Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 21
XIX - Meu ômega




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Havia alguma coisa molhada tocando-lhe a testa, disso Minseok tinha certeza, mas seus olhos estavam pesados demais para que conseguisse ou se forçasse a abri-los. Tentou pensar em algumas palavras, tentou formar uma pergunta em sua mente para poder externa-la, mas se sentia muito lento e cansado para tal feito. As letras parecendo fumaça quando tentava junta-las, por isso acabou se deixando vencer pelo seu corpo dormente.

Em seus sonhos, foi confrontado pela imagem severa do pai e depois pelos olhos chorosos de Kyungsoo. Sabia que podia ter feito mais, contudo não conseguira. Tentava explicar ao irmão em seus delírios de dor, mas para cada palavra que saia da sua boca, o gêmeo derramava uma lágrima enquanto se afastava cada vez mais do seu alcance. Chamou o irmão diversas vezes, mas Kyungsoo apenas se afastava e se afastava e se afastava como se Minseok fosse um estranho.

E Minseok se sentia um.

Alguma coisa em si gritava como tinha sido negligente com o irmão ao deixar as coisas chegarem naquele ponto. Deveria ter sido mais atencioso, deveria não ter se preocupado tanto consigo, deveria não ter se deixado levar pelo esplendor do cargo que tinha na Organização, deveria ter... não sabia, apenas queria ter dado um jeito de ter evitado tudo isso. Toda essa bagunça que estaria quando ele abrisse os olhos.

Foi por isso que quando sentiu o seu corpo menos dolorido, lutou contra a vontade de abrir os olhos e descobrir o local que estava. No entanto, não demorou muito para que a curiosidade e a impaciência tomassem conta de si. Acabou abrindo os olhos, piscando devagar e não enxergando muita coisa por causa da sua visão ruim.

Primeiro fitou o teto, podia sentir o seu corpo totalmente coberto por um lençol grosso e por isso seus pés estavam bem aquecidos. Sentia o seu corpo ainda meio dormente e sabia que se tentasse virar o seu rosto para o lado, a dor subiria por sua espinha. Por isso hesitou. Ficou quieto durante um tempo, perguntando-se se havia mais alguém no quarto, coisa que descartou logo em seguida quando não sentiu o cheiro de ninguém. No entanto, reconheceu o teto daquele lugar.

Era o teto do seu quarto. Piscou os olhos algumas vezes até que arranjou coragem para levantar um dos braços, estava dolorido como pensara. Encontrou o pulso enfaixado e suspirou, lembrava-se muito bem como conseguira aquilo e o isso o entristecia de uma forma, que simplesmente não pôde mais completar o ato. Voltou abaixar o braço, esconde-lo embaixo do lençol grosso e chorou baixinho enquanto apertava os olhos muito fechados, como se assim pudesse apagar a imagem do pai dando-lhe uma surra.

Mas isso serviu apenas para intensificar a lembrança. Os tapas estalaram em suas bochechas novamente, os rosnados do seu pai alcançaram os seus ouvidos e o gosto de sangue voltou preencher sua língua. Era a pior que já tinha acontecido consigo, porque não conseguia reconhecer na imagem daquele lobo o seu próprio pai e nem mesmo um líder.

Seu pai nunca faria algo como aquilo. Ele era compreensivo e amoroso, sabia escuta-los e nunca tinha tido uma preferência entre os três. Aquela pessoa que tomava conta dos seus pesadelos não era o seu pai, não era Kim Jungsoo. Era um estranho qualquer, não passava disso. Mas quando tentava se convencer disso, não podia evitar sentir um pouco de medo daquela pessoa.

Escutou a porta do seu quarto ser aberta e como se estivesse preso em sua lembrança, acreditou que pudesse ser o pai. Louco para continuar o que tinha começado naquele escritório e por isso puxou o lençol para cima de si, de modo que ficasse totalmente embrulhado. Limpou as lágrimas rapidamente do seu rosto, usando a costas das mãos, por baixo do lençol e se manteve alerta, com o coração aos saltos.

Podia escutar os passos se aproximando da sua cama e com o lençol cobrindo-lhe o rosto, não era possível sentir o cheiro da pessoa e saber se era alguém conhecido ou não. Os passos cessaram e Minseok imaginou que ela tinha parado em pé, em frente a cama, esperando. E ele esperou também, apenas para no segundo seguinte desejar que a pessoa não pudesse escutar o tanto que seu coração estava aos saltos de tanto pavor, pois quando a pessoa sentou na beira da sua cama e tocou-lhe a perna por sobre o lençol, Minseok tinha certeza que a pessoa podia escutar o barulho do seu sangue rugindo.

— Minnie? — reconheceu a voz, como num sonho.

Abriu a boca por baixo do lençol, o alivio inundando o seu peito e espalhando-se por seu corpo como água gelada, refrescante demais. Jogou o lençol para o lado e em um salto jogou-se sobre o irmão alfa.

— Junie. — sussurrou quando foi acolhido pelos braços do irmão, ao esconder o rosto na curva do mesmo, procurando o cheiro de grama e sal que ele sempre tinha. — Junie... — tornou a sussurrar, dessa vez a voz saindo chorosa em vez de aliviada.

Junmyeon fechou os braços em volta do corpo do loiro, um pouco apertado demais, ele sabia, mas não conseguia se impedir quando tudo que estava em seu peito era uma pesada preocupação. Havia visto com os próprios olhos o corpo do irmão ômega, desacordado sobre sua cama com Kim Jongdae, parado ao lado da mesma depois de chama-lo.

“Leeteuk lhe deu uma surra.” — Jongdae tinha contado, as palavras saindo sérias da sua boca enquanto seus braços se cruzavam, denunciando todo o seu desagrado com aquilo. Do jeito que qualquer pessoa em sã consciência faria, mas havia alguma coisa no modo como seus lábios se comprimiam que deixava claro que existia algo a mais ali.

Junmyeon sempre tinha desconfiado que Kim Jongdae escondia alguma coisa, talvez uma paixonite por seu irmão ômega pois já o tinha pegado vezes o suficiente o fitando pela aldeia além de ter respondido perguntas sobre o mesmo vezes o suficiente para se manter alerta. Não que ele achasse ruim que Jongdae pudesse ter uma queda por Minseok, era apenas que o loiro estava noivo de outro alfa e seria bom que Jongdae não alimentasse esperanças. Porém, pelo modo como as coisas se desenrolaram nos últimos dias, o Kim mais velho achava que nem mesmo Sehun, que era o noivo, devia alimentar esperanças.

— Estou aqui. — sussurrou de volta, ao deixar que o cheiro inconfundível de mirtilo acalmasse seu coração.

Era Minseok e ele estava acordado. Era Minseok, seu irmãozinho do meio. Era Minseok, o noivo do seu melhor amigo. Era Minseok, o gêmeo de Kyungsoo.

Eles ficaram algum tempo apenas abraçados, deixando que as emoções se acalmassem e todas as lembranças ruins sumissem das suas mentes. Mas mesmo quando o tempo pareceu demais naquele abraço, Minseok não conseguia abandonar o rosto do pai com olhos muito escuros de decepção sobre si. Era tudo culpa sua por que era ômega? Era tudo culpa sua por que era fraco? Era tudo culpa sua por que tinha nascido na classe mais baixa? Não, não. Isso estava errado, uma parte sua alertou. Não foi assim que a Organização tinha lhe ensinado. Não foi assim que a vida tinha lhe mostrado até agora. Quer dizer, claro que havia muito preconceito por aí, que ninguém repararia nele se fosse um ômega comum.

Minseok tinha plena consciência do modo como só era respeitado por causa do sangue que carregava, por ser filho do líder e por ser o segundo na linha de sucessão. Se fosse algo diferente disso, duvidava muito que alguém o levasse a sério. Talvez, até mesmo já estivesse marcado e casado com algum alfa ou beta da aldeia, do jeito que acontecia com outros ômegas. Já tinha presenciado isso. A maioria dos ômegas simplesmente aceitava uma marca por medo de não conseguir se proteger sozinho, como se só o fato de ser um ômega solteiro fosse um crime fatal.

Mas era a sociedade que vivia e não havia como mudar isso tão cedo. Ele só achou que dentro de casa os princípios eram diferentes, afinal o seu pai sempre tinha sido tão pacifico, tão compreensivo com temas delicados como o divórcio. Era um fato que não existia divorcio na sociedade deles, o que fazia com que casamentos arranjados além de serem infelizes — na maioria dos casos — também fossem uma eterna tortura, porque ômegas e betas fêmeas eram obrigados a procriar com o marido. Mas o seu pai tinha uma opinião sobre isso. Ele era a favor. E era justamente esse tipo de pensamento que tinha atraído Lu Han para querer fechar um acordo com ele, Minseok sabia.

Contudo, agora que pensava em tudo isso, não achava mais uma boa ideia que o Lu se envolvesse com o seu clã. Talvez, quando Junmyeon assumisse as coisas pudessem ser diferentes, porque confiava no irmão mais que tudo e sabia que Junie nunca o decepcionaria, mas agora com Leeteuk ainda sentado na cadeira de líder, não. Era melhor manter Lu Han e seu clã de ômegas bem longe. Teria que conversar sobre isso com Henry, mais tarde.

Henry...

— Junie? — chamou afastando-se do irmão levemente. — Onde está Henry?

Sentiu o corpo do irmão retesiando-se e o rosto deste torna-se uma máscara sem emoções evidentes.

— Leeteuk o mandou embora. — contou. — Ele o expulsou da aldeia.

— Não. — Minseok arfou, afastando-se mais do irmão, saindo do seu colo e ficando de pé, a mão indo em direção a boca afim esconder a sua preocupação. — Henry não teve culpa de nada. Ele só...

— Estava acobertando o seu encontro. — o alfa cortou. — É verdade o que estão dizendo? Sobre você e Baekhyun em Chenggyecheon?

Minseok retirou a mão de frente dos lábios e fitou o irmão, meio incrédulo com o que o outro tinha perguntado. Mas nos segundos que se preparava para responder, lembrava-se do pai falando sobre isso durante o seu interrogatório, o que só comprovava que o pai acreditava mesmo que ele estava em um encontro romântico com o Byun, deixando cada vez mais claro para o ômega que alguém havia começado esse boato em algum momento. Mas quem?

— O que você acha? — rebateu. — Eu te contei porque precisava sair naquela madrugada, Junie. Sem chance que eu estivesse tendo um encontro romântico com Byun Baekhyun, pelo amor de Deus! Eu estou noivo de Oh Sehun.

— Eu só pensei... Estão dizendo tanta coisa, Minnie. — o irmão parecia cansado, deixando que Minseok visse as bolsas escuras embaixo dos seus olhos.

Junmyeon não vinha dormindo muito desde que soubera que o pai tinha feito os irmãos prisioneiros. Na verdade, ele não vinha tendo boas noites de sono desde o incidente no Festival da Lua que resultou em toda essa bagunça, pois tinha se tornado completamente insuportável deitar em uma cama e dormir quando seu irmão caçula estava trancafiado em um quarto como um criminoso ou quando Minseok estava dormindo no quarto ao lado depois de uma sessão de interrogatório bruta demais. E quando os boatos começaram, o alfa simplesmente queria acreditar no irmão mas para cada vez que isso acontecia, ele era confrontado com uma meia verdade saindo da boca de Byun Baekhyun ou da não negação saindo da boca do próprio irmão.

Leeteuk tinha feito questão de joga-lhe na cara o modo como Minseok estava enganando Oh Sehun ao sair por aí para ter encontros com o Byun. Era difícil acreditar, mas quando todos repetiam a mesma coisa no seu ouvido, ele acabava ficando desconfiado. Ainda mais porque sua mente insistia em mostrar-lhe o modo como Baekhyun tinha fitado Minseok no Festival. Até mesmo Sehun havia vindo conversar consigo na época, querendo saber se Minseok estava interessado em alguém. Talvez tivesse visto aquilo, mas quem não viu? Estava tão explicito, que era uma surpresa que Leeteuk não tivesse notado.

— Não acredita em mim? — Minseok perguntou, sentia-se um tanto frustrado pelo modo como vinha perdendo sua credibilidade apenas por causa de um boato.

Junmyeon se pôs de pé e segurou o irmão pelos ombros. O loiro era pequeno, com o rosto delicado e as formas de um ômega. Ele era bonito com aquele tom de loiro no cabelo, mesmo que parecesse cinza agora quando as cores no seu rosto não eram nada além do roxo; adornando suas bochechas, a ferida no lábio inferior, as ataduras nos pulsos e tornozelos. Estava mais magro também, sem aquele ar de saúde que tinha estado consigo desde que voltara da França. Isso doía em si de uma maneira que não podia suportar, olhar para Minseok daquela maneira e depois para Kyungsoo, era a sua punição por não os ter protegido como deveria.

— Eu acredito em você, Minseok. — assegurou o irmão e viu os olhos deste tornarem-se muito brilhosos, antes que fosse abraçado, o fungar baixinho do outro contra o seu peito.

O alfa entendia porque Minseok parecia tão dependente de abraços e da presença de alguém. Ele estava ferido, sentindo-se magoado e traído pelo que o pai tinha feito consigo. Junmyeon não sabia o que tinha acontecido naquela sala, o que o pai alfa deles tinha dito ao mais novo, mas podia imaginar como devia ter sido horrível e como isso o machucou profundamente. Ele sentiu quando Minseok o abraçou mais forte, enfiando o rosto na curva do seu pescoço como se quisesse se esconder do mundo e isso fez o seu peito pesar, porque queria poder ter feito mais pelo irmão assim como queria ter feito mais por Kyungsoo. O apaixonado e alegre, Kyungsoo que não era mais capaz de sorrir ou de falar. O irmão caçula tinha se transformado em uma casca triste. Passava muito tempo quieto, sentado, olhando para o nada... perguntava sobre Chanyeol e quando não recebia uma resposta concreta, apenas se calava e não falava mais nada. Era doloroso vê-lo daquela maneira, sempre no mesmo estado e nunca progredindo, ainda mais quando recebeu a notícia de que casaria com o Byun mais velho em vez do mais novo. A punição de Leeteuk tinha acertado-o de uma maneira pior do que os tapas que recebera do mais velho e Junmyeon não podia imaginar como Minseok ia reagir quando soubesse.

— Não chore. — o irmão mais velho pediu, afagando os cabelos claros do irmão. — Está tudo bem agora.

— Onde está Kyungsoo? — Minseok perguntou engolindo os soluços, ainda abraçado ao irmão e sentindo os seus dedos passearem por entre os fios do seu cabelo.

— Ele está dormindo no quarto ao lado. — Junmyeon contou, a voz saindo baixa e calma como se ele não tivesse certeza sobre esse fato.

— Leeteuk...? — Minseok começou a perguntar sem querer realmente saber a resposta, mas quando Junmyeon ficou silêncio, o ômega soube que sim, o pai tinha batido em Kyungsoo também. Voltou a chorar, baixinho contra o ombro do alfa. — Junie... — ele soluçou e sentiu o corpo do irmão se retesiar em desconforto.

Junmyeon estava segurando as lágrimas por tempo suficiente para continuar segurando-as naquele momento. Não era a hora de desabar ainda, ele precisava se manter forte por causa dos seus ômegas — Heechul, Ryeowook, Minseok e Kyungsoo. Precisava aguentar firme por sua família e até mesmo por seu pai. Ele não sabia o que havia de errado com o pai, mas sabia que por trás daquele surto de raiva havia alguém precisando de ajuda.

— O Kyungie... — Minseok tentou mais um pouco e recebeu do irmão apenas os braços se fechando mais forte em volta de si

— Está tudo bem, Minnie. — tentou confortar. — Leeteuk não vai mais chegar perto dele. Está proibido de vir aqui. — contou. — Nossos ommas não vão deixa-lo chegar perto novamente.

Era verdade. Kim Heechul, seu omma, tinha saído de casa movido pela raiva e decepção. Arrastara Junmyeon para a casa de Ryeowook. E agora os quatro estavam morando ali e para todas as vezes que Leeteuk tentara entrar e se aproximar da casa, tinha sido rechaçado pela presença de alfa de Junmyeon e pelos xingamentos de Heechul, porque seu omma podia ser tão forte quanto qualquer alfa.

— Mesmo? — afastou-se do irmão para fitar os seus olhos, atrás da verdade.

— Mesmo. — Junmyeon sorriu e soltou o irmão, levantando a mão logo em seguida e limpando as lágrimas dos seus olhos gateados. — Nossos ommas brigam o tempo todo, é irritante, mas os peguei se beijando na cozinha, então acho que eles estão se acertando devagar. — expos tentando um tom mais animado e Minseok sorriu, pequeno.

— Sempre soube que aquela implicância toda era tesão. — entrou na brincadeira e Junmyeon riu, tirando a mão do seu rosto e migrando-a para os seus cabelos, bagunçando de vez o cabelo loiro.

Ele se afastou, para sentar na beira da cama do irmão, olhou em volta e de repente parecia meio desconfortável.

— O que há? — o ômega decidiu perguntar. — É algo grave com Kyungsoo? — Junie negou com a cabeça. — Henry? — preocupou-se mais um pouco e recebeu outra negação.

— É sobre Sehun. — decidiu dizer de uma vez.

O amigo tinha o procurado quando os boatos começaram além de ter sido impedido de falar com o ômega quando ele fora feito prisioneiro, os guardas não deixavam ninguém passar além de Leeteuk. Até mesmo Junmyeon tinha sido barrado quando tentara. O primo queria falar com o ômega, tirar satisfação, escutar da sua própria boca sua versão da história antes de sofrer antecipadamente.

— Ele está bem? — apressou-se em perguntar, os olhos arregalando-se em preocupação.

Todas as vezes que pensava no noivo, não era capaz de separar a doença da sua personalidade. E para o tempo que ficou preso, tinha se pegado pensando em como ele estaria, se teria tomado os remédios e se estava decepcionado consigo. Minseok tinha esperado que ele aparecesse e o salvasse do terrível interrogatório, afinal era seu noivo e tinha algum poder sobre si, mas quando ele não apareceu, entendeu que estava sozinho. Mas agora quando Junmyeon o fitava com os olhos tristes, como se toda a energia de vida que deveria estar ali tivesse sido esgotada, o ômega só conseguia pensar no pior. Teria Sehun passado mal por causa do que aconteceu? Não seria a primeira vez, já que sua doença sempre se intensificava diante de emoções fortes.

— A mãe dele, nossa tia, quer cancelar o casamento de vocês.

Foi como se alguém tivesse o empurrado. A notícia o acertou bem direto no peito, o fez cambalear sobre os pés e olhar para baixo, afim de confirmar que ainda estava pisando em algo porque sentia como se estivesse caindo, caindo e caindo direto para o infinito. Voltou a levantar o rosto, apenas para encontrar a face preocupada do irmão. O seu gêmeo de mentirinha, que tinha nascido quatro meses antes de si e de Kyungsoo.

Não sabia ao certo o que fazer, além de abrir a boca em espanto e engolir a próxima pergunta: Teria Sehun concordado? Molhou os lábios mesmo assim, precisava perguntar antes que esse desconforto no seu peito se intensificasse, pois não dava para ser rejeitado duas vezes.

— Ele... ele concordou? — estava com medo, isso era um fato.

A única coisa estável que ainda tinha era Sehun. Nem mesmo podia mais contar com o seu pai ou com a Organização. Sehun era o seu escape daquela bagunça toda que tinha ajudado a provocar. E se não tivesse Sehun... se não tivesse Sehun... o que havia? Não havia realmente nada. Porque ninguém ia querer casar consigo se Sehun não quisesse, pois sua imagem estava suja o suficiente com o maldito boato de que ele estava tendo algo com Baekhyun. Talvez, o seu pai o desse em casamento para aquele Choi do Leste da Ásia, como tinha dito. Então ele fosse viver o resto dos seus dias como o marido ômega de uma alfa mimada. Era o único futuro medíocre que conseguia imaginar se Sehun o rejeitasse.

— Eu não sei. — o alfa contou. — Apenas escutei isso por alto. Nossa tia chegou ontem à noite. Está hospedada na casa de Heechul, junto com Leeteuk. — continuou, passou a mão no cabelo, bagunçando os fios escuros e soltou um suspiro. — Sehun está lá também. — desviou os olhos do irmão e fitou a porta. — Você sabe como ela, não é? — ele parecia desconfortável e Minseok podia apostar que ele tinha levado uma bronca da mãe de Sehun, a tia Joohyun.

Lembrava-se dela vagamente, já que não a via desde a infância quando ela proibiu que Sehun saísse do seu território depois de uma crise que ele teve quando acampavam na pequena floresta ao redor da alcateia Kim consigo e com os irmãos. Recordava-se apenas dos seus olhos grandes e gateados como os seus, porque o pai sempre lhe dizia com tinha herdado-os de Joohyun. Ela era a sua tia mais nova, quando seu pai era o filho do meio e Kyuhyun o mais velho. Não sabia muitas coisas sobre ela, além do fato de que era mãe beta mais superprotetora que já conhecera. Mas levando em conta as poucas coisas que sabia sobre ela, o ômega era capaz de formar uma imagem da tia.

— É, eu sei. – se aproximou da cama e sentou-se ao lado do irmão, enquanto puxava da memória a imagem da tia obrigando Sehun a beber um suco verde feito de ervas para deixa-lo forte.

Colocou as mãos sobre as coxas e apertou os dedos entre si. Estava pensando em como falaria com Sehun, como poderia pedir para não cancelar o casamento, como poderia explicar o que de fato tinha acontecido... Mas ao mesmo tempo que pensava nisso, percebia como estava se rebaixando, ao se deixar depender de um de um casamento para fugir daquele lugar. Porque era para isso que estava usando Sehun, no fim das contas. Quer dizer, claro que ele era gentil e carinhoso e que ficar ao lado dele não era nenhuma tortura, mas Minseok tinha plena ciência de que quando o alfa estava começando a gostar de si, tudo que ele podia fazer era usar isso ao seu favor e por isso se comparar ainda mais a imagem dissimulada que o pai alfa tinha de si na mente.

Suspirou e encostou a cabeça no ombro do irmão, Junmyeon levantou a mão e afagou desajeitadamente o seu cabelo e depois suas bochechas machucadas e só então apertou a ponta do seu nariz, apenas para fazê-lo rir, coisa que deu certo. E no silêncio daquele quarto, os dois riram baixo, dispersando minimamente o clima pesado que estava em toda a alcateia.

— Devia falar com ele. — Junmyeon disse antes que o irmão lembrasse-se do gêmeo e quisesse vê-lo.

Estava com medo do modo como Minseok quebraria mais um pouco ao saber o estado quase vegetativo que o outro estava vivendo. E por isso iria apenas distrai-lo com a presença de Oh Sehun. Era uma forma errada, sabia. Mas estava o protegendo, mesmo que no final ele fosse ficar triste também, mas por enquanto, apenas queria preservar um dos seus irmãos.  E se não podia fazer isso com Kyungsoo, iria fazer isso com Minseok.

— Junie, eu não acho que é uma boa ideia fazer isso agora. — o loiro disse, mexeu a cabeça sobre o ombro do irmão de modo que pudesse fita-lo de baixo. — Eu quero ver Kyungsoo antes.

O alfa ficou muito parado, olhou para baixo e mexeu nas próprias mãos.

— Jun. — Minseok tentou mais um pouco, sabia que o irmão não queria deixa-lo fazer isso, conhecia Junmyeon a sua vida inteira para não saber ler seus trejeitos. — Por favor.

O maior soltou um suspiro antes de assenti minimamente. Não havia como evitar isso no fim das contas. Eles eram gêmeos, melhores amigos desde sempre, precisavam da presença um do outro para se firmar sobre o mundo.

— Venha. — o Kim se levantou, estendeu a mão para o irmão e fez ficar de pé. — Eu te levo até ele.

Minseok sorriu enquanto enlaçava seus dedos com os do irmão mais velho. Deixou-se ser levado para fora do seu quarto, mas não pôde evitar olhar para trás e admirar, triste, a segunda cama, ao lado da sua, vazia. Os lençóis bem arrumados entregavam que ninguém dormia ali há algum tempo e isso o deixava triste, porque era o seu quarto com Kyungsoo. Por que de repente ele não estava mais ali? Por que não o tinham colocado no mesmo quarto que si? Se forçou a respirar fundo e continuar o caminho para fora dali, logo, logo iria descobrir porque Kyungsoo estava em um lugar diferente. No entanto, para cada um dos passos inseguros de Junmyeon a sua frente, o guiando pela casa de Ryeowook, Minseok sentia que algo não estava no lugar. 

— Por que não o colocaram no nosso quarto? — se escutou perguntar e o alfa nem ao menos olhou para trás.

A resposta não veio do jeito que queria. O que veio foi o Kim mais velho deixa-lo em frente a uma porta de um dos quartos de hospedes. Junmyeon bateu na porta, mas não recebeu nenhum sinal de que havia alguém ali dentro. Minseok o viu bater mais uma vez, suas mãos ainda estavam juntas. Mas mesmo na terceira vez que ele bateu, se havia alguém ali dentro, não tentou falar com o alfa.

— Ele não responde. — Junmyeon contou, virando-se para fitar o irmão. — Deixa apenas Heechul entrar.

Minseok o fitou sem entender direito o que ele dizia. Via a boca do irmão se mexendo mas não compreendia as palavras. Kyungsoo não deixava ninguém se aproximar além de Heechul? O que seu pai fizera de tão grave com ele ao ponto dele se fechar dessa forma? Não! Isso estava errado. Kyungsoo era alegre e desbocado. Ele tinha um cheiro gostoso que fazia os alfas sempre olharem na sua direção, ele chamava a atenção quando andava por aí e gostava disso. Ele era o gêmeo apaixonante, teimoso e maluco... não combinava com esse garoto que estava trancado no quarto a sua frente como um criminoso, preso em si mesmo.

O loiro soltou a mão do irmão, incrédulo com o que ele dizia. O afastou da porta e bateu ele mesmo na superfície de madeira.

— Kyungie. — chamou enquanto batia, os olhos preocupados do irmão às suas costas, queimando-lhe a pele. — Kyungsoo. — tentou mais um pouco, socando a porta com um pouco mais de urgência. — Sou eu, Minseok.

Junmyeon o segurou pelos ombros quando ele chutou a porta, irritado com a indiferença do irmão gêmeo. Sentiu-se ser afastado, puxado para longe daquela porta escura de carvalho enquanto chamava Kyungsoo com um tom choroso e raivoso.

— Vem. — o irmão mais velho disse para cada vez que ele tentava resistir. — Vamos embora.

— Kyungsoo! — ainda gritou, meio se debatendo no aperto do irmão, querendo voltar até lá e derrubar a porta, mas Junmyeon sempre seria mais forte ao arrasta-lo para longe dali.

No entanto, do outro lado da porta, Kyungsoo se encolhia no chão, entre a cama e a parede, abraçando os joelhos e chorando baixinho. Não queria ver ninguém. Precisava ficar sozinho para se curar de toda aquela dor que estava machucando o seu peito.

***

Havia apenas eles dois na mesa do café da manhã. Seu pai, Siwon, sentava-se em um dos assentos do meio da mesa e ele, Baekhyun, sentava-se na ponta esquerda do jeito que sempre gostou, pois dali era possível ver todos os seus familiares. Mas agora não havia ninguém para olhar, além do olhar perdido do pai alfa enquanto se alimentava. Era sua culpa, ele sabia. Culpa da sua imprudência em tentar acobertar o irmão mais novo em seu romance proibido. Se apenas não tivesse compactuado com isso, se tivesse sido mais firme com Chanyeol, se tivesse... Ah, se ele apenas não tivesse nascido, nada disso estaria acontecendo.

Chanyeol seria o filho único e sucessor e Donghae ainda estaria falando com Siwon, porque mesmo que o pai alfa não lhe dissesse, Baekhyun era capaz de ver que ômega não estava falando com o outro. O Lee o ignorava pelos cantos da casa, não aparecia nos horários das refeições e nem mesmo deixava o alfa entrar no quarto de ambos a noite para que dormissem juntos. Sabia desse último porque tinha visto o pai, em uma madrugada, deitado à porta do quarto do marido ômega como que em guarda deste, mesmo que o outro não quisesse nada de si.

Baekhyun não sabia ao certo porque eles estavam brigados, mas tinha plena certeza que a culpa era sua e da grande burrada que fizera na alcateia Kim. Mas não era como se a culpa fosse só dele de qualquer maneira, pois não tinha concordado com o trato que o pai fizera com o líder Kim, ele nem mesmo opinara sobre. Apenas fora obrigado a aceitar que amanhã desposaria Kim Kyungsoo em troca da sua liberdade. Não se importava realmente em ter que casar com alguém, o problema nesse matrimônio era o noivo escolhido. Por que não podia ser outro ômega? Por que tinham que machucar Chanyeol assim? Por que, raios, tinham que fazer o irmão mais novo odiá-lo assim? Baekhyun já se odiava o suficiente por todos, realmente não precisava da parcela do alfa.

Mas não havia mais o que fazer. Seu pai assinara o contrato junto de Leeteuk e agora o Byun estava com seu destino entrelaçado com o do Kim. E isso era injusto num grau, que o Byun era capaz de se sentir sufocar um pouquinho a cada hora quando percebia que o dia de amanhã estava cada vez mais próximo, pois quando fizesse os votos com o ômega, não teria mais volta e Chanyeol o odiaria para sempre. E por que? Apenas por causa do seu cargo na alcateia.  

Se ele ao menos não tivesse nascido, nada disso estaria acontecendo.

Soltou um suspiro baixo, antes de afastar a xícara de café meio cheia para longe de si. Estava sem fome, sentia-se enjoado com toda aquela situação. Queria sua família de volta, reunida em torno daquela mesa. Estava cansado desse silêncio cortante que preenchia todos os cômodos da casa e machucava o seu psicológico. Tudo bem que a sua família não era a mais unida de todas e eles tinham um sério problema de comunicação, mas Baekhyun gostava do modo como eles se entendiam e se protegiam. Ele até mesmo tinha acreditado que com a chegada do bebê, as coisas pudessem finalmente melhorar de vez. Contudo, bastou um segundo para que os anos que eles tinham construídos fossem reduzidos a apenas ele e seu pai alfa sentados na mesa, no café da manhã, sozinhos e cansados de si mesmos.

Afastou a cadeira e se pôs de pé. Não iria trabalhar hoje assim como o seu pai. O mais velho tinha pedido duas semanas de férias daquele lugar e Baekhyun desconfiava que fosse apenas por causa do clima ruim naquela casa. Talvez, o pai o mandasse para algum lugar com Kyungsoo em um tipo mórbido de lua-de-mel? O Byun mais novo sentia seu estômago revirar com isso. Não queria ter que tocar em Kyungsoo, porque o ômega não era seu. Mas sabia que não iria ter muita escolha depois de algum tempo, quando todos começassem a cobrar por um herdeiro.

Não olhou para trás quando saiu da cozinha, só deixou-se caminhar devagar até a escada e como se não estivesse realmente ali, subiu até o seu quarto. Estava pensando em dormir durante o resto do dia apenas para tentar aplacar um pouco aquele vazio doloroso no peito. Era tanta culpa dentro de si, que de repente já não sentia mais o seu peso.

Avançou pelo corredor, olhando para baixo, fitando seus pés sem muito interesse. Suspirava cada dois minutos quando os pensamentos que tentava afastar, voltavam a sua mente. Aquilo já estava lhe dando dor de cabeça. Por que o pai não o deixou lá para simplesmente definhar naquele quarto? Seria mais fácil. Todos estariam bem agora e talvez, Chanyeol tivesse alguma chance com o caçula Kim. Não percebeu que tinha chegado no seu quarto até encontrar a porta do mesmo aberta. Piscou, confuso. Lembrava-se muito bem de ter deixado a porta fechada.

Franzio a testa, confuso, deu um passo incerto para dentro do mesmo, apenas para ser inundado com a imagem e o cheiro forte do irmão ali. Empurrou a porta sem cerimônia alguma, deixando que a mesma batesse contra a parede e chamasse a atenção do alfa.

— O que está fazendo? — a pergunta saiu desesperada quando notou o jeito como seu quarto estava todo bagunçado.

Suas roupas estavam jogadas no chão, cabides entortados jogados sobre a cama, algumas peças de roupa rasgadas e vários objetos seus jogados no chão, quebrados. Estava tudo uma bagunça. Tudo revirado, do modo que Baekhyun se sentia. E Chanyeol se encontrava parado no centro do quarto, segurando um porta-retratos na mão, olhou para a entrada do lugar sem muito interesse, como se Baekhyun não fosse o dono daquele quarto. O alfa mais novo, voltou a fitar o que segurava e sem cerimônia alguma jogou no chão e pisou em cima, quebrando-o em um só golpe.

Baekhyun abriu a boca, totalmente surpreso com o que o irmão tinha feito e correu em direção ao mesmo. Empurrando-o para o lado, para longe do porta-retrato que se encontrava em pedaços. Seus olhos se arregalaram mais diante da os destroços da foto. Era uma foto sua e de Siwon. Era a sua foto predileta no mundo inteiro, tirada no melhor dia da sua infância. Ajoelhou-se, sobre os cacos de vidro pouco se importando com os cacos perfurando a pele do seu joelho, afastou os destroços do porta-retrato e puxou a foto dali.

Ele tinha seis anos quando tirou aquela foto. Siwon estava ao seu lado, um pouco sério demais para alguém usando uma camisa com estampa de cocos e palmeiras, a praia se abria atrás deles, o mar estava calmo e Donghae era quem tinha segurado a câmera e tirado a foto enquanto, Chanyeol com seus cinco anos de idade, escondia-se atrás das pernas do pai ômega. Tinha sido um final de semana em família, na praia, todos muito leves e felizes. Seu pai alfa tinha ajudado-o a fazer um castelo de areia e até mesmo tinha ensinado-o a nadar quando entraram no mar. Era a primeira vez que tinha tido a atenção do pai só para si, sem o trabalho na empresa ou cargo de líder interferindo nisso. E algumas semanas mais tarde, Donghae tinha lhe presenteado com essa foto em um porta-retrato.

E agora... agora Chanyeol tinha destruído tudo sem motivo nenhum. Ele olhou para trás, a foto ainda em mãos e os olhos se tornando raivosos quando encontrou nada além de um sorrisinho despretensioso no rosto do outro. Acabou soltando a foto e virando-se muito rápido para correr em direção ao irmão, segura-lo pela cintura e jogar seu corpo contra a sua mesinha de estudos, fazendo a mesma se quebrar no processo e a cabeça do irmão bater contra a parede. Chanyeol rosnou contra si, mostrando as presas e tentando soltar-se do irmão, mas Baekhyun já tinha montado sobre o seu corpo e acertado o primeiro soco no seu queixo.

— Qual o seu problema?! — gritou contra o rosto do irmão, enquanto levantava a mão fechada em punho mais uma vez, preparando-se para acertar no rosto deste.

Mas Chanyeol foi mais rápido ao acertar a mão fechada na lateral do rosto do alfa, derrubando-o para o lado direito e aproveitando a confusão da dor do outro, para inverter as posições. Agora, era ele que estava por cima do irmão, segurando-o pela gola da camisa, fechando o tecido em volta do pescoço fino de Baekhyun e fazendo seus olhos se arregalarem em desespero quando sentiu a dificuldade em respirar.

— Acha que pode casar com meu ômega assim, sem mais nem menos? Seu filho da mãe! — rosnou contra o rosto dele, as presas ficando a mostra e apertando mais a gola da camisa do irmão.

Baekhyun tentou falar, mas sua voz ficou presa na garganta. Ele ergueu a mão e tentou empurrar Chanyeol, mas o irmão sempre tinha sido maior e mais forte, por isso não conseguiu afasta-lo. Tinha que pensar em outra maneira de sair daquilo antes que Chanyeol o sufocasse até a morte, porque pelo modo como os olhos do irmão estavam azuis, Baekhyun tinha certeza que o outro ia fazer isso sem problema algum. Afinal, era apenas o Byun se deixando dominar por seu lobo possessivo mostrando que aquilo era uma luta por território para Chanyeol enquanto Baekhyun só não queria morrer daquela maneira.

O Byun mais velho, deixou que suas unhas se alongassem e sem nenhum pudor, enfiou-as na lateral do corpo do irmão, afundando-as repetidas vezes entre as costelas e fazendo o alfa arfar e diminuir o aperto. Baekhyun tossiu enquanto fechava a mão esquerda em punho e acertava no rosto deste, apenas para deixa-lo desnorteado o suficiente para conseguir sair de baixo do irmão. Mas Chanyeol não se deixaria vencer tão fácil, pois voltou a avançar no irmão, engolindo a dor do soco e ignorando o sangue que manchava a lateral direita da sua camisa. Segurou as pernas de Baekhyun, muito juntas ao mesmo tempo que abria a boca, as presas totalmente despontadas e enfiava-as na coxa do menor, mordendo com força e raiva.

Sorriu diante da expressão de dor do irmão e preparou-se para morde-lo novamente, queria arrancar mais gritos do outro. Queria machuca-lo o suficiente para que ele soubesse como estava se sentindo, queria provocar dor suficiente no irmão para mostrar toda a dor que seu lobo sentia por ter perdido Kyungsoo assim. No entanto, teve seu ato impedido quando Baekhyun o olhou com tanta raiva, os olhos tornando-se âmbar como os do pai, o seu corpo se ondulou sob o aperto do irmão, inchou e ganhou pelos, mudou de forma. Chanyeol não pôde mais segura-lo, afastou-se da forma de lobo do irmão mais velho, os olhos se apavorando com a possibilidade de ser esmagado por um golpe do outro. Pois caçula sabia como Baekhyun era muito melhor em combate na sua forma de lobo.

Baekhyun se pôs sobre as quatro patas e virou-se em direção ao irmão, os olhos brilhavam num âmbar bonito cheio de raiva por estar sendo atacado por uma coisa que não havia sido sua culpa. Ele não havia assinado aquele contrato, então por que Chanyeol não entendia isso? Avançou em direção a Chanyeol, rosnando e salivando. O mais novo, arrastou-se no chão, até que suas costas batessem na parede do quarto apenas para que o Byun aproximasse o seu rosto de lobo do irmão, mostrando as presas bem afiadas e rosnando alto contra seus olhos fechados. Mas quando Baekhyun achou que havia contido o gênio do irmão, apenas teve seus olhos se abrindo no segundo seguinte. O azul mais escuro que já tinha visto em tanto tempo e a boca se abrindo para dizer a pior coisa do mundo:

— Eu te odeio. — Chanyeol pronunciou.

O lobo malhado de preto e branco fitou o garoto, os olhos perdendo o brilho de raiva, tornando-se nada além do castanho escuro que pertencia apenas a Byun Baekhyun. Tinha sido como levar uma mordida, muito forte no pescoço. Sentia como se estivesse perdendo sangue, morrendo devagar, sendo drenado de toda a vida que nunca quis ter. Quis pronunciar alguma coisa, mas não fez nada além de se afastar do irmão. Suas patas traseiras pisando sobre sua cama e destruindo-a no processo. O barulho de madeira quebrando inundando todo o cômodo, abafando a dor no seu peito.

Não, pensou, Chanyeol não podia odiá-lo. Eles eram amigos da vida toda, eram irmãos, se amavam... Chanyeol era a última pessoa no mundo que podia odiá-lo assim, por causa de uma coisa que ele não podia controlar. Mas odiava. Estava estampado no rosto dele e no modo como fechava as mãos em punho, odiava o suficiente para dizê-lo sem pestanejar.

Eles ficaram se fitando. Nenhum dos dois parecia acreditar no que tinha dito ou no que tinha escutado. Chanyeol se mantia muito parado, os olhos azuis firmes sobre a figura malhada do irmão mais velho. Alguma coisa se remexia dentro de si, parecida demais com arrependimento. Mas quando achou que abriria a boca para pedir desculpas por seu momento impulsivo, apenas virou o rosto para o lado e cuspiu no chão do quarto do irmão o sangue que se acumulara em sua boca.

— Baekhyun! Chanyeol! — escutou a voz de Donghae chamar, alarmado com a situação do quarto do filho mais velho e mais alarmado ainda com a visão do mesmo em sua forma de lobo. — O que aconteceu aqui? — ele avançou devagar pelo quarto, cuidando para não pisar nos cacos de vidro e nos pedaços de madeira perigosos no chão.

Chanyeol ergueu o rosto para avistar o pai ômega indo primeiro em direção a Baekhyun, a mão erguida com delicadeza para toca-lhe o focinho escuro com cuidado. Sempre tinha achado a cor do lobo do irmão engraçada porque os tons de preto e branco no seu pelo não o deixavam ameaçador e nem mesmo o seu tamanho contribuía para isso. Na verdade, o irmão já tinha sido confundido por alfas durante as corridas da lua, onde estes se aproximavam achando que ele era um ômega. Mas não era como se Chanyeol pudesse culpa-los quando o porte do irmão realmente lembrava um ômega e até mesmo seus pais tinham achado que ele seria um, contudo quando sua natureza alfa se fez presente foi um tipo estranho de alivio porque Chanyeol não queria o cargo de líder da alcateia e sabia muito bem que se Baekhyun fosse ômega, Siwon não ia lhe dar o cargo mesmo que fosse mais velho. Mas agora, quando olhava pro modo como tinha perdido quem amava, desejava que Baekhyun tivesse nascido ômega.

— Mas o que aconteceu aqui? — Siwon foi o próximo a aparecer na porta do quarto.

Usava roupas casuais, uma bermuda e uma camisa que não combinavam com seu porte sempre reto e sério. Chanyeol quase abriu a boca em descrença quando viu as canelas do pai a mostra, pois nem ao menos se lembrava de alguma vez tê-lo visto usando essas roupas antes.

— Por que você está em sua forma de lobo? — ele perguntou bravo em direção ao filho mais velho e mesmo Chanyeol se encolheu diante do tom firme do pai. — Volte já para a sua forma humana. — mandou enquanto Baekhyun abaixava a cabeça, as orelhas escuras baixas também. — E você? O que está fazendo aí? — voltou-se para si e ele abaixou a cabeça.

Donghae observou o quarto todo destruído e suspirou antes de ter os olhos de Siwon sobre si. Sentiu-se corar antes de abaixar a cabeça, uma parte sua queria correr para os braços do marido e esconde-se ali do modo como vinha evitando há dias, mas outra parte sua estava magoada demais com a decisão do alfa para fazer qualquer coisa além de pedir um tempo para organizar as emoções. Siwon também suspirou, cansado do modo como estava sendo ignorado pelo marido e voltou a olhar para Baekhyun, que já estava de volta a sua forma humana, parado em frente aos pais, sobre os destroços da sua cama.

— Vista uma roupa. — disse para o filho mais velho e então voltou a olhar para Chanyeol. — E você, fique de pé e venha comigo. — mandou, antes de dar as costas aos três e sair do quarto.

O mais velho entre eles sabia muito bem o que tinha acontecido naquele quarto. Era Chanyeol querendo provar que era o lobo mais forte e que por isso merecia a mão de Kyungsoo, no entanto o que o mais novo entre eles não entendia era como aquilo não era sobre força, era sobre política. Era um contrato, assinado e validado pelos Kim’s e Byun’s e nele estava escrito que Baekhyun era quem casaria com Kyungsoo e não Chanyeol. E, claro que Siwon sabia que isso machucava seu filho de uma forma inimaginável, mas também sabia que Baekhyun estava mais machucado ainda, tendo que carregar nas costas toda uma culpa que não era sua. Mas o que ele podia fazer? Não podia simplesmente perder Baekhyun assim para a alcateia inimiga como se ele não fosse nada. O alfa mais novo era seu sucessor, era seu filho mais velho e o amava apesar dos erros que ele mesmo cometeu para que chegassem naquela situação.

Saiu do quarto destruído, muito calmo e sentindo Chanyeol o acompanhando. Estava na hora de ter uma conversa séria com Chanyeol.

***

Leeteuk sentou-se em sua cadeira atrás da mesa do seu escritório e suspirou. Sua costela ainda doía, apesar de já está quase sarada, pois ele tendo sangue de lobo em suas veias tendia a curar-se mais rápido que qualquer humano. E agora, três dias depois que levara uma surra de Lee Donghae, ele sentia apenas uma pontada incomoda para cada vez que tentava sentar ou levantar muito rápido. Tudo culpa daquele maldito Lee, pensou amargo.

Ajeitou-se mais um pouco em sua cadeira antes de começar a vasculhar nos papeis deixados sobre a superfície da mesa, os documentos que vinha trabalhando durante a semana. Os Kim’s tinham a renda baseada na exportação dos seus produtos, os que eles produziam em seu território. Eles vendiam para outras empresas, feiras e industrias. Leeteuk era o líder da corporação e por isso era responsável pelos balanços. Mas quando Junmyeon assumisse a alcateia, seria dele a responsabilidade de cuidar de todos os processos burocráticos daquele cargo. Então ele teria férias pela primeira vez em muitos anos, ia poder aproveitar a companhia dos seus ômegas e de seus filhos... Quer dizer, poderia. Isso aconteceria antes de toda essa bagunça entre ele e os Byun’s, agora, já não tinha muita certeza sobre sua família.

Uma parte sua sabia que tinha feito besteira ao punir os filhos daquele jeito, mas outra parte sua estava ferida o suficiente para jogar a culpa sobre o seu lado lobo que tinha se descontrolado e jogado tudo que construirá com os filhos por água abaixo, pois nenhum dos três olhava na sua cara e seus ômegas tinham se afastado por completo. Heechul tinha até mesmo saído de casa para morar com Ryeowook e mesmo que o alfa tentasse falar com os dois, nunca era recebido. E agora que Joohyun tinha se deslocado da alcateia Oh para resolver o problema do seu filho alfa, Leeteuk achava que nunca tinha tido tanta dor de cabeça.

Tudo bem que ele amava a irmã mais nova, mas tinha esquecido-se de como o gênio da irmã era difícil e tendia a piorar quando algo acontecia com seu único filho, Oh Sehun. E dado as circunstâncias ruins que estavam acontecendo acerca do noivado do filho, Joohyun estava um pouco mais descontrolada. Ela queria ter uma conversa séria com Minseok, mas o ômega não se encontrava disponível para isso, coisa que deixava a consciência do alfa mais pesada porque tinha conhecimento sobre a sua culpa nisso.

E estava justamente pensando nisso quando a porta do seu escritório foi aberta, revelando o filho mais velho, Junmeyon. O filho entrou vagorosamente como se não tivesse certeza se devia entrar ou não, havia um papel na sua mão direita. Leeteuk observou enquanto ele se aproximava, o jeito como parou em frente à mesa e deixou o papel em cima da mesma.

— Espero que possamos fazer isso sem maiores alardes. — o Kim mais novo disse quando Leeteuk ergueu a mão e puxou o papel na sua direção.

Havia o selo do Conselho de Lobos no topo da borda esquerda e a assinatura de todos os que faziam parte da mesa redonda do Conselho. Era um abaixo assinado em prol da sua saída do governo da alcateia Kim.

— O que é isso? — perguntou, soando mais irritado do que confuso quando notou a assinatura de Ryeowook e Heechul no fim da página.

— Você está fora. — Junmyeon disse calmamente. — Tem até depois de amanhã para sair daqui pacificamente.

Leeteuk continuou fitando o filho como se não tivesse entendido o que ele estava falando, as palavras se tornando confusa na sua mente quando tentava junta-las e encontrar o sentido. Estava fora do cargo de líder da alcateia? Junmyeon havia levado o seu nome para um debate no Conselho e ele havia perdido uma causa que nem ao menos sabia que estava batalhando? Não. Isso estava errado. Seu filho não podia ter o traído dessa maneira.

— Como você pôde?! — esbravejou, ficando de pé, a cadeira sendo afastada bruscamente.

Como você pôde?! — Junmyeon devolveu, espalmando as mãos na mesa do pai e fitando-o com demasia. — Eles são seus filhos. — se referiu aos gêmeos, Minseok e Kyungsoo. — Como pôde machuca-los assim?! Como pôde deixar a alcateia nesse estado?! — esbravejou. — Isso não é algo que lideres fazem nem mesmo pais.

— Você não sabe de nada, Junmeyon. — balançou a cabeça em negação. — Quando sentar-se nessa cadeira vai entender todo o peso que carrego. E quanto a Kyungsoo e Minseok, eles precisavam de uma lição.

— Por mais problemas pessoais que o senhor tenha com o Clã Byun, não justifica o modo como agiu com Minseok e Kyungsoo. Acorrentou-os como se fossem animais para ensinar uma lição? Humilhou-os para ensinar uma lição? Que tipo de lição é essa que deixa seu filho caçula trancado em um quarto? Que tipo de lição é essa que machuca o outro a ponto de tirar-lhe sangue? — o alfa mais novo rebateu antes de afastar-se da mesa, passando a mão no cabelo, nervoso. Era um trejeito que Leeteuk reconheceu como seu.

— Quando tiver seus próprios filhos vai entender tudo que fiz. — o mais velho teve coragem de dizer.

O filho o fitou com mais raiva do que era necessário. Não conseguia reconhecer o próprio pai. Tinha conhecimento que o mais velho estava com alguns problemas pessoais com os Byun’s, mas o modo como ele tinha maltratado Kyungsoo e Minseok, tinha saído completamente do limite que Junmyeon podia aguentar. Foi por isso que ele pediu ajuda ao seu pai ômega, Heechul, para tirar Leeteuk do cargo de líder da alcateia. Mas a petição tinha sido aprovada tarde demais, pois Kyungsoo já estava condenado a um casamento com Baekhyun e ele não podia fazer nada sobre isso.

— Só saia daqui no prazo estipulado. — meio pediu, a voz saindo cansada e controlada como se ele estivesse cansado de estar com raiva do homem a sua frente.

— Se você acha que eu vou sair daqui assim está muito enganado, vou recorrer ao Conselho. — o mais velho ameaçou, amassando o papel na mão.

— Faça o que quiser. — Junmyeon disse cruzando os braços. — Mas por enquanto essa petição é válida e você vai sair daqui por bem ou por mal e por favor, que seja por mal porque estou louco para tirá-lo daqui com a ajuda dos guardas.

— Eu sou seu pai.

— Não. — balançou a cabeça em negação, o olhar castanho cansado se intensificando sobre o mais velho. — O meu pai nunca faria uma coisa dessas, ele não se comportaria como um maluco e nunca tocaria em um fio de cabelo de Kyungsoo ou Minseok. Eu não sei quem é você, mas não é meu pai. — Leeteuk abriu a boca descrente com o filho dizia.

Junmyeon descruzou os braços e se afastou mais um pouco da mesa do pai, andando em direção a porta ao mesmo tempo que nenhuma resposta vinha na mente de Leeteuk para que pudesse rebater. O Kim mais novo tocou a maçaneta da porta e virou o rosto parcialmente em direção ao pai.

— Saia pacificamente. — pediu mais um pouco antes de abrir a porta. — E fique longe dos meus ommas. — mandou antes de sair de vez, deixando para trás um Leeteuk incrédulo com a certeza de que havia perdido a sua família.

***

Minseok calçou seus tênis com certa dificuldade, iria sair e ver como as pessoas estavam na aldeia, ia respirar um pouco de ar puro. Estava cansado de ficar no seu quarto, olhando para a cama vazia de Kyungsoo porque para todas vezes que avistava a mesma muito arrumada e sem o cheiro do irmão, seu peito se enchia de uma dor fria que lhe provocava soluços chorosos. E já não aguentava mais chorar, seus olhos ardiam e sua cabeça estava latejando. Talvez devesse dormir um pouco para aplacar a dor, mas não podia se forçar a ficar ali simplesmente. Era torturante.

Ficou de pé espanando a sua camisa, tentando desamassa-la e só então pegou uma camisa de flanela de mangas compridas e vestiu, afim de esconder os pulsos enfaixados. Já bastava ter que mostrar o rosto por aí, pois tinha visto a sua imagem no espelho do banheiro. O roxo que se alastrava por sua face e escondia toda a beleza que um dia esteve ali. Resolveu que não queria pensar nisso também e saiu do quarto, apressado. Torcendo para não encontrar nenhum dos seus ommas no caminho. Mas pelo modo como a casa estava silenciosa, percebeu que eles não estavam em casa, por isso apenas se limitou a sair porta afora, o vento frio acertando seu rosto mais rápido do que podia prever.

Encolheu-se dentro da camisa grande que usava, era de Junmeyon, por isso as mangas eram grandes o suficiente, escondendo metade das suas mãos meio gordinhas. Avançou pela portinha da cerca branca que circundava a casinha amarela do seu omma, Ryeowook, e olhou em volta. Parecia tudo normal. Algumas pessoas olharam na sua direção, os olhos se arregalando diante da sua face maculada. O ômega sentiu-se corar, em vergonha e abaixou o rosto, se afastou da portinha e continuou andando. Decidindo de última hora que iria direto para a sua casinha na árvore, pois não ia aguentar o modo como todos estavam lhe olhando, chocados demais.

Começou a andar devagarinho, olhando para baixo, as mãos enfiadas nos bolsos do seu jeans. Conseguia se guiar muito bem, pois conhecia aquela aldeia como a palma da sua mão. Mas talvez, tivesse se distraído com alguma coisa ou quem sabe já não conhecesse aquela aldeia tão bem assim porque cinco anos fora dali era muito tempo, tempo suficiente para que aquele lugar tivesse mudado em alguns pontos, pois não lembra-se de alguma festa próxima. Será que a alcateia havia adotado alguma festa? Se sim, por que fariam isso quando os Kim’s principais estão tão estragados?

Levantou o rosto para observar melhor aquela arrumação toda. Havia alguns alfas trabalhando na montagem de um pequeno palco, martelavam no chão, alguns postes tinham sido erguidos em volta de um espaço quadrado e entre eles fitas de decoração enfeitavam o local. Avistou cadeiras sendo colocadas, um espaço depois de quatro fileiras, era um caminho imaginário que daria no pequeno palco e ele estava, justamente, parado no começo desse caminho. Sentiu sua nuca formigar e virou-se para trás, os olhos assustados com a ideia que passava por sua cabeça.

Já havia visto aquele tipo de decoração. Era uma decoração de casamento, mas quem estaria se casando?

— Minseok? — alguém lhe chamou quando notou a sua expressão assustada.

— Jongdae. — o loiro reconheceu o lobo e deu dois passos em sua direção, precisava de uma confirmação. — O que é isso?

O alfa usava seu velho jeans, uma camiseta esfarrapada que deixava os músculos dos seus braços a mostra enquanto o seu cabelo escuro, estava molhado de suor, a franja colando na sua testa clara.

— Você não sabe? — desconfiou, erguendo uma sobrancelha e o loiro negou. — Haverá um casamento amanhã. — o ômega continuou esperando e o alfa suspirou quando percebeu que ele realmente não sabia, odiava ter que dizer isso à ele. — Kyungsoo vai casar amanhã... — Minseok franzio a testa, confuso demais para encontrar sentido na frase. — com Byun Baekhyun.

Sua boca se abriu em total descrença, deu um passo para trás ao mesmo tempo que levava uma mão em direção a boca afim de tentar esconder a surpresa no rosto. Olhou em volta como se assim pudesse encontrar qualquer um que lhe dissesse o contrário e como se estivesse vivendo em um sonho, viu a imagem de Sehun, não muito longe. Afastou-se de Jongdae, passos apressados e preocupados. Precisa escutar de outra pessoa isso antes que aquele mal estar na boca do seu estômago se intensificasse de vez.

Segurou o braço do noivo sem pudor algum e o alfa assustou-se com ato, o corpo se retesiando por completo ainda mais quando percebeu quem era.

— Sehun. — Minseok chamou ignorando o modo como foi olhado quando reconhecido. — O que estão dizendo... Kyungsoo e Baekhyun... — nem ao mesmo conseguia formar uma pergunta completa e isso irritava-o de uma forma que só pôde intensificar o aperto no braço do outro.

Sehun o fitou, primeiro surpreso e depois irritado mas quando notou o modo como os olhos dele estavam começando a marejar diante da notícia, só pôde suspirar, derrotado. Assentiu ao mesmo tempo que desviava os olhos do rosto do loiro, não queria ver o modo como seu coração se partiria diante daquilo, porque o alfa bem tinha escutado os boatos pela aldeia de que Minseok tinha um caso com Baekhyun, os boatos de que ele tinha sido enganado durante esse tempo inteiro por aquele garoto com olhos de gato.

Sentiu o seu braço ser largado, dois passos para longe de si e olhos gateados marejados. Observou sem realmente querer, as lágrimas se formando nos cantos dos olhos e a mão que levantou para seca-las, para impedi-las de cair. Ele estava chorando por seu amante, Sehun pensou amargo e dessa vez foi ele quem deu um passo para trás.

— Isso... Como...? — tentou formular, não podia acreditar nisso assim sem mais detalhes.

— Seu pai decidiu isso. — o alfa explicou. — Os Byun’s assinaram um contrato aceitando os termos em troca da liberdade do teu amante. — jogou sem poder se conter.

Minseok engoliu em seco, a boca abriu-se para explicar toda aquela confusão, mas seja lá qual fosse a coisa que ia dizer, foi totalmente impedido pela presença da tia que se aproximava.

— Fique longe do meu filhote. — ela mandou, se equilibrando sobre seus saltos finos, o rosto bonito escondido sob uma máscara de irritação. — Você não vai jogar sobre ele nenhuma das suas mentiras.

— Tia, não é assim. — dirigiu-se a ela. — Não foi assim que aconteceu. As coisas que estão dizendo são mentiras.

— Então vai dizer que não estava em um encontro com Byun Baekhyun? — perguntou irônica. — Os guardas e meu irmão te pegaram lá. Vocês estavam juntos.

— Nós estávamos juntos, mas não desse jeito. — Minseok tentou mais um pouco, seus olhos procurando os de Sehun, queria tanto que o alfa acreditasse em si. — Não era um encontro romântico. Ele me ligou e eu...

— Aceitou ser cortejado por outro alfa, me poupe dos seus argumentos, Minseok. — Joohyun disse, cruzando os braços e virando o rosto para o lado. — Eu não sei que tipo de criação aquele ômega lhe deu, mas com certeza não foi das melhores, mas o que se podia esperar de um ômega que se envolve com um alfa casado, não é?

O loiro mordeu o lábio em descrença e raiva pelo que a tia estava dizendo e sem pensar muito empurrou a mãe de Sehun, tão forte que a mesma se desequilibrou sobre os saltos e caiu no chão, a saia branca sujando-se por completo no chão de terra batida.

— Não fale do meu omma. — apontou o deu para a mulher e esta arregalou os olhos na sua direção, assustada pelo comportamento do loiro. — Nem sequer pense no meu omma. Ele vale muito mais do que você e seus conceitos preconceituoso e se quer saber, foi o seu irmão que começou essa bagunça toda. Eu nunca me envolvi com Byun Baekhyun. Estava sim, em Chenggyecheon com Baekhyun mas não é desse jeito que estão dizendo. Ele estava me ajudando a fazer Chanyeol e Kyungsoo se encontrarem. — então ele levantou o olhar e procurou o do noivo. — Eu nunca te trairia. — disse antes de soltar um suspiro e se afastar dali.

Precisava ficar sozinho para espairecer, pois sua cabeça estava latejando com todas as notícias que vinha sabendo depois que acordou.

 — Minseok. — Sehun ainda chamou, mas o loiro fingiu que não ouviu e continuou se afastando.

De repente começou a correr para longe de toda aquela decoração e sem aviso prévio algum, transformou-se em lobo e saiu correndo em direção a floresta. Sehun ainda deu um passo em direção ao ômega, determinado a ir atrás dele e saber a história por completo pois não podia viver apenas com o que todos estavam dizendo, mas o chamado de sua mãe o obrigou a ficar e ajudá-la a levantar.

— Eu disse a você que Minseok não era um bom partido. — a beta resmungou depois de receber ajuda para ficar de pé. — Ele passou tempo demais fora e agora não sabe mais se comportar como um ômega decente. — ela segurou o braço do filho com firmeza e Sehun quase reclamou da dor que inundou sua pele. — Você não vai casar com esse garoto. Cancele esse casamento já.

— Mãe, me deixe. — puxou o braço do seu aperto antes de dar dois passos para longe dela. — Me deixe pensar.

— Pensar para que? Minseok é péssimo, seria um péssimo Ômega Principal. Olhe como ele me tratou, é esse tipo de pessoa que quer ao seu lado? Sehunie. — usou o seu apelido carinhoso para tentar convencê-lo.

— Você o provocou, omma. — Sehun rebateu e a mais velha fechou a cara. — Agora me deixe decidir sozinho. — começou a se afastar sem dar tempo para que a mulher o segurasse mais uma vez.

— Sehun! Sehun! — Joohyun gritou, alto o suficiente para que todos escutassem.

Mas Sehun já não estava ouvido mais, pois estava preocupado demais em seguir o mesmo caminho que Minseok, afinal precisavam conversar. Sabia muito bem para onde o ômega tinha ido: direto para a velha casinha na árvore. Era onde o loiro costumava se esconder quando eles eram crianças, para todas as vezes que sentia-se magoado ia para aquele lugar como se o silêncio daquelas paredes de madeira pudesse aplacar a confusão no seu interior e Sehun acreditava que realmente podia, porque ele mesmo quando magoado ou irritado, acabava por se esconder entre as prateleiras da sua biblioteca particular, pois o cheiro dos livros e estar cercado por tantas palavras sempre o acalmava melhor do que o colo da sua mãe superprotetora.

Andar até lá não foi exatamente o maior dos problemas, com as vitaminas que a mãe tinha o obrigado a ingerir, Sehun estava se sentindo particularmente bem então depois de meia hora caminhando, não sentia-se realmente cansado. Talvez, um leve enjoo e uma leve tontura, mas nada que o obrigasse a ficar sentado por horas atrás de mais fôlego. O problema estava, no fim das contas, em como subiria até a casinha.

Ele avistou um tipo de escadinha esculpido no tronco da árvore, mas estava um tanto gasto pelo tempo e isso o deixaria nervoso em tentar, porque nunca foi um exemplo de alfa e sua falta de coordenação motora só contribuía para isso. Por isso, primeiro se limitou a soltar um suspiro e só então se aproximou do tronco da árvore, podia sentir o cheiro doce do ômega ali, dando a certeza que o mesmo estava ali mesmo.

Com algum esforço, que lhe rendeu uma primeira queda e muitas gotículas de suor na testa e costa, Sehun conseguiu subir pela velha escadinha apagada e avançar pela abertura quadrada embaixo da casinha que dava acesso ao seu interior. Entrou por ali, meio ofegante enquanto era recebido pelos olhos grandes e curiosos de um Minseok embolado em um lençol, apenas metade do corpo coberto.

— Você podia me ajudar aqui. — Sehun disse enquanto tentava entrar, içar o seu corpo nunca tinha sido tão difícil.

— Por que eu deveria fazer isso? — Minseok perguntou suavemente, deitando-se no chão poeirento do lugar. — Você nem ao menos acredita em mim. — desviou os olhos para o teto de madeira cheio de teia de aranhas.

Pensou que deveria ter vindo aqui antes. Talvez, trazido Henry e apresenta-lo o local onde despejava sua pior lembrança e suas angustias. Ou, talvez, só devesse ter vindo antes para arrumar aquele lugar. Estava tudo tão bagunçado e sujo de poeira, pois pelo visto ninguém mais vinha ali além dele. Havia encontrado o lençol na cozinha, tinha-o sacudido por tempo suficiente para poder se enrolar nele e não morrer de frio ou sentir vergonha da sua nudez, mesmo que estivesse sozinho. No entanto, agora agradecia silenciosamente por ter achado aquele lençol.

Escutou o baque do corpo do noivo contra o chão e soube que ele tinha conseguido subir, mas não mexeu um musculo para vê-lo se aproximar, no entanto não precisou porque a vibração causada pelos passos do alfa contra o chão de madeira, entregavam isso. O Oh ficou de pé do seu lado, inclinou a sua cabeça para frente, de modo que ficasse em cima do rosto do ômega e meio sorriu, cansado, porém, Minseok só revirou os olhos. Estava chateado demais com o fato do outro ter simplesmente acreditado no que todos estavam falando na aldeia em vez de ir atrás de si e perguntar sua versão.

O Oh suspirou e afastou-se do outro, sentou-se no chão sujo com as pernas cruzadas e fitou o corpo quieto do ômega. O modo como estava parcialmente escondido embaixo do fino lençol, as formas se destacando diante dos seus olhos mesmo que não quisesse reparar realmente nisso. As pernas estavam desnudas, revelando os pés pequenos e as panturrilhas bem trabalhadas, as coxas vinham logo depois, douradas e roliças sem marcas algumas e que de alguma forma pareciam pedir para que Sehun se aproximasse mais um pouco e as segurasse com firmeza, as rodeasse em volta da sua cintura enquanto...

— O que está fazendo aqui? — Minseok se pronunciou, fazendo-o sair dos seus pensamentos, desviou os olhos muito rápido das coxas alheias e focou no rosto do ômega.

Sentiu o seu estômago se revirar em desconforto quando notou o arroxeado nas bochechas e o corte no lábio inferior. Leeteuk tinha lhe dado uma surra e tanto, percebeu apenas para no segundo seguinte querer correr dali e acertar um belo soco no queixo do tio.

— Nós precisamos conversar. — acabou dizendo e respirou fundo, devagar, o cansaço estava lhe vindo um pouco mais forte do que o aceitável, mas ele já estava acostumado com aquele tipo de mal estar.

— Junmyeon me disse que quer cancelar o noivado. — Minseok disse enquanto se erguia para ficar sentado na mesma posição que o alfa, de frente para si, o lençol se concentrando em cobri-lhe da cintura para baixo e deixando a mostra seu tronco.

Sehun corou sem poder se conter quando seus olhos se focaram sem pudor algum nos mamilos do ômega, apreciou o rosa deles, mas logo desviou os olhos, envergonhado demais para continuar com aquilo.

— É o que minha mãe acha certo, depois de tudo isso que aconteceu. — contou, os olhos fitando a parede atrás do ômega.

Havia algumas coisas escritas ali, mas estavam apagadas demais para que ele conseguisse ler de tão longe, teria que se aproximar mais um pouco para ver melhor.

— Pensa assim também? — perguntou, o rosto sério.

— Eu tenho razões para pensar? — rebateu, a sobrancelha se erguendo.

Minseok suspirou, ergueu a mão e bagunçou os fios claros, o lençol caiu mais um pouco revelando um pedaço de pele da sua cintura e Sehun sentiu-se aquecer. Nunca tinha pensando que iria ser capaz de desejar tanto alguém do modo que desejava Minseok, acreditava que as coisas entre eles iriam demorar a acontecer. Mas desde o beijo que tinha dado na floresta e os outros muito castos que vieram depois, o lobo alfa sentia-se terrivelmente perdido por esse garoto com olhos de gato.

— Nunca aconteceu nada entre eu e Baekhyun. — expos mais uma vez, trazendo os olhos do alfa para seu rosto novamente. — Nos reunimos naquele parque àquela hora da madrugada porque estávamos ajudando Kyungsoo e Chanyeol a se encontrarem.

— Isso é mesmo verdade? Esse romance entre Chanyeol e Kyungsoo? — sempre tinha tido suas desconfianças sobre isso, porque mesmo que não tivesse visto o primo caçula a muitos anos, não achava que ele pudesse trair o seu clã dessa maneira.

— Acha que ele inventou isso por diversão? — devolveu meio irritado, estava cansado do modo como todos pareciam desconfiar de si.

— Não, é só que...

— É verdade. — cortou-o. — Chanyeol e Kyungsoo se amam desde a adolescência. Eu o ajudei várias vezes a se encontrar com o Byun antes de ir para a França.

— E estava ajudando agora que voltou.

Minseok assentiu.

Sehun comprimiu os lábios. Não sabia ao certo o que pensar sobre isso, mas tudo que Minseok dizia fazia mais sentido que a história que estava viajando de boca em boca. Mas mesmo com esse pensamento, ele não disse nada. Continuou calado, fitando o rosto do ômega até que este se sentiu desconfortável e resolveu falar:

— Então... você vai mesmo cancelar o casamento? — a pergunta tinha saído baixinha da sua boca, os olhos nem mesmo estavam no rosto do alfa, ele olhava para baixo, mexia o borda do lençol com a ponta dos dedos.

— Se você ainda quiser. — se escutou dizer, os olhos nunca saindo da figura loira a sua frente.

O ômega levantou o rosto, os olhos brilhando em castanho que era a sua cor humana, a cor que Sehun achava tão bonita. Inconscientemente, aproximou-se dele, arrastando-se desajeitadamente no chão de madeira. Minseok fez que não percebeu, não se afastou e nem se aproximou também, estava com uma sensação boa no peito, a primeira desde que tinha acordado. Era a sensação de que ainda tinha um futuro, ainda tinha um objetivo. Porque desde que acordara e soubera do que o alfa poderia não mais se casar consigo, havia pensado em como tudo estava indo por água abaixo e em como não tinha mais nada para seguir. Iria ser obrigado a terminar com o acordo que tinha com Lu Han e quem sabe com quem o pai iria querer casa-lo depois disso.

Assentiu, devagarinho, como se nem ele acreditasse no que tinha escutado e estivesse um tanto desconfiado daquilo. Sehun sorriu ao erguer a mão e toca-lhe o rosto, a palma quente contra a bochecha fria do ômega. Minseok não tirou os olhos do seu rosto, queria olha-lo bem de perto, gravar os seus detalhes naquele momento.

— Tia Joohyun não vai gostar disso. — o loiro teve coragem de brincar, apenas para ver se aquela ansiedade no seu peito se amenizava um pouco.

— Ela supera. — Sehun respondeu, não resistindo e deixando que seu rosto de aproximasse, encostou a sua testa na dele.

Minseok fechou os olhos, já antecipando o que aconteceria e querendo aquilo tanto, que quase tomou a iniciativa, mas não o fez porque sabia como Sehun tinha a necessidade de estar no comando, não só por causa do gene alfa mas também pelos anos que a mãe controlou os seus passos. Sentiu, sem realmente sentir, os lábios do mais alto tocarem os seus, tão levinho que teve que abrir os olhos para conferir se aquilo estava acontecendo mesmo. E estava. Tão delicadamente e tão timidamente acontecendo, que o peito do ômega se aqueceu. Ele havia esquecido a sensação de ser amado daquela maneira, como se fosse uma peça rara. Tinha passado tanto tempo enfiado em problemas, correndo atrás de formulas para soluciona-los, que havia se esquecido de si mesmo.

Sentiu a mão do alfa pousar sobre sua cintura, apertar a carne ali ao mesmo tempo que puxava-o para mais perto. Minseok, perdido demais na sensação de estar sendo beijado, deixou que acontecesse assim como deixou que suas mãos segurassem nas laterais da camisa do alfa, que maltratassem o tecido entre os dedos e que o puxassem para mais perto, porque precisava de mais contato, precisava de mais pressão dos lábios dele contra os seus, precisava de profundidade.

Sehun, assustou-se com o modo como ômega o puxava para si, as mãos dele começando a entrar por baixo da sua camisa, as pontas dos dedos geladas ganhando coragem para vasculhar-lhe a pele nua ali de baixo. Sua parte insegura quis se afastar, alegando não estar pronto para aquele tipo de contado, mas a outra parte quis continuar. E foi escutando essa outra parte que enlaçou a cintura de Minseok e puxou-o para o seu colo, o lençol que ele se cobria indo embora no processo. Arfou contra a boca do ômega ao notar a pele nua dele em contato com o seu corpo ainda coberto, fazendo seu interior começar a esquentar.

Queria mais do loiro, queria tudo que ele estivesse disposto a lhe oferecer. Então não ofereceu resistência alguma quando o ômega tirou a sua camisa e depois o resto das suas peças, porque o choque das suas peles logo em seguida o fez abandonar qualquer pudor. Suas mãos exploravam o corpo de ômega sobre o seu, desciam da coluna até a cintura, apertavam as coxas e segurava a carne entre os dedos com uma possessividade que não achava possível ter e Minseok arfava contra a sua boca ou com rosto escondido no seu pescoço, os sons saiam abafados e eróticos demais aos seus ouvidos, por isso tornava a segura-lo mais forte, a guia-lo mais forte sobre si apenas para escutar mais daqueles sons gostosos e manhosos que apenas o ômega conseguia dar.

Ele mesmo se escutava gemer arrastado o nome do outro, como algum tipo de prece que pudesse salva-lo do inferno dos humanos, mas tudo que o loiro era, no fim das contas, era o causador daquilo tudo. Sua sanidade tinha sido lavada pela correnteza de prazer que o loiro lhe causava, tinha sido arrancada de si pelo atrito de suas peles e confinada na madeira daquela casinha, que já tinha escondido tantos momentos do ômega e agora servia apenas como testemunha de toda a devoção que seu lobo dedicaria à aquele ômega de fios claros pelo resto da sua vida, pois em vez de marcar o ômega, deixava-se ser marcado, na pele com mordidas e arranhões e na alma, com o sorriso que ele lhe lançava a cada vez que subia e descia em seu membro e com arfares, gemidos baixos e pedidos para ser tocado pelo alfa.

A marca estaria ali, mesmo que ninguém mais fosse ver além dele e de Minseok. Pulsando na sua alma, como um segundo coração. Feita a ferro e fogo por aquele ser de classe tão baixa. Estaria marcado até fim dos seus dias, ele sabia. Mas não se importava, não mais, o que importava agora era que ele teria Minseok para si. Pois, no fim, ele sempre seria o seu ômega.


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