Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 35
Cena extra do capítulo VIII - Agridoce




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Jongin passou as mãos no cabelo, tentando tirar os resquícios de grama ali. Suho, que detinha Yixing no colo, de costas para si, apontava para o rio Han e falava alguma coisa. Se pegou sorrindo com a cena, porque era raro que Yixing tivesse se dado tão bem com um alfa logo de cara. O chinesinho era muito desconfiado daqueles lobos com cheiro forte, tão diferente do doce que todos os seus conhecidos tinham. Jongin não podia culpa-lo por agir assim, afinal eles tinham escolhido aquela vida de fugas justamente para fugir de alfas. Talvez estivesse codificado no DNA de Yixing a aversão por alfas. Voltou-se para o carrinho de sorvetes a sua frente e fez um pedido.

O fim de tarde havia começado há algum tempo, sabia disso pelo horário no seu relógio de pulso, mas o sol ainda estava alto, parecendo querer se demorar naquele dia no céu. Jongin agradecia por isso, porque seu prazo para ficar longe do território Byun durava até que os primeiros sinais de noite aparecessem. Era o que dizia no combinado que havia feito com seu irmão, Lu Han. O líder, que estava ocupado demais com a distribuição de suprimentos tanto para Byun’s e Lu’s, já que Baekhyun precisara se ausentar devido ao cio e Minseok — seu marido — não conseguia dar conta sozinho, Jongin havia se aproveitado disso para encher a paciência do irmão até que conseguisse um passe-livre para fora daquele lugar.

Precisava de um pouco de ar fresco. Precisava ver o mundo fora daqueles portões. Precisava parar de se esconder um pouquinho e fingir que era normal. Então, trouxera Yixing junto, para aproveitar um pouco daquela lufada de vida ao ar-livre.

— Aqui. — o homem lhe entregou o pedido.

Três casquinhas. Chocolate. Baunilha. Morango. Conferiu e só então catou o dinheiro no bolso, pagou e saiu dali. Foi em direção aos dois. Notou que era Yixing quem estava falando agora, a mãozinha de dedinhos miúdos erguidos como a de Suho estará antes, apontando para a toda a imensidão que era o rio Han. Jongin riu da expressão séria no rosto do alfa, como se o que o sobrinho dizia fosse a coisa mais impressionante do mundo. Mas Yixing estava apenas misturando as línguas, mandarim e coreano, enquanto explicava qualquer que fosse a coisa ao alfa.

— Sorvete. — resolveu interromper, ganhando a atenção do menino e do alfa.

Não achava que fosse realmente encontrar aquele homem novamente, ainda mais naquele parque. A primeira vez que tinham se visto fora tão simples e sem informações... mas Jongin não podia negar a si mesmo que havia pensado no alfa. Um pouco a cada dia, repassando as falas na sua mente, guardando os detalhes do seu rosto. Era bonito em sua memória, mas com toda certeza era mais bonito pessoalmente, mesmo que Jongin fosse mais alto que si.

— Baunilha é meu. — Suho se pronunciou e Yixing, com toda a sua educação, pegou o sorvete amarelo da mão do tio e entregou ao alfa. — Obrigado. — agradeceu e Xing sorriu, mostrando suas covinhas, o motivo pelo qual Jongin amava o sobrinho.

Tinha quase certeza que quando a adolescência chegasse para o sobrinho, este usaria as covinhas como arma secreta para conseguir qualquer coisa.

— Cuidado. — falou ao entregar o sorvete de morango para o menino.

Eles sentaram-se na grama, com Yixing no meio. E saborearam seus sorvetes, sempre com os dois adultos cuidando para que o menino não se sujasse tanto, o que não estava dando resultado já que o sorvete escorria pelo queixo deste e já havia sujado a camisa amarela que usava. Aproximou os dedos do queixo dele e limpou o excesso de morango dali.

— Você mora aqui perto? — o alfa perguntou, fazendo Jongin se assustar e sujar a si mesmo com o sorvete.

— Droga. — resmungou e Yixing riu.

— Igual eu. — o chinesinho apontou e Suho riu, do dedinho que apontava para a camisa do mais velho.

Sacudiu a camisa, meio rindo de si mesmo.

— Ah, eu moro sim. — respondeu simplesmente, só para ver se tirava os olhos do alfa de si. — Você também?

Suho negou enquanto comia mais do seu sorvete ao mesmo tempo que ajudava Yixing a comer o seu.

O território dos Byun ficava a meia hora dali. Na parte mais rica de Seul, existia um bairro inteiro para os Byun’s. Eles se escondiam a céu aberto, no lugar mais óbvio de todos, onde nenhum humano era capaz de desconfiar do seu sangue abençoado pela Lua.

Eles ficaram em silêncio. Apenas Yixing dizia qualquer coisa e depois que o sorvete acabou, Jongin decidiu tirar a camisa do sobrinho, que estava toda suja de sorvete de morango, contudo não demorou muito para que o próprio Yixing ficasse todo sujo quando o próprio Suho propôs um jogo de pega-pega e os três terminaram correndo pelo parque, rolando na grama e rindo ao vento. Jongin nunca tinha se divertido tanto quando brincava de pique-esconde com Yixing. O chinesinho sempre soltava um grito alegre quando Suho o encontrava e corria dele, de braços abertos até onde, sabia, que Jongin estava, fazendo o mais velho ser achado mais rápido e perder a brincadeira.

Eles ainda comeram mais doces, como algodão doce. Coisa que deixou Yixing encantado, porque o até aquele momento o garotinho não tinha visto um daqueles, o que rendeu até mesmo pedaços de algodão doce colados no por entre o cabelo do menino, o que obrigou Jongin a senta-lo entre suas pernas para retira-los.

— Pode soar rude, mas... — o alfa começou e Jongin levantou o olhar pra fita-lo enquanto que, sentado na grama e arrancando-as, Yixing se mantia quieto. — Yixing é seu?

Kai engoliu em seco diante da pergunta. Ele e o sobrinho não se pareciam exatamente, apenas o sangue Lu os ligava. Mas entendia porque Suho estava perguntando aquilo, o alfa tinha visto como seus lobos tinham o mesmo tom de violeta nos olhos. Talvez, estivesse se questionando sobre Jongin ter um parceiro e uma família com este?

— Ah, não desse jeito. — riu. — Ele é meu sobrinho e enquanto meu irmão está mergulhado em trabalho, achei que podia ser uma boa sair com Yixing. Você sabe, pegar ar puro...

Suho entendia. Era justamente por isso que tinha terminado ali, havia precisado fugir dos seus problemas por um momento, de todos os seus lobos.

— Sei bem. — concordou e deitou-se na grama, o céu já começava a escurecer. — Também precisei de um pouco de ar-puro. — a cabeça estava apoiada sobre as mãos. — tudo anda muito louco na minha alcateia.

— O líder anda com problemas? — não estava mais olhando para si.

— Sim. — contou, mas não tinha coragem de deixar Jongin saber que ele era o líder.

Gostava da forma como era tratado por Suho. Sem títulos. Sem todo o peso de um nome. Apenas ele, só ele e Kai e Yixing, se divertindo naquele parque.

— Não se preocupe, tenho certeza que as coisas vão se ajeitar. — então o fitou e sorriu e Suho achou que podia muito bem viver a vida inteira naquele momento, apreciando aquele sorriso e isso deve ter ficado tão evidente em seu rosto, porque logo Jongin estava desviando o olhar, as bochechas ficando rosadas.

Olhou para o céu novamente, afim de eliminar a própria queimação em suas bochechas.

— Prontinho. — Jongin deu um tapinha no topo da cabeça do sobrinho, o liberando dali. — Agora, não vá abraçar o algodão-doce novamente, certo? — ergueu o dedinho mindinho e Yixing assentiu enquanto entrelaçava o seu ali.

— Ali. — Yixing se agitou, desentrelaçando seu dedinho do de Jongin. Apontou para o céu, ficando de pé.

O ômega olhou para cima e Suho desviou o olhar para onde ele apontava.

— Baba. — disse simplesmente e logo Jongin entendeu ao que ele se referia.

O segundo pai de Yixing havia morrido há quase um ano, depois de um ataque na Alcateia do Norte, como Lu Han gostava de chamar os lobos que viviam na América do Sul. O ômega nunca saberá o que de fato acontecera para que todos tivessem que morrer daquela maneira, mas depois do ataque eles próprios haviam sofrido há quatro meses, já conseguia formar uma teoria mais consistente, mas Jongin não era capaz de compartilha-la com Yixing, que ainda era novinho demais para entender o que havia acontecido com seu papai ômega. Lu Han havia contado-lhe que agora o pai morava no céu e que por isso Yixing não podia visita-lo, ficava longe demais.

Ele morava numa estrela.

— Sim. — concordou tardiamente, enquanto recebia um olhar confuso de Suho. — Ele está lá.

Mas o alfa não perguntou coisa alguma, parecia ter entendido que era uma coisa um tanto pessoal demais e Jongin agradeceu por isso, porque não sabia como mentir sobre uma coisa dessas sem parecer muito suspeito. Não podia contar ao alfa sobre sua ascendência, isso implicava expor os Lu’s, o que estava fora de cogitação.

Viu Suho ficar de pé, esticar os braços e logo estava fazendo o mesmo, pegando Yixing no colo. O garotinho estava um tanto sonolento, pois bocejou no minuto seguinte e deitou a cabeça no ombro do tio, era a deixa para que Jongin soubesse que estava na hora de ir.

— Bom, parece que a bateria de alguém acabou. — Suho brincou e Jongin sorriu.

— Pois é. Hora de ir para casa. — eles começaram a caminhar em direção a saída do parque.

— Quer uma carona? — ofereceu, olhando para frente, sabia que se fitasse o ômega perderia a coragem.

Suho sentia-se com 16 anos novamente, era patético o suficiente.

— Não precisa. — olhou para baixo também. — Não quero te atrasar e além do mais, é pertinho daqui. — se referiu ao lugar onde estava morando, não tinha coragem de chamar de casa porque logo mudariam, tinha certeza disso.

E quando acontecesse, talvez nunca mais visse Suho.

— Não vai. Olhe, meu carro está logo ali. — apontou e olhos dele estavam tão brilhantes quando encontraram os de Jongin, que o ômega não teve forças para negar.

Assentiu e Suho sorriu enquanto se atrevia a segurar sua mão e leva-lo até o carro. Jongin, se acomodou no banco do passageiro, ao lado do motorista. Suho o ajudou com o cinto de segurança e depois a ajeitar Yixing sobre seu colo, pois o menino já dormia. Jongin cobriu o sobrinho com seu casaco, já que o menino estava sem camisa e a noite começava a esfriar. Eles ficaram a maior parte do caminho em silêncio. Algumas perguntas feitas aqui e outras ali, apenas para quebrar o desconforto. Mas quanto mais perto eles chegavam da casa de Jongin, mais o ômega bocejava.

— Parece que a sua bateria também está acabando. — Suho comentou depois de vê-lo bocejar pela quarta vez.

O ômega riu, mesmo que os cantos dos seus olhos estivessem úmidos. Olhou para baixo, conferindo Yixing e logo depois conferiu Suho, fitou o seu perfil. Guardando na sua mente sonolenta a linha do seu maxilar, o tom da sua pele e o jeito como até mesmo seus traços eram gentis. Definitivamente, não se parecia em nada com todo o monstro que Henry costumava pintar para si. Pararam em um sinal fechado e o alfa virou-se para fita-lo, notando que Jongin ainda o olhava. Acabou sorrindo e o ômega sorriu de volta, porque não conseguia se conter diante da forma como os lábios dele se curvavam. Notou como os olhos dele relampejaram em vermelho e sabia que os seus estavam tornando-se violeta também. Viu o mesmo erguer a mão e limpar alguma coisa na sua testa, ficou envergonhado por estar sujo aquele tempo inteiro, mas não conseguiu permanecer assim por muito tempo quando Suho se aproximou mais um pouco. As bochechas ficaram tão quentes que achou que seu rosto derreteria, mas não derreteu. O que derreteu foi seu coração no peito quando o alfa beijou-lhe a bochecha.

Seu coração virou uma poça de água quente e irrigou seu corpo inteiro. Podia sentir sob a pele, alcançando os fios dos cabelos, viajando por seu sistema nervoso, o transformando em apenas sensação enquanto fechava os olhos para aproveitar mais a maciez dos lábios dele contra sua pele. Aquilo estava acontecendo por que Suho era um alfa? Mas, afinal, o que estava acontecendo? Quis perguntar, mas teve seu momento roubado quando uma buzina soou, alta o suficiente para fazer Suho se afastar, apressado, ajeitar-se no seu posto de motorista e dirigir.

Jongin ainda o olhou por muito tempo, antes dele próprio se ajeitar no banco do passageiro, pensativo e um tanto atônito. No entanto, naquela noite, no escuro do quarto que dividia com Lu Han, ele tocaria a face beijada e sorriria para o nada enquanto pensava no quanto estava enlouquecendo ao se deixar levar por um alfa assim, e mesmo que pudesse prever os gritos que Lu Han daria quando soubesse, nunca poderia apagar da memória o sabor do beijo que Suho lhe deu ao deixa-lo na entrada da Alcateia Byun: agridoce.


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