Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 34
VIII - O silêncio por trás das palavras




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Heechul encarou sua imagem no espelho e torceu a boca em desagrado, mesmo que sua aparência estivesse bem melhor que antes. Suas bochechas estavam destacadas, mostrando-lhe o quanto tinha ganhado peso, além de poder constatar isso quando encarava sua barriga gorducha e avaliava o modo como seu culote estava aparecendo. Definitivamente, tinha engordado mais do que queria nesses três meses em que tinha sido obrigado a aceitar Leeteuk junto de si novamente. Suspirou levando as mãos até o cabelo, que estava comprido, por sinal. Sabia disso pelo modo como as pontas estavam se enrolando. E por isso não pôde evitar soltar mais um suspiro, devia corta-lo. Mas gostava do modo como os fios caiam sobre seus olhos, sempre ajudando-o a esconder a expressão de decepção consigo mesmo.

Olhou para trás e encontrou a figura adormecida de Kim Jungsoo entre os lençóis. O cabelo escuro se jogando em todas as direções possíveis, quis rir, mas estava cansado demais daquela figura em sua vida, que apenas se limitou a morder o lábio inferior, com força suficiente para sentir o gosto de sangue e um pouco de dor, porque achava necessário um pouco de punição para o modo idiota que estava agindo. Se deixando dominar por algo tão antigo como a Marca, deixando-se levar pelos instintos, todavia quando tentava formular um plano para evitar isso, se via caindo na mesma: Precisava de Leeteuk para viver.

Desviou os olhos para a porta e saiu dali, precisava de um pouco de ar puro. Quer dizer, precisava respirar em algum lugar que não tivesse o cheiro do alfa. Avançou pelo corredor, olhou pela fresta da porta do quarto de Minseok e encontrou malas prontas do filho sobre a cama, parecia que o garoto havia decidido voltar para os Byun’s. Isso era bom, pensou, porque mesmo que não quisesse, o ômega precisava aprender a contar consigo mesmo e com Baekhyun, afinal, os dois eram um casal, querendo ou não. Afastou-se dali e continuou o seu caminho, seguiu o cheirinho doce de café que vinha da cozinha, tinha quase certeza de que era Ryeowook, mas ao chegar lá, não era. Era de fato café recém-pronto, servido na mesa para quem quisesse.

Franzio a testa, porque ainda era muito cedo para o ômega sair por aí. Foi até a sala, olhou em volta, mas também não o encontrou. Decidiu ir até a varanda, mas mesmo parado ali, não foi capaz de encontrar a figura pequena do outro Kim. Cruzou os braços e apurou o olfato, contudo, não havia rastro nenhum do cheiro do outro no ar, o que o fazia pensar que Kim Ryeowook havia saído há muito tempo. Sentou-se no banco de madeira que havia ali, ainda estava usando roupas de dormir e sabia que o seu rosto denunciava o modo como acordara a pouco tempo, mas naquele momento, não estava nenhum pouco preocupado com sua aparência. Estava preocupado com Ryeowook.

Sentia sua falta. Do jeito mais egoísta que isso soava, sentia falta dele. Nos últimos três meses quase não o tinha visto. Sabia que ele estava ali, cozinhando para si, vagando pelos cantos da casa, seu cheiro doce chegando até si nas madrugadas quando o percebia andando pela casa, com insônia demais para conseguir dormir sozinho. Às vezes, Heechul tentava se aproximar, com um frio no estômago e as pernas tremendo, mas nem sempre conseguia. A vergonha de estar dormindo com Leeteuk no quarto ao lado lhe deixava sem coragem para olhar em seu rosto. Então, tudo que eles tinham construído em meses, se tornava raso, ia sumindo devagar toda vez que percebia o modo como o ômega fazia de tudo para não estar na própria casa.

Apoiou o rosto nas mãos e se pegou fitando o pequeno jardim em frente à casa, que o Kim gostava de cuidar, mas olhando dali, as flores não estavam bonitas. Pareciam secas e altas demais, precisavam ser cortadas. Mordeu o lábio machucado e raspou os dentes da frente na ferida aberta, abrindo mais um pouco e procurando mais um pouco de dor. Estava machucando Ryeowook, devagarinho, estava o envenenando com pequenas doses de traição até o ponto em que o ômega não aguentasse mais.

Não percebeu que estava chorando até o momento em que sentiu as bochechas molhadas. Limpou as lágrimas rapidamente, odiava fazer o papel do ômega frágil. Não, não era assim. Os anos que passou na Academia tinham o mostrado isso. Era mais forte do que sua classe mostrava. Ficou de pé, pronto para voltar para dentro da casa, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, escutou o barulho de um motor. Franzio a testa quando uma caminhonete vermelha parou em frente à casa e Kim Ryeowook saiu dali acompanhado por Kim Jongdae. Os dois estavam rindo enquanto nos seus braços haviam sacolas de compras. O Kim mais velho balançava a cabeça, rindo, as bochechas pintadas de rosa clarinho.

— Estou falando sério. — o alfa estava dizendo. — Você é muito bonito.

— Está sendo gentil. — o Kim disse antes de levantar a cabeça e destrancar o portãozinho para poder entrar na propriedade da sua casinha amarela.

Kim Heechul cruzou os braços, a vontade de chorar já não estava mais ali, havia sido substituída por alguma coisa mais quente e ruim no seu peito, o que o deixava bem irritado. Observou os dois se aproximando, depois os cumprimentando e os viu entrar na casa. Foi atrás deles, ainda com os braços cruzados e os olhos escuros duros quando focavam no alfa. Parou na entrada da cozinha, encostou-se no batente na porta e viu quando o alfa deixou as sacolas sobre a bancada da pia.

— O senhor precisa de ajuda para guardar? — Jongdae perguntou e Heechul bufou, alto o suficiente para que o ômega lhe lançasse um olhar confuso.

Viu quando o Kim mais velho abriu a boca para responder, mas logo ele mesmo estava o fazendo:

— Não precisa. — foi mais rude que conseguia, fazendo o ômega abrir a boca levemente surpreso pelo tom. — Eu posso ajudar daqui. — então sorriu, sem mostrar os dentes, para o alfa, numa tentativa de parecer amigável, que não funcional tão bem assim.

O Kim mais novo lançou um olhar para o ômega, como que esperando algum tipo de permissão que recebeu logo em seguida, quando este assentiu para si.

— Até, senhor Ryeowook. — Jongdae saudou antes de sair dali e consequentemente, da casa.

Ryeowook virou-se de frente para a bancada e começou a tirar os produtos que comprara de dentro das sacolas. Eram as compras do mês. Não disse coisa alguma, apenas continuou fingindo que não havia visto a cena de antes, o modo rude que Heechul tratara Jongdae, como se ele fosse um intruso. Não era. O garoto o tinha ajudado a fazer as compras e para o bem da verdade, depois que Leeteuk tinha feito questão de estragar sua família duas vezes e nem mesmo Junmyeon podia estar consigo, Jongdae parecia ser a única pessoa que sobrara para receber seus cuidados de pai. Seu lobo sentia falta dos filhotes e mesmo que Minseok tenha sido mimado por si durante esse tempo inteiro, sabia que não ia durar muito. Logo o filho teria que voltar para o seu marido e Ryeowook estaria sozinho de novo, quando Junmyeon estava ocupado demais com os afazeres de líder e quase nunca aparecia pela parte do dia em casa. Antes até tinha a presença de Heechul para acalmar seu coração carente, mas agora, não sobrava ninguém além daquele garoto alfa que parecia mais carente que si mesmo.

Sentiu quando Heechul se aproximou, mas não virou o rosto para fita-lo. Apenas deixou que o outro começasse a ajuda-lo a guardar todas as coisas que tinha comprado, em silêncio. Não achava que devia dizer alguma coisa e Heechul parecia desconfortável por estar perto de si. Acabou soltando um suspiro, odiava o jeito que o Kim se comportava, como se tivesse cometido um crime.

— Não precisa agir assim. — se escutou dizer. — Não é culpa sua que precise daquele alfa. — ainda não conseguia pronunciar o nome do marido sem sentir um amargor na língua.

Heechul engoliu em seco, quieto, olhou para baixo. Estava segurando uma lata de ervilha, as pontas dos dedos se pressionando com firmeza sobre a superfície da mesma. Não esperava realmente que o mais baixo fosse entrar nesse assunto assim, tão repente. Mas conhecia Ryeowook bem demais para saber que não era nenhum pouco sutil.

— Eu só achei que poderia estar incomodado. — acabou respondendo, o que era verdade.

— E estou. — confirmou com um suspiro, também não era bom em mentir. — Mas você está bem e é isso que importa. — tentou soar despreocupado, mas quando virou o rosto para o outro ômega e sorriu, Heechul viu o modo forçado que aquilo soava além de um rastro de dor nos seus olhos castanhos.

Balançou a cabeça em negação, quase rindo da bagunça que era a vida dos dois. Em um momento, estavam juntos, se dando bem e cada um apostando todas as suas fichas no outro, porque aquela coisa que crescia em seus peitos era bonita demais para ser desperdiçada assim. Só que agora, estavam separados de novo, vivendo um ao lado do outro sem realmente viver enquanto aquela coisa bonita de antes se desmanchava aos poucos no peito um do outro e aquilo doía mil vezes mais do que a marca o machucando quando se recusava a ficar perto de Leeteuk. Não queria que tudo aquilo terminasse assim, só porque estava saudável com a presença do alfa. Ainda queria mais daquilo que tinha com Ryeowook, ainda queria-o o suficiente para continuar o desejando quando Leeteuk o tinha nos braços. Em seus delírios, quando era tocado pelo alfa, procurava o cheiro de café do ômega.

Soltou a lata de ervilha e virou-se para fitar o ômega, segurou-lhe o rosto e o beijou. Forte e cheio de saudade. Empurrou-o em direção a bancada, escutou quando as costas dele bateram ali e o trouxe para mais perto, mordendo o seu lábio, as mãos descendo para a sua cintura, procurando o lugar familiar para se encaixar. Ryeowook não ofereceu resistência, como pensara, apenas abriu a boca, pedindo por mais do outro ômega. Estava com mais saudade que ele. Eram três meses sem receber nenhum tipo de toque.

Segurou o seu quadril e trouxe para perto, queria ser tocado, queria atenção, por isso não hesitou em enfiar as mãos por baixo da camisa do Kim e tocar-lhe a pele ao mesmo tempo que o sentia segurar-lhe as coxas e suspende-lo sobre a bancada, de modo que ficasse sentado ali. O encaixou entre suas pernas e suspirou contra os lábios dele ao sentir seus quadris se chocarem. Mordeu lábio de Heechul, afim de evitar o próprio gemido de satisfação ao tê-lo tão perto, mas depois estava gemendo, baixinho quando o ômega deslizou os lábios por sua bochecha e desceu por seu pescoço. Mordendo e sugando a pele clara.

As mãos desceram novamente para o quadril do ômega, exploraram pelo cós do short que usava e foram o abaixando devagar, a ponta das unhas arranhando a pele fazendo Heechul arfar contra o seu pescoço, afundar a ponta dos dedos em sua pele, afim de mais contato. E Ryeowook queria mais contato, precisava de mais do calor de Heechul, do cheiro dele em sua pele, por isso se viu enlaçando a cintura do ômega com suas pernas, trazendo-o para perto o suficiente para enfiar o rosto na curva do seu pescoço e procurar mais do seu cheiro. Porém, o cheiro único que esperava de bergamota não estava sozinho, mascarando-o, forte e impiedoso, o cheiro do alfa Kim Jungsoo se sobressaia. O cardamomo que fazia parte de tudo que o ex-marido era, preenchia Ryeowook de nojo.

As pernas soltaram-se dele e de repente, as mãos que o aproximavam, estavam o afastando. O ômega Kim o fitou, confuso, os olhos ainda rajados de vermelho, tornando o castanho mais profundo. Tentou se aproximar novamente, os lábios procurando a boca do outro, mas Ryeowook virou o rosto, fazendo os lábios dele chocarem-se contra sua bochecha.

— É melhor pararmos por aqui. — se escutou dizer quando Heechul se afastou para olhá-lo, a testa franzida e as mãos ainda firmes em sua cintura.

— Wookie. — chamou, voltou a se aproximar, deixou beijos em seu pescoço, mas o ômega não conseguia evitar se retesiar em desconforto toda vez que recebia um toque.

O cheiro de Leeteuk em sua pele estava estragando tudo.

— Pare, por favor. — pediu, baixo, envergonhado por estar rejeitando o ômega daquela maneira.

Mas de repente, o cardamomo de Leeteuk estava fazendo-o perder qualquer vontade de continuar com aquilo. Parecia como nos velhos tempos, que não eram tão velhos assim, quando Leeteuk vinha até si com o cheiro de Heechul no corpo, antes de se casarem. Quando não passava do amante. Não queria isso de novo, estava cansado de ser o último da fila, de ser o erro de percurso, de ser o segundo... Porque mesmo que Leeteuk nunca tivesse dito, ele tinha certeza sobre como não era mais de uma paixão momentânea, um interesse que o alfa teve por um momento e que acabou se estendendo, por sorte, depois que engravidou. E agora, parecia estar se repetindo, com Heechul no papel principal.

— Wookie, o que está dizendo?  — perguntou, confuso demais para alguém que já sabia o que acontecia.

— Eu não posso fazer isso. — respondeu, voltando a afasta-lo, empurrando o mais longe que conseguia. — Não quando o cheiro dele está em você. — explicou e o Kim deu um passo para trás, como se tivesse levado um tapa na cara.

A boca se abriu levemente e o cabelo caiu em frente aos olhos, escondendo toda a incredulidade de Ryeowook. Levou as mãos até o cós do seu short e os puxou para cima, colocando no lugar. Queria dizer alguma que não acrescentasse mais peso ao que o ômega dizia, mas não conseguia encontrar nada. Na ponta da sua língua só havia afirmações para aquilo, afinal, era o que a marca fazia: deixava claro para qualquer outro que Kim Heechul pertencia à Kim Jungsoo para o resto da vida.

— Eu sinto muito. — acabou falando, se curvou e então lhe deu as costas, mordendo o lábio machucado o suficiente para sentir dor, pois quando cruzou a porta da cozinha, escutou o soluço baixo de Kim Ryeowook e não pode evitar a lágrima que desceu por seu rosto.

***

Kyungsoo acariciou a barriga de cinco meses em frente ao espelho, a camisa preta estava levantada e a calça jeans que usava não era do seu tamanho e isso era facilmente visto pelo modo como estava largo nas coxas e o comprimento passava dos seus pés, tendo sempre que obriga-lo a dobrar a bainha. Mas era a única que fechava na sua cintura, então por isso, o garoto ômega tentava não reclamar assim como não o fazia sobre os alimentos que Jongdae sempre trazia para si. Eram alimentos saudáveis, dizia, faziam bem para o bebê. E por isso, mesmo que o gosto daquelas vitaminas não fosse o melhor, sempre acabava tomando.

Mas o seu bebê... o pequeno ser que havia no seu ventre, estava crescendo saudável. Ficava mais forte a cada dia, conseguia saber disso pela força dos chutes que sentia. Havia começado a mexer algumas semanas atrás e não parara mais. Costumava ficar mais agitado à noite, como se pressentisse a chegada de Jongdae e se acalmava quando o alfa tocava-lhe a barriga, nos carinhos simples que Kyungsoo tentava evitar não se sentir desconfortável. O ômega entendia muito bem porque seu bebê parecia precisar da presença do alfa, era justamente porque Jongdae era um alfa. O cheiro acalmava o seu lobo e parecia fazer o mesmo com o seu filhote.

Escutou o barulho da porta sendo aberta e abaixou o tecido da camisa, voltando a cobrir sua barriga e então foi até a porta do seu quarto, abriu a porta e olhou dali, como se realmente pudesse ver quem havia entrado, mas ao sentir o cheiro almíscar de Jongdae, logo estava saindo do quarto e indo até a sala. Fazia algum tempo que não via o outro Kim, uma semana mais ou menos quando este disse que teria que viajar até a China para resolver alguns problemas com seus documentos, mas já haviam passado três semanas que não tinha notícia alguma.

— Kyungsoo. — escutou seu nome ser chamado, parou no corredor, encostou-se na parede perto da entrada da sala e respirou fundo.

De olhos fechados, saboreou o cheiro do outro, era intenso o bastante para que seu lobo se remexesse inquieto. Não podia negar que estava passando por mudanças sejam corporais ou hormonais, o médico que o visitava a cada fim de mês fazia questão de deixar isso bem claro para si. Contudo, mesmo que quisesse negar, o Kim mais novo era um ômega grávido cheio de hormônios e não conseguia evitar não achar o cheiro de Jongdae atrativo o suficiente. Sabia que isso era culpa do seu lobo, que estava louco por um pouco de atenção de algum alfa, proteção ou qualquer outra coisa instintiva que Kyungsoo fazia questão de ignorar. Mas havia momentos como aqueles, quando o ômega segurava a camisa de Jongdae perto do seu nariz ou quando parava no corredor e contava até cinco, respirando fundo o suficiente para que seu lobo soubesse que havia um alfa ali consigo.

Era só uma pena que não fosse Chanyeol.

— Kyungsoo? — Jongdae tentou mais um pouco, a voz soando aguda de preocupação no final fazendo o ômega abrir os olhos e desencostar-se da parede.

Deu um passo em direção a entrada da sala e parou ali, o alfa estava lhe sorrindo. Havia uma mala preta perto do sofá e várias sacolas sobre o mesmo.

— Venha. — aproximou-se de si, segurou sua mão e o trouxe para perto. — Eu trouxe presentes.

Ele foi. Os olhos curiosos para todas as coisas que estavam ali. O alfa o guiou até um dos sofás, o fez sentar ali e simplesmente começou a falar. Contou sobre a viagem, como perdeu o voo, como ficou preso numa burocracia chata, como tentou ligar mas o sinal era péssimo, como decidiu ficar mais alguns dias para comprar coisas para o bebê. Kyungsoo segurou as roupinhas que o Kim lhe mostrava, os pequenos brinquedos que iam desde pelúcias a carrinhos, encarou os sapatinhos no centro da sua palma, pensando em como seu bebê era pequeno. Achou as mamadeiras fofas, principalmente as que tinham formas de animais e sorriu quando Jongdae lhe mostrou os livros sobre bebês que comprara.

— Isso é muita coisa. — falou ainda olhando impressionado para tudo a sua volta.

— Você vai precisar. — disse simplesmente, enfiando as mãos nos bolsos do seu jeans.

O ômega piscou, olhou de cima abaixo para o alfa. O cabelo estava mais curto e ele parecia mais magro, havia um corte superficial no seu pescoço e o jeito como ele se mexia indicava que estava com o quadril machucado, mas Kyungsoo não entendia porque Jongdae estaria machucado quando havia ido apenas resolver burocracias dos seus documentos e além do mais, Jongdae havia comprado tantas coisas para si. Inúmeros presentes para seu bebê além de roupas do seu tamanho, poderia parar de usar os jeans enormes e as camisas três vezes o seu tamanho, que sempre o deixavam um tanto deprimido por saber que estava gordo demais para a sessão normal de homens. Era provável que o alfa tivesse se machucado ao andar por ai com tantas sacolas, não era incomum, de qualquer maneira.

— Está com fome? — resolveu perguntar. — Eu fiz o almoço algum tempo atrás, posso esquentar, se quiser? — se ofereceu.

— Não precisa. Eu comi algo no caminho para cá. — sorriu mais um pouco, Kyungsoo gostava do modo como Jongdae parecia sincero quando sorria. — Vou apenas tomar banho.

O ômega assentiu e viu o alfa lhe dar as costas, pegar sua mala e ir em direção ao seu quarto, no fim do corredor. Soltou um suspiro olhando para todas as coisas que Jongdae havia trazido para si, mas logo estava meio sorrindo. Afinal, ficava feliz com o modo como Jongdae parecia ter adotado o seu filho como sobrinho. Ficou de pé e começou a guardar os objetos nas sacolas, seria mais fácil de levar para o quarto. Começou a recolher as mesmas e depois de três viagens, já as tinha todas sobre sua cama.

Não sabia onde guardaria aquilo tudo. Então se limitou a apenas amontoa-las perto da cama, mas antes que pudesse sentar-se na mesma, decidiu fazer uma última coisa. Abaixou-se e puxou debaixo da cama uma caixa de sapato. Segurou-a e só então sentou na beira da cama, com a caixa sobre as coxas. Abriu-a e suspirou olhando para aquele amontoado de cartas que costumava escrever para os familiares. Haviam tantas. Endereçadas a Minseok, Junmeyon, Ryeowook, Heechul e até mesmo a Leeteuk. Haviam outras tantas para Chanyeol. E em todas ele pedia desculpas pelo modo como tinha desaparecido, o jeito como correu para longe daquelas pessoas como se cada uma não significasse nada para si.

Ele se sentia muito egoísta por ter feito as coisas daquele modo, mas na ditadura que estava vivendo, regrado a aquele quarto e com um casamento marcado, não foi capaz de pensar em outra maneira de se salvar, salvar o seu filhote. Claro, que podia ter simplesmente ficado e casado com Baekhyun, já que sabia que o alfa nunca o tocaria ou faria coisa alguma contra seu consentimento, pois eles bem podiam ter trocados beijos na adolescência mas isso serviu apenas para mostrar que eles não combinavam dessa maneira. No entanto, ainda seria cruel com Chanyeol, que nunca poderia assumir o filhote que carregava como seu. Teria que acompanhar o crescimento da criança, fingindo que era seu sobrinho e herdeiro de Baekhyun. Eles três estariam presos eternamente naquilo.

Baekhyun merecia casar com alguém que realmente gostasse de si. Alguém que quisesse ser o ômega principal da alcateia. E Kyungsoo merecia ficar com Chanyeol, os dois mereciam ser pais juntos, criar seu filhote e ser uma família, sem precisar se esconder. Contudo, as coisas haviam saído do controle e Kyungsoo não conseguia parar de pensar em como aquilo tudo era culpa sua.

Sua eterna culpa.

Então estava chorando sobre a caixa aberta, as lágrimas descendo e alcançando o papel dos envelopes das cartas. Não conteve os soluços altos, seu peito doía tanto. Era tanta saudade que sentia da sua família e de Chanyeol. Precisava sentir o cheiro de cada um para se sentir seguro de novo, precisava que Chanyeol aparecesse e o envolvesse em seus braços novamente. Não queria criar seu filho sozinho, não queria morar naquela casa com Jongdae para sempre, não era para nada daquilo estar acontecendo. Ele só queria privar o seu filho de uma vida de mentiras, não queria que ninguém o odiasse. Só queria proteger o pequeno ser em sua barriga.

Seus ombros estavam tremendo quando a porta do quarto se abriu. Ergueu a cabeça para observar Jongdae com o cabelo molhado e olhos preocupados, a boca estava semiaberta, pronto para perguntar o que havia de errado, mas as palavras haviam sumido quando notara o modo como Kyungsoo chorava sobre as cartas que escrevera para a sua família. Seus ombros abaixaram-se, a culpa assoprava contra a sua nuca e lhe sussurrava coisas improprias, fazendo arrepios ruins viajarem por seu corpo. Deu um passo para dentro do quarto e foi até o mais baixo, que tinha voltado a abaixar a cabeça e chorar baixinho. Sentou-se ao seu lado e passou um braço por seu ombro e o trouxe para perto.

Não acreditava que estava mesmo consolando Kim Kyungsoo, quando era o verdadeiro culpado naquilo tudo, mas Jongdae não conseguia ser indiferente. Não era um monstro sem coração apenas porque tinha um objetivo para cumprir, mas, talvez, tivesse se comportado como um quando mentiu para Kyungsoo e o manteve ali, embaixo do seu teto, preso em todas as palavras que dizia.

— V-você acha que eles vão me per-perdoar algum dia? — o ômega perguntou, fungando e tentando limpar as lágrimas com a costa da mão direita.

— Claro que vão. — assegurou, porque era verdade.

Era difícil saber se iriam perdoar a si depois que soubessem o que tinha feito, o modo como havia mentido. Tinha quase certeza que nenhum olharia mais na sua cara, todos virariam as costas para si, só que mesmo que isso lhe causasse dor, não conseguia não continuar, pois não era como se fosse uma escolha. Era algo que Jongdae tinha que fazer. Precisava conseguir justiça em nome daqueles que tanto amava, precisava marcar com ferro e fogo na pele de Byun Siwon e todos os Byun’s um pouco de dor, para que eles soubessem tudo o que havia passado até chegar ali. Para que soubessem como era injusto que eles tivessem tido uma família, um lar, enquanto ele havia sido obrigado a viver aquela vida, aguentar tanta coisa nas costas.

Sim! Todos os Byun’s deviam pagar, até mesmo Donghae, que não estava lá. E para que isso começasse a acontecer, precisava de Kyungsoo, simplesmente porque precisava de Kim Junmyeon e para ter controle sobre esse último, usaria Kyungsoo. O alfa só não sabia como podia fazer isso sem parecer o vilão da história, quando não era isso. Não era sobre maldade. Era sobre justiça. Mas desde que voltara da China, já não sabia mais a que justiça aquilo se aplicava. O que tinha descoberto lá estava estragando seus planos, embaçando tudo que acreditava e o deixando maluco.

— P-pode me levar lá? — o Kim perguntou, tirando Jongdae dos seus pensamentos.

Retirou o braço do ombro dele e o fitou, surpreso demais para conseguir disfarçar.

— O que?

— Me leve lá. — repetiu com mais vontade, a ponta do nariz vermelho e os olhos no mesmo tom, afastou a caixa de si até que ficasse na ponta da cama. — Quem sabe se meus pais me verem, eles possam entender porque tive que me esconder e Junmyeon sempre foi tão carinhoso... — piscou as lágrimas dos olhos, limpou-as rápido do canto dos olhos. Não queria chorar de novo. — Por favor. — pediu.

— Kyungsoo, eu não acho que seja uma boa ideia. — começou a dizer. — Está grávido, não pode passar por emoções muito fortes. Não lembra-se do que o médico disse? — perguntou, o tom de repente indo para o irritado.

— Você não entende. — tentou argumentar. — É minha família, eu preciso vê-los.

— Não. — disse simplesmente.

Kyungsoo o fitou, sem entender porque ele estava sendo tão firme naquela decisão. Franzio a testa, confuso e ficou de pé. Estava achando estranho demais aquilo. Entendia que o alfa queria protege-lo, mas não achava que devesse fazer isso quando só queria ir até sua família.

— Jongdae, o que está dizendo? — soltou confuso o suficiente. — Eles são minha família, você tem que me levar lá. Eu tenho certeza que não vão me fazer mau.

— Eu disse não. — repetiu, forte e claro, fazendo um arrepio ruim cruzar o seu corpo de ômega.

Se viu ficando de pé, dando um passo para longe do Kim, havia um começo de amargor na ponta da sua língua, que estava começando a se alastrar por seu paladar. Piscou, ainda confuso, para o alfa e esperou que qualquer explicação viesse além daquele misero não, contudo, não houve mais nada que não fosse Jongdae sentado na beira da sua cama, com os lábios comprimidos em desagrado e os olhos cheios de uma irritação que nunca estivera ali durante esses 5 meses em que conviviam. Mas mesmo que os sinais que via no alfa não fossem nada amistosos, não foi capaz de se forçar a parar com aquele assunto, o garoto rejeitado que vivia dentro de si, precisava continuar insistindo.

— Tudo bem. — segurou as mãos uma na outra e torceu os dedos ali, nervoso. — Eu posso ir sozinho. — falou, ainda podia sentir os olhos úmidos da choradeira de antes, mas não tinha coragem de erguer a mão para limpar os resquícios das lágrimas. Havia a terrível impressão em si de que qualquer movimento em falso, podia fazer Jongdae atacar.

O alfa ergueu a sobrancelha, um tanto surpreso pela teimosia do outro. Quis achar graça, mas se conteve no último segundo. Era melhor que Kyungsoo não pensasse que estava maluco, certo?

— Está ficando surdo ou o que? Eu disse não. — ditou mais uma vez, fazendo os olhos do menor o fitarem arregalados. Não havia economizado na rispidez.

O ômega engoliu em seco. O seu lobo se agitava, totalmente apavorado com a forma como Jongdae estava deixando sua natureza alfa forte naquele quarto, afim de intimida-lo. O que está fazendo? Deu mais um passo para trás, sabia que se desse mais dois encontraria a porta contra suas costas e então poderia girar a maçaneta e sair dali. Não queria, mas estava assustado.

— Jongdae, e-eu... — mordeu a língua quando percebeu que tinha gaguejado numa forma de se recriminar, não queria que o Kim visse o quanto estava ficando apavorado. — Eu não entendo.  — conseguiu dizer, o tremor se destacando no final da sentença.

O Kim suspirou, parecia mais do que irritado agora. Olhou para baixo, dando uma folga a Kyungsoo que aproveitou para dar mais um passo para trás. Ficou de pé e voltou a fitar o ômega, andou até si e o segurou pelos ombros fazendo com que o mesmo se encolhesse no aperto. Não queria ser machucado por algo que nem ao menos entendia.

— Você não pode sair, Kyungsoo. — Jongdae ditou. — Preciso que fique aqui até... não sei. Até a hora certa chegar. — então aquele tom estava ali de novo, meio irritado meio firme demais para ser só um pedido.

— Do que está falando? — mexeu-se no aperto tentando se soltar, mas o alfa apenas intensificou o aperto.

— Você não pode sair. — olhou-o nos olhos, deixando que o prata brilhasse minimamente para si.

Sempre havia achado a cor do lobo de Jongdae esquisita. Era a que mais se destacava entre os Kim’s, durante os treinamentos e Minseok sempre podia encontra-lo facilmente por causa disso, contudo Kyungsoo achava-a chamativa demais. O cinza mesclado com branco que lhe conferia o tom de prateado que cobria seus pelos e subia para suas iríses, deixava Kyungsoo inquieto. Era diferente demais dos tons de marrom que estava costumado a ver nos Kim’s, fazia com que ficasse com um pé atrás com Jongdae. Só que, no momento em que o alfa o ajudou a fugir de sua própria família, Kyungsoo acreditara que estava apenas se equivocando, no entanto, agora, quando se deparava com o jeito como o alfa lhe segurava pelos ombros, entendia que estivera certo o tempo todo.

Kim Jongdae não era um Kim.

Engoliu em seco, não estava sentindo seus pés tocando o chão. Tudo estava girando a sua volta depois que esta terrível verdade o tinha acertado. Estava preso. Aquele tempo inteiro em que Jongdae pagava de bom moço para si, estava apenas o prendendo perto de si, o afastando cada vez mais da sua família, mentindo e mentindo e mentindo. Sentiu vontade de chorar, de gritar, de espernear toda a sua burrice em ter caído em um golpe tão baixo como aquele. Mas então, lembrou-se que não podia fazer isso. O peso no seu ventre o impedia de tentar uma fuga. Tinha que pensar no seu bebê. Inconscientemente as mãos foram pra lá, pararam sobre a protuberância e ficaram ali como se realmente pudesse proteger o filhote caso Jongdae tivesse um ataque de fúria. O alfa olhou pra baixo, avaliou o movimento e quase riu, achava engraçado como Kyungsoo parecia frágil demais com aquela barriga de 5 meses.

— Eu não vou machucar você. — decretou. — Não sou um monstro.

Mas Kyungsoo não conseguia acreditar. Alguma coisa em si continuava lhe mostrando, para cada vez que piscava, flashes das marcas que o alfa deixara no corpo de Minseok, muito tempo atrás, quando ambos namoravam. As pontas roxas de marcas na clavícula, que escapava pela gola da camisa quando Minseok estava distraído. Os detalhes das unhas quebradas, o jeito como o ômega estava mancando naquele dia seguinte à sua primeira vez. Só um monstro poderia ter machucado seu gêmeo daquele modo. Mas não disse coisa alguma diante do olhar do outro, se limitou a morder a parte interna da bochecha, forte o suficiente para fazer com que o seu lado humano tomasse controle da situação, afinal, precisava ser racional. Sentiu quando Jongdae soltou seus ombros e se afastou, apenas um passo para trás.

— Não pode voltar. — o alfa disse. — Sua família não quer saber de ti.

Olhou para baixo e deu mais um passo para trás, agora podia sentir a porta as suas costas. Deslizou as mãos por ali atrás da maçaneta e Jongdae percebeu, mas não mexeu um músculo de reprovação para aquilo, parecia querer saber até onde o ômega iria.

— Está mentindo. — o confrontou, mas quando saiu da sua boca parecia mais uma constatação do que afronta por si só.

E dessa vez, Jongdae acabou esboçando um sorriso. No canto da boca, pequeno, debochado e fazendo Kyungsoo ter mais certeza do que acabara de sair da sua boca. Então seus dedos estavam em volta da maçaneta, se fecharam firmes ali. Só precisava rodar e correr para bem longe, mas ainda se atreveu a olhar no rosto do alfa, deveria haver alguma explicação para aquele comportamento. Só que os passos pesados de Jongdae em sua direção, não lhe deixaram brecha para procurar, pois no minuto seguinte estava girando a maçaneta e correndo porta a fora.

No entanto, não importava quão rápido o Kim pudesse ser, a natureza alfa de Jongdae sempre estaria um passo à frente, porque logo a mão dele estava no tecido da sua camisa e o seu corpo estava sendo jogado contra a parede do corredor. Gemeu de dor ao sentir sua cabeça bater contra a parede, a visão turvou por um momento e suas pernas amoleceram. Jongdae o jogou novamente contra a parede, um tanto mais forte e sua cabeça bateu mais uma vez ali. Tentou empurrar o alfa, os braços se mexiam debilmente, estava tonto demais para conferir força ao ato, então tudo que fazia era segurar no tecido da camisa do outro, puxa-lo, como se assim pudesse trazer alguma razão para sua mente.

Meu bebê, era tudo que pensava quando sentiu seu corpo ser largado. As pernas falharam e ele foi de encontro ao chão, tonto e enjoado. Não se conteve quando a ânsia veio, despejou ali mesmo, quase aos pés do alfa, tudo o que havia comido naquela manhã. Jongdae se afastou, encostou as costas na parede oposta e passou os dedos por entre o cabelo, nervoso demais para esconder. Que droga ele havia feito? Esse não era o combinado! Não podia tocar em Kyungsoo, era esse o trato que tinha consigo mesmo. Até precisar dele, não podia toca-lo, ainda mais no estado em que o ômega estava. Suspirou.

Estava ficando maluco. Admitia que seus nervos não estavam nos melhores momentos desde que chegara da China. As noticiais que havia recebido lá estava fritando seu cérebro como se assim pudesse ultrapassar a carne e se fincar em sua alma, afim de mostrar que era o certo. Mas Jongdae não conseguia acreditar que era realmente o certo, era surreal, era loucura demais, era mentira demais para que pudesse suportar calado. Estava ficando maluco.

Fitou o modo como Kyungsoo estava no chão, quase de quatro. Parecia tonto demais para essa posição. A poça de vomito se espelhava ao seu lado. Desencostou-se e foi até ele, segurou os seus braços e tentou fazê-lo ficar de pé.

— Me deixe em paz. — Kyungsoo rosnou para si, mas Jongdae ignorou.

Pegou o colo, o garoto estava tonto demais para resistir. Havia um certo cuidado nos seus atos quando deixou o seu corpo sobre a cama. Afastou a caixa que o ômega usava para guardar suas cartas nunca enviadas, viu a mesma emborcar sobre o chão, as cartas se derramando pelo piso pareciam lhe acusar. Tentou não olhar para aquilo. Se limitou a puxar a coberta e cobrir o corpo de Kyungsoo.

— Eu sinto muito. — foi capaz de dizer diante do olhar amedrontado do menor. — As coisas não deveriam ter tomado essa proporção. — não parecia com um pedido de desculpas, Jongdae sabia. Era mais uma lamentação do que qualquer outra coisa e era justamente isso que o enfurecia.

Ele se chamava Kim Jongdae, droga! Não deveria estar se prestando a esse papel. Ele só deveria continuar o que havia começado, ir até o final e... E o que? Estava tudo arruinado, de qualquer forma. Byun Siwon havia estragado tudo mais uma vez. Mordeu o lábio e deu as costas a Kyungsoo, saiu batendo a porta forte. Trancou-a e ainda ficou muito tempo com a testa encostada ali, antes de ir até o seu quarto e quebrar tudo. Jogou a mobília contra o chão, contra a parede. Rasgou papeis. Documentos falsos. Gritou, como um maluco. Socou a parede até que suas mãos sangrassem, enquanto Kyungsoo se encolhia contra o colchão da sua cama, chorando baixinho no quarto ao lado.

Em algum momento no meio da noite, o alfa abriu a porta do quarto do Kim e o fez ficar de pé. O segurou pela mão e simplesmente o arrastou para fora do apartamento. Kyungsoo, deixou. Estava com medo demais de revidar e terminar machucado, ainda mais pelo modo que Jongdae parecia descontrolado. A forma como os dedos dele estava tremendo quando segurou a chave do carro e o jeito como errou o encaixe e socou o painel do carro, só mostrava a Kyungsoo que o alfa estava fora de si. Mas então, o motor estava sendo ligado e o lugar que o ômega chamava de casa estava ficando para trás. Quieto e um tanto encolhido contra o banco do passageiro, ao lado de Jongdae, o Kim não conseguia parar de imaginar situações horríveis. Todas pareciam culminar para uma única coisa: Kim Jongdae o mataria.

— Eu preciso ir até um lugar. — de repente, o alfa começou a falar. — Não posso te deixar sozinho e muito menos te levar junto, ainda mais nesse estado. — fitou-o de canto de olho. Kyungsoo sabia que estava falando da sua gravidez. — Mas há alguém que pode tomar conta de ti até que eu volte.

— O-o que... o que está dizendo? — arranjou coragem para perguntar, havia um tremor na boca do seu estômago.

— Não é um lugar ruim se você seguir as regras, sabe. — ignorou a pergunta do ômega. — Na verdade, a Alcateia Park em si não oferece risco algum, se você seguir as regras deles. — Kyungsoo mordeu o lábio, nervoso com o que escutara.

O alfa o estava levando para o território dos Park’s, se deu conta. Olhou de esguelha através da janela, lembrava-se muito bem como chegar até os Park’s. Ficava logo depois do território Kim, o que significava que Jongdae teria que passar pela estrada que ligava Park’s e Kim’s, a estrada que dava direto em Incheon. Mordeu o lábio mais uma vez, não podia se deixar levar assim em direção àquele lugar. Conhecia a fama dos Park’s e principalmente, do seu líder: Hyukjae. Precisava fazer algo. Desviou os olhos para a sua barriga. Não estava tão grande assim, mas era o seu bebê ali. Não queria colocar a vida do filho em risco. No entanto, logo eles estariam na estrada e Kyungsoo estaria a um passo de casa.

Olhou, mais uma vez, pela janela e avistou o começo da estrada. Eles estavam perto. Fitou Jongdae, que parecia distraído com os próprios pensamentos ao comprimir os lábios daquela maneira. Engoliu em seco. Deveria fazer alguma coisa, não? Que tipo de pessoa ele seria se não tentasse escapar? Colocou as mãos sobre a barriga, pedindo perdão silenciosamente pela imprudência que ia cometer. Então respirou fundo e contou mentalmente até dez.

Um. Eles alcançaram a estrada. Jongdae estava distraído. Dois. Seus olhos vasculharam o painel do carro, atrás de algo que pudesse usar para distrair o alfa e fugir. Três. Olhou para a porta, não estava travada. Então podia apenas abri-la e pular do carro em movimento. Quatro. Era arriscado demais, se caísse do jeito errado poderia perder o bebê e isso Kyungsoo não ia suportar. Cinco. A estrada estava movimentada, alguns carros voltando para Seul. Seis. Cogitou mais uma vez abrir a porta e pular do carro em movimento, mas se fizesse isso assumia o risco de ser atropelado. Era arriscado demais. Sete. Fitou os pedais do carro. Se pisasse no freio e abrisse a porta, então poderia correr para fora sem precisar rolar no asfalto, certo? Oito. Ia ter que ser ágil se fizesse isso, Jongdae era um alfa bem mais forte, podia muito bem segura-lo pela camisa e trazê-lo para dentro do carro novamente. Nove. Estava com medo. Tanto medo. Dez. Não havia escolha. Precisa ao menos tentar.

Por isso, fez a coisa mais louca de todos os tempos. Agarrou a nuca do alfa e empurrou o seu rosto contra o painel do carro ao mesmo tempo que esticava o seu pé em direção a um dos pedais. Jongdae ficou desnorteado pelo ataque repentino, não ofereceu resistência quando o ômega girou o volante. Mas Kyungsoo pisou no pedal errado, pois o carro em vez de parar, tinha acelerado. O alfa piscou os olhos, havia algo viscoso descendo por seu nariz. Empurrou Kyungsoo para o lado enquanto os pneus faziam barulho contra o asfalto e o carro girava loucamente no meio da estrada. O ômega estapeou o alfa, tentando se soltar do aperto em seu braço, mas Jongdae não podia solta-lo mesmo que tudo estivesse um tanto embaçado. Kyungsoo gritou quando seus olhos encontraram o clarão vindo na direção deles e Jongdae não esboçou som algum, apenas escutou quando o ônibus certou a lateral do carro, atingindo em cheio lado em que Kyungsoo estava.

O som de metal sendo amassado, vidro quebrando...

Não pensou duas vezes ao puxar Kyungsoo para o seu colo. Abraçou-o tão forte que o ômega assustou-se, mas o carro estava rolando para fora da estrada para que ele pudesse prestar atenção em qualquer outra coisa. Parecia que tudo estava acontecendo em câmera lenta. O vidro quebrado sendo jogado contra seu rosto e cortando-lhe a pele, tudo lá fora virando uma confusão de cores que variavam do preto ao verde. A lataria amassando aos seus lados, fazendo seu corpo ficar cada vez mais junto do Kim. O som de gritos e o barulho nauseante de algo se quebrando.

E então... tudo parou.

Haviam luzes piscando. O som de choros. E logo seu corpo estava sendo levado dali. Tudo era colorido demais para que conseguir discernir o que estava acontecendo. Na sua boca havia o gosto de ferro e sal e no seu ventre algo se agitava, chutando, chutando e chutando. Tentou mexer os braços até lá, mas eles pareciam molengas demais e tudo ainda estava rodando diante dos seus olhos para que conseguisse pedir ajuda. Seu corpo estava leve, não havia realmente dor. Sentia-se sonolento e bem poderia dormir, mas havia algo batendo na sua bochecha, o impedindo de fazer isso. Virou a cabeça pro lado e viu mais luzes. Não conseguia formar imagens ainda então só via tudo flutuando diante de si, como num sonho psicodélico.

O que aconteceu? — quis perguntar, mas não sabia como juntar as palavras para fazer sentido e quando tentou falar algo, sua língua embolou-se na boca fazendo com que só barulhos desconexos ganhassem vida. Sentiu-se ser levantado, falaram algo para si e logo tudo estava ficando escuro. E no escuro, acreditou que estava seguro.

Quando abriu os olhos. A primeira coisa que percebeu foi o modo como era capaz de sentir cheiros diversos. Piscou os olhos. Abriu e fechou a boca, afim de tirar aquele gosto amargo da boca, coisa que não aconteceu. Mexeu os dedos por baixo da coberta e já estava se preparando para sentar quando notou o gesso na perna esquerda. A perna inteira estava engessada. Franzio a testa, tentando lembrar-se do que havia acontecido, mas sua mente era um branco total. Não havia nada. Nenhuma explicação. Olhou em volta, tentou girar o corpo, mas seu tronco doía e por isso decidiu ficar deitado do jeito que estava. Ergueu as mãos e tateou por baixo do lençol, afim de saber o que havia acontecido consigo e encontrou faixas de atadura envolta do seu corpo, ergueu um pouco o lençol e espiou por baixo. Costelas quebradas, percebeu. Contudo, o que o fez arregalar os olhos foi a protuberância na sua barriga. O que era aquilo? Tocou ali, levemente com a ponta dos dedos, assustado demais. Estava gordo ou aquilo era...? Por Dal! Não! Isso não estava acontecendo!

A porta se abriu no mesmo momento e logo estava erguendo os olhos para a pessoa que entrava.

— Você acordou. — o homem saudou com um sorriso. Usava um jaleco e os óculos em seu rosto o faziam parecer amigável, como um pai. — Como se sente? — aproximou-se da cama.

Percebeu que o homem tinha cheiro de lavanda, mas não do jeito natural que esperava. Era o perfume lavanda, do jeito que humanos costumavam usar. Por isso, soube que ele era um beta, ou pelo menos quis acreditar nisso.

— Onde estou? O que aconteceu? — disparou rapidamente, se mexendo nervoso sobre o colchão da cama de hospital.

O homem piscou antes de se aproximar mais um pouco.

— Está no Hospital Nacional de Seul. — respondeu calmamente. — Seu carro bateu na rodovia que ia para Incheon contra um ônibus que vinha para Seul. Você e seu amigo foram os mais machucados, principalmente seu amigo. Ele ficou preso entre as ferragens e os bombeiros demoraram horas até conseguir tirá-lo. Mas você teve mais sorte, principalmente pelo bebê que está carregando.

— O que? — essas informações não estavam se conectando no seu cérebro. Não conseguia se lembrar do acidente e muito menos da pessoa que o médico estava dizendo. Amigo? Que amigo? — O que está dizendo? Um bebê? — então a voz estava alcançando aquela oitava de nervosismo misturado com histeria, as mãos fora para a cabeça e lá encontrou um curativo na lateral da cabeça.

— Seu bebê. — continuou na mesma voz calma. — Pode confiar em mim para isso. Eu sou um lobo também, então sua gravidez está segura dos humanos. Nenhum deles tem acesso ao seu quarto nem o do seu amigo sem minha autorização. Estou cuidando dos seus casos de perto. — sorriu. — Então, será que poderia dizer o seu nome? — perguntou, tirou do bolso uma caneta e um bloquinho, pronto para anotar o nome do paciente.

Ele piscou. A boca se abriu, mas as palavras certas não saíram. Havia mesmo um bebê em sua barriga. Seu amigo estava em outro quarto em um estado grave e ele... ele não conseguia encontrar seu nome na memória. Olhou para o médico, as lágrimas começaram a se formar nos cantos dos seus olhos e seu estômago se embrulhou em medo.

— Eu não sei. — confessou e o médico arregalou os olhos.

***

Baekhyun cruzou os braços ao lado de Lu Han, ao mesmo tempo que o ômega abria sobre sua mesa o mapa do território Kim. Os dedos com unhas bem aparadas, pintadas de azul bem escuro, seguravam um marcador vermelho, pintando os melhores lugares para estabelecer seus lobos. Baekhyun observava tudo quieto. Havia aprendido nesses três meses de convivência, que era sempre melhor deixar Lu Han falar tudo antes de dizer qualquer coisa, porque por vezes o pensamento do ômega parecia-lhe confuso e por isso tinha que pesar as palavras antes de refutar qualquer coisa.

— E você simplesmente acha que Kim Junmyeon vai deixa-lo ficar com isso? — perguntou quando o ômega terminou de demarcar o território, o marcador vermelho ainda na mão, o corpo meio inclinado sobre o papel.

Lu Han virou o rosto de lado e o fitou de canto de olho.

— Estou contando com isso como presente de casamento. — revelou e Baekhyun quase riu.

— O plano é ingênuo. — acabou falando. — O Kim precisa disso para plantar suas hortaliças. Não tem como ele simplesmente ceder só porque seu irmão é atraente. — Lu Han arrumou sua postura e suspirou.

— Mesmo assim, esse é o melhor local. — argumentou mais um pouco. — Teremos água — indicou o rio não muito longe. — e poderemos, nós mesmos, plantar algo. E ainda estaremos escondidos com toda essa relva. Ninguém nos procuraria em meio aos Kim’s.

O Byun entendia muito bem o que Lu Han queria dizer com aquilo tudo. Seja lá quem fosse aquele grupo de humanos que os atacaram três meses antes, pareciam estar mais do que interessados nos Lu’s. Então era preciso esconde-los e mesmo que Baekhyun tenha oferecido proteção, o líder Lu estava determinado a conseguir uma aliança com Kim Junmeyon. Baekhyun não contestava isso, porque sabia que quanto mais aliados os Lu’s tivessem, melhor se sairiam se fossem atacados novamente. No entanto, o que Lu Han parecia querer de Kim Junmeyon, estava um tanto fora do alcance. O tanto de terra que ele circulava no mapa, faria falta aos Kim’s uma hora ou outra, ainda mais agora que tinha tomado conhecimento do modo como Junmyeon estava ruim das finanças.

— Tudo bem. — sabia que o ômega não desistiria daquela ideia tão cedo. — Só não vá com muita sede ao pote. Kim Junmyeon tem uma alcateia inteira para proteger também. — eles tinham conversado algum tempo atrás sobre como andavam as coisas entre os Kim’s. 

Baekhyun não tinha tantas informações porque não estava falando exatamente com Junmyeon desde quando deixara Minseok para atrás. O que recebia, eram apenas os relatórios mensais de Ryeowook, quando ligava perguntando se Minseok precisava de alguma coisa, porque ele bem podia ter ido embora, mas não queria deixar o ômega desamparado ou qualquer coisa do gênero. Já bastava o boato que se espalhara por sua própria Alcateia, sobre o modo como o Kim o havia rejeitado. Na verdade, os seus lobos estavam cochichando por suas costas. Dizendo coisas um tanto humilhantes ao seu respeito.

— Sei o que estou fazendo, Baekhyun. — Lu Han soltou o marcador sobre a mesa e cruzou os braços, pensativo.

O ômega tinha que concordar com o que o Byun dizia, mas também não era capaz de abandonar aquela ideia ainda. Até o momento em que encontrasse com Kim Junmeyon, não ousaria descartar essa ideia. E se por acaso não desse certo, ele sempre podia levar o seu clã para outro lugar seguro, pois em todos esses tempos se escondendo, Lu Han havia aprendido a sempre ter um plano B. Fitou o mapa aberto sobre a mesa mais um pouco, os pensamentos já não estavam mais no seu plano de ter um lugar seguro para criar Yixing, estava vagando para três meses antes quando ele e Baekhyun apertaram as mãos e se deixaram trabalhar juntos. Era um tanto surreal acreditar que estava trabalhando com um alfa quando tinha fugido deles a vida inteira, no entanto, tinha que admitir que Baekhyun não era de todo ruim. Havia sempre se mostrado um alfa educado e não o tinha, em nenhum momento, o olhado daquela maneira desejosa que alfas costumavam fazer quando avistavam um ômega de sangue puro. Na verdade, nem mesmo seu pai, Siwon, tinha o feito. Mas com esse último, Lu Han sabia que era apenas a Marca atuando, anulando qualquer outro cheiro e deixando o do seu parceiro atraente o suficiente, só que mesmo com essa constatação, o ômega tinha plena certeza que Siwon nunca tentaria nada consigo. Ainda mais depois da conversa que tinham tido algum tempo atrás.

O Byun o chamara para uma conversa privada em seu escritório, na sua empresa. E quando chegara lá, fora bombardeado pela visão de um alfa se ajoelhando diante de si, agradecendo por uma coisa que Lu Han não havia feito. Mas conhecia aquela história, quando o alfa lhe contou o que estava acontecendo. Seus antepassados, durante a Grande Guerra que destruiu Lu’s e Lee’s, haviam salvado a mãe de Siwon. Os Lee’s haviam a sequestrado, afim de obrigar os Byun’s a pararem de lutar e ceder o seu território, mas alguns Lu’s não concordaram com o sequestro de uma pessoa inocente e se organizaram afim de ajudá-la a voltar para casa. A intenção era boa, Lu Han sabia, mas fora aí que mais da metade do seu clã foi destruído, pois os Lee’s se voltaram contra seus lobos e dizimaram-os em uma noite, enquanto todos dormiam.

Esse era um dos motivos que fazia Lu Han odiar os Byun’s com todas as suas forças, pois mesmo com o retorno da Senhora Byun, o líder da época não foi capaz de agradecer ou intervim em favor dos Lu’s quando estes foram encurralados por outros clãs e tiveram os lobos remanescentes usados como escravos. Porém, Siwon parecia disposto a reparar esse erro e Lu Han aceitou a sua tentativa, mesmo que acreditasse que todo aquele sangue não dava para limpar nem mesmo com cem pedidos de desculpas.

Voltou a olhar para Baekhyun. Se parecia com pai, mesmo que a aparência fosse herança da sua mãe Park, mas os trejeitos, aquela forma de se portar, tudo isso pertencia a Siwon e Lu Han tentou ficar tranquilo com isso, porque se Siwon se mostrara confiável, então Baekhyun devia ser mil vezes mais. Desviou os olhos para o relógio sobre a mesa e comprimiu os lábios. Eles estavam atrasados para o almoço.

— É melhor irmos. — falou despertando Baekhyun dos seus pensamentos.

O alfa piscou e assentiu, inconscientemente. Lu Han havia percebido que ele fazia muito isso nesses três meses: viajava em seus pensamentos para algum lugar muito longe e tinha dificuldade para voltar. Por vezes, o tinha visto realizar tarefas automaticamente, além de vê-lo constantemente dormindo tarde. Sabia desse último porque Yixing costumava acordar na madrugada para ir ao banheiro e o ômega o levava até lá, o que o obrigava a passar em frente ao escritório de Baekhyun e avistar a luz que escapava por baixo da porta. Não sabia ao certo se Baekhyun sempre tinha sido assim ou se isso era culpa da forma como ele e Minseok pareciam ter se separado. Talvez, se sentisse culpado? Havia pensado em perguntar a Donghae sobre isso, sobre o que tinha acontecido para que Minseok não voltasse mais para casa, mas desistiu disso quando sentiu que estava sendo um tanto invasivo demais.

Segurou nas bordas do mapa e começou a dobra-lo para guardar, mas Baekhyun interrompeu.

— Deixe que eu faça isso. — disse. — Vá almoçar antes que Yixing brigue comigo. — meio riu e Lu Han acompanhou, não era como se fosse mentira.

O seu filhote podia ser muito ameaçador, mesmo com covinhas nas bochechas. Mas o episódio a qual Baekhyun se referia aconteceu um mês atrás quando Lu Han decidiu que não almoçaria para poder terminar alguns trabalhos e ter a noite livre e Baekhyun decidiu ajuda-lo, no entanto meia hora depois do almoço ter começado, Yixing bateu à porta, furioso e acusando o Byun de estar roubando seu papai.

Lu Han deixou que ele continuasse o trabalho e se afastou indo em direção a saída. Saiu, devagar, meio pensando se não deveria esperar o alfa, mas acabou desistindo da ideia depois que girou a maçaneta da porta. Por outro lado, depois que o ômega sairá, Baekhyun se deixou cair na sua cadeira. Apoiou os cotovelos nas coxas e descansou o rosto nas mãos, fechou os olhos e respirou fundo. Estava cansado e isso parecia se intensificar com a proximidade do seu cio. Faltavam apenas um mês para que os dias de agonia começassem e ele não tinha ideia de como passaria por aquilo, afinal não é como se ele pudesse passar esse período com um ômega qualquer quando estava casado, mas ao mesmo tempo que cogitava isso, percebia que só daria mais voz aos boatos que tanto corriam pela Alcateia Byun.  

Primeiro começara com palavras bobas aqui e ali, saídas das bocas dos seus lobos afim de tentar explicar o sumiço de Minseok. Mas quando a ausência do ômega se fazia cada vez mais duradoura, os boatos iam ganhando novas versões até que chegaram ao que irritava tanto Baekhyun: Kim Minseok havia o rejeitado. Isso era uma ofensa e tanto para o seu lobo além de afetar sua relação com a alcateia, quando os mais velhos o olhavam como se fosse um fracassado por não ser capaz de segurar um único ômega ao seu lado. Contudo, tentava não pensar nisso. O problema acontecia justamente nesse momento, porque quanto mais fugia disso, mais encontrava pedaços daquele Kim na sua vida.

Soltou um suspiro e abriu os olhos. Não podia ficar perdendo tempo pensando nisso. Ficou de pé e terminou o trabalho que Lu Han começara ao dobrar o mapa. Guardou-o e só então saiu do escritório. Sabia que não encontraria o seu pai no almoço, porque o mesmo estava trabalhando por dois na empresa, já que Baekhyun precisava tratar de algumas questões com Lu Han naquele dia e nos outros antes desse. Também sabia que não encontraria Chanyeol. O irmão ainda estava vivendo seu momento de solidão na Alcateia Byun chinesa, quem sabe ainda pensando que o irmão casara com Kyungsoo. Se ele ao menos lesse as cartas que Baekhyun mandou, tudo já teria tomado um rumo diferente. Mas Chanyeol podia ser tão dramático quanto o pai ômega quando queria.

Avistou a figura gorducha de Lee Donghae sentado à esquerda do lugar vago na cabeceira, onde seu pai alfa costumava ficar, enquanto que à direita Lu Han se destacava com Yixing na cadeira à esquerda do Lu, sentado sobre vários volumes grossos de livros, pois Yixing não gostava da cadeirinha de criança. Costumava dizer que já era grande demais para aquilo e por isso preferia sentar ao lado pai, em uma cadeira normal e comer com talheres, em vez da colherzinha com desenho de ovelhas. Baekhyun achava graça de toda aquela autossuficiência, porque sabia que logo teria uma criança em casa quando Donghae já estava em seu sétimo mês de gestação. Mais três meses para que sua irmãzinha chegasse. Encontrou Henry ali também, sentado ao lado do seu pai ômega. Olhando para baixo enquanto ajeitava o guardanapo sobre as coxas. Mas quando entrou no cômodo, quase abriu a boca em surpresa, porque ali, sentado depois de Henry, estava Minseok. Os olhos estavam em seu alimento e o mesmo nem ao menos olhou em sua direção. Mordeu o lábio.

Notou que Jongin não estava ali, mas resolveu não se preocupar. O ômega, irmão mais novo de Lu Han, parecia estar tendo dificuldade de se adaptar a Alcateia Byun quando o irmão o havia proibido de sair para trabalhar e por isso, havia perdido o emprego como professor de dança. Baekhyun não achava que Jongin devesse dar tanta importância assim a isso, mas também entendia como era perder sua liberdade tão rápido.

Não tinha sido avisado que o Kim voltaria. Ninguém lhe disse coisa alguma e para o bem da verdade, depois de três meses, Baekhyun achara que não fosse vê-lo nunca mais. No entanto, ali estava ele. Sentado corretamente, comendo silenciosamente, como se nunca tivesse saído daquele território. Engoliu em seco e sentou-se no lugar vago depois de Yixing, bem na frente do — ainda — marido. Começou a se servir enquanto Minseok fazia questão de ignorar seus olhares. Queria perguntar alguma coisa, quem sabe até mesmo erguer a mão e tocar no seu ombro para saber se o loiro estava mesmo ali. Em algum momento, Henry começou a falar sobre um assunto qualquer e os outros ômegas acompanharam, mas Baekhyun não era capaz de fazê-lo porque estava ocupado demais observando todos os detalhes do loiro.

Avaliou os seus trejeitos. Procurou sinais da luta de ambos há três meses, mas todos os machucados pareciam ter se curado e nem mesmo haviam cicatrizes evidentes. Isso era bom, pensou ao mesmo tempo que mastigava a sua comida. Viu Minseok terminar primeiro e levantar-se muito rápido para então sair dali, quase pôde escutar o som das suas passadas apressadas na escada, louco para se esconder no próprio quarto. Não fez qualquer movimento em direção ao ômega, afinal não parecia que o mesmo queria falar consigo. Então, se manteve onde estava. Comeu sua comida sob o olhar atento de Lee Donghae e Lu Henry ao passo que Lu Han se distraia com o filho, que insistia em querer usar a faca para cortar a carne, do jeito que tinha visto na tevê.

O Lee quase pediu ao filho para ir atrás do Kim. Quase. Porque logo Baekhyun estava terminando o almoço e se pondo de pé, saindo dali e subindo a escada com uma calma que irritava o ômega. Ele mesmo havia recebido Minseok e não dirá nada ao filho, porque já imaginava que este fosse se isolar se soubesse. Na verdade, sabia muito bem que os dois iam se isolar afim de não encontrar um com outro e era justamente isso que complicava o seu plano de ter netos, pois antes, costumava apostar isso em Chanyeol já que este namorava com Kyungsoo, mas depois que o garoto sumiu e Chanyeol se isolou, o Lee estava apostando suas fichas em Baekhyun e Minseok. Todavia, para dá certo, eles precisavam pelo menos olhar na cara um do outro.

Bufou e pensou em se levantar e ir até lá, mas logo a mão de Henry estava segurando o seu braço e o impedindo.

— Não se preocupe tanto com eles. — o Lu falou. — São dois teimosos, mas se merecem. — e riu contagiando Donghae, pois ao menos alguém apoiava aqueles dois como casal.

Lu Han ainda o fitou e sorriu, para garantir mais peso ao que Henry dizia e Donghae se ocupou em terminar seu almoço. Ao mesmo tempo que Byun Baekhyun parava em frente a porta do quarto de Minseok e pensava se deveria bater ou não. E se batesse, o que deveria dizer? Era um fato que eles dois nunca tiveram muito assunto e depois daquilo tudo o que eles não tinham havia sumido de vez, atravessado uma dimensão paralela para nunca mais voltar. Ergueu a mão e quase bateu na porta, acabou suspirando e dando um passo para trás. Era melhor manter distância, no fim das contas. Então deu as costas para a porta e começou a andar, contudo antes que pudesse chegar até o escritório, escutou a porta ser aberta:

— Baekhyun.

Era Minseok.

O alfa reconheceria o timbre da sua voz em qualquer lugar e essa constatação o surpreendeu tanto que virou-se para fita-lo. Uma parte sua ainda não acreditava que o Kim havia mesmo voltado para seu território. O Kim deu um passo para fora do quarto, mas a mão continuava segurando a maçaneta, Baekhyun notou, como se precisasse de apoio para continuar. E o Byun esperou.

— Bom, é... eu, voltei. — falou baixinho, a voz saia envergonhada e ele nem mesmo olhava em seus olhos.

O cabelo estava no mesmo tom de loiro que lembrava e ele parecia ter engordado um pouco, porque as bochechas pareciam mais macias. Estava bonito. Mas se manteve calado diante do que escutava, não era capaz de encontrar qualquer coisa melhor do que o silêncio para aquele momento. Viu Minseok morder o lábio, nervoso demais, soltar a maçaneta apenas para entrelaçar os dedos em frente ao corpo, abrir a boca e continuar na mesma voz baixinha e envergonhada:

— Eu sinto muito. — quase se curvou e Baekhyun esperou que o fizesse, mas o ômega era orgulhoso demais para isso.

— Pelo que? — resolveu dizer algo, um tanto confuso, apesar de saber pelo que se desculpava.

Não achava que Minseok tinha feito algo de errado, afinal, quem tinha começado aquilo tudo entre eles fora o alfa.

— Ah, você sabe... — não sabia, mas achava adorável a forma como o ômega podia corar. Deu um passo em sua direção, sem realmente perceber. — Aquilo tudo que aconteceu, foi mais culpa minha do que sua. — então os olhos estavam, finalmente, em si. Continuavam da mesma forma que lembrava, ansiosos e inteligentes. — O braço quebrado... — suspirou. — eu fiz aquilo.  

— Você é maluco. — falou subitamente, fazendo o ômega arregalar os olhos na sua direção, mas logo depois estava escondendo a vergonha com um sorriso simples.

— Eu não queria perder.

Baekhyun também não queria, pois sabia muito bem o que estava em jogo. Só que, no fim, acabara deixando que Minseok ganhasse, porque ficara assustado demais com o que este havia feito consigo mesmo.

— E não perdeu. — concordou e viu o outro morder o lábio inferior, novamente.

— Aquilo não foi ganhar, sabe disso tão bem quanto eu. — não se conteve, acabou sorrindo da forma irritada e injustiçada que o loiro se comportava, as bochechas coradas haviam até mesmo desaparecido e os braços tinham se cruzado. — Fez aquilo só porquê sou um ômega?

— Fiz aquilo porque você quebrou o seu braço. — devolveu. — Foi assustador. — confessou de uma vez e o loiro piscou, surpreso.

— Ah. — soltou simplesmente, os olhos se desviando para baixo, só agora entendendo o que de fato havia acontecido naquela noite.

Agora se sentia um idiota.

O ômega sempre acreditara que o marido havia deixado que ganhasse por causa da sua classe, mas agora, percebia que Baekhyun só desistira de tudo porque se preocupara com seu estado além de ter perdido o foco ao ficar surpreso com seu ato. Sentiu o rosto voltar a queimar e os braços se descruzaram, não sabia como reagir diante daquilo e Baekhyun parecia na mesma, pois nem ao menos olhava na sua direção. Então, mordeu o lábio e ficou em silêncio, olhando para baixo e se sentindo idiota. Parecia que tinha 16 anos novamente, tentando puxar assunto com o recém-chegado na sua Alcateia, Kim Jongdae.  

— Baekhyun. — escutaram chamar e ambos olharam em direção a voz. Era Kangin, vindo em direção ao alfa, apressado e com um celular em mãos. — Aquela pessoa, está ligando, senhor.  — ele teve a decência de manter a discrição quando percebeu Minseok perto do líder.

Baekhyun arrumou a postura e pegou o celular da mão do beta, tapou-o com a mão e lançou um olhar para o marido, ainda parado, os fitando, tentando entender porquê da pressa do beta.

— Bom, eu... eu preciso ir agora. — falou debilmente e o loiro assentiu. — Mas, a gente se ver.

— É, a gente se ver. — concordou.

— É bom tê-lo de volta, senhor Kim. — Kangin estendeu a mão e Minseok a apertou e sorriu, agradecido.

Depois o beta começou a se afastar com Baekhyun no seu encalço, o celular na orelha ao mesmo tempo que começava a falar em inglês. O loiro, tombou a cabeça pro lado, achando que a pessoa que estava ligando deveria ser muito importante para que Kangin tivesse vindo tão rápido e para Baekhyun precisar se afastar com igual pressa, mas resolveu não pensar nisso, pois logo estava entrando novamente no seu quarto. Trancando a porta e se encostando na porta, se sentia tão confuso. E essa confusão aumentou com o passar dos dias.

No começo era estranho mesmo, o Kim sabia muito bem disso. Mas para todas as vezes que tinha que trabalhar com Baekhyun, se pegava pensando em como tudo parecia mil vezes mais difícil quando estavam na presença um do outro. Não podia deixar de notar o desconforto que o alfa sentia com a sua presença ao mesmo tempo que não podia se deixar afetar, notava também como Baekhyun parecia melhor na presença de Lu Han. Os dois até mesmo riam juntos de piadas que Minseok não entendia, mas gostava de atribuir isso ao modo como ambos eram líderes. No entanto, secretamente, pedia para que Junmyeon conseguisse uma brecha na sua vida agitada de líder para receber o Lu antes que Baekhyun acabasse oferecendo qualquer que fosse a coisa que Lu Han queria, porque o ômega já tinha notado que o líder Lu queria alguma coisa do seu irmão.

Por vezes, quando não estava revisando contratos e conferindo as quantidades suprimentos no estoque, antes de distribuir para a alcateia, Minseok passava algum tempo passeando pelo território, conhecendo o local da forma que não tinha feito no começo. Os lobos eram educados consigo e mesmo que alguns anciãos tenham o chamado de aproveitador e mentiroso, Minseok decidiu não levar para o lado pessoal. Henry costumava acompanha-lo nesses passeios, principalmente quando deveriam averiguar a situação de todos, incluindo os Lu’s, saber do que precisavam. E se tivesse sorte, podia passar a tarde inteira na companhia de Donghae, que estava mais grávido do que nunca com sua barriga de quase 8 meses.

Era uma menina, o Lee lhe contara. Sua primeira garotinha estaria vindo ao mundo daqui dois meses e isso só não o deixou mais feliz do que saber que Chanyeol estava — finalmente — voltando para casa. Minseok entendia porque o mais novo dos Byun’s tinha preferido ir embora no dia seu casamento. Aquele dia havia sido uma bagunça muito grande e até o momento em que descobriram a fuga do seu irmão, todos acreditavam que era Kyungsoo que casaria com Baekhyun. Contudo, o que o Kim não entendia era porque Chanyeol demorara tanto para voltar. Será que ninguém havia lhe contado que fora ele o sortudo a casar com seu irmão? Parecia estranho cogitar isso, mas quando perguntou de Donghae, soube que o quanto ser teimoso fazia parte do DNA dos Byun’s, pois pelo que lhe parecia, Chanyeol ficara tão chateado com o fato do irmão casar-se com Kyungsoo, que ignorou a carta e ligações de todos os seus familiares durante aqueles meses inteiros.

— Vai ser ótimo ter a família reunida. — Donghae sorriu e Minseok acompanhou mesmo que estivesse pensando em Kyungsoo.

Fazia algum tempo que as buscas por ele tinham se tornado mais raras. Não haviam pistas para guia-los e todos os lugares possíveis que o loiro conseguia pensar onde o ômega poderia se esconder, não haviam dado em nada. No momento, a única pessoa que ainda continuava tentando junto de Junmeyon, era Sehun. Com todos os seus aparatos tecnológicos, o Oh parecia estar fazendo isso mais pelo Kim do que por Kyungsoo ser seu primo, mas Minseok tentava não pensar nisso, porque estava confuso demais para conseguir prestar atenção nos sentimentos de Oh Sehun.

Baekhyun tinha lhe dado aval para procurar o gêmeo usando qualquer meio dos Byun’s que achasse necessário, mas o loiro não sabia por onde começar. E para cada dia que passava, sentia que o caminho que levava até Kim Kyungsoo se tornava cada vez mais apagado, o que implicava que em algum momento desapareceria. Quando contou isso ao pai Ryeowook, recebeu alguns afagos na cabeça e palavras reconfortantes, mas eles dois sabiam que era verdade. Se esses meses se tornassem anos, talvez, nunca mais vissem Kyungsoo novamente e isso doía bem mais do que um braço quebrado. Era pensando nisso que Minseok se deixava afogar em trabalho, em coisas do dia a dia, na rotina de ser um Ômega Principal.

Jantares de apresentação entre alcateias ou jantares de negócios com humanos arrogantes, que não entendiam a importância do seu casamento com Baekhyun. Horas extras no escritório de design, na empresa, ou no seu pequeno refujo, em seu quarto, sobre a cama, onde gostava de gastar suas madrugadas desenhando. Criando conceitos de decoração, criando formas em seu computador ou só rabiscando imagens aleatórias. Por vezes, se pegava desenhando Kyungsoo e Chanyeol, os dois ainda adolescentes e risonhos, acreditando que ficariam juntos para sempre. Também se atrevia a desenhar os detalhes de Oh Sehun que mais gostava, as costas largas e curvatura do pescoço onde já tinha escondido seu rosto por vezes demais. Jongdae ganhara um desenho, do mesmo modo que Baekhyun. Havia desenhado esse primeiro com os braços cruzados e os olhos pintados em prata, exatamente do jeito que o tinha visto na primeira vez.

Mas Baekhyun... Baekhyun era uma confusão abstrata para si. Não era capaz de desenha-lo com os detalhes certos, o que saia de si eram apenas pedaços. Pequenos pedaços daquele lobo irritante. A forma das mãos, a pintinha sobre o lábio superior enquanto sorria. O cabelo em frente aos olhos. A forma do seu dorso nu brilhando sob a luz do abajur, umas das lembranças do seu cio que não tinha tanto orgulho assim, porém não conseguia evitar dar vida à elas. Costumava esconder esses desenhos embaixo do seu colchão, da forma que um adolescente faria, mas não conseguia evitar sentir vergonha deles ao mesmo tempo que não tinha coragem de rasgar tudo e jogar fora, preferia deixá-los por perto, da mesma forma que parecia acontecer em seu relacionamento com o Byun.

Eles se toleravam, Minseok sabia muito bem disso. Era tudo regrado a tolerância. E não era como se ele achasse ruim, pois aquilo era melhor que não olhar na cara mas era pior de outras mil formas porque os tornava superficiais. Percebia isso pelo modo como ômegas da Alcateia Byun costumavam se insinuar para Baekhyun, assim como alfas faziam consigo do mesmo jeito que lobos de outras alcateias. Outros costumavam sorrir forçadamente antes de sussurrar por suas costas como eles dois não combinavam em nada. Minseok não se impedia de concordar silenciosamente. Contudo, ele e Baekhyun não tinham casado para combinar, haviam casado porque era preferível estragar suas vidas em vez de estragar a vida de pessoas mais inocentes.

Só que para que vez que o ômega se via concordando com isso, não podia deixar de reparar em Baekhyun, avaliar sua aparência e seus trejeitos e se questionar se algum dia poderiam ter algo mais do que tolerância.

***

Junmyeon jogou, furiosos, os papeis que segurava sobre a mesa do seu escritório, a violência empregada no ato foi tanta que os papeis se dispersaram sobre a superfície e caíram no chão. Bufou, impaciente, virando de costas para aquela bagunça. Passou a mão no cabelo enquanto fechava os olhos.

Um mês! — repetia mentalmente. Faziam exatos um mês que Kim Jongdae havia desaparecido. Nenhuma ligação, nenhum bilhete, nenhuma explicação, apenas o silêncio ensurdecedor que deixava seus nervos agitados. Afinal, Jongdae era o responsável por cuidar da segurança da Alcateia enquanto Junmyeon tomava conta de todo o resto e mesmo com a ajuda de Henry, o lobo líder estava tão sobrecarregado que bem poderia ter um ataque. O estresse vinha lhe roubando noites e mais noites de sono além de algumas refeições. Sabia que tinha emagrecido assim como sabia que os problemas só tinham aumentado.

O pedido de empréstimo que havia pedido ao Conselho, havia sido negado e a carta que enviara a Alcateia Choi com um pedido para uma audiência com o líder, havia seguido o mesmo exemplo. Negado. Essa parecia ser uma palavra frequente naquele momento da sua vida. Suspirou mais um pouco, fechando as mãos em punho ao lado do seu corpo. Queria socar alguma coisa. Gritar toda a sua frustração. Liberar um pouco daquele estresse. Mas tudo que fez foi puxar o ar com força e tentar ficar calmo.

Voltaria a escrever para Choi Yifan e tentaria algo com o Banco Central humano, já que os lobos pareciam estar lhe virando as costas. E o pior disso tudo era que Junmyeon sabia muito bem porquê. A culpa pertencia àquele maldito casamento. Isso selava uma aliança que o Kim não queria e que mostrava a qualquer outro Clã como os Kim’s podiam ser tão caras de pau quanto Byun’s, só que na sua ingenuidade, achara que podia contar com o Conselho, porém, deveria ter imaginado que aqueles lobos eram tão rancorosos quanto os seus próprios, ao não esquecerem a falha que os Byun’s cometeram consigo há tantos anos. Mas aquilo havia acontecido há tanto tempo, que Junmyeon julgou que nem se lembrassem mais.

Mero engano.

O Conselho parecia se lembrar de muita coisa, até mesmo o fato de que este não tinha um ômega. “Encontre uma noiva ou um noivo, senhor Kim. Provavelmente, assim terá o que quer, se for inteligente dessa vez”.  Ser inteligente dessa vez, parecia até uma piada. Na verdade, preferia pensar que era uma piada, porque se levasse mais aquilo a sério teria um ataque cardíaco e então não haveria ninguém para tentar arrumar a enorme burrada que seu pai cometeu. Seus lobos morreriam de fome, aliás, isso estava bem perto de acontecer ser ele não conseguisse um empréstimo.

Bufou mais uma vez antes de abrir os olhos e sair do escritório. Bateu a porta com força, assustando Henry, na recepção e fazendo o ômega lhe lançar um olhar arregalado.

— Cancele todos os meus compromissos de hoje. — ditou, rapidamente, nem ao menos parando para dar maiores explicações ao secretário.

— Junmeyon. — chamou, ficando de pé ao mesmo tempo que ele saia do lugar. — Junmeyon! — mas o alfa não respondeu, apenas continuou o seu caminho e Henry bufou. — Hoje era a sua reunião com meu líder. — o Lu resmungou para ninguém em especial e tratou de pegar o telefone e avisar o outro lobo.

Enquanto isso, Junmyeon caminhava apressado em direção ao seu carro, não olhou para trás ou para os lados, só queria chegar até seu carro e sair um pouco da própria Alcateia. Merecia um pouco de ar puro, pensou. Foi por isso que pisou no acelerador logo de cara e zarpou o mais rápido que podia para longe dali. Não sabia para onde estava indo. Só queria relaxar um pouco, em um lugar silencioso e sem problemas. Terminou, parando em frente a uma cabine telefônica. O lobo líder que tinha aprendido a ser, ainda não havia desistido de tentar contatar Choi Yifan.

Saiu do carro e entrou na mesma. Catou uma moeda no seu bolso e logo estava com a linha livre para uma ligação, digitou o número residencial da Alcateia Choi e esperou ser atendido. Contudo, a ligação chamou e chamou e chamou e depois caiu na caixa postal, tentou mais uma vez. E aconteceu a mesma coisa, resolveu que tentaria uma terceira, apenas para apaziguar seu sentido de lobo líder. Não queria se sentir culpado depois por não ter tentado. E foi justamente, no último toque da terceira ligação que alguém atendeu. A voz parecia sonolenta ou só preguiçosa, sem interesse nenhum no que a outra pessoa tinha a dizer.

— Alô. — Junmyeon disse um tanto afobado. — Eu sou o Líder Kim Junmeyon, da Alcateia Kim. — se apresentou. — Enviei solicitações para uma audição uma semana atrás...

Ah. — o atendente pareceu lembrar de si. — Kim Junmeyon, certo? A resposta do senhor Choi Yifan já foi enviada, peço que verifique sua caixa de correio. — disse automaticamente, parecia estar repetindo aquilo o dia inteiro.

— Não é sobre isso que estou ligando. — soltou uma risadinha, nervoso demais para esconder. — Eu recebi a resposta.

Então por que está ligando?

— Preciso de uma audiência com Choi Yifan. É sobre algo importante. — tentou mais um pouco.

Senhor Kim, se o seu pedido foi negado antes, por que acha que vai ser aceito agora?

Junmyeon comprimiu os lábios antes de responder:

— Você não está entendo, eu realmente preciso falar com o Choi Yifan.

O senhor que não está entendo, senhor Kim. — continuou na mesma defensiva, que começava a irritar o alfa. — O senhor Choi anda ocupado demais para ter uma audiência com qualquer lobo e... — ligação foi interrompida.

— Alô? — soltou, temendo que tivesse sido cortada, mas notou que ligação ainda estava ocorrendo.

Mas parecia que o atendente estava falando com outra pessoa. Decidiu esperar.

Alô? Kim Junmeyon? — foi chamado, mas não era mais a voz do atendente que estava ali, era uma voz mais grave e mais séria. Só podia ser Choi Yifan, Junmyeon pensou.

— Sim. — quase sussurrou tamanho a sua surpresa.

Eu li suas cartas. — contou. — E mesmo que agora tenha decidido me ligar, a resposta continua sendo não. — foi direto ao ponto e o alfa sentiu o chão sumir sob seus pés.

— Mas... mas se as leu realmente, deveria dizer sim. — rebateu e o alfa teve coragem de rir do outro lado da linha. — Minha Alcateia foi aliada da sua por anos, por que está negando isso agora?

O antigo líder foi aliado da sua alcateia por tantos anos. — concertou. — Eu não estou disposto a cometer o mesmo erro.

— O que quer dizer com isso? Kim’s sempre foram responsáveis e certos em seus impostos.

Kim’s não são mais confiáveis. — falou com uma calma que inflamava os nervos de Junmeyon. — E eu sou um líder jovem no comando de uma alcateia, preciso que meus lobos confiem em mim para isso.assassino, o Kim xingou mentalmente.

— Estou fazendo o mesmo por minha Alcateia, Choi. — suspirou. — Meus lobos vão morrer de fome se eu não der um jeito...

Então, dê um jeito. — disse como se fosse simples, sem se importar em interromper a fala do outro. — Só não conte comigo para isso. Choi’s e Kim’s não são mais aliados, mas quem sabe no futuro isso não aconteça novamente, não? — parecia mais uma brincadeira do que uma sugestão. Junmyeon ficou em silêncio, não queria discutir com aquela pessoa, pois agora se arrependia de até mesmo ter ligado. — Senhor Kim, por favor, não torne a me contatar. Eu sou um homem ocupado e não posso perder tempo resolvendo os seus problemas.

— Você nem ao menos se importa com eles para tentar. — Junmyeon se escutou falar e se arrependeu no minuto seguinte, fechando os olhos bem apertados.

Do outro lado da linha Yifan riu.

Assim você me ofende. — mas ele não parecia ofendido enquanto ria daquele jeito. — Mas quer saber? A verdade, Kim, é que eu não me importo.

Junmyeon mordeu o lábio para impedir que um palavrão saísse da sua boca, limitou-se apenas a afastar o telefone da orelha e colocá-lo no gancho, encerrando a ligação sem ao menos se despedir. Foda-se, Choi Yifan, se permitiu pensar. Saiu da cabine telefônica mais irritado do que entrara. Entrou no seu carro e dirigiu para mais longe da sua Alcateia. Acabou terminando em um bar, sentado ao balcão fitava o copo vazio a sua frente. Havia bebido apenas uma dose e agora cogitava se deveria continuar ou não, resolveu que era melhor não. Não queria sofrer um acidente porque dirigiu bêbado, era melhor evitar ao menos esse problema. Saiu do bar e voltou para seu carro, ficou ainda muito tempo ali, decidindo para onde iria e se realmente iria para algum lugar.

Havia esquecido o seu celular, então não havia ninguém para perturbá-lo. Era apenas Junmyeon e seus pensamentos, o que era bom, porque pela, primeira vez em muito tempo, o alfa estava realmente sozinho. Não havia Henry ligando para falar sobre algum comprador que desistiu ou de lobos que queriam uma audiência para perguntar o porquê do racionamento. Era só silêncio. Encostou a testa no volante e ficou ali, de olhos fechados, respirando devagar e acalmando os nervos.

Ao perceber que estava mais calmo, ligou o carro e saiu dali. Ficou dirigindo a esmo, sem lugar para ir. Apenas dando voltas. Passou por todo o tipo de lugar, até que simplesmente encostou em um Parque. Tteuksom, perto do rio Han. Era uma grande extensão verde que dava as pessoas um pouco de tranquilidade. Estacionou por ali e ficou olhando pela janela, viajando em pensamentos. Era fim de tarde e tudo parecia mil vezes mais silencioso ali, mesmo que existissem crianças um tanto animadas demais brincando na grama. Colocou o braço na janela e apoiou o queixo ali.

Talvez, devesse escutar o que o Conselho lhe disse, sobre arranjar um parceiro ou parceira. Se cassasse com a pessoa certa, podia resolver todos os seus problemas. Mas quando parava para avaliar seus pretendentes, se via apenas com uma única opção viável o suficiente: a filha de Park Hyukjae.

Suspirou. Por que estava tudo sendo tão difícil, afinal?

Percebeu que estava olhando por muito tempo para o asfalto então decidiu observar outra coisa, olhou para o Parque. Existiam muitas famílias fazendo piquenique na grama e mais atrás, perto do rio, algumas barracas para quem gostava de acampar com os amigos ou familiares, quem sabe, até namorada. Mas seus olhos ficaram focados na grama, na verdade, mais precisamente, em um certo alguém. Conhecia aquele tom de cabelo, se deu conta, ao mesmo tempo que a pessoa girava na grama, com os braços abertos e rindo como uma criança. Percebeu também que havia uma criança com essa pessoa, ao seu lado, pequeno demais para ter mais de cinco anos e girava desajeitadamente. Se pegou rindo da cena enquanto via a criança cair no chão do mesmo jeito que o maior fez. Então os dois estavam rolando na grama.

Não hesitou em abrir a porta do carro e sair dali. Precisava chegar mais perto e confirmar que realmente conhecia aquela pessoa. Enfiou as mãos nos bolsos de trás e parou, olhou de baixo para o corpo do garoto deitado na grama de olhos fechados e braços abertos, meio sorrindo.

— Olá? — soltou, inseguro, sentia as palmas das mãos suando. Definitivamente, conhecia aquele garoto.

Era o ômega. O ômega com iríses violeta e cheiro de peônia. Kai.

Os olhos se abriram e nenhum som saiu de si, havia apenas a boca aberta em surpresa, escondendo o sorriso que Junmyeon acabou dando.

— Suho? — soltou ainda deitado, o cabelo castanho se espelhava pela grama, ao redor do seu rosto, fazendo-o se destacar mais ainda. Ele era realmente bonito, do jeito que lembrava.

— Kai. — devolveu e dessa vez, era o ômega que estava sorrindo.

***

Havia algo de errado.

Minseok sentia isso pela forma como não viu Baekhyun o dia inteiro e agora, no jantar, não havia o encontrado ainda. Era estranho o suficiente, porque o alfa nunca perdia a hora do jantar. Em todo aquele tempo morando com os Byun’s já tinha percebido que o jantar era uma refeição sagrada para eles, pois era o momento em que a família inteira se reunia. Até mesmo Siwon se esforçava em chegar na hora, para sentar ao lado de Donghae e comer meio sorrindo pro marido, enquanto Minseok via por baixo da mesa, seus dedos entrelaçados.

Eram um casal apaixonado, mesmo que o loiro achasse engraçado que alguém tão sério como Byun Siwon pudesse ter sido domado por alguém tão sentimental e doce como Donghae. Eles eram opostos, que se encaixavam perfeitamente.

Olhou novamente para as pessoas presentes na mesa. Lu Han com seu filhote e Jongin. Henry não tinha aparecido até o momento, deveria ter ficado preso no trabalho. Pensou em perguntar depois que meia hora passou, mas desistiu das palavras no último segundo e se contentou em terminar sua janta. E mais tarde, depois que todos terminaram, ficou para ajudar a guardar tudo, apenas porque queria distrair sua mente. Não passava das oito quando decidiu subir para seu quarto, ainda pensativo sobre o porquê de Baekhyun ter simplesmente sumido e ninguém estar falando algo. Talvez, soubessem onde estava, coisa que só o irritava porque ele não sabia, e se tinha uma coisa que irritava Minseok, era ficar curioso sobre certas coisas. Mas mesmo assim não perguntou.

Tentou dormir, mas não conseguia fechar os olhos sem se questionar o que raios tinha acontecido até que resolveu levantar e procurar alguém para perguntar sobre. Terminou batendo na porta do quarto de Lu Han, apressado demais, entrou sem ser convidado e cutucou o rosto do amigo ômega até que acordasse, coisa que culminou em susto para Lu Han, que se viu puxando a faca — que guardava debaixo do travesseiro — e apontasse para o rosto do Kim.

— Que droga, Minseok. — reclamou bocejando, a ponta da faca tocava a bochecha esquerda do loiro. — Achei que fosse um ataque. — abaixou a faca enquanto Minseok engolia em seco, havia esquecido que o ômega dormia armado desde sempre.

Ele também dormia armado. Embaixo do seu travesseiro tinha uma faca e no canto, perto do pé da sua cama havia outra faca, acoplada na madeira enquanto dentro da gaveta do seu criado mudo tinha uma pistola carregada. Era sempre bom estar preparado, você nunca sabia quando alguém viria te eliminar. Lu Han guardou sua faca embaixo do travesseiro e virou-se para voltar a dormir, do seu lado, Yixing ressonava baixinho. Minseok voltou a cutuca-lo.

— Ei. — chamou aos sussurros. — Eu preciso saber de uma coisa.

— O que? — perguntou de olhos fechados, rolando para ficar de frente pro ômega que estava agachado ao lado da sua cama.

— Onde está Baekhyun? — sussurrou mais baixo, a vergonha veio no momento em que perguntou.

Viu os olhos de Lu Han abrirem e um sorriso surgir em seus lábios, malicioso demais.

— Ele não veio jantar e eu não o vi o dia inteiro. — continuou.

— Ele está no cio. — contou e voltou a rolar para dormir.

— Lu Han. — Minseok o puxou de volta e o ômega resmungou, irritado. — Onde ele está?

— Na casinha, no fim da Alcateia. — empurrou as mãos do Kim para longe de si. — Agora, me deixe dormir.

Minseok bufou e se afastou. Fechou a porta o mais leve que conseguiu e correu dali, desceu a escada e quase tropeçou no último degrau. O coração estava aos saltos quando saiu de casa, descalço e de pijama, pisando no chão de terra batida e correndo pela noite até a casinha onde Baekhyun estaria. Não havia lua naquela noite e tudo estava escuro, se não fosse a visão noturna, que pertencia a todos os que tinham sangue de lobo, Minseok teria tropeçado em todos os lugares possíveis até, finalmente, parar em frente à casa de madeira que Baekhyun se escondia para passar o cio, sozinho.

O peito subia e descia e até o momento em que parou ali, não tinha pensado realmente no que ia fazer. Só se deixara guiar pelo instinto de ômega. Seu lobo se revirava dentro de si, querendo que ele entrasse de uma vez na casa e se oferecesse como parceiro, mas Minseok não conseguia cogitar isso sem sentir um misto de vergonha e medo dentro do peito. Nunca tinha estado tão confuso na vida. Respirou fundo mais um pouco, achando que o oxigênio podia ajudar o seus nervos a se ajustarem, coisa que não aconteceu realmente, mesmo que tenha dado um passo em direção a casinha.

Era de madeira e pequena. Julgava que não deveria ter mais do que três cômodos ou talvez dois. Um quarto e um banheiro? Talvez. Não existiam vizinhos próximos e ficava bem no finalzinho do território Byun. O Kim sabia porque deveria ser assim, alfas não-marcados tendiam a ficar um tanto descontrolados no cio e por isso, entendia que era o melhor para Baekhyun ficar longe de qualquer ômega. Mas ele estava ali, praticamente à porta da casa. Era certo que o Byun já deveria ter sentindo o seu cheiro, porque ele mesmo já sentia o cheiro do marido. Cítrico. Forte. Lembrava-lhe o cheiro de vinho, alguma coisa misturada com álcool. Totalmente diferente do cheiro de Junmeyon, que era mais suave. Ou do seu pai que sempre lhe lembrava algo adocicado, mesmo este sendo alfa.

Não percebeu que estava de olhos fechados até o momento em que deu mais um passo em direção a casa e tropeçou. Caiu e ficou por ali mesmo, o rosto vermelho de vergonha ao pensar que alguém poderia ter visto aquilo. Fechou os olhos novamente e sentiu o cheiro de Baekhyun mais um pouco enquanto que acima de si, o céu da meia-noite se erguia escuro e sem estrelas. Apenas a imensidão escura de testemunha para a confusão que Minseok era.

Se pegou lembrando do seu próprio cio, quando Baekhyun surgiu para acalmar seus hormônios, as mãos firmes na sua cintura. Em toda parte do seu corpo. Suspirou. Não podia negar que tinha sido bom, um tanto bom demais e que se não fosse aquilo, ele teria sido reduzido a um bocado de dor e tesão. E se era ruim para si, imaginava que podia ser um tanto pior para alfas. Abriu os olhos, o lábio superior preso entre os dentes. Podia fazer isso como forma de agradecimento, não? Afinal, mesmo que não quisesse, tinha uma certa dívida com Baekhyun.

Ficou de pé, limpou a terra do seu pijama e andou até a casa. Bateu à porta, antes que começasse a pensar. Não houve resposta e por isso bateu novamente, dessa vez escutou um barulho de algo se aproximando da porta e pôde sentir o cheiro de Baekhyun se intensificar. Era como se embriagar, Minseok notou. Até mesmo podia sentir a queimação no estômago e garganta, que bebidas fortes causavam. Estava ficando louco, pensou. A maçaneta mexeu e logo a porta estava aberta.

— O-oi. — gaguejou diante do alfa e naquela escuridão, Baekhyun sorriu da caixinha de surpresas que era Kim Minseok.

— O que está fazendo aqui? — não cumprimentou de volta, a voz um tanto rude servia para que o ômega desse um passo para trás, o que não aconteceu.

— Bom, eu... eu soube que está no cio e então vim... você sabe, — as mãos se embolavam em frente ao seu corpo, da forma que sempre fazia quando estava nervoso e inseguro do que dizia, Baekhyun já havia percebido esse trejeito. Os pés estavam descalços e usava pijama, parecia ter vindo direto da cama, percebeu e quis sorrir novamente. — saber se está precisando... huh... d-de alguma coisa. — o Kim pausava suas falas ocasionalmente, como que afim de lembrar das palavras certas.

— Está tudo bem. — não estava. O cio ainda não tinha chegado por completo, mas já sentia-se inquieto. Havia tomado três banhos frios naquela noite, afim de acalmar seu corpo, mas não contaria isso ao ômega e muito menos o pediria para que ficasse, porque seu cheiro acalmava seu lobo. — Pode voltar para cama. — preparou-se para fechar a porta, mas Minseok se apressou em dizer:

— Tem certeza?

— Claro. — não tinha, mas também não deixaria que o outro soubesse.

Minseok assentiu, olhando para baixo e logo depois voltando a olhar para si.

— Então, eu vou... indo. — mais pausas para demonstrar o seu desconforto.

Baekhyun assentiu e se preparou para fechar a porta, novamente. Dessa vez, o Kim não impediu. Apenas deu as costas e começou a se afastar. Passos levemente vagarosos, como se não tivesse certeza se devia mesmo ir, da mesma forma que o alfa fechava a porta lentamente. Nenhum dos dois parecia seguro do que estava fazendo. Minseok mordeu o lábio, forte, achando que a dor podia ajuda-lo a clarear os pensamentos e Baekhyun parou onde estava, a porta meio aberta, em uma batalha interna contra seu lobo, que insistia em querer Minseok. Se viu soltando a maçaneta, deixou que a porta se abrisse por si só a sua frente ao mesmo tempo que o ômega parecia ter deixado seu lobo ganhar também, porque havia dado meia volta. Estava de frente para si, os olhos brilhando no avelã mais bonito que já vira.

Dane-se, o Kim pensou antes de literalmente correr em direção ao alfa. Baekhyun o pegou, os braços se fecharam em volta do seu corpo e a porta foi fechada em um chute. Seu corpo foi de encontro a parede enquanto Baekhyun se fazia presente à sua frente, enfiando o rosto na curvatura do seu pescoço e aspirando o seu cheiro, como se fosse uma droga. Ele abraçou o alfa, os dedos correram pela pele nua do seu dorso, trilhando a linha da coluna e parando em sua nuca, acariciando ali como que acalentando-o em seus braços. Suspirou ao sentir os lábios dele deslizarem por seu pescoço, devagarinho e molhado, tão simples que fez sua respiração pesar.

— Você só deveria sair logo daqui. — ele sussurrou contra seu pescoço, a respiração quente contra sua pele, o fazendo se arrepiar inteiro.

— Está tudo bem. — decidiu o tranquilizar.

Entendia porque Baekhyun estava lhe dizendo aquilo. Alfas no cio não eram gentis. Seus lobos os dominavam por completo e nenhuma razão sobrava, tudo virava apenas instinto. Era por isso que era preferível que um alfa sem parceiro se isolasse nesse período, para não correr o risco de machucar qualquer ômega próximo ou até mesmo, marcar algum.

— Eu não vou ser gentil, Minseok. — continuou. — Posso machucar você.

Te marcar, completou mentalmente.

— Não me importo. — Baekhyun levantou o rosto do seu pescoço o fitou naquela penumbra. — Você me ajudou, — retirou suas mãos de si e segurou-as à a sua frente, como se não pudesse acreditar no que o ômega estava dizendo. — quero te ajudar também.

— Não sabe o que está dizendo. — balançou a cabeça em negação. — Por acaso já fez companhia à um alfa no cio? — Minseok desviou os olhos antes de negar.  — Então, realmente não sabe. — soltou suas mãos e deu um passo para trás, longe do ômega, dando-lhe passagem para ir embora, mas o loiro era teimoso o suficiente para dar um passo em sua direção, voltando a colar seus corpos.

— Eu não vou embora. — segredou e Baekhyun riu em incredulidade antes de segura-lo pelos ombros e empurra-lo contra a parede, mais uma vez. As mãos deslizaram por seus ombros ao passo que seus olhares se cruzavam, ficando daquele modo, porque Baekhyun gostava de observar suas expressões quando deslizou as mãos por seus braços, circundou sua cintura, o puxou para perto e o beijou.

O cheiro de Minseok era tão bom, tão terrivelmente doce, que Baekhyun não pôde se impedir de querer prova-lo em toda a sua essência. Procurou o gosto de mirtilo em seus lábios, o quis no centro da sua língua, sugou-lhe os lábios, apalpou o seu corpo até alcançar as pernas e então passar os braços por baixo delas, quebrando beijo. O ômega não ofereceu resistência ao ser pego no colo e levado dali. Se contentou em passar a ponta do nariz no pescoço do alfa, atrás de mais do cheiro dele.

Precisava de mais uma dose.

O alfa sentou-se na beira da sua cama e ajeitou Minseok sobre seu colo, uma perna de cada lado do seu corpo, apenas para que o alfa pudesse olhá-lo nos olhos, aperta-lhe as coxas sobre o tecido do pijama de algodão e depois deixar rastros de sua respiração por cada pedaço de pele que encontrava, fazendo Minseok pensar que havia um coração em cada nó de veia, porque só isso explicaria todo aquele rebuliço dentro de si, pequenas explosões de calor pelo corpo, como se fosse ele o lobo no cio. Sentiu sua camisa ser aberta, abriu os olhos para observar o modo um tanto vagaroso que Baekhyun desabotoava sua camisa. O tecido de algodão deveria protege-lo do frio daquela noite, mas agora estava o sufocando em calor. Podia até mesmo senti-lo colar em sua costa, devido ao suor e mesmo com isso, sentia que não era suficiente. Queria queimar mais.

Baekhyun beijou-lhe o pescoço, o dente raspava na pele, quase mordendo, quase sugando. Eram apenas os lábios, descendo, traçando caminhos molhados por ali. Passou pela clavícula, beijou-lhe os ombros, a ponta do nariz tocou na sua pele, os lábios voltaram a quase sugar a pele do pomo de adão. Deslizaram... era só um deslizar macio, molhado, por sua pele. Minseok olhou-o de cima, maravilhado com a forma como um alfa podia ser tão carinhoso enquanto ele se mostrava ansioso demais por algo mais profundo. Remexeu-se sobre o colo do alfa, mas teve seu quadril segurado, o impedindo de continuar.

Não, não era assim que o Byun queria. Queria sentir o seu cheiro, queria matar aquela coisa que havia dentro de si, aquela eterna ânsia que o perseguia desde o primeiro dia que colocara os olhos em Minseok. Era aquela coisa... tão profunda... tão terrivelmente forte, que o deixava louco só de imaginar qualquer outra pessoa tocando no ômega. Posse. Sabia bem o nome. Posse. Minseok era seu, sempre fora, não é? Porque depois de uma sucessão de desencontros, Dal havia o feito casar consigo. E agora, ele era definitivamente seu. Alcançou os seus mamilos com os polegares e observou a forma que Minseok abria a boca e fechava os olhos com o carinho. Aproximou-se e prendeu seu lábio inferior entre os dentes antes de começar um beijo de olhos abertos, alguma coisa em si precisava olhar para o ômega. Olhá-lo, grava-lo em todas as suas expressões antes que tudo nublasse e ele perdesse qualquer chance, porque Baekhyun não era idiota. Sabia que ele e Minseok só funcionavam durante o cio, quando seus lobos pareciam tomar conta de tudo.

Os polegares ainda estavam em seus mamilos, tocando a pele em volta do bico e depois deslizando para lá, apertando-o entre o indicador e o polegar. Puxando, escutando-o arfar contra seus lábios ao mesmo tempo que sentia-os ficando rijos com seu toque. Parou com aquilo e tirou de vez a camisa que ele usava, que estava presa na metade de dos seus braços apenas para que Minseok passasse-os envolta do seu pescoço e o trouxesse para perto outra vez, procurando sua boca como se ele estivesse no cio e não o contrário. E dessa vez, Baekhyun fechou os olhos. As mãos desceram por seu tronco, gostava do os músculos que encontrava, da forma como a pele parecia tremer sob seu toque. Baekhyun, definitivamente, gostava da forma masculina do corpo de Minseok. Desceu pelo quadril, apertou ali, trazendo-o para mais perto, procurou suas coxas e se irritou por ainda estarem cobertas pelo tecido do pijama. Apertou-as mesmo assim, com força suficiente para fazer Minseok gemer contra seus lábios.

Aquilo era terrivelmente bom, não podia negar mais. Era bom e Baekhyun se sentia ao ponto de enlouquecer. Estava na beira do precipício... Não! Estava lutando com Minseok novamente, estavam se embolando novamente, afim de saber quem ganharia dessa vez. E Baekhyun poderia entregar os louros de bom grado para o ômega, novamente. Voltou a aperta-lhe as coxas, subindo até perto da virilha, apenas porque gostava da forma como ele própria reagia ao corpo de Minseok. Era tanto autocontrole para não estragar aquele momento, que se surpreendia por ainda não ter enlouquecido, pois o cheiro do Kim nunca estivera tão forte, o que indicava que estava excitado. Tão excitado quanto ele próprio. Mas não queria sexo ainda. Deixaria isso para quando seu lobo tomasse conta dos seus sentidos, naquele momento, Baekhyun só queria sentir Minseok... do jeito que um viciado faria ao ter sua droga depois de dias de abstinência.

Voltou a subir as mãos. As pontas dos dedos exploraram os cantos do corpo do ômega ao mesmo tempo que Baekhyun quebrava o beijo e beijava-lhe a bochecha. Cada uma delas. Desceu para o pescoço ao passo que seus dedos subiam até a omoplata. Aqui ficavam suas asas, pensou divertidamente, antes de me fazer cair. Deixou um beijo na base do seu pescoço e decidiu que deveria parar, mas não parou, porque Minseok o estava fazendo deitar na cama apenas para se aconchegar sobre seu corpo.

Ele parecia saber o que se passava em sua mente, porque não tentou coisa alguma. Só encostou sua cabeça em seu peito e ficou ali enquanto Baekhyun se recusava a cair mais um pouco, os braços abertos sobre a cama, não querendo abraçar Minseok e passar uma ideia errada do que estavam fazendo, mas mesmo que não fizesse isso, sabia que já era tarde. Quis dizer a ele para se afastar, quis pedir que ficasse de pé e corresse para bem longe de si, mas quis também erguer a mão e acariciar seus cabelos, apenas para tentar amenizar um pouco do que viria mais tarde. Então se viu preso no velho impasse de dar ou se afastar um passo, só que Minseok já estava em seus braços, perto demais para que conseguisse se afastar. Era como tentar apagar o fogo com gasolina.

Mas então, Minseok estava rolando de cima de si, parando ao seu lado, de barriga para cima. E Baekhyun quase agradeceu por isso, contudo viu que não adiantava, porque o ômega estava queimando tanto quanto si próprio. O loiro se desmanchava em fogo dando a certeza de que até o fim daqueles três dias, os dois seriam cinza e então, não teria mais volta.


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