Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 41
XII - Migalhas pelo caminho




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A porta se abriu mais uma vez, contudo, revelando os pedidos que Siwon e Donghae tinham feito ante de entrarem. Jihyun observou quando a mulher se aproximou, deixando sobre a mesa várias tigelas, cada uma com algo diferente. Reconheceu o molho, fatias de carne, salada, arroz e lulas fatiadas. Donghae ajeitou-se, aprumando a postura, agradecendo a mulher e começando a colocar algumas fatias de lula para dourar sobre a pequena chapa no centro da mesa.

— Espero que não se importe. — Siwon disse, educado, enquanto arrumava o seu prato. — Donghae estava com fome. — explicou e Jihyun quis assentir, mas não o fez.

Donghae colocou um pouco de arroz na sua tigela, salada e depois que outra leva de comida entrou pela porta, também colocou kimchi. Mas Jihyun limitou-se a servir-se de mais um pouco de bebida ao passo que Siwon se entretia em virar as fatias de lula sobre a chapa quente. O cheiro era bom, estava a deixando com fome, mas a Park estava desconfiada demais do modo amigável de ambos para deixar que sua guarda abaixasse dessa forma.

— Não está com fome? — Donghae perguntou, depois de comer um camarão empanado. Estava com tanta fome.

Jihyun negou, ainda incapaz de encontrar sua voz. Siwon a fitou por sobre o seu trabalho, mas não disse coisa alguma. Não achava que ia se comportar daquela maneira, com aquela frieza nos seus atos, depois que soubera sobre o modo como aquela mulher estava viva, tinha acreditado que iria ao menos explodir diante de si, que iria jogar suas mágoas sobre ela, gritar consigo toda a frustração que sentia, mas não era assim que estava agindo. Na verdade, não sentia nada no peito quando a olhava, o sentimento que o torturou durante anos já não estava mais ali. Desviou os olhos e fitou o perfil de Donghae enquanto comia, o canto da boca sujo de molho, sentiu vontade de rir da imagem bagunçada do seu marido. Nem ao menos percebeu quando pegou um guardanapo e se inclinou sobre ele, limpando-lhe o canto da boca, em um gesto automático demais para se preocupar. Mas Jihyun havia visto, coisa que só a fez engolir em seco mais uma vez, afim de tentar sufocar a forma como seu peito encheu-se de inveja.

Ela nunca mais teria aquilo. Kyuhyun estava morto e enterrado, ainda vivo em suas memórias, mas nunca passaria disso: lembrança. Ela não podia tocá-lo, escutar sua voz ou sentir o cheiro. O beta era brisa nos seus sonhos, eternamente feito para só passar e nunca ficar. Se viu abaixando os olhos novamente, mordendo os lábios em ansiedade. Não queria ficar ali presenciando o modo como Donghae havia conseguido o que queria, preferia que Siwon começasse a gritar consigo de uma vez, pelo menos assim não precisaria presenciar tudo que havia perdido.

Siwon voltou a se afastar e dessa vez começou a se servir, o cheiro da lula fritando estava o deixando com fome. Misturou camarão empanado com kimchi e fatias de lula, que foram previamente mergulhadas no molho. Colocou algumas na tigela de Donghae, o que fez o ômega sorrir para si em agradecimento. E então colocou as fatias de carne para fritar.

— Como tem sido suas férias? — o alfa se viu perguntando, uma pontinha de sarcasmo na voz.

Jihyun bebeu um pouco mais de álcool antes de levantar os olhos até o ex-marido, não sabia muito bem se ele estava brincando quando fez aquela pergunta, esperava que sim. Mas quando notou a sobrancelha levantada em divertimento dele, mordeu o lábio, envergonhada.

— Boas. — decidiu entrar no jogo.

— Ainda bem.  — sorriu. — Fico feliz em saber que gastou o meu dinheiro bem.

Jihyun sorriu, cheio de desdém e então pescou, usando os hashis, uma fatia de lula. Comeu-a vagarosamente, saboreando.

— Seu dinheiro... — quis rir de novo, estava começando a se irritar com a pose de bom moço de Siwon, agindo como se tivesse feito um favor para si. — Quer saber por onde andei também, imagino.

— Na verdade, não me interessa. — ele fez um gesto com a mão, como se estivesse espantando um mosquito chato. — O que me interessa é o modo como acabou voltando. — colocou um pouco de comida na boca. — Depois do tanto de dinheiro que Donghae a entregou, acreditei não iria mais querer pôr os pés na Coréia.

— Aconteceram alguns contratempos. — ela lançou um olhar para o ômega, que ainda comia silenciosamente, a barriga de oito meses realmente grande. Ele teve coragem de sorrir para si.

— Aposto que gastou todo o dinheiro, você sempre foi horrível em manter coisas. — alfinetou, o que só serviu para que Jihyun apertasse o copo de vidro entre os dedos, irritada.

— Por que contou à ele? — a Park dirigiu-se a Donghae, que ainda mastigava sua comida. Ele pegou mais um pouco de salada, embolou em uma fatia de lula e comeu, não fazia questão alguma de dizer algo, mesmo diante do olhar suplicante de Jihyun. Ela colocou as mãos sobre a mesa e procurou as dele, mas Siwon espalmou suas próprias mãos na mesa, assustando os dois.

— Não toque nele. — avisou usando a voz de alfa, fazendo Jihyun encolhe-se e Donghae fitar o marido, apenas para continuar comendo como se nada tivesse acontecido.

— Ele o está ameaçando? — ela tentou mais um pouco, o que só deixou Siwon mais irritado ao passo que Donghae virava o rosto e fitava o marido, procurou a mão dele por baixo da mesa e enlaçou seus dedos.

— Eu contei tudo à ele. — o Lee se pronunciou.

— Por que? — a pergunta veio como um sussurro indignado.

E Siwon, sem poder se conter: riu. Um tanto alto, chamando a atenção da ômega, que o fitou, um tanto assustada e irritada ao mesmo tempo.

— Porque você não passa de um punhado de falsidade, Jihyun. — Siwon foi quem respondeu. — Achou que ia continuar o enganando até quando?

— Eu não enganei ninguém. — rosnou na direção do alfa.

— E como chama isso tudo? Você sumiu durante vinte anos, fingiu sua morte, abandonou um filho!

— Eu sobrevivi! — ela subitamente gritou, assustando Donghae que apertou a mão de Siwon com mais força. — Eu não precisaria fazer isso se a culpa não fosse sua. — acusou.

O Byun sorriu e voltou a comer, a cabeça balançando em descrença, mesmo sabendo sobre sua parcela de culpa. Mas alguma coisa em si estava gostando da forma como Jihyun estava perdendo o controle, fazia-o sentir-se um tantinho vingado.

— Você destruiu minha vida! — continuou.

— Eu te dei uma chance! — Siwon se viu gritando de volta e logo depois estava relaxando, voltando a ficar sentado, os músculos relaxados. — Quando fizemos dois anos de casamento, você poderia ter ido embora. — falou calmamente enquanto virava as fatias de carne na chapa. — Mas você preferiu me seduzir para engravidar. — suspirou.

— Não podia voltar para minha alcateia. — confessou, baixo.

— Por que? — era Donghae perguntando, mas não foi Jihyun quem respondeu.

— Porque ela é uma covarde. — Siwon disse, um tanto divertido. Jihyun abriu a boca para rebater. — Não é verdade? — inquiriu, mas ela apenas abaixou a cabeça.

— Você não sabe de nada! — ela acabou se defendendo.

— Eu não preciso saber para ver isso. Você está mergulhada em covardia, Jihyun. — havia desprezo na voz do alfa. — É por isso que não te quero perto de Baekhyun.

— Baekhyun não é mais uma criança, aposto que ele pode muito bem decidir por si mesmo. — rebateu.

— Chegue perto dele e te entregarei aos Park’s. Acho que Hyukjae ficara terrivelmente feliz quando te ver. — os olhos dela se arregalaram e as mãos fecharam em punho.

Byun Siwon não podia ameaça-la daquela maneira.

— Não pode...

— Eu posso. — Siwon deixou claro, realmente podia. Podia esmaga-la em um passo de mágica, era só preciso que Jihyun desse motivo. — Você sabe que eu posso, então não me provoque. Não provoque Donghae e muito menos Baekhyun ou qualquer um da minha família. — ele ficou de pé, os olhos tornando-se duros enquanto a fitava. — Volte para o buraco onde estava e não peça mais dinheiro, eu quero que você apodreça bem longe de mim. — deixou claro, fazendo Jihyun fita-lo com tanto ódio, que Donghae engoliu em seco.

No entanto, a mulher colocou-se de pé, pronta para enfrentar o ex-marido. O Lee fitou os dois, sem saber o que deveria fazer. Engoliu a comida em sua boca e deixou os hashis ao lado da sua tigela antes de colocar as mãos sobre a barriga, seu filhote estava agitado como que sentindo o seu nervosismo. E só pareceu piorar quando Jihyun ergueu o dedo em direção a Siwon:

— Você me deve, Siwon! Sabe que me deve! — ele afastou, com um tapa, o dedo apontado pro seu rosto.

— Eu já paguei. — deixou claro. — Foram mais de vinte anos com você vivendo as minhas custas! — gritou de volta, as mãos fechando-se em punho. — Meu dinheiro desviado para satisfazer seus luxos de garota mimada enquanto eu e Donghae ficamos chorando sua morte.

Ela riu e Donghae engoliu em seco.

— Você não chorou minha morte. — e riu mais um pouco. — Você me torturou, assassinou o homem que eu amava... não. Você não choraria minha morte, porque você provocou tudo isso!

— É mentira! — e subitamente era Donghae quem estava defendendo o marido, ficando de pé com dificuldade. — Foi você, Jihyun, que provocou tudo isso. — acusou e a Park o fitou surpresa, a boca levemente aberta. — Engravidou de propósito de Siwon só para não ter que voltar aos Park’s e depois não aguentou a pressão de ter um filho com sangue Byun, então o abandonou porque é isso que você sempre faz, Jihyun: foge. Fugiu para os braços de Kyuhyun apenas para tentar fazer Siwon deixa-la e fugiu para os braços de Siwon para não ter que enfrentar sua alcateia. — seus olhos estavam duros quando alcançaram o rosto da ômega. — Você não passa de uma covarde.

A Park fitou os dois homens e pela primeira vez, Siwon sentiu pena da mulher que ela tinha se tornado. Ainda era bonita com aquele cabelo escuro e as formas delicadas do seu corpo, mas não passava disso, porque por dentro Jihyun era apenas covardia, toda preenchida por cinzas de covardia. Em algum momento, deve ter existido um vislumbre de luz ali, mas hoje em dia, não havia nada além de uma escuridão espeça, que causava ânsia no estômago de Siwon.

— Donghae...

— Você me enganou, Jihyun. — sua voz soava magoada. — Disse que éramos amigos, mas tudo o que fez foi me manipula. Você... você é uma maldita vaca! — seus olhos estavam ficando úmidos e Siwon aproximou-se dele, afim de acalma-lo pois Donghae não podia ficar tendo emoções fortes assim.

— A culpa não é minha se você é um idiota, que acredita em qualquer coisa que te dizem. — então era sua vez de encarar Donghae com desprezo. — Já deveria saber que alguém como eu nunca poderia ser amiga de um sem berço como você.

— E você deveria saber que te considerei como uma irmã. — então estava enxugando os olhos, meio afastando Siwon, só queria ir embora dali. — Vamos embora. — pediu ao marido, que logo assentiu.

Eles não iam chegar a lugar nenhum, sabiam bem disso. Jihyun não abandonaria sua armadura, se defenderia enquanto se sentisse ameaçada. Eles só podiam esperar que a mulher não os procurasse mais, que fosse embora para bem longe, porque se ela os desprezava tanto, então deveria se afastar.

A Park os encarou por mais um tempo, sem ter certeza de como deveria agir. Mas assim que Siwon e Donghae saíram, sem dizer mais nada, a mulher se viu chutando a parede e depois jogando toda a comida no chão, quebrando as tigelas, gritando toda a sua frustração em ter sido pega daquela forma, em ter sido exposta. Agora, não havia mais ninguém. Nunca encontraria seu primogênito. E também não podia ir até Baekhyun sem ser exposta a Park Hyukjae, seu irmão. Tudo que lhe restava, era o silêncio sufocante novamente.

Deixou-se cair no chão e cobriu o rosto para chorar sobre toda a bagunça que havia causado.

***

Minseok apoiou os cotovelos no batente da janela do seu quarto, era começo de manhã e por isso o sol descia sobre o seu rosto de uma forma prazerosa, quando não estava tão quente. Suspirou, baixinho, quando o vento frio tocou-lhe as bochechas e ao mesmo tempo que via Byun Baekhyun na sua corrida matinal pela Alcateia, distraído demais com os fones de ouvido para nota-lo. O cabelo escuro se jogava pra trás e o rosto estava sério, o que só fez Minseok suspirar de novo.

Estava enlouquecendo.

— Então, além de desenha-lo, você fica suspirando por ele? — Henry juntou-se a si na janela, fazendo-o se sobressaltar e se afastar instintivamente, o que só ocasionou em risadas no chinês.

— Não é nada disso. — o loiro falou afastando-se da janela, sentou-se na beira da sua cama arrumada, bem diferente da de Henry, que ainda estava um caos.

Os dois estavam dividindo o quarto na Mansão Byun, enquanto os Lu’s não se mudavam para o território Kim. Mas de alguma forma não era ruim, pois fazia Minseok lembrar-se dos tempos de Academia, quando dividia um quarto com Henry e mais outros ômegas, fazia-o não se sentir tão sozinho naquela época e muito menos agora.

— Se você diz. — Henry resolveu não provocar, afinal precisava conversar algo sério com o ômega.

Ainda de pijama, o chinês andou pelo quarto atrás da sua bolsa e vasculhou ali. Era cedo demais para que alguém além deles estivesse acordado, com o senhor Donghae grávido, a casa acabava se tornando mais lenta. Apenas Baekhyun e Lu Han pareciam ter tarefas importantes que os exigia acordar cedo demais, enquanto que no caso de Henry ainda podia ter o prazer de demorar-se um pouco mais na cama.

Procurou sua bolsa e abriu-a sobre a cama bagunçada, espalhando todo o seu conteúdo sobre ela. Pegou os papéis que pegara com Sehun e aproximou-se de Minseok.

— Aqui. — disse apenas para que o loiro procurasse seus óculos sobre o criado mudo e os colocasse.

— O que é? — não o fitou, estava lendo os documentos, curiosidade demais nas palavras. Henry não precisou responder, porque logo Minseok o estava encarando, a testa franzida de um jeito adorável. — Os documentos do dia do casamento? — era uma pergunta retórica, mas mesmo assim Henry assentiu. Minseok voltou a olhar o que tinha nas mãos e o Lu quase podia escutar as engrenagens do seu cérebro trabalhando para chegar na mesma conclusão que si. — Kim Jongdae? — o nome saltou em forma de pergunta dos seus lábios, procurou no rosto do amigo alguma pista de que estava errado no que pensava, mas as provas estavam nas suas mãos e por isso, se viu suspirando ao passo que Henry sentava-se ao seu lado na cama, segurava-lhe as mãos e lhe oferecia algum conforto para toda aquela coisa que Kim Minseok não sabia classificar, que agora crescia no seu peito.

— Não é uma certeza, mas tudo indica que ele tinha total conhecimento do que Kyungsoo faria. — fitou as mãos de Minseok ainda segurando os papéis enquanto tinham as mãos meio juntas. O Kim ficou calado, como que esperando que o ômega continuasse e por isso, Henry molhou os lábios resolveu perguntar o que lhe incomodava. — Você lembra do modo estranho que Jongdae estava se comportando depois que você chegou da França?

Minseok levantou o rosto para fita-lo, os olhos deixando claro a forma como os pensamentos dele estavam indo embora, buscando na memória algo que pudesse servir. Lembrava-se de Jongdae o seguindo pela Alcateia Kim, sempre procurando sua presença ou tentando se aproximar com algum papinho simples, lembrava-se também da forma como ele o tinha convidado para jantar na noite que fugiu com Kyungsoo até Chanyeol e Baekhyun, a noite que tudo deu errado. Também lembrava-se da forma como escutara o motor de um carro enquanto corria pela floresta com o irmão, o jeito como sabia que estava sendo seguido e a forma como seu pai soube de tudo algum tempo depois. Fora Jongdae, percebeu. Ele contou tudo ao seu pai, dando a entender que ambos os irmãos estavam tendo um caso com os irmãos Byun’s. E depois disso, se viu enxergando as pistas de Jongdae, migalhas da sua presença sempre estavam em toda a parte da família Kim.

— Eu lembro.  — ecoou, sem conseguir realmente acreditar.

Aquele alfa os tinha ajudado nas buscas, ele tinha feito os cartazes, tinha dito sinto muito para Junmeyon. Ele... ele... tinha provocado isso!

— E tem mais uma coisa. — o Lu levantou-se e procurou na primeira gaveta do criado mudo da sua cama. Sabia que fazer aquilo era como violar a privacidade de alguém, mas não podia simplesmente deixar aquilo passar em branco assim, ainda mais quando o senhor Heechul havia encontrado uma pista tão substancial. — Isso. — pegou a folha de dentro do envelope marrom e entregou ao amigo. — Lembra-se que quando puxamos a ficha do Jongdae e ele estava limpo? — Minseok assentiu. — Nós estávamos procurando pelo nome errado. — o loiro começou a ler o que o amigo lhe oferecia, os lábios se comprimindo em apreensão e os olhos se tornado perigosos. — Antes de ser Kim Jongdae, ele era Chen.

— Como descobriu isso?

— Foi o seu pai, Heechul. Ele me ligou algum tempo atrás pedindo que eu investigasse alguém com esse nome e então eu encontrei isso. — voltou a se sentar ao lado do ômega. — Ao que parece não somos os únicos que estão desconfiados desse alfa.

Minseok ficou de pé, os olhos brilhando em um turbilhão de coisas enquanto a mente acompanhava. Não conseguia acreditar na forma como Kim Jongdae havia os enganado até ali, fingindo-se de bom moço. Caminhou, de pijama, pelo quarto, a testa franzida e o peito ficando pesado para cada minuto que se dava conta de que, talvez, Kyungsoo não tivesse fugido.

— Você acha que Kyungsoo fugiu? — virou-se para fitar o chinês, a ficha de Chen tremulando entre seus dedos.

— Eu acho que alguma coisa deu errado. — Henry se viu dizendo, porque uma parte sua achava sim que Kyungsoo tinha capacidade para fugir, mas a outra ainda estava confusa com as pistas que tinha para chegar na mesma conclusão. Minseok o encarou, confuso. — Kim Jongdae está desaparecido. — falou o que mais o incomodava em tudo isso, porque se o Kim armou aquele sequestro em busca de dinheiro, então por que deixou passar tanto tempo? Já faziam seis meses que o caçula dos Kim’s estava desaparecido. — Já fazem uns bons meses que ninguém sabe nada dele, a segurança da Alcateia Kim está sob os cuidados de Junmeyon.

O loiro piscou, então se aproximou de novo e sentou-se ao lado do amigo. Leu mais um pouco o que estava na ficha de Chen e então suspirou. Realmente, pensou, não faz sentido. Eram seis meses sem Kyungsoo, tempo suficiente para que Jongdae pedisse algum tipo de resgate ou ao menos começasse algum tipo de revolução, mas não havia nada e pelo visto o alfa havia desaparecido também. O que deu errado? Comprimiu os lábios, já começando a formar algum plano na mente. Precisava encontrar Kim Jongdae, sabia disso. Interroga-lo, colocá-lo contra a parede e procurar respostas e torcer para estar errado, por que se não estivesse... se não estivesse... Minseok nem sequer conseguia pensar no que faria.

— Não conte nada a Junmeyon. — se escutou pedir.

Era melhor assim, percebeu. Enquanto eles não tivessem melhores pistas ou uma teoria formada, não iria preocupar o irmão.

— Mas e quanto a Sehun? — Henry o fitou, o que só fez Minseok piscar confuso, na sua direção. Tinha acreditado que o amigo havia falado apenas consigo sobre aquilo. — Ele pode ajudar. — o chinês interferiu mais um pouco, afinal havia dado sua palavra que não o deixaria de fora e até onde sabia, aquilo podia dar algum gás a vida monótona do Oh.

Minseok ergueu a sobrancelha, recordando-se do modo como o ex-noivo tinha muitos aparatos tecnológicos em sua alcateia. Talvez, conseguisse encontrar algo de Jongdae mais rápido que eles dois.

— Tudo bem. — concordou. — Eu posso entregar ao meu pai? — se referiu a ficha que ainda tinha em mãos. Henry assentiu e o loiro virou-se para o lado oposto e guardou a ficha na primeira gaveta do criado mudo, pretendia almoçar com seus pais e resolver isso de uma vez. — É melhor irmos tomar café.

Henry ficou de pé e seguiu para o banheiro, deixando Minseok sozinho com seus pensamentos. Mas mesmo quando o amigo voltou, o loiro ainda não havia conseguido organizar seus pensamentos, por isso resolveu deixar isso de lado por um tempo. Podia falar com seu pai, Heechul, e tentar ter algum tipo de orientação porque no momento, Minseok só conseguia se sentir um nojo por ter algum dia tido sentimentos por aquela pessoa e principalmente, por ter feito sexo com esta. Sabia que não havia sido culpa sua, afinal não passava de um adolescente bobo naquela época, mas saber agora que provavelmente seria ele quem terminaria sequestrado se tudo não tivesse terminado naquela bagunça, só fazia o ômega se sentir cada vez pior.

E talvez estivesse deixando isso em evidência, porque Henry o abraçou calorosamente, como que dizendo que estava tudo bem se sentir perdido daquele modo. Mas Minseok não queria que ninguém o visse daquele modo, ele era um Ômega Principal, afinal. Por isso tratou de arrumar-se e esconder toda aquela confusão dolorosa atrás das lentes dos seus óculos, empurrou tudo tão fundo de si, que até mesmo conseguiu fingir sorrisos à mesa do café da manhã e durante o trabalho, quando tinha uma conferência online com outros designs sobre as novas ferramentas usadas em desenho artístico, os novos modos de combinar cores. Minseok acabou se distraindo tanto com aquilo que perdeu o horário do almoço, saiu tarde do seu quarto-escritório, onde costumava trabalhar no que Baekhyun lhe pedia.

Haviam conversado algum tempo depois do cio e Minseok concordara em trabalhar na empresa do marido. O ômega ficou encarregado do departamento de artes, onde trabalharia com os desenhos de interfaces ou gráficos, já que a empresa dos Byun’s tinha realmente um método variado de ganhar dinheiro. Era por isso que o loiro passava a maior parte do tempo em casa, às vezes, recebia algumas ligações do escritório, mas poderia sempre encaminhar seus trabalhos por via digital. Exceto quando estava trabalhando em algum desenho gráfico, então teria que ir para o escritório, desfrutar da sua sala no departamento de artes. Mas no momento, bem podia desfrutar do silêncio do seu quarto enquanto tinha o notebook sobre as coxas, os olhos atentos e os dedos trabalhando rápido em editar, formatar, pintar, redimensionar, criar...

Quando saiu do quarto, Henry estava voltando do trabalho e por isso se deu conta da forma como o tempo tinha passado rápido e que já estava tarde demais para ir até seus pais fazer uma visita. Deixaria para outro dia, era melhor. Então só resolveu tomar um ar, foi até o jardim da casa e sentou-se no banco mais escondido que encontrou, deitou-se nele e observou a forma como o céu estava tornando-se escuro. A lua estava bem redonda e quase no centro do céu, Minseok sabia que quando ela chegasse no centro, dali alguns dias, eles todos estariam no território Park para a celebração da fertilidade, todos andando lado a lado fingindo que são amigos. O ômega não conseguia se imaginar encarando Park Hyukjae, mas também não conseguia pensar em deixar Baekhyun ir sozinho.

Se o marido aparecesse sozinho lá, seria tratado com desrespeito além de ser um desfalque na cerimônia da lua. Era importante que o Kim deixasse seus problemas no passado e enfrentasse aquilo tudo de cabeça erguida, afinal não era mais só Kim Minseok, agora ele carregava o sobrenome Byun também.

***

Yesung encarou os documentos que espalhados sobre sua mesa de trabalho, os braços cruzados em desaprovação e os olhos seguindo o mesmo exemplo, fitou o parceiro, Shin Donghee.

— Não está pensando direito. — Yesung falou, andou até sua mesa e tocou em alguns documentos, lendo mais um pouco do que estava ali. — Não precisamos levar isso até o governo, podemos acabar com essa praga antes que eles saibam do que se trata.

— Mas senhor... — tentou interferir, dando um passo em direção ao comandante.

— Nós estamos muito perto de descobrir mais sobre eles, não consegue ver? Esses malditos sempre ficam mais agitados quando a lua se ergue no centro do céu, é óbvio que se ficarmos quietos por mais um tempo, eles cometeram um deslize.

Donghee engoliu em seco, conseguia entender o que o seu superior pretendia: uma execução em massa. Mas também entendia que com seus números baixos, precisariam de reforços e um bom reforço seria o governo, se pelo menos o presidente soubesse de algo então eles poderiam conseguir eliminar os lobos, acabar com aquela praga e limpar de vez o mundo para que os humanos pudessem seguir em paz. No entanto, Yesung parecia não ver isso, preferia usar as próprias mãos e o amigo bem conseguia ver porquê. O seu comandante tinha medo que fosse afastado e perdesse a chance de vingar sua família assassinada.

— Senhor... — tentou mais um pouco.

— Já chega. — Yesung cortou. — Eu sei que nós perdemos os Lu’s e que ficou assustado com a forma como eles podem lutar, mas saiba que aquilo foi apenas um teste. Ainda podemos encontra-los e na verdade, acho que já os encontramos. — procurou por sobre a mesa o envelope com as fotos que havia recebido mais cedo. — Aproxime-se. — mandou e o subordinado o fez rápido.

Yesung espalhou as fotos sobre a mesa e apontou para o rosto de Lu Han. Depois que a batalha entre eles e os lobos havia terminado, o comandante havia feito um retrato falado daquele lobo e espalhado por aí, afim de saber se alguém podia tê-lo visto, pois era praticamente cem por cento de certeza de que se o encontrassem, também conseguiriam encontrar a alcateia deste e talvez, pudessem ter acessos a outros bandos de lobos, porque Yesung não achava que os lobos de Lu Han eram os únicos vivendo na Coréia.

— Você o encontrou. — o Shin disse, um tanto surpreso, segurando a foto do chinês.

— Temos uma ficha pra ele agora. — Yesung contou. — Esse maldito é chinês e pelo que parece fez contato com outros como ele. — apontou para o homem que estava consigo na foto.

Ambos andavam lado a lado, pareciam conversar enquanto atravessavam uma rua movimentada, com roupas socais e parecendo muito humanos. Yesung enrugou o canto da boca em desagrado para aquilo. Aquelas coisas estavam andando entre os humanos, vivendo entre eles como se não fossem monstros.

Shin Donghee franzio a testa para onde Yesung apontava, conhecia aquele rosto de algum lugar. Tinha absoluta certeza de que já havia visto aquilo.

— Este se chama Byun Baekhyun. — o comandante acabou dizendo. — Já deve ter ouvido falar do seu pai, Byun Siwon.

Claro! A família Byun era conhecida nos negócios de entretenimento, suas campanhas de publicidade estavam por toda parte além dos vários artistas para quem dava suporte. Mas o que um Byun estaria fazendo andando com alguém como Lu Han? Ainda mais parecendo tão confortável na sua presença? Era óbvio para Shin Donghee que ou Baekhyun não sabia sobre a verdadeira natureza de Lu Han ou compartilhava da mesma herança e pelo modo como Yesung fitava aquela foto, era mais do que certo que ele acreditava na segunda opção.

— Lembra-se com quem ele casou? — apontou para o Byun da foto e o subordinado assentiu. — Um homem. — externou com desprezo. — Seu pai também é casado com um. — Shin mordeu o lábio, sabendo muito bem o que seu comandante pensava: ninguém em sã consciência assumiria um romance homossexual sem pensar nas consequências e Byun Baekhyun ou Byun Siwon pareciam não se importar com uma crise nos negócios por conta disso e muito menos com ilegitimidade dos seus herdeiros. — Eu procurei sobre ele também, o marido de Baekhyun, se é que é possível chamar assim. — então a boca estava enrugada em desprezo mais uma vez.

Donghee sabia que o casamento homossexual não era aceito na Coréia e por isso sabia de onde vinha todo o desprezo empregado na palavra marido. Diante da Coréia, eles não passavam de dois homens em um relacionamento anormal. No entanto, Shindong não conseguia saber o que mais irritava Yesung: a possibilidade dos dois serem lobos ou deles serem homens. Talvez, fosse os dois.

— Chama-se Kim Minseok. — apontou a outra ficha sobre a mesa, a foto do Kim presa com um clipe no canto esquerdo superior, os olhos de gato se destacando na foto. Inclinou-se sobre a ficha, não achava que já havia visto aquele rosto em algum lugar.

— Também não o conheço. — pareceu ler o não-reconhecimento estampado no rosto do outro. — Mas adivinhe só: os pais de Kim Minseok também são homens.

— Acha que são todos lobos?

Durante suas pesquisas havia descoberto que alguns homens podiam engravidar, o que havia sido chocante o suficiente para si.

— Tenho certeza. — então Yesung estava dando a volta na sua mesa e procurando em uma das gavetas o mapa que havia desenhado de uma imagem de satélite. — Isso é o bairro onde Byun Baekhyun mora. — apontou e Donghee se inclinou sobre o mapa para ver melhor. — Entrevistei algumas pessoas que moram por ali, ao redor, e todas disseram que esse é um bairro chique, fechado para qualquer um que não tenha um cadastro.

Shin Donghee fitou o comandante, a testa se franzido daquela forma meio surpresa meio desconfiada. Yesung sorriu diante da sua surpresa, os braços se cruzando e o peito se estufando de orgulho de si mesmo, pois o comandante tinha uma pista e tanto da localização de mais uma alcateia.

— Os Lu’s devem estar com eles. — Shin falou. — Escondidos a céu aberto. — quase sorriu coma engenhosidade daqueles lobos, pois ninguém desconfiaria de um bairro chique como aquele.

— Tenho alguém na cola de Lu Han. — Yesung sentou-se em sua cadeira acolchoada, o sorriso ainda preso no canto dos seus lábios. — É só uma questão de tempo até a lua subir e nós os pegarmos. Então, teremos provas o suficiente para levar até a população.

— Não acha que isso é arriscado? — havia sido arriscado da última vez, não ia ser diferente agora.

— É o meu trabalho, Shindong. — o chamou pelo apelido, a voz se tornando suave enquanto o pronunciava. — Meu dever é manter a ordem. Se não os atacarmos primeiro, eles o farão e então estaremos perdidos. Consegue entender a gravidade disso? Nós somos a linha de frente, Shin.

Shindong entendia. Sabia de muitas coisas e conseguia vê-las com clareza, mas uma parte sua achava que havia algo de errado na forma como eles perturbavam os lobos. Afinal, eles não pareciam uma espécie que havia surgido recentemente, era mais provável que tivessem milhões de anos, que fossem mais velhos que os humanos ou que os humanos fossem outra vertente de onde os homens-lobos vieram, mas Shindong não tinha como provar, não tinha como estuda-los sem ter um espécime vivo e por isso compactuava com que Yesung oferecia, mesmo sabendo que estava violando seus princípios.

***

Sehun olhou para Jisoo, sua secretária, ao seu lado, segurando uma plaquinha com dizeres em chinês, que representavam um nome: Choi Yifan. Era sexta-feira, um tanto chuvosa para o verão em que se encontravam, e um tanto fria demais para o sistema imunológico sensível de Oh Sehun, no entanto, havia se esforçado para ir até o aeroporto e receber o seu convidado. Sua mãe tinha sido contra essa decisão, queria ela mesma vir receber o senhor Choi, mas Sehun acreditou que causaria uma impressão melhor se fosse ele mesmo a comparecer, o líder Oh.

— Tudo bem, senhor? — Jisoo perguntou, provavelmente havia notado a forma como ele parecia pálido, mas Sehun assentiu.

Havia tomado suas vitaminas e os remédios antes de ir até ali, mas o ar de Seul estava especialmente poluído naquela sexta, o que tornava a máscara que usava até que inútil, porque começava a sentir-se sufocar. Mas se segurasse mais um pouco, conseguiria estar em casa antes de ter algum tipo de ataque. Ergueu o braço e observou o horário, não achava que estava atrasado e muito menos adiantado, em parte porque até aquele momento não haviam avistado Yifan e em parte porque agora que escutava o barulho de um avião pousando. Aquilo pareceu deixar Jisoo alerta, porque logo ela estava erguendo a plaquinha com mais vontade.

Sentiu vontade de rir, mas não o fez. Era melhor manter a expressão neutra de qualquer forma, ainda mais sabendo sobre como Choi Yifan havia subido ao trono no Clã Choi: assassinando toda a família Choi Principal depois de ter vencido o duelo com o líder do clã. Era um tanto assustador imaginar a cena, a forma como aquele homem deve ter sido manchado de sangue e como adorou aquilo, o poder escorrendo pelas pontas dos seus dedos, derramando-se nos seus pés e o tornando um homem perigoso o suficiente para que Oh Sehun sentisse curiosidade suficiente para deixa-lo se aproximar, pois fora Yifan quem dera o primeiro passo ao ligar para si, marcando um encontro entre Alcateias, deixando o Oh saber que mesmo com toda a agressividade dos seus atos, o Choi era um tanto racional e por isso entendia a importância de se ter alianças.

Contudo, deixava Sehun desconfiado já que o alfa havia terminado uma aliança sólida de anos com os Kim’s, não parecia a Sehun como um bom ato, só que para cada vez que pensava sobre isso conseguia ver que Choi Yifan estava punindo os Kim’s ao deixá-los tão abruptamente e com isso se firmar no mercado com uma Alcateia com personalidade, que estava disposta a jogar com qualquer uma. E Sehun gostava bastante de jogos.

— Ele está vindo. — Jisoo agitou-se, tirando o líder dos seus pensamentos.

Sehun olhou para o mesmo ponto que ela e viu um homem terrivelmente alto em roupas caras se aproximando, não segurava nenhuma mala ou trazia carrinho com estas, no entanto, a pessoa atrás de si parecia estar segurando as malas do mais alto e as suas. De primeiro, Sehun achou que fosse uma garota por causa do cabelo comprido, mas quando se aproximou, notou que era um homem também. Provavelmente, o secretário de Yifan.

— Senhor Oh. — Yifan curvou-se para si.

— Senhor Choi. — fez o mesmo.

Jisoo e o secretário de Yifan também se curvaram, Sehun notou que havia uma plaquinha em forma de broche presa sobre o peito esquerdo do homem, no tecido do paletó. Yoon Jeonghan. Sehun franzio a testa, confuso, não conhecia aquele sobrenome. Não parecia pertencer a nenhuma alcateia, mas também sabia que alguns lobos gostavam de adotar outros sobrenomes para preservar a identidade ou quem sabe, se destacar entre tantos, mas alguma coisa na aparência daquele homem não o deixava seguro sobre isso, por isso farejou o ar e procurou o seu cheiro. Tinha cheiro de colônia barata, por isso supôs que era um beta.

— Ele é humano. — Yifan subitamente se pronunciou, fazendo as dúvidas de Sehun só aumentarem.

— O que? — se viu perguntando, desviando os olhos de Jeonghan para ver se encontrava algum sentido no rosto do líder Choi.

— Isso mesmo. — confirmou. — Afinal, para que eles servem senão ser nossos subordinados? — e riu, como se realmente fosse uma piada engraçada.

Mas Sehun estava horrorizado, principalmente quando viu a forma como os lábios de Jeonghan se comprimiram e os olhos abaixaram, em submissão e também medo.

— Isso é contra lei. — foi Jisoo quem disse, apertava com muita força a placa.

Sehun a fitou, agradecido por ela ter dito que estava pensando. Depois voltou a fitar Yifan, que se limitou a balançar a cabeça ainda meio rindo, como se Jisoo fosse um cãozinho com latido adorável.

— Aqueles velhos do Conselho não sabem de nada. — rebateu com o mesmo tom divertido. — Humanos são mais úteis do que pode imaginar. — colocou a mão sobre o ombro de Jeonghan e Sehun podia jurar que o humano havia estremecido com toque.

Se perguntou há quanto tempo aquele humano estava sobre o controle de Yifan e como havia ido parar ali, sendo nada mais do que um capacho. No entanto, o que mais o assustou foi a forma como Yifan se comportava diante daquilo. Os humanos não faziam parte do mundo dos lobos, eles deveriam ficar de fora porque simplesmente eram insignificantes demais para entender toda a carga que o sangue lobo tinha além de não serem nenhum pouco tolerantes com o que era diferente, essas eram as ordens do Conselho e qualquer lobo que fosse pego tendo qualquer tipo de relacionamento com humanos, iria ser punido.

Quantos anos de cadeia Yifan pegaria por isso? Ou seria enforcado como todos os outros lobos que foram descobertos tendo casos românticos com lobos?

— É melhor nós irmos. — Sehun disse e virou-se de costas, começou a andar em direção a saída, Yifan parou ao seu lado enquanto Jisoo estava atrás de si junto do humano, Jeonghan.

Sehun só esperava que sua mãe não surtasse quando visse um humano entrando na Alcateia Oh, afinal seus lobos eram conhecidos por terem uma ficha impecável. A Alcateia mais organizada, mais pacifica. E sua mãe, Joohyun, era bastante orgulhosa disso.

Entraram no carro da sua alcateia, que estava estacionado em frente ao aeroporto e Sehun sussurrou ao motorista o destino deles. Seguiram o caminho em silêncio, o que foi bom para todos, principalmente para o líder Oh que vez ou outra se pegava olhando para o humano e franzindo a testa em reprovação por sua presença. Se qualquer órgão do Conselho de Lobos ficasse sabendo disso, Sehun estaria manchado eternamente entre os outros líderes, já que podiam pensar que se compactuava com o envolvimento com lobos, bem podia compactuar com qualquer outro tipo de coisa clandestina e por isso tornava-se perigoso. Suspirou e olhou para o lado, era melhor não pensar nisso. Talvez, Yifan só estivesse fazendo algum tipo de brincadeira ao dizer aquilo ou não estivesse metido em coisa pior.

Ao chegarem na Alcateia Oh, seus sentinelas encaram com afinco o secretário de Yifan. Todos pareciam sentir o que Sehun ainda queria negar: ele era realmente um humano. Ao encontrarem sua mãe, Sehun teve a decência de abaixar os olhos, um tanto envergonhado por não ter escutado o conselho de sua mãe e convidado Yifan para passar os dias do Festival de Fertilidade em sua Alcateia, já que havia recusado o convite dos Park’s por saber que os Byun’s com toda certeza estariam lá e por isso Minseok estaria, junto de Baekhyun, realizando o ritual tradicional dos Park’s. Não achava que teria estômago para ver o modo como Baekhyun tocaria em Minseok.

— Jisoo, por favor, os guie até seus quartos. — disse à secretária, que assentiu antes de começar a andar na frente dos convidados.

Yifan subiu as escadas com Jeonghan na sua cola, o cabelo castanho do homem balançando às suas costas.

Aquilo é um humano? — Joohyun perguntou, o sorriso de boas-vindas se desfazendo para dar lugar aos olhos arregalados de apreensão. O filho assentiu. — Sehun... isso pode manchar nossa imagem, se o Conselho descobrir e achar que temos participação, seremos punidos.

Sehun sabia de tudo aquilo, mas queria dar um voto de confiança a Choi Yifan, que parecia terrivelmente interessado nos conhecimentos tecnológicos da sua alcateia. Não nas armas, como pensara, mas nos aparatos de rastreio. Parecia até que o lobo Choi estava à procura de algo e Sehun era curioso demais para dispensa-lo assim, sem saber do que se tratava.

— Não se preocupe, mamãe. — segurou o seu rosto, beijou-lhe a testa e Joohyun o abraçou. — Está tudo sobre controle.

E realmente estava, sabia disso, porque qualquer sinal de perigo que Choi Yifan demonstrasse para seus lobos ou para si, o tornava o principal alvo da arma que sempre carregava consigo. Uma bala na cabeça não era o método mais limpo, seu avô diria, mas era o mais eficaz em caso de ameaça.

***

Heechul passou na frente do quarto do filho alfa, Junmeyon, e franzio a testa para o modo como ele estava vestido em frente ao espelho. Cruzou os braços e decidiu entrar, não achava que o filho ia ter um encontro de negócios quase no fim da tarde.  Atrás de si, Kim Minseok, freou os passos, o que fez Heechul olhar para trás e depois voltar a olhar para o filho alfa.

Suho tem um encontro, omma. — Minseok praticamente cantarolou, fazendo Junmyeon perceber a presença de ambos enquanto arregalava os olhos.

— Não é nada disso. — falou, lançando um olhar significativo para Minseok ao passo que Heechul sentava-se na beira da cama do filho, as pernas cruzadas. — É um encontro de negócios com o líder de uma Alcateia. — não havia tido tempo de contar ao pai sobre o que Lu Han havia lhe proposto e também tido tempo de pensar muito sobre isso, se não com certeza desistiria, ainda mais depois do modo como Kai havia enviado uma mensagem para o seu celular, querendo se encontrar.

Heechul fitou Minseok e esperou que o filho ômega dissesse mais alguma coisa.

— Ele vai se encontrar com Lu Han. — se viu contando, os olhos brilhando em divertimento ao passo que corria de Junmyeon e jogava-se na cama do mesmo, rindo.

— Seu boca grande. — fingiu-se de irritado, o que só fez o Kim mais novo rir mais.

— O que não está me contando? — Heechul se pronunciou ao passo que Junmyeon tentava dá um nó em sua gravata.

— Não é nada demais. — se escutou repetindo. — Lu Han me procurou algum tempo atrás e me propôs um acordo de casamento com seu irmão mais novo, Jongin.

— Ele aceitou, omma. — Minseok rolou na cama, de barriga para cima, ainda usando o mesmo tom divertido. — Junie vai casar e ter filhotes com Jongin. — brincou, o que só fez Junmyeon se aproximar para jogar uma almofada no irmão mais novo.

— Você ia me deixar saber disso quando seus filhotes nascessem? — Heechul indignou-se, mas parecia tudo teatral demais para que Junmyeon não soubesse que o pai tinha entrado na mesma brincadeira de Minseok.

No entanto, mesmo com isso, acabou suspirando e sentando-se ao lado do pai.

— Faltam alguns detalhes para serem discutidos, mas quando tudo isso terminasse, eu iria contar tudo à vocês. — olhou por sobre o ombro para Minseok, que piscou os olhos inocentemente na sua direção, o fazendo sorrir.

— Como isso aconteceu? — então Heechul estava o tom sério, aquele que sempre usava quando Junmyeon havia se comportado mal na infância, mas naquele momento pareceu até reconfortante para o mais velho dos filhos.

— Lu Han veio até mim e me ofereceu uma parceria. Eles nos dariam apoio financeiro em troca de um pedaço dos nossos territórios e proteção.

— Um acordo de casamento?

— Sim, com Jongin, seu irmão mais novo. — Junmyeon fitou suas mãos sobre as coxas, as unhas estavam bem aparadas. — Eu aceitei.

— Por que isso soa como se estivesse dizendo “eu morri”? — Minseok se viu interferindo, coisa que fez Junmyeon abaixar os olhos e Heechul erguer a sobrancelha, desconfiado.

— Você não quer se casar?  — Heechul perguntou com cuidado, as mãos procurando as do filho, que negou e então era Minseok quem estava sentando-se sobre os joelhos para olhar melhor o irmão. — Ah, querido. — Heechul passou os braços em volta do filho e o trouxe para perto, em um abraço. Lançou um olhar para Minseok, que se aproximou e também abraçou o irmão. — Está tudo bem. Casamentos não são tão ruins e se você não gostar do garoto, ainda pode propor outro tipo de contrato para Lu Han.

— Tipo o que? — sua voz soou abafada e um tanto manhosa, o que só fez Heechul abraça-lo com mais força.

— Existe a cláusula de dois anos. — Minseok falou, interrompendo qualquer que fosse a coisa que seu pai fosse dizer. — Se vocês não tiverem nenhum filhote, poderá devolver Jongin aos Lu’s e então encontrar outro ômega principal.

Tinha conhecimento dessa cláusula no seu contrato de casamento, mesmo que ele e Baekhyun não falassem nunca disso. Mas podia imaginar, que era isso que o alfa estava esperando, que o tempo passasse e então Minseok pudesse voltar para os Kim’s e tudo voltar ao normal na vida de Byun Baekhyun. Só que sabia também que voltar para os Kim’s seria como ter perdido a batalha, pois ainda tinha que considerar o trato que tinha com Lu Han, no entanto, não sabia como conversar sobre isso com o marido, ainda mais pelo modo como não achava que iria conseguir ter um bebê, mesmo se quisesse.

— O que? — Junmyeon levantou o rosto do peito do pai e procurou pelo rosto do irmão mais novo.

— Isso mesmo. — confirmou o que tinha dito. — A cláusula de dois anos é obrigatória nos contratos de casamento.

— Minseok está certo. — Heechul disse. — Nem tudo está perdido, sim? — libertou um braço para acariciar o rosto do filho, afim de passar segurança. Agradecia por Junmyeon ter herdado o seu senso de dever e a doçura da sua mãe, até mesmo a aparência vinha da sua mãe, não tinha em si praticamente nada de Leeteuk e Heechul nunca achou que isso ia ser bom, até aquele momento. — Apenas se concentre em ir conhecer esse garoto. — Minseok afastou-se e voltou a sentar atrás do alfa.

— Ele é legal. — se referiu à Jongin. — Tenho toda certeza que vai gostar dele.

Junmyeon franzio os lábios, determinado a não pensar em Kai mais. Precisava se concentrar em Jongin, apenas isso. E agora, ao saber sobre a cláusula de dois anos, sentia-se bem mais seguro com aquilo. Podia muito bem ficar casado por dois anos e depois devolver o ômega, ninguém iria se sair machucado. Se ao menos Kai o esperasse por dois anos...

 Colocou-se pé e terminou de se arrumar sobre os cochichos de seu pai e irmão, os dois estavam definitivamente rindo às suas custas, fazendo gracinhas e o deixando constrangido.

— Não vá contar à Jongin aquelas piadas de tio. — Heechul praticamente avisou ao passo que Minseok ria.

— Isso! Não importa o quão nervoso fique, não conte.  — riu mais um pouco. — É capaz dele sair correndo e desistir desse casamento.

— Para o conhecimento de vocês, — Junmyeon entrou na brincadeira. — meu humor é bem refinado.

— Refinado como o de um ahjusshi. — Minseok revirou os olhos ao passo que o pai ria.

— Eu preciso ir. — Junmyeon falou depois de olhar o horário no seu relógio de pulso. Os dois ômegas levantaram-se e foram até ele para mais uma sessão de abraços.

— O que estão fazendo? — Ryeowook aparece na porta do quarto do alfa, os olhos brilhando em divertimento enquanto via os três em um abraço grupal.

— Junmyeon tem um encontro. — Minseok contou.

— Um encontro de negócios. — o alfa consertou.

Ryeowook se aproximou, as mãos indo para a cintura e os lábios se comprimindo, parecia estar pensando em algo.

— Você não pode ir à um encontro com as mãos vazias. — acabou dizendo, o que só fez Heechul rir mais.

— Não é um encontro desse tipo, omma. — estava quase batendo o pé no chão ao passo que Minseok afastava-se de si para rir mais um pouco.

— Venha logo. — Ryeowook segurou-o pelas mãos e o levou para fora do quarto. Heechul e Minseok o seguiram.

O ômega foi até a mesa, onde tinha deixado umas flores que acabara de cortar e entregou para o filho alfa.

— Tenho certeza de que vai impressiona-lo se chegar com isso. — sorriu e Junmyeon suspirou enquanto segurava as flores.

— Como sabe se não é uma garota? — perguntou, desconfiado ao pai.

— É um garoto. — Minseok cantarolou mais um pouco, o que o fez ganhar um empurrão do irmão alfa.

Heechul colocou a mão em frente a boca para abafar uma risadinha e Ryeowook não pode se impedir de fitar o outro ômega, seu coração falhando uma batida.

— Eu preciso ir. — Junmyeon falou, então mais uma vez ganhou beijos na bochecha e um abraço em grupo.

Os pais e o irmão ômega acenaram da porta quando ele foi embora e desejaram sorte. Junmyeon respirou fundo e apertou o passo em direção a entrada da Alcateia, onde receberia Jongin e Lu Han. Suas mãos estavam suando e bem sentia seu estômago ficando agitado, o alertando de todo o nervosismo que sentia. O sol estava se pondo no horizonte e banhando aquele fim de tarde de laranja, parecia bem bonito aos olhos do Kim, ainda mais quando céu pintava-se de lilás, azul e laranja.

Avistou o nicho onde seus sentinelas estavam, os betas acenaram para si, fazendo Junmyeon ver a ponta da arma saindo por suas costas. Acenou de volta, soando nervoso até mesmo nisso. Então, avistou o portão, ainda fechado. Suspirou mais um pouco e apressou o passo até lá, achava que Lu Han e Jongin não tinham chegado ainda, no entanto quanto mais perto chegou, notou a presença de Henry ali, conversando com Lu Han. Engoliu em seco mais uma vez quando Henry o avistou e apontou para si, atraindo a atenção de Lu Han, mas até ali, Junmyeon não havia visto ninguém mais com eles. Será que o garoto tinha desistido? Não parecia que isso aconteceria tão em cima da hora, ainda mais pelo modo como tinha notado que o líder Lu era um tanto perfeccionista

Viu Henry inclinar-se na direção de Lu Han e cochichar algo, enquanto os olhos dos dois não deixavam sua imagem. Os dois riram e Junmyeon soube que estavam rindo da forma como segurava o pequeno buquê de flores e talvez, da forma como tinha se arrumado? Estava formal demais para um encontro? Mas seus pais não tinham reclamado, então não achava que estava de todo ruim, pois ao menos parecia sério e maduro. Mas então lembrou-se dos sapatos que usava, esquecerá de trocar por sapatos sociais, ainda usava os tênis com que fora trabalhar mais cedo. Aquilo com certeza arruinava sua imagem de homem e o fazia parecer um cara patético com um buquê de flores.

Contudo, antes que tomasse coragem para dar meia-volta, já estava de frente para Lu Han e o chinês se inclinava na sua direção, saudando-o. Ele fez o mesmo e até mesmo Henry se inclinou na sua direção, parecia estar com ar de riso em si. Junmyeon olhou em volta, procurando o seu futuro esposo, mas não havia ninguém além de um cara, de costas para si, comprando doces em uma banquinha ali perto.

— Então... — Junmyeon começou e Lu Han sorriu.

— Vá chama-lo. — o chinês virou-se para Henry.

Junmyeon viu o secretário se afastando em direção àquele homem e não pôde se impedir de comprimir os lábios em ansiedade.

— Essas flores são pro meu irmão?  — Lu Han queria rir, Junmyeon conseguia ver pela forma como o canto do seu lábio se curvava.

— Sim. Acha que ele vai gostar?

— Claro. — então os olhos de chinês olharam para algo atrás de si. — Atrás de você. — avisou.

Os músculos de Junmyeon travaram enquanto virava-se lentamente, os olhos baixos. Não sabendo como aquela pessoa o veria ou o que deveria dizer. Será que era certo começar com um “olá”? Mas antes que pudesse decidir isso sua expressão estava enchendo-se de surpresa, quando seus olhos alcançavam a figura de Lu Jongin. O buquê caiu da sua mão e a boca abriu-se para pronunciar aquele nome que o estava assombrando há dias:

— Kai?

O ômega levantou o rosto quando escutou seu apelido ser dito, os olhos se arregalando no processo e Henry, ao seu lado, erguendo a sobrancelha em desconfiança para aquilo.

— Suho?! — exclamou e sem poder se segurar, abriu os braços e se jogou sobre o alfa. — É você! — e riu contra sua orelha, fazendo Junmyeon rir também ao passo que Lu Han e Henry encaravam a cena com visível confusão.

— Parece que eles se deram bem. — Henry comentou.

Lu Han assentiu, ainda sem entender aquela euforia toda dos dois.


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