Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 54
Cenas extras do capítulo XXI - Tudo o que eu sei




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O ômega aproximou-se da sua acompanhante. Ela estava sentada em um banco, perto do rio Han, os saltos vermelhos se destacando contra sua pele clara e a saia que ia até um pouco acima dos joelhos, deixava Minseok desconfortável com a forma como ela não parecia sentir frio. O chapéu amarelo e de aba larga escondia sua expressão de qualquer um, ainda mais com aqueles óculos escuros, mas o Kim sabia seu nome. Conhecia-a de uma forma que não queria, o tipo de coisa que não o fazia nenhum pouco feliz mas ainda assim suportava.

Enfiou as mãos nos bolsos do seu sobretudo e continuou se aproximando, parou ao seu lado. A mulher levantou o rosto na sua direção e sorriu, um sorriso perfeito nos lábios pintados de vermelho.

— Sente-se. — ela deu uma batidinha no espaço vago ao se lado no banco e Minseok sentou-se. — Como tem estado? — soou simpática, usando o mesmo tom que velhos conhecidos usavam.

Mas eles não eram velhos conhecidos. Minseok não era amigo daquela mulher e ela muito menos dele, no entanto, havia educação demais nos dois para que deixassem suas diferenças explícitas.

— Bem. — o loiro respondeu e Hyuna sorriu-lhe mais um pouco.

— Ah, eu sei. — ergueu a mão e afagou-lhe o cabelo, desceu os dedos gelados por seu rosto até chegar em sua bochecha. — Passarinhos me contaram que sua união com Byun Baekhyun tem sido melhor do que o esperado. — deu dois tapinhas na bochecha do ômega e afastou a mão, recolheu-a até seu colo. — A aceitação dos lobos tem sido melhor que tudo. 

— Foi para me parabenizar que mandou aquela carta? — tentou ir direto ao assunto.

— Também. — olhou para frente, fitou o horizonte do rio. — Há algo que quero que faça. — deixou-o saber e Minseok engoliu em seco.

— Estou desligado da Organização.

— Não de mim. — ela fitou-o de canto de olho por baixo das lentes dos óculos. — Seu nome não consta mais no sistema, é verdade. E você caiu em desgraça naquele lugar, é verdade também. — virou-se para ele, alcançou sua mão esquerda, puxou-a para longe do bolso e enlaçou na sua. — Mas ainda assim me pertence e não importa o quanto fuja disso, Minseok, sabe que é verdade. — sorriu, tão doce que o ômega quis vomitar, mas limitou-se a puxar a mão para longe do contato.

— Por que eu? Há ômegas mais qualificados.

Era um fato. Minseok se formara na Academia na classe errada e isso tornava seu certificado duvidoso, além do fato de que haviam ômegas de elite disponíveis, loucos para receber uma ordem direta da chefe e provar o seu valor, bem diferente de si que só queria ficar cada vez mais longe disso. Ainda mais agora que descobrira sobre sua gravidez, sua atenção estava apenas voltada para o modo como protegeria aquela criança.

— Eu li sua ficha. — Hyuna suspirou. — É impressionante, se quer minha opinião, e além do mais, não há outro ômega que possa fazer isso.

— Todos os outros estão na lista. — Minseok adivinhou e Hyuna sorriu.

— É por isso que gosto de você. — ergueu a mão e acariciou sua bochecha novamente. — Garoto esperto.

A lista era o cadastro geral de ômegas da Organização, todos os nomes daqueles que carregavam a marca da Academia na pele. Todos guardados em um banco de dados, com suas localizações e nomes e profissões e qualquer outra informação. Todos, menos Kim Minseok, aquele que fora expulso da Academia. O Kim sabia que seu certificado havia sido revogado, que não lhe restava mais nada a não ser tentar ter uma vida normal e estava tudo bem quanto a isso. Estava fazendo um ótimo trabalho seguindo em frente com Baekhyun ao seu lado, mas ter Hyuna ali, pronta para estragar a calmaria da sua vida tornava tudo perturbador novamente.

Virou o rosto para frente, fugindo do contato da mulher, comprimiu os lábios e observou a paisagem. Poderia dizer não, pensou, realmente poderia enfrenta-la e dizer não. Acabar com aquela relação de uma vez, no entanto, ninguém ia sair em um bom estado daquilo. A Organização era maior do que qualquer coisa que conhecera, os ômegas dela estavam em toda parte, sempre prontos para defender o legado daquele lugar. E além do mais, tinha que agradecer que não foi declarado como traidor, se não já estaria morto, afinal um ômega que não está do lado da Organização, não tem chance alguma de ficar vivo. Era preferível acreditar na sua morte do que acreditar que ele poderia guardar tão obscuros segredos.

— Está com medo? — ela perguntou repentinamente, havia um começo de divertimento na sua fala.

Minseok tornou a fita-la, os olhos muito castanhos quando alcançaram o rosto da mulher. Não estava com medo, estava nervoso, apreensivo, com aquela sensação amarga na boca do estômago. Sentia como se estivesse assinando um contrato com o diabo, onde nunca seria capaz de ficar livre. Ele fechou as mãos dentro dos bolsos, as unhas enfiaram-se nas palmas.

— Vamos fazer um acordo. — ditou em um momento de coragem que só serviu para fazer Hyuna rir.

— Não seja bobo. — a mão parou sobre seu ombro, amigável. — Não há necessidade de acordos aqui. — a mão deslizou por seu braço antes de se afastar. — Seu bebê está bem. — assegurou e o Kim arregalou os olhos na sua direção. — O seu cheiro, querido, consigo sentir o cheiro daquele Byun em você.

— O quer que eu faça? — perguntou de uma vez, tentando tirar sua atenção daquilo.

Hyuna ajeitou o chapéu na cabeça e inclinou o rosto para o lado, fitou o rosto do ômega por um tempo até que suspirou. Pareceu não encontrar o que estava procurando em seu rosto, então, relaxou os ombros e abriu a boca para falar fazendo Minseok perceber que estava ansioso para escutar.

***

Henry encarou suas mãos machucadas, as unhas quebradas e as falanges avermelhadas. Quieto, sentado na beirada da cama do quarto de Sehun, agradecia pela necessidade de não precisar falar com ninguém. O quarto estava vazio, a porta trancada e ninguém havia vindo perturbá-lo nesse tempo em que estava ali. Acreditava que já passava da hora do almoço, mas não estava com fome. Não sentia qualquer coisa, na verdade. Havia apenas aquele vazio amargo no seu peito, se alastrando por seu corpo, deixando-o catatônico, como se não houvesse alma em seu corpo. Era apenas uma casca.

Não sentia os dedos latejarem, assim como não sentia os efeitos da ressaca. Em um dia normal, deveria estar deitado choramingando e amaldiçoando aquela dor, mas, dessa vez, hoje, não havia nada. Sem dor, sem pensamentos, sem sentimentos. Henry era feito de nada naquela manhã. Ele dormira cheio de sorrisos e expectativas, e acordara sem nada no peito. Não havia nada em si além daqueles machucados, brilhando em vermelho na sua pele. Mais tarde ficariam arroxeados e por isso deveria colocar gelo naquilo logo, mas não conseguia se forçar a fazer qualquer coisa. Havia apenas a terrível vontade de se encolher e chorar.

Queria o abraço do seu pai, queria Lu Han, queria Jongin, queria o pequeno Yixing, queria se cercar de todas as suas coisas, se encolher entre elas e ficar ali para sempre. Mordeu o lábio e fechou os olhos, estava cansado de encarar os machucados das suas mãos, a forma como elas tremiam estava o deixando enjoado. E tudo que menos queria enquanto estivesse naquele lugar era demonstrar fraqueza, então, afastou tudo e abraçou o nada. O nada era preferível, ao menos com ele não havia chance de desabar como um ômega frágil e obediente, ao menos com aquele nada conseguia afastar a voz daquele alfa da sua mente, conseguia afastar o seu comando para que se aproximasse.

Não iria. Não havia cedido em seis anos e não começaria agora, foi por isso que terminou com as mãos naquele estado. No momento em que o alfa se aproximou de si, no momento em que sentiu o seu contato contra sua pele, no instante em que cada parte sua quis correr na direção dele e se desfazer em seus braços, foi nesse momento que Henry fez o que sabia fazer de melhor. Lutou.

Avançou naquele alfa e socou-lhe a face por tanto tempo e com tanto ódio, que Sehun teve que arranca-lo de cima do outro. Foi preciso chamar os seguranças, uma equipe médica para socorrer o alfa enquanto Henry era trancado naquele quarto como um animal raivoso. Mas era melhor assim, pensava. Ninguém o incomodara desde então e ele, sinceramente, esperava que aquele alfa estivesse morto. No entanto, dado a forma como ele continuava o chamando através da marca, duvidava muito.

Voltou a abrir os olhos apenas para escutar a porta sendo destrancada. Ficou pé, fechou as mãos em punho apesar da dor que subiu por seu braço e esperou, mas tudo que recebeu foi a figura preocupada de Lu Han avançando pelo quarto e pegando num abraço surpresa enquanto, no batente da porta, Oh Sehun observava a cena. Henry o fitou por cima do ombro do irmão, as mãos relaxaram assim como todo o corpo. O alfa parecia querer lhe dizer alguma coisa, proferir um pedido de desculpas por toda aquela situação, mas Henry não queria suas palavras. Dispensava-as assim como toda a hospitalidade, só queria ir embora dali o mais rápido possível.

— Vamos para casa. — Lu Han disse afastando-se, segurando-o pelos ombros e Henry assentiu.

Eles avançaram em direção a saída, o irmão saiu primeiro quando Sehun deu a passagem, mas Henry se viu ficando. Parou em frente ao Oh, morde o lábio mais um pouco, sabia que devia dizer algo mas não sabia o quê.

— Eu sinto muito por tudo isso. — Sehun desculpou-se da forma que Henry sabia que aconteceria.

E ao contrário do que esperou, aquele pedido não o confortou, só o deixou irritado e foi com raiva que se viu erguendo a mão e espalmando no peito de Sehun. Empurrou-o contra a parede, fazendo os olhos do Oh se arregalarem.

— Avise ao seu amigo que se ele chegar perto de mim novamente, eu o matarei.

Sehun engoliu em seco diante da ameaça e o Lu deu um passo para trás, saiu do quarto, correu em direção a Lu Han e não olhou para trás em nenhum momento.


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