhã quando chegaram na sala. Chanyeol já havia saído para o trabalho. Siwon tinha Ji-Eun nos braços enquanto Donghae comia. Dasom não estava ali e Baekhyun supôs que a prima poderia ter ido até o pai no território Park em Incheon. Ela estava fazendo isso desde a semana passada, indo de um território a outro apesar de Baekhyun ter lhe pedido para voltar para casa de uma vez quando ela já havia o ajudado o suficiente ali, secretamente achava que a garota o estava espionando em nome do pai Hyukjae, coisa que não seria uma surpresa dado a dívida que o Byun ainda mantia com o mais velho.

Sentou-se à mesa. Jongdae fez o mesmo, tirou os óculos escuros do rosto e pela primeira vez naquele dia, Baekhyun notou o olho esquerdo roxo. Ergueu uma sobrancelha, desconfiado, mas não perguntou coisa alguma. Deixou para Donghae a expressão de surpresa. Siwon lançou um olhar para si e o alfa deu de ombros como se aquilo explicasse o hematoma, viu Donghae abrir a boca para perguntar.

— Não foi nada demais. — Jongdae acabou dizendo antes que a pergunta viesse. — Só dei de cara em um poste. — mentiu e Baekhyun quase riu ali mesmo.

Decidiu se concentrar em comer de uma vez, não podia perder tempo com os problemas do alfa. Contudo, não podia deixar de se perguntar se aquilo tinha alguma coisa haver com os contatos que Jongdae tinha do outro lado, se por acaso Junmyeon tivesse descoberto poderia muito bem ter lhe dado lição, mas mesmo isso não fazia bem o estilo do alfa Kim, ainda mais quando ele parecia estar empenhado em encontrar pistas da contribuição de Baekhyun com o evento que culminou no assassinato de Kim Jaehyun ou pelo menos, era isso que o Byun pensava.

Haviam se encontrado no mês passado a pedido do próprio Kim, mas apesar dos olhares amigáveis dele, Baekhyun não acreditava nenhum pouco naquele papo de bom irmão adotado pelo outro. Para o bem da verdade, não estava disposto a confiar em ninguém além de Oh Sehun por mais estranho que isso parecesse naquele momento.

Donghae pareceu entender que não valia a pena insistir em Jongdae, então a mesa foi mergulhada em silêncio apesar dos ocasionais barulhos que Ji-Eun fazia vez ou outra. Ela estava com quatro meses agora e mais rechonchuda que nunca, todos do clã a achavam extremamente adorável, uma versão menor e mais delicada de Donghae com olhinhos curiosos e cheiro de bebê.

Não demoraram-se muito na mesa. Logo, Baekhyun estava levantando-se e saindo dali. Jongdae correu atrás de si, ainda mastigava um pouco do café da manhã quando se juntou consigo no carro. Seguiram em silêncio até a Sede do Conselho e não foi surpresa alguma quando notaram que eram uns dos primeiros a chegar mesmo que para Hangeng tivesse sido.

— Chegou na hora para um acusado. — o chinês alfinetou olhando para o relógio, fingia conferir o horário.

Baekhyun puxou uma cadeira ao lado de Jongdae e se sentou, a fileira ficava em frente ao alfa.

— Pontualidade é uma caracterísca Byun, eu não conseguiria me livrar nem se quisesse. — falou simplesmente ao colocar as mãos sobre a mesa.

Hangeng ergueu os olhos na sua direção apenas para tê-los indo até a mão esquerda onde a aliança de casamento ainda residia. Um sorriso mínimo brotou no canto do canto da sua boca e Baekhyun fingiu que não notou da mesma forma que Jongdae parecia não ter notado quando estava com os olhos atentos nas presenças novas na sala.

— Vejo que ainda usa a aliança de casamento mesmo não sendo casado. — o tom de provocação não lhe passou despercebido.

— E vai me prender por conta disso? — devolveu com um cruzar de braços.

Hangeng fez menção de levantar, o rosto enfurecido, mas foi parado por uma mão no seu ombro direito. Baekhyun ergueu o olhar até ali da forma como o alfa mais velho fazia e encontrou a figura séria de Kim Junmyeon acompanhado de Lu Han e a surpresa por ver o líder ômega novamente quase o fez relaxar. Não o via desde o dia do julgamento de Jongdae no Clã Kim quando o ômega tinha escolhido o lado de Junmyeon em vez do seu, o que era esperado por conta do casamento de Jongin com o alfa. Não o culpava, também não se ressentia.

Mas ainda assim se pegava pensando em como Lu Han fora capaz de arquitetar um plano junto a Minseok só para conseguir uma aliança* e se proteger, mostrava que estava disposto a fazer qualquer coisa para manter seu bando onde estava: longe do perigo.

— Tio, acalme-se. — Junmyeon pediu e o homem afastou o ombro do seu toque.

— Não me dê ordens. — o alfa rosnou e ficou de pé, afastou-se em direção a saída atrás de um pouco de ar.

Baekhyun acompanhou-o com o olhar, apenas para ver a porta continuar aberta para a entrada de Oh Sehun e sua secretária, Jisoo. Ambos sentaram-se no lado oposto de Baekhyun e Jongdae, ao lado de Junmyeon e Lu Han. E quando Hangeng voltou, Park Hyukjae e Park Dasom estavam ali também.

Kibum, Zhou Mi e Sungmin não demoraram a aparecer. Os três seguiram até os seus lugares na cabeceira da mesa de reuniões, ambos com a pauta do dia em mãos. O Byun imaginou se a carta enviada por Hangeng descrevia Minseok como um traidor de sangue e se sim, era provável que tivesse solicitado sua execução.

— Vamos dar ínicio a reunião de hoje. — Kibum falou, os óculos de leitura no rosto enquanto verificava o que estava escrito na sua folha. — Essa reunião foi solicitada por Kim Hangeng, líder do Clã Kim chinês, com o intuito de acusar Byun Baekhyun, o líder do Clã Byun, de traição ao planejar e usar Kim Minseok como ferramenta no assassinato de Kim Jaehyun.

— Que besteira. — Jongdae resmungou e recebeu olhares desafiadores dos três lobos do Conselho, que o fizeram se encolher ao lado do irmão mais novo.

— Por qual motivo eu faria isso? — Baekhyun desafiou Hangeng.

— Vingança. — Sehun subitamente meteu-se. — Seu casamento estava desfeito e Minseok havia aceitado o pedido de casamento de Jaehyun. — mentiu e Baekhyun lançou-lhe um olhar raivoso.

— Não havia casamento nenhum.  — Junmyeon cortou o primo. — Eu neguei a mão de Minseok para Jaehyun. — fez questão de deixar claro, Jongdae ergueu uma sobrancelha em direção ao líder Kim.

Não fazia do seu feitio recusar aquele tipo de oferta, ainda mais quando envolvia mandar o seu irmão problemático para longe e acabar de vez com os boatos contra sua conduta no clã.

— Então, você pode ter arquitetado isso. — Lu Han disse para Sehun.

Há! — Sehun cruzou os braços enquanto estalava a língua no céu da boca. — Eu não consegui convencê-lo a se casar comigo, mas consigo fazê-lo cometer um assassinato? Só pode estar de brincadeira. — Lu Han teve a decência de corar.

Jongdae quase riu.

— Senhores, por favor. — Zhou Mi pediu ao mesmo tempo que Kibum batia a mão na mesa chamando a atenção dos lobos. — Todos vão ter a vez de falar, sim?

— Temos que lembrar que meu irmão está grávido. — Junmyeon ficou de pé ignorando o pedido de Zhou Mi para ficar quieto. — Ele não saíria atacando alfas nessa situação.

— Então, o que sugere que tenha acontecido? — Hangeng se pronunciou. — Que meu filho esfaqueou a si mesmo?

— A investigação sugere que um deles estava portando uma arma de fogo. — Lu Han tomou a dianteira. — Minseok pode ter apenas se defendido do seu filho maluco.

— Ora seu... — o alfa mais velho foi para cima do ômega, mas Sehun o afastou a tempo.

— Senhores! — Sungmin ficou de pé e tentou conter a forma como todos se exaltavam, mas foi ignorado.

— No fim, todos sabemos que isso é culpa sua. — Baekhyun acusou Junmyeon e o alfa arregalou os olhos na sua direção. — Se tivesse deixado Minseok casado comigo, o filho desse velho estaria vivo por aí.

— Se não tivesse ficado do lado desse aí — apontou para Jongdae, que estava quieto até então. — nada disso precisaria ter acontecido.

— Deveria ter me enforcado da forma que pedi. — o ex-Kim se pronunciou diretamente ao alfa.

— Posso fazer isso agora. — Junmyeon empertigou-se para frente em direção a Jongdae e tentou alcança-lo, mas Baekhyun o puxou para longe e Luhan segurou Junmyeon.

— Ah, por favor! — Hyukjae se levantou. — Matar ou não esse garoto não teria resolvido a falta de caráter dos Kim’s. — Dasom, que permanecia sentada ao lado do pai, arregalou os olhos, não acreditava que o mais velho tivera coragem de dizer algo como aquilo. — Todos sabem que traição é algo que vem do berço.

— Quer mesmo falar de traição tendo Park Jihyun como irmã? — Junmyeon voltou sua atenção para o Park, Lu Han afrouxou o aperto nos ombros dele.

— Não meta o nome dela nisso! — o alfa se exaltou e Dasom ficou de pé para segura-lo.

— SENHORES! — Zhou Mi ficou de pé e gritou. Todos na sala o fitaram.  — Tenham compostura, não é assim que resolvemos as coisas aqui. — continuou, o olhar incisivo direcionado a cada um ali e todos engoliram em seco. — Sentem-se.

— Ômega... — Hangeng começou a dizer, o rosto totalmente contorcido em uma expressão nenhum pouco amigável.

— Agora! — Zhou Mi mandou e o alfa arregalou os olhos, não deveria estar acostumado com ômegas falando naquele tom, mas não podia revidar porque ali, diante daqueles três, ele estava um patamar abaixo. — Quando for solicitado, cada um, vai ter sua vez para falar. — sentou-se, arrumou os papéis a sua frente. — Continue. — disse a Kibum.

O alfa limpou a garganta e se pôs a continuar sua leitura do tema da reunião. Na mesa, Junmyeon arrumou o cabelo e Jongdae sorriu-lhe do outro lado ao arrumar os óculos no rosto. Baekhyun cruzou os braços e lançou um olhar irritado para Hangeng que se limitou a virar o rosto para o lado oposto, em direção aos lobos do Conselho como se prestasse atenção no que eles diziam.

Hyukjae e Dasom apenas permaneceram quietos, não pareciam estar ali para se envolver nos assuntos de Baekhyun apesar da exaltação anterior. Eram um suporte de mentira. Sehun lançou um olhar para Lu Han, que parecia estranhamente intrigado a cerca da identidade de Jongdae pois seus olhos vez ou outra iam até ele. Jisoo lhe sussurrou seu próximo compromisso rente ao ouvido e Sehun desejou poder sair logo dali, mas no fundo, sentia que aquela seria uma longa reunião.

***

Jeonghan deixou o jantar para si no quarto como tinha solicitado para aquela noite. Sabia por alto que Hyukjae não estava de bom humor, alguma coisa haver com sua filha, Dasom. Esperava que nada daquilo afetasse sua estadia ali, apesar de saber que iria. A garota ômega não ia com a sua cara e depois de saber sobre o seu cargo de líder, só o desprezava mais um pouco. Contudo, mesmo que fosse expulso agora, Yifan não sairia prejudicado. Tudo o que tinha para resolver estava a meio caminho andado graças a ajuda de Hyuna e alguns contatos seus.

A melhor parte de ter sido um lobo desgarrado era o fato de ter reunido um certo grupo de contatos. Humanos. Lobos. Uma mistura engraçada que podia se encaixar em vários momentos importantes e aquele momento, com certeza, era um deles.

— Precisa de mais alguma coisa, senhor? — Jeonghan perguntou e Yifan fitou-o da varanda do seu quarto.

O humano estava parado perto da porta, quase inteiramente escondido no breu do seu quarto. Se não fosse a luz do abaju perto da cama, Yifan demoraria a encontra-lo ali.

— Avise Hyuna que estamos quase prontos. — disse e o humano assentiu antes de abrir a porta e sair.

Yifan voltou a fitar a paisagem do seu quarto. A alcateia Park impressionava pela arquitetura e os habitantes, havia algo de bonito e perigoso impregnado em cada canto daquele lugar. Mesmo as crianças carregavam aquilo no olhar, como se estivesse preso em seus DNAs a inclinação ao perigo. Achava que era culpa da forma como Hyukjae comandava aquele lugar. O alfa não tinha escrúpulos, só agia da forma que lhe fosse mais conveniente e os habitantes estavam tão acostumados com isso que só aceitavam sem questionar. Não era uma devoção, só um costume feio de gente que não via outra saída.

Devia ser por isso que Hyukjae odiava tanto os Byun’s. Eles eram lobos mais preparados, treinados desde cedo, sempre prontos para defender os seus sem pestanejar, completamente diferente da forma como os lobos de Yifan agiam. O medo era a melhor forma de mante-los do seu lado, sabia disso quando não era nenhum pouco carismático. O Wu se conhecia bem o suficiente para saber que era daquela forma que conseguiria manter tudo do jeito que gostava: um pulso firme.

Resolveu voltar para dentro e comer antes de sair para seu compromisso daquela noite. Não era nada demais, só um favor para ser cobrado de alguns humanos. Afinal, a vida tinha daquelas coisas. Uma hora te dar, mas também toma de volta. E Yifan acreditava que estava na sua hora de tomar de volta.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Baekhyun se refere ao acordo que Minseok tinha com Lu Han, que resultou na sua gravidez.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mirtilo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.