Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 22
XX - O sacrifício do lobo




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Baekhyun chegou quinze minutos adiantado e por isso, escolheu um lugar vazio no fundo do café e sentou-se, sozinho. Batucou os dedos finos sobre a superfície de madeira da mesa e balançou os pés, do jeito que sempre fazia quando estava ansioso, depois levou a mão até os cabelos escuros e os bagunçou antes de bufar, um tanto irritado por estar ali sozinho, mas não era como se pudesse culpar o seu acompanhante quando ele quem tinha se adiantado. Porém, não era exatamente isso que o enchia de irritação. Era algo mais grave e mais indigesto, que vinha perturbando os seus dias e deixando-o tão ansioso que nem sequer havia conseguido dormir na noite passada.

Forçara-se a deitar e dormir, mas os pensamentos se agitavam dentro de si, davam-lhe pontadas no cérebro e o faziam abrir os olhos novamente apenas para rolar na cama que não era sua, em um quarto que não era seu. O seu quarto verdadeiro tinha sido destruído por Chanyeol em seu surto de alfa possessivo.

Suspirou, deitando o rosto entre as mãos, os cotovelos apoiados no tampo da mesa e fechando os olhos bem apertados, tentou evitar que a imagem do irmão dizendo que o odiava voltasse a sua mente mais uma vez, porque aquilo doía tanto que teria chorado se não fosse um alfa, pois para o bem da verdade, alfas não choravam. Era que tinha lhe sido ensinado desde criança: alfas eram fortes. Eles serviam para proteger a alcateia e não podiam ser fracos, e chorar era um sinal de fraqueza.

Baekhyun não chorava desde os oito anos quando levou a maior bronca da sua vida e entendeu que ele, como possível alfa, deveria ser forte acima de tudo. Então tornou-se forte, ergueu uma barreira à sua volta feita de ferro e fogo, se moldou ali dentro, sempre preparado para nunca derramar uma lágrima. Mas do jeito que as coisas vinham acontecendo nos últimos dias, não achava que podia ser tão forte assim. Se pegava muitas vezes mordendo o lábio, tentando mudar a trajetória dos seus pensamentos para não chorar. Não podia ser fraco justo agora, afinal já tinha aguentado tantas coisas.

Apertou os dedos envolta das raízes de alguns fios e os puxou, tamanho o seu estresse com aquilo tudo. Por que alguém não podia intervir? Por que ele que se sacrificar assim apenas por ser o primeiro filho? Era só tremendamente injusto que essas coisas tivessem que acontecer consigo.

— Vai ficar careca desse jeito. — escutou alguém dizer e levantou o rosto muito rápido, os olhos assustados pela interrupção repentina do seu ritual de não-choro. — O senhor já quer fazer o pedido? — a garçonete humana perguntou, puxando o bloquinho do avental e preparando a caneta.

O lobo malhado piscou, meio confuso com o que ela tinha dito até que a moça sorriu, compadecida da confusão dele. Baekhyun observou o modo como ela segurava o bloquinho, as unhas bem pintadas e a falta de cheiro de lobo, havia apenas o costumeiro perfume que os humanos gostavam de usar para disfarçar seus DNA’s sem graça.

— Chocolate quente. — se escutou dizer e a garota anotou.

Tinha os cílios compridos e o cabelo preto solto sobre os ombros mas para todas as vezes que os raios de sol entravam pela janela e tocavam-lhe o cabelo, deixava-o avermelhado. Forçou-se a olhar pra ela, pois queria desviar seus pensamentos dos problemas que lhe assolavam a alma.

— Apenas isso? — ela tornou a perguntar.

Ele assentiu, quieto, desviando os olhos dela para avistar a figura pequena de um garoto moreno atravessando a rua e vindo em direção ao café onde se encontrava. A moça fitou-o ainda, antes de se retirar dizendo que o pedido logo chegaria. Mas Baekhyun não estava mais ouvindo, sua atenção inteira estava sendo dedicada a aquele garoto entrando no café de cabeça baixa, meio escondido dentro de um casaco grande demais para si.

O alfa se pôs de pé, afim de denunciar sua localização e logo os olhos grandes de Kyungsoo estavam o alcançando antes que seus pés se apressassem em vir até si. Voltou a se sentar, o nervosismo tinha voltado, dessa vez um pouco mais forte porque se viu balançando a perna numa forma de desconta-lo enquanto a não tão longe assim, o Kim mais novo avançava a passos vagarosos até a mesa do alfa. Baekhyun notou que ele estava mancando e que havia algo de errado com o lado esquerdo do seu rosto, pois mantia os olhos baixos, porém apenas quando ele chegou perto o suficiente para se sentar no lugar vazio à sua frente, que o Byun notou o olho roxo por baixo da lente dos óculos esquerdo e o corte na bochecha, como se tivesse levado repetidos tapas naquela face até que a pele se rasgasse.

— Por favor, não fale nada sobre isso. — Kyungsoo pediu, baixo, erguendo as mãos e mexendo no saleiro sobre a mesa depois que notou o modo como Baekhyun fitava o seu rosto.

— Kyungsoo. — Baekhyun se escutou dizer, um pouco urgente, talvez, diante daquela imagem quebrada do ômega.

— Não. — cortou-o, a voz saindo firme e mais alta, as mãos se fechando em punho sobre a mesa, deixando o saleiro de lado. — Não foi para falar sobre isso que te chamei aqui.

O Byun mordeu o lábio, queria insistir no assunto mas decidiu respeitar. Se limitou a fitar o garoto, o jeito como ele comprimia os lábios, totalmente desconfortável. Baekhyun se perguntou se ele estava com dor e se estivesse, onde estava doendo. Porém, não foi isso que o preocupou, no fim das contas, foi o jeito como os pulsos dele pareciam finos demais e como o casaco que usava era familiar assim como o cheiro que desprendia dali.

— Então diga. — o moreno disse.

Kyungsoo ergueu os olhos na sua direção, estavam muito grandes e assustados. Não parecia alguém com vinte e um anos de idade, parecia mais uma criança que foi pega comendo doces antes do jantar.

— Eu... Baekhyun... — usou a ponta da língua para molhar os lábios ressecados, havia uma ferida no canto esquerdo da boca, se destacando vermelha ali. — O nosso casamento. — a palavra era amarga na sua boca e parecia amarga para Baekhyun também. — É daqui algumas horas, então eu preciso saber se você quer mesmo isso?

O mais alto piscou diante da pergunta. Ninguém tinha lhe feito essa pergunta até agora. Todos tinham simplesmente agido como se ele fosse um boneco programado para fazer tudo que mandavam, como se não tivesse nenhum tipo de querer ou nenhuma emoção a mais do que a obediência. Nem mesmo o seu pai tinha lhe perguntado sobre algo, todos começaram a armar a cerimônia de casamento como se ele não fosse o noivo. Todos pareciam estar ignorando a grande dor nos seus olhos quando o fitavam e até mesmo o seu omma, que tinha sido o mais compreensivo, não tinha dito uma palavra sobre isso. Havia se limitado a entrar no seu quarto temporário com uma fita de medida na mão e os olhos baixos.

Todos tinham aceitado e por isso, Baekhyun só tinha que aceitar também.

Porém, ali estava Kyungsoo com o olho roxo disfarçado pelas lentes dos óculos de grau que usava por causa da sua visão deficiente, lhe perguntando se realmente queria aquilo. E a resposta estava tão clara na sua mente, que se surpreendeu quando não conseguiu dizê-la em voz alta. O não ficou preso na sua garganta, mostrando que essa decisão não envolvia só a si mesmo, envolvia todo um conjunto de pessoas. Pessoas essas que não tinha culpa de nada e ele como um alfa, deveria proteger todas já que era o seu cargo. Fora treinado desde criança para assumir a liderança da alcateia, foi ensinado a nunca pensar em si mesmo e sim nos outros, sempre colocar o bem da alcateia acima do seu.

E foi aí que Baekhyun entendeu o que o pai estava fazendo, conseguia visualizar todos os pormenores envolvidos naquele mísero não que queria dar a Kyungsoo.

O certo era se casar com o ômega e apaziguar os ânimos entre as alcateias Byun e Kim. Pois o alfa sabia muito bem que se não fizesse isso, o líder Kim ficaria irado de vez e atacaria a sua alcateia e tudo que Baekhyun menos queria era uma guerra agora, principalmente por causa de Donghae e o bebê. Então o que fez diante da pergunta de Kyungsoo foi comprimir os lábios e balançar a cabeça levemente, tentando ao máximo não dizer a palavra que Kyungsoo já conhecia.

— Seu pedido, senhor. — a garçonete surgiu de lugar nenhum com uma bandeja em mãos enquanto colocava a xícara de chocolate quente em frente a Baekhyun. — O senhor que pedir também? — ela virou-se para Kyungsoo e o ômega franzio o nariz em desagrado, mas Baekhyun não sabia se era por causa do perfume da humana ou pelo cheiro doce do seu chocolate quente.

— Não. Obrigado. — o moreno respondeu.

A garçonete assentiu e se retirou, não sem antes olhar para trás, por sobre o ombro, os olhos escuros desconfiados sobre os dois garotos. O alfa percebeu e a encarou de volta, os olhos muito sérios, fazendo a moça abaixar os olhos e se afastar mais. Humanos eram tão curiosos, Baekhyun pensou.

— Baekhyun... — Kyungsoo decidiu começar quando percebeu que a humana tinha se afastado o suficiente. O alfa desviou os olhos castanhos para si depois que envolveu a xícara nas mãos. — Eu não quero casar com você. — confessou, a voz saindo embargada e os olhos marejando levemente.

— Eu sei. — foi capaz de responder. — Também não quero isso, mas a alcateia...

— Será que não pode pensar em você por um minuto? Ou em Chanyeol? — o ômega inquiriu exaltando-se. — Ou em mim?

— Acha que não estou pensando? — devolveu. — Se não casarmos uma guerra pode começar. Seu pai começou tudo isso! — não pode se impedir de acusar.

— O meu?! O seu matou meu tio! — bateu as palmas das mãos na mesa fazendo o alfa se assustar, mas logo o ômega estava escondendo o rosto entre as mãos e ficando ali, respirando fundo como que a fim de não gritar.

Baekhyun ficou em silêncio. Não havia argumentos contra isso além do velho “foi uma luta justa”, pois todos sabiam como o seu pai — Siwon — tinha desafiado Kyuhyun para um duelo, que tinha como prêmio a mão da sua mãe. E foi justamente nesse duelo que Kyuhyun morreu e Siwon continuou como marido de Jihyun, dando início a toda uma história de rivalidade entre os clãs, pois Leeteuk nunca havia aceitado a morte do seu irmão mais velho e pelo visto também não aceitava que a ômega tivesse tido um filho com o Byun, pois Baekhyun bem se lembrava do modo esquisito que Leeteuk sempre o fitou e dos avisos do seu pai para nunca se aproximar dele.

Abaixou os olhos para o líquido marrom na xícara e bebeu um pouco. Gostava de chocolate quente, de alguma forma essa bebida era capaz de acalmar a tempestade dentro de si, o doce no centro da língua fazia-o esquecer de todo o amargo que era ser filho do líder de uma alcateia e ter seu destino inteiro traçado.

— Então não vai fazer nada? — escutou Kyungsoo perguntar, baixinho, sem levantar a rosto.

— Não posso fazer nada, Kyungsoo. — sentia-se tão menor que aquele ômega.

Claro que queria fazer alguma coisa. Claro que queria salvar aquele ômega daquele destino ao seu lado assim como queria poder fazer o irmão perdoa-lo, mas não havia nada que pudesse fazer sem afetar um tanto de pessoas inocentes no caminho. Era melhor afetar a vida de três pessoas do que de uma alcateia inteira, pensou.

— Apenas case-se comigo, sim? — teve coragem de continuar, afastando a xícara para longe de si, aquilo não estava doce o suficiente para ajudá-lo. — Eu não tocarei em você, nunca. Você pode ter seus encontros com Chanyeol, pode fazer o que quiser, vamos apenas manter um casamento de fachada. Quando chegar a hora, posso me casar novamente. — soltou um suspiro. — Por favor, torne-se o Ômega Principal. — pediu e o garoto à sua frente levantou o rosto, estava com as bochechas molhadas e os olhos tão cheios de dor que Baekhyun se obrigou a engolir em seco para não deixar que mais dor se apossasse de si.

Mas ao contrário do que parecia, o ômega assentiu, devagarinho mostrando que não queria fazer aquilo contudo não tinha escolha. Para o bem da verdade, não havia escolha para nenhum dos dois.

Kyungsoo enxugou as lágrimas de suas bochechas, retirou os óculos para limpar os olhos e só então soltou um suspiro antes de colocar os óculos redondos mais uma vez. E de um modo totalmente errado, Baekhyun se viu reparando no modo como o ômega formava um bico frustrado com os lábios. Conhecia aquele trejeito, a familiaridade empregada naquele ato o surpreendeu tanto que não conseguiu impedir que suas bochechas corassem. Afinal só podia está ficando louco ao pensar em Kim Minseok em um momento tão impróprio como aquele mas ao mesmo tempo não podia se impedir de reconhecer a mesma expressão de emburrados dos gêmeos.

Olhou para baixo e balançou a perna em nervosismo pela situação constrangedora que sua mente o tinha botado. Kyungsoo percebeu o modo como o alfa parecia desconfortável, mas resolveu não perguntar nada. Sentia-se cansado demais para se preocupar com alguém além de si mesmo ainda mais agora que essa coisa estava acontecendo consigo.

— Baek. — resolveu chamar quando ficaram em silêncio o suficiente, a coragem tinha lhe vindo mais uma vez, precisava saber de algo antes que ficasse louco. — Onde está Chanyeol? Ele vai assistir o casamento?

— Nosso pai o mandou embora. — engoliu em seco diante da resposta, isso não podia estar acontecendo. — Eu não sei por quanto tempo.

Tinha observado a ida do irmão do alto da escada da sua casa. O mais novo nem sequer se despediu de alguém nem ao menos olhou para trás na hora de abrir a porta e fugir daquela dor. Mas Baekhyun não podia culpa-lo quando ele mesmo queria poder fazer aquilo. No fim das contas era melhor que o outro tivesse ido, era melhor para os três pois Baekhyun não conseguia se imaginar desposando Kyungsoo tendo Chanyeol na plateia.

— Meu Deus. — o Kim disse, a voz saindo embargada enquanto ele voltava a esconder o rosto entre as mãos, dessa vez deixando que os ombros tremessem o som do seu choro chegasse até os ouvidos de Baekhyun.

Baekhyun engoliu em seco e olhou volta, como que atrás de alguma dica de como consolar Kyungsoo. Nunca sabia o que fazer quando alguém chorava perto de si, mas o estabelecimento estava quase vazio, quase, porque se não fosse por eles dois estaria totalmente vazio. Não havia ninguém que pudesse ajuda-lo com aquilo, então fez a única coisa que achou que poderia trazer algum conforto para o ômega, estendeu a sua mão por sobre a mesa e tocou o braço dele.

— Não toque em mim. — Kyungsoo demandou, ficando em pé tão rápido que o alfa se assustou.

Suas bochechas estavam molhadas e os olhos vermelhos de choro, o cabelo escuro desalinhado e os óculos meio tortos em seu rosto anguloso. O casaco era grande demais para o seu corpo pequeno as roupas estavam amassadas, como se ele tivesse vestido a primeira coisa que encontrou no seu guarda-roupa. Não se parecia em nada com a imagem atraente que tinha de si em sua mente, porém não foi isso que o impactou, foi o modo como os seus olhos estavam cheios de raiva quando o miraram, como se tudo aquilo fosse culpa sua.

E bem no fundo de si, uma voz sussurrou um sim contido. Sim, era tudo culpa sua.

— Me desculpe. — Kyungsoo disse, passando a mão no cabelo, parecia tão perdido em si mesmo que Baekhyun sentiu pena.

Ele não queria ter destruído a bela imagem do Kim assim. Sempre o tinha achado muito bonito e atraente quando estudavam juntos, mas agora tudo que parecia ter sobrado daquele Kyungsoo estava trancado em sua mente.

Limitou a recolher a mão e fecha-la, mais uma vez, na alça da xícara, no entanto, não a levantou para beber o seu conteúdo.

— Eu... eu preciso ir — o ômega falou, enfiando as mãos nos bolsos do seu casaco enorme.

O Byun estreitou os olhos para aquele casaco, conhecia aquela peça. Era de Chanyeol. Era um dos casacos de Chanyeol, constatou. E logo entendeu de onde vinha aquele cheiro, que se misturava com o floral de Kyungsoo, era o cheiro do seu irmão mais novo. Provavelmente ainda estava contido naquele tecido e isso devia dar segurança ao Kim, ato que só mostrava que o garoto já havia escolhido Chanyeol como seu parceiro.

O menor não esperou uma resposta, apenas deu as costas ao Byun e saiu do pequeno café. E por isso não escutou o baixinho sinto muito que Baekhyun lhe sussurrou.

***

Minseok deitou o queixo sobre o peito de Sehun e sorriu ao observar o seu rosto. Parecia um tanto pálido, mas não tinha reclamado de dor alguma então o ômega acreditava que estava tudo bem consigo, mas havia um fio de desconfiança em si sobre isso. Sehun ergueu uma mão e afagou-lhe o topo da cabeça loira, um sorrisinho se formando no seu rosto sempre tão sério. Uma parte sua ainda não acreditava que estava ali com Minseok e que tinham feito amor, parecia-lhe como um sonho e por isso tinha medo de acordar e constatar que ainda estava preso na incerteza do seu casamento com o Kim.

— Você parece bem satisfeito. — o loiro teve coragem de comentar e o alfa se viu corando como um garotinho adolescente, coisa que só fez o som da risada do ômega preencher todos os espaços daquela velha casinha na árvore.

O ômega gostava de deixa-lo sem jeito, no fim das contas. Porém, ergueu-se um pouco sobre o corpo do noivo e deixou um beijinho simples em seus lábios, como forma de acalma-lo. Achava a inocência de Sehun interessante e também um pouco atraente, sempre lhe enchia de ansiedade apenas a possibilidade de mostra-lhe todas as coisas que sabia. Sentiu as mãos do alfa rodearem a sua cintura, a ponta dos dedos da mão esquerda deslizando para cima, indo em direção a sua tatuagem.

— Por que você tem uma tatuagem? — o Oh perguntou contra os seus lábios e o ômega abriu os olhos apenas para encontrar um par escuro o fitando.

— É uma longa história. — optou por dizer, não queria mentir mas também não sabia o quanto podia contar sem comprometer o alfa.

— Acho que temos bastante tempo. — insistiu e o loiro voltou a deitar seu rosto sobre o peito do alfa.

Eles bem poderiam ficar ali a vida inteira, Sehun desejou docemente, deitados naquela posição, com o calor de Minseok o aquecendo e o seu cheiro impregnando em cada célula do seu corpo doente. Queria poder embalsamar-se a aquele garoto e viver o resto da eternidade preso naquele momento, pois nunca havia se sentido tão completo como naquele momento. Aquele misero momento, onde tantas coisas mais relevantes poderiam estar acontecendo. Crianças estavam nascendo, pessoas morrendo, decisões importantes estavam sendo tomadas...

— Quando eu tinha dezesseis anos fui recrutado para fazer parte de uma organização supersecreta de ômegas. — seus pensamentos foram interrompidos pela fala do noivo ômega. — A sede fica na França e durante esses cinco anos que passei fora fui treinado para ser qualquer coisa que eles quisessem. Quando me formei, recebi essa tatuagem para poder ser identificado mais facilmente por outros como eu. — Sehun escutou as palavras com a testa franzida em confusão, até perceber que aquilo era uma piada, então soltou uma risada.

— Está com vergonha de me contar que ficou bêbado e acordou no dia seguinte com isso no corpo? — perguntou rindo da história que o ômega tinha contado.

Minseok engoliu em seco e fechou os olhos enquanto forçava uma risada.

— É. — mentiu. — Fiquei com vergonha. — sentiu os braços do alfa o rodearem por completo, apertando-o contra o seu corpo enquanto beijava o topo da sua cabeça.

— Isso pode ficar apenas entre nós, sim? — assegurou o alfa e Minseok assentiu, forçando um sorrisinho.

Não era esquisito? Não era terrivelmente estranho que a mentira tenha parecido mais verdadeira que a própria verdade? — se perguntou e fechou os olhos logo em seguida, decidindo acreditar nisso afinal já não fazia mais tão parte da Organização assim. No fim das contas, era melhor fazer como Sehun: fechar os olhos para a verdade e abraçar a mentira.

— Apenas não deixe os outros verem. — Sehun continuou e dessa vez o loiro levantou o rosto para fita-lo, os olhos questionadores. — Isso não é bem visto pelos outros, Minseok. — soltou-o e levantou a mão para acariciar o seu rosto. — Um ômega não deve ter tatuagens no corpo, não é bonito.

O velho padrão, Minseok pensou amargo. Ômegas devem ser dóceis, delicados e obedientes. Qualquer coisa fora disso acarretava em uma massa de preconceito amarga que o loiro não queria provar, no entanto enquanto escutava o que Sehun lhe dizia percebia como o noivo estava preso nesses padrões. E ele ter uma tatuagem estragava toda uma imagem, que Minseok se perguntou o que Sehun diria quando soubesse sobre tudo que já tinha feito, sobre como era capaz de empunhar uma arma e sobre como adorava segurar uma. Porém mesmo com esses pensamentos, se viu assentindo para o alfa.

— Melhor voltarmos. — acabou dizendo.

Alguma coisa no modo como tinham entrado naquele assunto havia acabado com o clima, a segurança de antes não estava mais ali. O ômega não se sentia mais tão à vontade ao lado do alfa, a desconfiança estava ali mais uma vez, tocando sua nuca com dedos frios e dizendo-lhe que ele seria um eterno mentiroso e nunca poderia confiar em ninguém, não poderia mostrar-se para ninguém. Nunca.

— Mas já? — Sehun se apressou em perguntar quando o loiro rolou de cima do seu corpo, deitando-se ao eu lado, os olhos perdidos quando fitaram o teto sujo da casinha de madeira.

— Está ficando tarde. — falou automaticamente e se pôs sentado, depois em pé e começou a andar pelo lugar atrás de uma peça de roupa.

Mas não havia nada além das peças de Sehun. As suas tinham se rasgado quando se transformou em lobo, lembrou-se. O alfa, por outro lado apenas o observou andando. Gostava das formas de Minseok, a coxas fartas e os seus olhos de gato. Gostavam também do jeito que seu coração ficava descompassado quando ele estava perto, fazendo o sangue ser bombeado mais rapidamente ou mais lentamente, porque sempre sentia uma mistura de quente e frio nas extremidades do seu corpo. Se pôs sentado também, esticou os braços e só então colocou-se em pé apenas para no segundo seguinte começar a catar suas peças de roupa e vestir-se.

— Tome. — ofereceu ao ômega a sua camisa e Minseok a pegou.

O cheiro de Sehun misturava-se com o seu em todas as proporções possíveis, denunciando a quem quisesse ver que eles dois tinham dormido juntos, mas não parecia ruim quando eles casariam.

— Depois do casamento de Kyungsoo — Sehun começou enquanto via o ômega abotoando a camisa em seu corpo pequeno, tinha ficado grande como pensara, a borda quase batendo no meio das suas coxas. — podemos voltar para a minha alcateia e casar lá.

O loiro desviou a atenção dos botões e focou-a no rosto sincero do noivo. Era uma ótima proposta, onde ele não teria mais que ficar aqui, perto do seu pai e da sua família separada, nem ao menos ia ver mais Kyungsoo preso em seu casamento forçado. Ele podia simplesmente fugir com Sehun, rumo a uma vida calma. Pareceu-lhe tão convidativo, que simplesmente assentiu mas no fundo estava se odiando tanto por fugir assim.

Sehun sorriu, da forma que o Kim esperava e nos segundos seguintes quando desceram a escadinha da casinha da árvore e andaram juntos em direção a casa principal, onde seu omma morava. Minseok só se perguntava como seria viver ao lado de Sehun. Seria mesmo tão bom quanto imaginava? Por que ele sentia-se como um covarde? De repente, tudo que sua mente piscava para cada vez que fechava os olhos era como aquilo estava errado.

***

Kyungsoo abraçou os seus joelhos enquanto se encolhia no canto entre a cama e o criado mudo do quarto temporário onde estava se recuperando, ao mesmo tempo que escutava seu omma Heechul bater à porta, provavelmente segurando o seu primeiro terno de casamento. O terno vermelho, como toda a sociedade de lobos chamava não era nada mais, nada menos que a primeira roupa usada na primeira, de três etapas do ritual de casamento. O vermelho vinha para representar o sangue de lobo e o sacrifício que ambos estavam fazendo ao seu unirem, mostrando que estavam dispostos a enfrentar os problemas futuros juntos. Geralmente a cerimônia vermelha era feita separadamente, os noivos não tinham permissão para se ver até a última etapa, quando seriam apresentados em suas formas de lobos. Mas Kyungsoo não queria ter que passar por todos esses rituais de preparação apenas para encontrar Baekhyun lhe esperando, em vez de Chanyeol — que era quem amava e queria.

— Abra a porta, Soo. — Heechul pediu. — A primeira cerimônia já vai começar e você ainda não se vestiu.

— Me dê só mais alguns minutos. — pediu de volta, a voz saindo tremida de choro e os olhos muito bem fechados para impedir que mais lágrimas descessem por seu rosto.

Do outro lado da porta, Heechul suspirou. Tinha total conhecimento sobre como o filho caçula estava triste com o fim do seu romance com Chanyeol e totalmente quebrado com a decisão do pai alfa em obrigá-lo a casar com o irmão mais velho deste, apenas para puni-lo. Heechul era capaz de chegar bem perto desse sentimento de tristeza profunda que parecia haver no peito de Kyungsoo, pois já o havia sentido quando teve que se casar com Leeteuk em vez de Kyuhyun. Um pequeno erro do destino que o tinha feito terminar na cama do mais novo do que do mais velho, como era previsto pela Organização de Ômegas.

No entanto, não era como se isso fosse alguma coisa de todo ruim. O Kim havia aprendido a amar Leeteuk e depois tinha até mesmo aprendido a gostar de Ryeowook, apesar de concordar que precisava de alguns ajustes no relacionamento com esse último. Mas o que importava era que aquele acidente trágico com Kyuhyun tinha lhe dado Junmyeon e os gêmeos e toda uma família grande e amorosa, todavia, de vez em quando se pegava pensando em como poderia ter sido sua vida se tivesse casado com Kyuhyun, se não tivesse feito aquilo com o beta, se não tivesse sido tão egoísta... Duvidava muito que fosse um tantinho mais feliz do que era agora, mas também duvidava que merecesse tudo isso que tinha agora.

Encostou a testa na superfície lisa da porta de madeira e respirou fundo de olhos fechados, o cheiro floral de Kyungsoo inundando o seu olfato de uma forma avassaladora. Fazia alguns dias que ele vinha notando a forma como o cheiro do ômega mais novo estava um tanto mais forte e um tanto mais misturado também, pois podia muito bem identificar um certo toque cítrico misturado ao odor do filho mas pelo modo como ele vinha sempre usando o casaco do ex-namorado alfa como forma de aplacar a saudade, Heechul acreditava que o cheiro misturado do filho era por culpa disso ou pelo menos queria acreditar.

— Kyungsoo. — resolveu tentar mais um pouco, não queria forçar o filho à aquilo mas esse era o tipo de coisa que não dava mais para voltar atrás.

Os dois líderes alfas, Kim e Byun, tinham assinado o acordo e mesmo Junmyeon que assumiria no dia seguinte a liderança da alcateia, não tinha poder algum contra esse contrato do mesmo modo como o Conselho não pôde interferir, já que isso abrangia um acordo entre clãs, coisa que ficava fora da jurisdição dos lobos do Conselho.

— Só mais cinco minutos. — Kyungsoo respondeu, abrindo os olhos e enxugando suas lágrimas ao passo que Heechul voltava a suspirar.

— Tudo bem. — respondeu apertando o tecido do terno entre os dedos. — Eu volto depois e, por favor, Kyungsoo, abra a porta. — pediu antes de se afastar dali.

O ômega, dentro do quarto, encostou a parte de trás da cabeça na parede e respirou fundo, engolindo todas as lágrimas que queriam descer mais uma vez. Ele não podia mais ficar sentado em um canto daquele quarto chorando por uma coisa que não ia mais acontecer. Tudo bem, que cada parte do seu corpo doía em saudade de Chanyeol e que tudo que menos queria era ter casar com o irmão deste e ter que encarar o amante pelo resto da vida, sabendo que sempre pertenceria à a outro mas nunca podendo ficar com o tal, mas não podia mais se enfiar nessa dor, ainda mais depois do que tinha acontecido... depois daquele pequeno milagre acontecendo dentro de si. E era justamente por causa dessa pequena luz de vida que não podia casar com Baekhyun, pois, afinal, que tipo de monstro ele seria por condenar aqueles dois alfas a uma vida daquelas?

Pôs-se em pé. Tinha um plano na mente, tinha passado a noite armando os pormenores e avaliando as suas chances, parecia fácil quando visto na sua mente e parecia um tanto louco todas as vezes que era capaz de pôr em voz alta para si mesmo naquele quarto. Mas agora não havia mais tempo para se perguntar se aquilo era certo ou não, apenas precisava fazer da maneira como tinha dito para si mesmo mais cedo se Baekhyun não concordasse com o fim daquele noivado obrigado.

Correu até o seu guarda-roupa e pegou a mochila com algumas mudas de roupa que tinha preparado, vasculhou o bolso lateral da mesma, atrás da chave reserva do seu quarto e de outras chaves reservas que tinha arranjado nesse meio tempo que havia ficado regrado apenas aquele quarto. Geralmente, costumava sair à noite enquanto todos dormiam, para tomar um ar. E foi numa dessas andanças que conheceu ou melhor, se aproximou daquele Kim.

Colocou a mochila nas costas, a mão direita segurando a chave reserva do quarto. Aproximou-se da porta, esperando que a última pessoa do mundo viesse o salvar, quando todos os outros tinham se juntado contra si e o estavam obrigando a seguir com aquele matrimônio indecente.

Anos depois quando abrisse a boca para explicar o que aconteceu naquele dia, não saberia explicar o que realmente aconteceu pois tudo que conseguia se concentrar era no modo como escutou três batidas ritmadas na porta e depois teve sua mão segurada pela do alfa Kim mais velho. Lembrar-se-ia do jeito como seu estômago se contorceu em ansiedade e medo e teve vontade de vomitar, do jeito como o outro o arrastou pelos corredores da casinha amarela onde nasceu e cresceu, da forma como viu o cabelo loiro de Minseok de relance na cozinha e teve vontade de chorar do tanto de saudade que sentiria do gêmeo.

— Espera. — ainda falou, quando o arrependimento o assolou, os olhos muito grandes quando fitaram o alfa a dois passos de si, ainda segurando sua mão com muita força como se soubesse que ele queria correr de volta para aquele quarto e se casar com Baekhyun para satisfazer o ego do seu pai alfa. — Jongdae. — chamou. — Por favor, espera.

Jongdae cessou seus passos. Conhecia bem aquela casa para saber quais caminhos pegar sem ser notado assim como sabia que caminho pegar para sair do território da alcateia, havia caminhos secretos o suficiente para serem usados naquele lugar assim como havia caminhos secretos o suficiente para tornar aquele casamento interessante para todos, inclusive para si mesmo, que era o que importava, no fim das contas. Admitia que quando dera essa ideia para Kyungsoo, apenas estava querendo ajudar a si mesmo, mas na medida que via o ômega cedendo as suas palavras, ao modo como a sua proposta parecia bondosa o suficiente, percebia que uma parte sua acreditava que aquilo era o certo, afinal conhecera Kyungsoo quando era mais novo, sabia sobre como ele era cheio de vida e agora se surpreendia por vê-lo tão magro e tão machucado, duvidava que alguma maquiagem conseguisse esconder aquelas manchas roxas e a tristeza estampada em seus olhos grandes, que já foram tão bonitos. Podia não ser a melhor saída, mas era a única que tinha e infelizmente, não era apenas em prol do bem do ômega, havia um tanto de raiva naquela ação também.

— Não temos tempo para esperar. — disse ao Kim mais novo. — Ou vamos agora, ou não vamos nunca.

As palavras tiveram o efeito esperado, pois logo a boca de Kyungsoo estava ficando seca e o peito pensando em indecisão. Ele virou o rosto para trás, já estavam fora da casa, mas o moreno bem podia voltar correndo, no entanto o que ele faria lá? Se deixaria casar com Baekhyun? Se deixaria ferir assim? Não aguentava mais aquela dor de ter perdido o seu alfa, não queria ter que aguentar mais dor quando olhasse para o olhar quebrado de Baek. Estava tirando daquele Byun qualquer chance que ele teria de encontrar seu parceiro ideal. Estava estragando tudo do jeito que seu jeito impulsivo sempre fazia, pois se tivesse apenas escutado o conselho de Minseok há muito tempo, quando tinha lhe alertado sobre os Byun’s. Se ele apenas tivesse escutado tudo o que seu pai tinha lhe dito, não precisaria tomar uma decisão tão difícil assim.

No entanto, mesmo que quisesse ficar. Sabia que não podia. Não dava mais para viver daquela maneira. E foi pensando nisso que voltou a olhar para Jongdae e assentiu:

— Vamos. — se escutou dizer depois de engolir todas as lágrimas que queria derramar pela família que estava abandonando.

Mas, no final das contas, ele precisava salvar a si mesmo e infelizmente, só havia uma maneira de fazer isso: fugindo.

***

Baekhyun parou em frente ao espelho do seu quarto temporário e ajeitou a gola da sua roupa. Estava usando o terno padrão dos oficiais da alcateia, onde tinha se formado há alguns anos. Botas de couro, o blazer com botões cruzados, a calça de couro escura e cinco estrelas bordadas sobre o seu peito esquerdo, mostrando quão alta era a sua patente. O traje de gala que só era usado em cerimônias importantes tinha virado o seu terno de casamento. Era estranho se fitar naquela farda, pensou. Quer dizer, já tinha se imaginado usando-a quando chegasse a hora, mas nunca imaginara que a usaria para casar com o ômega do seu irmão mais novo.

Puxou as mangas do seu blazer, afim de ajeita-las no seu corpo. Lembrava-se da última vez que usou aquela roupa, foi na sua graduação como oficial da alcateia e tinha achado os detalhes das correntes no ombro tão brega que prometera que não mais usaria, no entanto ali estava ele... Soltou um suspiro e levou a mão a gola mais uma vez, porém dessa vez ajeitou a cola da camisa branca que usava por baixo do blazer e só então virou-se de costas para espelho. Não havia mais nada que pudesse ajeitar, tudo estava pronto e não havia mais motivos para adiar o inevitável.

Começou a andar em direção a porta, ia esperar os seus pais no andar de baixo. Estava em silêncio, o atrito das suas botas contra o chão regia toda a confusão de sentimentos em que estava mergulhado, quando ergueu a mão para girar a maçaneta da porta e foi totalmente surpreendido pela mesma sendo aberta num rompante. Assustou-se, os olhos se arregalando, a mão voltando a abaixar e seus pés recuando dois passos.

— Ah. — escutou o seu pai soltar ao passo que ele mesmo piscava, tentando fazer a surpresa escorrer do seu rosto. — Assustei você? — Siwon perguntou, os olhos desviando do rosto do filho e o resto da sua expressão tão séria como sempre esteve. — Acho que eu devia ter batido antes de entrar. — Baekhyun o escutou dizer e logo estava franzindo a testa em confusão, aquilo que estava na voz do seu pai era pesar? Por que parecia demais com um pedido de desculpas? — Bom, de qualquer forma está na hora de termos uma conversa.

O alfa mais velho entrou de vez no quarto e andou até a cômoda do filho, e foi só então que o Byun mais novo percebeu que ele trazia algo nas mãos. Era uma caixinha pequena de madeira, pintada de azul tão escuro que parecia quase preto. Siwon colocou a caixinha ali e abriu-a sob o olhar curioso de Baekhyun. Aproximou-se um pouco do pai, o passo meio incerto quando foi na sua direção.

— Seu avô me deu isso quando casei com sua mãe. — o mais velho contou virando-se para ficar de frente para o filho, um pequeno broche na sua mão. Aproximou-se e sem esperar qualquer coisa, colocou-o na sua roupa, na mesma fileira onde se encontrava as estrelas. — Foi no mesmo dia que assumir o posto de líder da alcateia. — continuou enquanto ajeitava o broche na roupa do alfa mais novo. — Eu tinha menos da sua idade quando assumi a liderança da Alcateia e não estava nem um pouco preparado. — Baekhyun apenas era capaz de observa-lo falar, era o mais próximo que tinham chegado de uma conversa de pai e filho em todos esses anos. — Mas você teve mais anos que eu. — Siwon segurou os seus ombros e o sacudiu levemente. — E confio que irá fazer um trabalho melhor. — balançou a cabeça em afirmação, o rosto sério como sempre. — A partir de hoje, depois que descer daquele altar com seu Ômega Principal do lado, será o líder, Baekhyun.

Baekhyun assentiu sem saber o que mais deveria fazer. Era o certo, afinal. Tinha sido preparado para aquele cargo desde que nascera e depois quando sua natureza alfa foi confirmada, ele não saberia ser outra coisa além daquilo. Então apenas assentiu, deixando o pai saber que mesmo que estivesse com medo iria continuar, pois era isso que alfas faziam: eles seguiam em frente apesar do medo.

— Baek... — Donghae entrou, os movimentos distraídos enquanto tentava arrumar sua gravata. Siwon retirou as mãos do ombro do filho, os olhos desviando até o marido ômega ao mesmo tempo que Donghae levantava o seu rosto para encontra-los. — Ah. — soltou simplesmente, entendendo que havia atrapalhado alguma coisa importante. — Vocês querem que eu saia? — acabou perguntando, deixando de lado o nó da gravata e Siwon quase sorriu do modo como ele parecia envergonhado.

— Está tudo bem. — Baekhyun se escutou dizer, decidindo-se a acreditar nisso e o Lee como que sabendo sobre toda a confusão que havia no filho adotivo, sorriu para si e se aproximou o suficiente para bagunçar o seu cabelo escuro.

— Ainda não acredito que meu bebê vai casar. — teve coragem de dizer afim de quebrar todo aquele clima ruim.

— Eu que não acredito que você ainda não sabe dá um nó em uma gravata. — incrivelmente Siwon disse, fazendo o ômega virar-se na sua direção, os olhos brilhando em diversão.

Eles tinham feito as pazes há algum tempo, mas Baekhyun não entendia porque exatamente eles tinham discutido, sabia apenas como cada um tinha se mantido longe, nem sequer olhavam na direção um do outro, fazendo com que o jovem alfa se perguntasse todas as noites se aquilo tinha sido culpa sua também. Mas para todas as vezes que tinha observado os pais quando estavam separados, percebeu que o que quer que tivesse acontecido entre eles, era algo que não tinha haver consigo. Parecia ser algo mais antigo e mais profundo, o tipo de coisa que pertencia apenas aos dois.

Siwon aproximou-se de Donghae, fazendo o ômega retirar as mãos do cabelo do filho e ficar de frente para si, para só então erguer as mãos e começar a fazer um nó na gravata dele. Baekhyun observou-os mais um pouco, era estranho que estivesse querendo algo como aquilo para o seu futuro? Não com Kyungsoo, porque realmente não dava para pensar no Kim dessa maneira, mas com qualquer outra pessoa que pudesse casar no futuro — pois sabia como ia precisar de herdeiros e não podia contar com Kyungsoo para isso — gostaria de poder ter algo parecido com aquilo que existia entre os dois à sua frente.

— Estamos atrasados. — Siwon se pronunciou depois que terminou de arrumar a gravata de Donghae.

Baekhyun piscou, não sentia-se como parte daquela cena ou daquele momento. Parecia mais como se estivesse pairando sobre aquilo tudo, até mesmo quando seguiu os pais para fora do quarto não era capaz de sentir seus pés realmente pisando no chão, por isso tinha que ficar olhando para eles a cada cinco segundos, como um tique nervoso esquisito. E mesmo quando entrou no carro que o levaria até o território Kim, não foi capaz de tirar os olhos dos seus pés muito bem calçados. Precisava confirmar para si mesmo que estava mesmo fazendo aquilo, que estava mesmo fazendo o certo.

O certo... essa palavra parecia muito longe de ser a melhor para descrever o que estava fazendo. A palavra certa parecia ser traição e a ausência de Chanyeol apenas servia para intensificar isso. Não que ele quisesse que o irmão estivesse ali para ver aquele assassinato às chances dos dois, mas sim, para estar ao seu lado. Pois pela primeira vez em tanto tempo, Baekhyun nunca havia se sentindo tão sozinho e tão preso.

O altar estava montado quando chegou, os convidados estavam sentados em seus lugares e tudo parecia terrivelmente normal. Menos o céu ficando muito escuro e o vento frio que tocava-lhe a face, denunciando que logo choveria e quase riu quando constatou isso, pois era o timing perfeito: casar em meio a uma tempestade.

No entanto, ignorou isso e seguiu direto para a casa principal, junto com seus pais. Não sabia ao certo a qual dos ômegas aquela casa pertencia e mesmo quando entrou na mesma, não foi capaz de identificar o cheiro de ninguém conhecido. Havia apenas o cheiro de Leeteuk e Sehun, espalhados pelos cantos da casa. Porém, ao reconhecer o cheiro do Oh, não foi capaz de se impedir de procurar o cheiro doce de Minseok, e quando não o encontrou, sentiu-se relaxar de uma forma totalmente errada.

— Onde está o noivo? — foi seu pai que perguntou, os olhos escuros quando encontraram a figura bem arrumada de Kim Jungsoo.

— Na casa ao lado. — respondeu simplesmente ao mesmo tempo que sentava-se em um dos sofás vazios, o terno escuro que usava deixava-o mais sério do que realmente era e a faixa vermelha nas bordas do terno, apenas serviam para mostrar como aquilo não combinava consigo.

Siwon ergueu uma sobrancelha com a resposta do outro, havia ali uma pontinha de desconfiança estampada no seu rosto pois até onde lembrava, o alfa costumava morar com seus dois ômegas e sempre passava mais tempo na casa do outro ômega, o baixinho chamado Ryeowook, sabia desse último fato porque Heechul fazia questão de encher seus ouvidos com reclamações sobre isso quando se encontravam para conversar. Pois mesmo que o alfa Byun tivesse quebrado suas relações com Leeteuk, nunca realmente as quebrou com Heechul.

O que fazia com que ele e o ômega tivessem um tipo estranho de amizade, que os fazia se encontrar de vez em quando e até mesmo estendia esses encontros a jantares em sua casa, diante da presença de Donghae, que incrivelmente também tinha uma ótima amizade com Heechul.

— Onde está Heechul-ssi? — Donghae perguntou primeiro que o marido, apenas para receber um olhar cortante do alfa no sofá.

— Por que isso seria da sua conta? — Leeteuk devolveu e Baekhyun mordeu o lábio antes de se pronunciar:

— Não fale assim com meu omma.

— Ou o que? — o alfa Kim se levantou do sofá, pronto para ir em direção ao alfa mais novo ao mesmo tempo que Baekhyun dava passos nada pequenos em direção a ele, querendo acertar as contas.

A verdade era que o alfa mais novo só estava procurando alguém para direcionar toda aquela frustração em casar com Kyungsoo, e pelo modo como Leeteuk o estava provocando, acabou sendo o primeiro sorteado do dia.

— Opa. — Donghae acabou se colocando entre os dois, as mãos espalmadas nos peitos dos alfas. — Nada de briga, sim? Vamos nos tornar uma família hoje. — tentou e até mesmo sorriu, o que só fez Leeteuk revirar os olhos.

— Como pôde se casar com ele? — o Kim usou o tom de voz debochado quando se dirigiu a Siwon, que cuidadosamente tinha se aproximado do sofá e sentado-se ali para assistir o impasse dos dois lobos.

— Do mesmo modo que você se casou com Ryeowook. — ajeitou a gola da sua camisa enquanto respondia calmamente, coisa que só deixou Leeteuk mais irritado. 

Eles não eram tão diferentes no final, Siwon sabia ainda mais quando ambos tinham quebrado as regras ao se casarem com ômegas sem berço algum, pois era de conhecimento geral como Leeteuk conheceu Ryeowook e como vieram a se casar assim como desgostavam do como o Byun casou-se com Donghae e depois o marcou, findando qualquer acordo de casamento que os outros clãs tivessem para si. O Kim contorceu o rosto em desagrado na direção do alfa e preparou-se para rebater quando a porta foi aberta revelando uma Joohyun apressada.

— Encontrei você. — ela entrou rápida, seus olhos passando rapidamente pelos três Byun’s na sala e fazendo questão de ignora-los. — Estamos com um problema. — disse ao segurar a mão de Leeteuk e começar a puxa-lo em direção a saída.

— O que aconteceu? — Baekhyun perguntou, um tanto curioso pelo modo como a mulher parecia aflita.

— Não é da sua conta. — respondeu ríspida ao lança-lo um olhar duro. — Isso é assunto de Kim’s.

— Vamos ser Kim’s daqui algumas horas. — Siwon respondeu. — Assim como vocês vão ser Byun’s. — levantou-se apenas para dar dois passos em direção ao casal de irmãos, que estavam cada vez mais próximos da saída.

— Eu nunca vou ser uma Byun. — Joohyun respondeu tão séria que até mesmo Donghae se encolheu, havia ali, estampado em cada letra da sua sentença um desprezo tão grande que pegou o ômega de surpresa.

— Uma pena, porque seus sobrinhos com certeza serão. — Siwon continuou diante do olhar duro da mulher ao mesmo tempo que Baekhyun engolia em seco ao escutar isso, não queria ter filhos com Kyungsoo.

— Não dê ouvidos à ele. — Leeteuk segurou o braço da irmã e a puxou para fora da casa. — Me diga o que aconteceu. — Siwon ainda foi capaz de escutá-lo falar antes que a porta fosse fechada e os dois sumissem de vista.

— Insuportáveis. — Donghae bufou cruzando os braços e dirigindo-se até um dos sofás vazios, sentou-se ali.

— Não fique irritado. — Siwon sentou-se ao seu lado e Baekhyun observou os dois mais uma vez, sem saber ao certo o que deveria fazer.

Mas antes que pudesse encontrar alguma função para o seu desconforto, a porta foi aberta mais uma vez por um Leeteuk com olhos sérios demais para ser contestado.

— Venha comigo. — meio pediu, meio mandou para a figura um tanto surpresa de Byun Siwon, pedido esse que apenas trouxe calafrios ao Byun mais novo.

Siwon levantou-se do sofá e seguiu até a saída, não olhou para atrás do jeito que o filho esperava, apenas seguiu em frente como se não existisse ninguém na sala, o rosto sempre impassível. Era preferível que ninguém soubesse como seu interior estava apreensível com aquele pedido de Leeteuk.

— Donghae, — ainda falou antes de sair de vez da casa. — prepare Baekhyun para a cerimônia vermelha.

O ômega assentiu antes de olhar para o filho adotivo, então viu pelo canto de olho o marido sala sair da casa, seguindo o outro alfa líder. Havia alguma coisa de errado, Donghae era capaz de sentir, mas do jeito que sempre acontecia era apenas capaz de captar as emoções dos demais e nunca de saber o que realmente estava acontecendo. Nunca soube explicar porque era tão sensitivo, mas gostava de atribuir isso ao seu sangue de ômega, mesmo que todos os ômegas que conhecesse não fossem tão sensíveis do jeito que era.

— Venha, querido. — aproximou-se do filho, segurando-lhe a mão e aproveitando para fazer um carinho ali, afim de tranquiliza-lo.

Baekhyun se deixou levar, pois não sabia o que mais poderia fazer. Enquanto isso, fora da casa, Siwon seguia Leeteuk até a casa amarela ao lado. O alfa Kim parecia terrivelmente irritado, o que explicava as suas mãos abrindo e fechando e o jeito como soltava o ar pela boca. O Byun observava tudo em silêncio, curioso com tudo aquilo. Seu pai costumava dizer que não era viável tomar decisões de cabeça quente, era sempre preferível controlar as emoções e observar tudo ao seu redor. Era o que o alfa estava fazendo agora, olhando em volta atrás de possíveis pistas de que o outro o estava conduzindo a uma armadilha, mas não era isso que parecia estar acontecendo. E isso ficou comprovado quando entraram na pequena casinha de Kim Ryeowook.

Reconheceu primeiro Heechul, sentado no sofá, a perna esquerda balançando em nervosismo e o cabelo um tanto grande escuro escondido atrás das orelhas. Ao seu lado estava um baixinho com bochechas fofas e pelo cheiro que saia da sua pele, Siwon reconheceu como um ômega e logo depois o seu nome se fez presente em sua mente. Aquele era Kim Ryeowook, o pai de Kyungsoo e Minseok. E por pensar em Minseok, foi capaz de reconhece-lo, em pé, meio encostado na parede. Usava roupas despojadas de algodão, os braços cruzados e os lábios comprimidos em uma linha de preocupação enquanto Oh Sehun se prostrava ao seu lado, como que guardando-o, demarcando o local ao lado daquele garoto ômega. Siwon sabia disso, porque costumava fazer a mesma coisa quando estava junto de Donghae, era apenas o instinto alfa de demarcar local, de mostrar que aquele ômega já tinha um parceiro.

— Isso tudo é culpa sua. — escutou Joohyun acusar e por um momento achou que ela se referia a si e abriu a boca para perguntar o motivo da acusação, mas os olhos da beta não estavam em si. Focavam-se, cheios de raiva, no ômega baixinho ao lado de Heechul.

— Cale a boca, Joohyun. — Heechul defendeu o ômega, segurava a sua mão como que afim de passar alguma segurança a Ryeowook.

— Quer que eu cale a boca? Faça-me um favor, Heechul, fique quieto do jeito que lhe foi ensinado.

— Eu vou ficar quieto depois que socar sua cara. — o ômega se levantou e até mesmo arregaçou as mangas do seu terno avermelhado, mas foi impedido pelos braços de Ryeowook que se fecharam em volta da sua cintura, segurando-o no lugar.

— Deixe isso pra lá. — o Kim mais novo pediu ao mesmo tempo que Siwon, olhava em volta avaliando a face desgostosa de Minseok, que parecia querer correr até a beta e fazer o serviço que o pai ômega prometera, mas não o fazia pela mão fechada de Sehun em seu braço.

Acabou soltando um suspiro antes de perguntar:

— O que está acontecendo aqui?

Joohyun desviou o olhar para si, fazendo questão de mostrar o seu desgosto em vê-lo ali, mas aparentemente ele era necessário.

— Conte à ele, Ryeowook. — ela mandou, os braços cruzados. — Diga o que seu filho fez.

— Pare de gritar, Joohyun. — Heechul soltou-se dos braços do ômega e foi até a beta.

— Ou o quê? — ela foi capaz de desafiar e sem aviso prévio algum, o ômega levantou a mão e acertou na face da cunhada.

Ryeowook abriu a boca em descrença com a coragem do outro Kim ao mesmo tempo que Minseok tentava se aproximar, mas era segurado pelo noivo alfa e Leeteuk, avançava pela sala, segurando os braços da irmã mais nova, impedindo que ela avançasse no ômega.

— Que isso sirva para você se pôr no lugar. — Heechul falou, ajeitando o seu terno.

— Ora, seu...! — Joohyun se debateu nos braços do irmão. — Me solte, Leeteuk! Vou ensinar uma lição a esse ômegazinho.

Mas Heechul não estava escutando, pois simplesmente andou calmamente até o seu lugar e sentou-se ali. O rosto sério, escondendo qualquer emoção de triunfo que teve ao acertar a mão no rosto daquela beta, afinal não era de hoje que queria ensinar uma lição aquela mulher.

— Contenha sua mãe, Sehun. — Leeteuk disse, a voz saindo impaciente alertando a todos naquela sala, que seus nervos já estavam saturados.

O alfa Oh se aproximou depois de sussurrar algo no ouvido do ômega loiro. Ele segurou a mãe e simplesmente a arrastou dali, dizendo coisas como “fique calma”, como se Joohyun fosse mesmo lhe dá ouvidos. Mas foi apenas depois que a figura raivosa da beta saiu da sala, que Heechul foi capaz de responder a pergunta de Siwon:

— Kyungsoo sumiu.

— Fugiu. — Leeteuk corrigiu, passando a mão nos cabelos escuros.

Siwon piscou, sem saber se tinha mesmo escutado certo. Abriu a boca para perguntar se aquilo era mesmo sério, mas Minseok foi mais rápido:

— Talvez, ainda esteja no vilarejo. Se mandarmos os guardas procurarem...

— Acha mesmo que não pensei nisso? — o alfa Kim se dirigiu ao filho, usando a voz de alfa e fazendo-o se encolher, contra a vontade, contra a parede. — Junmyeon está cuidando disso, mas estamos sem resultados. — então virou-se para o Byun. — Até onde sei isso pode muito bem ser uma jogada sua para me fazer pagar de bobo na frente de todos.

— Como se eu precisasse jogar tão baixo quando você faz isso de graça. — rebateu.

— Seu filho da mãe. — Leeteuk avançou em si tão rápido, que Siwon não teve tempo de se afastar, apenas foi pego pelo colarinho. — Se você estiver por trás disso...

— O que? Não há nada que eu possa ganhar com isso. Não seja idiota pelo menos uma vez na sua vida miserável. — teve coragem de se defender, apenas para empurra-lo no segundo seguinte.

— Parem com isso. — Ryeowook pediu, a voz saindo baixinha e frágil, chamando a atenção de todos na sala.

Minseok aproximou-se do pai, sentando no lugar vago direito, segurando sua mão logo em seguida. Queria conforta-lo ao mesmo tempo que queria ser confortado. Não conseguia acreditar que Kyungsoo tinha sumido assim, sem deixar pista alguma, sem deixar uma carta, sem deixar nada. Pois era tudo que tinha sobrado do irmão mais novo, um grande nada. Ninguém o havia visto sair, ninguém sabia como ele poderia ter planejado isso. Ele simplesmente havia sumido do quarto onde estava dormindo, sua presença não estava em lugar nenhum da casa. E, claro que Minseok entendia porque ele tinha fugido, mas não conseguia acreditar na coragem dele em seguir em frente com aquilo, quando havia tantas pessoas envolvidas nessa decisão.

— Não dá para parar com isso enquanto o seu filho não aparecer. — Leeteuk dirigiu-se ao marido.

— Nosso filho. — Ryeowook soltou a mão do filho e se pôs de pé. — Não banque o babaca agora. — pediu, os olhos brilhando com lágrimas de raiva e decepção por ter aquele alfa do seu lado.

— Apenas cancelem. — Siwon interrompeu qualquer que fosse a discussão de casal que eles fossem entrar, não tinham tempo para isso, precisavam decidir o que fazer.

— O que? — o líder Kim virou-se para o alfa mais uma vez. — Não pode estar falando sério. Nós temos um trato.

— O trato é que nossos filhos se casem, Kyungsoo não está mais aqui. É óbvio que o garoto fugiu para evitar isso, então vamos apenas cancelar e manter o acordo. — sugeriu.

— Escute o que Siwon está dizendo. — Heechul interviu a favor do Byun.

— Não tome partido aqui. — Leeteuk o cortou.

— Eu sou o Ômega Principal, tomarei partido aonde quiser. — rebateu e Siwon quase sorriu, gostava do modo como Heechul era perigoso em suas palavras, do jeito como nunca abaixava a cabeça. Era tão cheio de força para um ômega, que Siwon frequentemente se via perguntando a Mãe Lua porquê aquele Kim nascera na classe mais baixa.

Kim Jungsoo abriu a boca para bater de frente com o ômega, não podia aceitar ser rebaixado desse modo pelo marido ômega na frente de um rival. Mas a porta sendo aberta num rompante, fez com que as palavras se perdessem em sua mente.

— Então? — escutou Minseok perguntar a pessoa que entrava.

Era Junmeyon, o cabelo castanho bagunçado e a roupa de festa amassada. O rosto estava suado, como se tivesse corrido até ali, o que de fato tinha acontecido e pelo modo como tinha balançado a cabeça em negação para o irmão ômega, Siwon entendeu que o garoto também tinha estado correndo pela vila atrás do irmão caçula e pelo visto isso não tinha dado em nada, pois ele estava sozinho ali comprovando a ideia de Siwon de que o ômega não tinha sido encontrado e o alfa duvidava que algum dia fosse, pelo modo como ele parecia simplesmente ter sumido. Corrido para bem longe dali sem olhar para trás.

— Feche a vila. — Leeteuk mandou, pegando todos ali de surpresa. — Ninguém sai ou entra até que encontremos Kyungsoo.

— Não é mais necessário esse tipo de medida. — Siwon falou. — O garoto já está bem longe daqui.

— E você parece ter muita certeza disso, não é? — Leeteuk voltou a se aproximar de si, querendo intimida-lo com sua natureza alfa.

— Deve ser pelo modo como seu filho não encontrou nada em sua busca que me mostra isso. Pare de achar que estou por trás disso.

— Eu tenho todas as razões para achar que você está por trás disso.

O Byun ergueu uma sobrancelha antes de revirar os olhos e lançar um olhar cansado para Heechul, ainda sentado no sofá. Ryeowook estava, novamente, ao seu lado, as mãos juntas com a do ômega mais velho ao passo que Minseok, detinha as mãos pequenas sobre as coxas, apertando os dedos uns nos outros com os olhos perdidos e o pensamento há anos luz dali.

— Vamos cancelar. — incrivelmente era Junmyeon falando, a voz saindo firme como a de um líder. — Vamos rever os termos do contrato e arranjar outra maneira.

— Não vamos rever coisa nenhuma. — seu pai interferiu, soando muito como uma criança birrenta. — O trato era que Baekhyun casaria com Kyungsoo. Se não houver casamento, você sabe muito bem o que deve acontecer. — a ameaça estava implícita na sentença e todos naquela sala, podiam identifica-la.

O líder Byun ficou parado, os olhos voltando a encontrar a face do ex-amigo. Não era engraçado que eles já tivessem sido crianças travessas juntas, que saiam por aí aprontando, que tinham um lugar secreto e segredos bobos? Parecia o tipo de coisa que tinha acontecido em outra vida quando eles eram apenas filhotes inocentes, sem as pressões que o cargo de líder traria. E agora, olhando para aquele alfa à sua frente, ameaçando o seu filhote, Siwon só conseguia ter cada vez mais certeza que aquilo tudo que eles tinham vivido juntos tinha ficado em outra vida. Aconteceu em outro mundo. Um mundo em que Kyuhyun estava vivo e Jihyun não tinha desaparecido.

— Está agindo como seu eu tivesse quebrado o contrato. — Siwon rebateu. — Meu filho está aqui da maneira como foi combinado e o seu, aonde está? Pelo que parece, quem deve pagar alguma coisa é você.

— Não ouse me cobrar. — apontou o dedo em sua direção e o Byun ergueu a mão para dar um tapa no dedo erguido.

— Ou o que? Eu já matei o seu irmão mesmo. — alfinetou, coisa que apenas fez o Kim erguer as mãos e segura-lo pela gola novamente, apertando tão forte que Siwon sentiu o ar se tornar rarefeito.

— Parem com isso. — Junmyeon interferiu, puxando as mãos do pai do pescoço de Siwon. — Não é assim que resolvemos esse tipo de coisa. — argumentou.

— Não me venha com lição de moral. — Leeteuk se dirigiu ao filho.

— Não me venha você com esse comportamento infantil. — Heechul se pronunciou. — Pare de agir como um garotinho injustiçado e resolva isso como um líder. — ficou de pé para poder dizer isso olhando nos olhos do marido.

Jungsoo o fitou de volta, sem acreditar que aquele tipo de coisa estava mesmo saindo da boca de Heechul. Mas o olhar firme estava ali acompanhando toda a sua postura, mostrando que o ômega estava falando muito sério. Acabou não aguentando toda a dureza que havia no olhar do ômega e desviou-o para Ryeowook, no sofá. Ele estava um tanto encolhido ao lado do filho, os olhos perdidos e lagrimosos, mostrando que não estava prestando atenção no conflito que estava acontecendo à sua frente, na sala da sua casa. Leeteuk quis se aproximar, abaixa-se na sua frente e dizer que tudo ia ficar bem, que eles encontrariam Kyungsoo, mas o seu orgulho impediu que fizesse tudo isso.

De repente, ele se viu em uma batalha interna sobre simplesmente aceitar o que todos estavam propondo, o cancelamento do casamento, e sobre arranjar mais uma maneira de ferir Siwon. A segunda opção lhe parecia mais chamativa. Era o que vinha querendo há muito tempo. Era a velha vingança que vinha alimentando há tantos anos, não podia simplesmente afasta-la assim. Seu irmão estava morto por causa do orgulho daquele alfa, então por que ele não podia ser um pouco orgulhoso também? Siwon merecia sofrer, merecia tudo de voltar, toda a dor que causou em si. Eles eram amigos — poxa! —, melhores amigos da vida inteira. O Byun não podia ter feito aquilo, não daquela maneira... existiam tantas formas menos dolorosas daquilo terminar, Leeteuk pensou enquanto deixava a vingança ganhar mais uma vez em si.

— Não vai haver casamento. — se escutou dizer e quase viu o alivio adornar a face de todos naquela sala. — Mas Baekhyun fica, como era o combinado antes do acordo ser fechado.

— Não seja idiota. — Siwon avançou no alfa, empurrando-o com força, cansado demais de segurar suas emoções.

— Já chega. — Junmyeon interferiu mais uma vez, se colocando entre os dois e empurrando Siwon para longe, de volta a seu lugar de origem. — Cheguem em um acordo de uma vez, antes que eu mesmo acabe com essa palhaçada.  — irritou-se.

— Não tem direitos como líder ainda, não pode tomar decisão alguma. — Leeteuk disse ao passo que Siwon empurrava os braços de Jun para longe de si.

— Amanhã já serei o líder. — o filho o enfrentou.

— Mas até lá tem que abaixar a cabeça pra mim. E eu digo que Byun Baekhyun não sairá do meu território até que Kyungsoo apareça.

— Kyungsoo não vai aparecer. — subitamente era Minseok falando, a voz saindo baixa por estar com o rosto enterrado entre as mãos delicadas.

Todos olharam na sua direção e como se pudesse sentir os olhares de todos, continuou:

— Nós somos gêmeos, eu o conheço melhor do que a mim mesmo. Ele não vai voltar. — sentenciou, levantando o rosto levemente para fitar cada um dos olhares que recebia.

— Problema resolvido, então. — Leeteuk riu. —Byun Baekhyun fica e pronto.

Siwon levou a mão até o cabelo bem arrumado e bagunçou-os em total sinal de frustração. Não podia perder seu filhote assim. Já tinha afastado Chanyeol por causa desse casamento forçado, não podia perder o seu sucessor também. E além do mais, havia Donghae com sua saúde frágil na gravidez. Ele com certeza não aguentaria saber que Baekhyun viveria como prisioneiro naquela alcateia pelo resto da sua vida. Tinha que haver outra maneira, alguma variável que ele não estava considerando...

Olhou para cada um dos presentes ali. Ninguém parecia ter uma solução e todos pareciam com pena de si, do modo como ele parecia desesperado para não perder o filho dessa maneira por causa de um erro de vinte anos atrás. Procurou nos olhos de Heechul, que era seu amigo de anos, alguma saída mas não encontrou nada. Se viu fitando Junmeyon, depois o choroso Ryeowook e só então seus olhos se focaram na figura pequena e loira sentada na ponta direita do sofá. Ele era um ômega, se deu conta, e era filho de Leeteuk.

— Se quer tanto um casamento, então case-o com seu filho. — falou, usando seu último recurso.

— Kyungsoo desapareceu, o que não entendeu nisso? — o Kim devolveu mais impaciente ainda.

— Não estou falando de Kyungsoo. — Leeteuk ergueu uma sobrancelha, desconfiado do que tinha escutado mas quando viu para quem o Byun estava olhando, mordeu o lábio para impedir que um palavrão saísse da sua boca.

Minseok encontrou os olhos de todos na sua direção e sentiu o seu estômago se revirar de uma forma enjoativa, as pontas dos dedos ficaram frias de nervosismo. Até mesmo engoliu em seco, porque conseguia ler na expressão do líder Byun o que ele queria e podia ver que o pai estava considerando o que lhe era proposto, o que lhe pareceu mil vezes pior.

— Não pode está considerando algo assim. — Heechul interferiu. — Minseok está noivo de Oh Sehun.

Mas quando Leeteuk não disse nada em resposta ao marido ômega, Minseok soube a verdade. O pai poderia muito bem está querendo se vingar dos filhos ômegas quando disse que Kyungsoo casaria com Baekhyun, mas agora ele estava simplesmente querendo arranjar maneiras de prender o líder Byun do seu lado, como algum tipo de punição sórdida que envolvia todos eles.

— Pai. — Junmyeon tentou quando viu o modo como o mais velho estava silencioso olhando para o filho mais novo. — Não pode estar...

— Arrumem Minseok. — mandou, cortando o que quer que o alfa mais novo fosse argumentar. — Ele vai casar no lugar de Kyungsoo.

— Não! — o loiro se pronunciou. — Eu estou noivo de outro alfa!

— Cancele. — Heechul avançou no marido. — Não faça isso. — pediu, mas o Kim simplesmente o afastou com cuidado.

— Por que estão me olhando dessa maneira? — teve coragem de perguntar, olhando em volta para os pares de olhos surpresos. — São apenas negócios.

Heechul foi até Siwon, os olhos pedindo para que ele não aceitasse aquilo, pois aquele casamento estava apenas servindo para destruí-los em vez de uni-los, como a tradição dizia. Mas o alfa apenas balançou a cabeça em negação. Não havia nada que pudesse fazer, Minseok era sua única saída para que não perdesse Baekhyun. No final das contas, alguém tinha que ser sacrificado naquele acordo, era apenas uma pena que fosse alguém inocente, Siwon pensou.

— Não seja tão canalha. — Heechul tornou a pedir ao marido.

— Leeteuk... — até mesmo Ryeowook se pronunciou. — Não faça isso.

Mas o Kim não estava mais escutando. Alguma coisa tinha dado errado em si, ele sabia. Assim como sabia que estava condenando todas aquelas pessoas a uma dor que não era deles, mas de repente pareceu-lhe muito tentador mostrar a todos um pouco de injustiça, pareceu-lhe interessante o suficiente aumentar mais um pouco a carga de culpa de Byun Siwon.

— Contem a Sehun. — falou simplesmente diante de todos e começou a se afastar, mas Junmyeon o segurou.

— Não pode fazer uma coisa dessas e sair assim como se fosse a coisa mais normal do mundo. — falou sério. — Ele é seu filho e está prometido a outro alfa. Sehun é...

— Já é da nossa família. Casar Minseok com ele serviria apenas para fortalecer os laços. — argumentou, puxando o braço do aperto do filho mais velho. — Ele ainda pode se casar com outra pessoa, mas isso... — apontou para Siwon. — isso não acontece duas vezes. Ter os Byun’s tão submissos...

— Você está louco. — balançou a cabeça em negação.

— Pense o que quiser, mas a decisão está tomada e você não pode fazer nada sobre isso. — então voltou a se afastar em direção a saída. Junmyeon o viu se afastar, as mãos se fechando em punho afim de descontar um pouco da raiva que estava sentindo do pai.

— Me desculpem por isso. — Siwon se pronunciou, os olhos focados em Heechul, que era para quem estava realmente pedindo desculpas.

E quando ninguém disse coisa alguma, afastou-se pelo mesmo caminho que Kim Jungsoo. Saindo daquela casa com certa pressa, louco por um pouco de ar fresco. Não aguentava mais olhar para a expressão perdida dos Kim’s, pois era capaz de ver neles a mesma desolação que sentia. No final das contas, esse acordo de paz não trazia paz alguma para ambos os lados, na verdade, Siwon sentia que lhe traria mais fantasmas para perturbar sua consciência já tão pesada.

***

Minseok se encostou na parede ao lado da porta do quarto onde Sehun estava com a mãe. Ele tinha passado a discussão inteira ali, segurando o gênio forte da beta que lhe deu a luz, por isso não tinha escutado nenhuma palavra do que tinha sido decidido e agora, que todos tinham se dispersado pela casa, para digerir a sentença aplicada, o loiro só conseguia desejar ter a mesma coragem que Kyungsoo e fugir dali pois não se sentia nenhum pouco preparado para contar ao alfa sobre o seu casamento.

Fechou os olhos e respirou fundo, reunindo toda a coragem que não tinha. Engoliu em seco e se desencostou da parede. Ficou de frente para a porta e segurou a maçaneta, mas antes que pudesse gira-la, sentiu-a girar em sua mão e a porta se abrir, revelando Oh Sehun com olhos cansados.

— Oi. — o Oh disse diante do rosto surpreso do ômega. — Eu não quis assustar você.

— Tudo bem. — falou baixo antes de soltar a maçaneta e avançar no lobo, abraçando-o forte, Sehun se assustou no primeiro momento, mas logo estava correspondendo o abraço. — Eles decidiram o que vão fazer. — Minseok sussurrou contra o peito do outro, empurrando-o devagarinho para dentro do quarto.

— Então não haverá casamento? — Sehun perguntou, descansando o queixo no topo na cabeça do loiro.

 — Vai ter. — Minseok disse baixo, enfiando a mão no bolso do terno que estava usando, apertando o lenço umedecido em calmante.

No meio tempo em que seu pai tinha saído da sala e todos pareciam terrivelmente abalados com a decisão, Minseok tinha ficado quieto e depois havia simplesmente e pedido a Heechul que o preparasse. Não havia tido tempo para contestar o que tinha decidido, porque sabia que se parasse um minuto para pensar em todo o futuro bonito que estava jogando fora, desistiria e não dava para desistir, pois não era uma decisão que envolvia apenas si mesmo e Baekhyun. Envolvia duas alcateias rivais que estavam a um ponto de se enfrentarem.

— Vai ter? — desencostou o queixo do topo da sua cabeça, afastou-se minimamente de si para fita-lhe o rosto, atrás da comprovação daquela decisão.

Minseok o fitou de volta, os olhos estavam muito grandes e tristes, cheio de um arrependimento que Sehun não entendia, acabou atribuindo isso ao desaparecimento de Kyungsoo.

— Sim. — chiou, olhando para o lado, não querendo prolongar o olhar com o ex-noivo, acabou avistando o corpo adormecido da ex-sogra e tia na cama. — Conseguiu fazê-la dormir? — se forçou a mudar de assunto, não estava pronto para contar aquilo ainda.

— Ah, sim. — o alfa virou-se, soltando Minseok, fitou a mãe adormecida. Tinha sido difícil fazê-la se acalmar depois do tapa que levara de Heechul, a beta havia simplesmente enlouquecido. — Não foi fácil. — confessou, meio sorrindo, querendo assim mostrar à Minseok que estava tudo bem, que não tinha ficado chateado com que acontecera entre a beta e o ômega, pois sabia que a mãe podia ser bem irritante quando queria.

— Imagino que sim. — comentou sem muito interesse.

Sehun cruzou os braços enquanto observava a mãe, abriu a boca para dizer algo mas foi interrompido pelos braços de Minseok a sua volta mais uma vez. Sentiu o seu coração se aquecer e sorriu minimamente, gostava quando o loiro procurava seu calor. Eles ficaram naquela posição por um tempo, quietos. O alfa podia sentir a respiração do ômega batendo contra o tecido da sua camisa e chegando na sua pele, tão calma que ele bem poderia fechar os olhos e dormir ali, em pé mesmo, porque tudo que a presença de Minseok lhe trazia era paz.

— Você não me disse com quem Baekhyun vai casar. — acabou falando depois que eles passaram muito tempo daquele jeito.

— Vamos apenas ficar quietos por um momento. — Minseok tentou, queria apenas ficar em silêncio, procurando coragem para contar a Sehun sobre tudo.

— Minseok. — Sehun se mostrou impaciente e o loiro entendia bem porque, o alfa era curioso e por isso sempre gostava de saber sobre tudo.

— Sou eu. — o Kim suspirou, aumentando o aperto ao redor do corpo magro do alfa. — Meu pai decidiu que eu me casarei com ele. — sentiu o corpo do moreno enrijecer sobre seu aperto.

— Concordou com isso? — perguntou, tentando virar-se nos braços do outro para fita-lhe o rosto, precisava comprovar a verdade nos olhos do ômega.

— Não é questão de concordar ou não. — Minseok o prendeu em seus braços, sabia que se olhasse nos olhos de Sehun, estragaria tudo.

— Minseok. — Sehun pediu, retirando os braços do ômega de si, mas o loiro não podia deixar que ele se afastasse assim, então simplesmente chutou a parte de trás do joelho direito do alfa, fazendo-o se desequilibrar e cair de joelhos em frente a cama.

— Eu sinto muito. — o Kim teve coragem de dizer quando passou o braço pelo pescoço dele e encaixando o punho na junta do outro braço, armou o mata-leão perfeito. — Não tem outra maneira, Sehun.

— O que está fazendo? — o alfa perguntou assustado pelo ato do outro. — Me solte.

— Eu solto se me prometer que não vai interferir na cerimônia.

O Oh soltou o ar pela boca, só agora entendendo a gravidade daquilo tudo. Estava perdendo Minseok. Iria perde-lo para sempre no momento em que ele saísse daquele quarto para casar com outro. Seu coração pulou em desespero, porque sabia que o outro faria de tudo para sair dali e cumprir o que lhe foi incumbido, o que só lhe mostrava a terrível verdade que vinha evitando em todo esse tempo em que pediu a mão do ômega: ele não era correspondido. Tinha acreditado que depois do momento romântico que tinham tido na velha casinha, Minseok estaria sentindo alguma coisa, que podia ter se apaixonado mas pelo modo como tinha sido trocado tão rápido por outro alfa, Sehun entendeu que tinha estado tentando segurar vento com as mãos. Contudo, o loiro tinha lhe lançado aquele olhar tão bonito quando faziam amor, tinha sorrido para si durante esse tempo inteiro.

Minseok não podia ser tão indiferente assim a si.

— Diga que não sente nada por mim e então não sairei desse quarto. — disse sem se mexer no aperto do outro.

O ômega foi pego de surpresa, por um momento deixou que o seu aperto no pescoço do outro vacilasse, mas logo estava se recuperando. Piscando os olhos e mordendo o lábio inferior, reabrindo a ferida que estava ali e sentindo o gosto de sangue na língua. De repente se pegou pensando no modo como tinha tomado banho ainda a pouco, o jeito bruto como tinha esfregado a sua pele para que o cheiro de Sehun saísse de si quando tinha gostado da forma como seus cheiros se misturavam para formar outro tão bom quanto, seu próprio lobo se remexia inquieto quando pensava em Sehun e no que tinha acontecido. Mas o seu coração... o seu coração não batia forte por ele. Não havia aquela ansiedade gostosa na boca do seu estômago, da forma que tinha existido quando namorava Jongdae. O que havia era um tipo estranho de gostar, como se Sehun fosse um amigo de longa data. Sabia que era errado pensar assim daquele com quem poderia casar, se tudo isso não tivesse acontecido, mas não conseguia classificar o que sentia pelo Oh de outra forma.

No entanto, ao contrário do que lhe pareceu, não conseguia colocar em palavras o que estava pensando, porque uma parte sua queria tanto amar esse garoto doente e externar o nada que havia ali, apenas o machucaria além de machucar a si mesmo. Nunca tinha se sentido tão mentiroso como naquele momento. Minseok era feito de vento enquanto Sehun era todo erguido sobre ouro. Eles não dariam certo nem em um milhão de anos, percebeu.

— Você vai ter que me perdoar algum dia. — acabou dizendo, desfazendo o aperto no pescoço do alfa e dando dois passos para trás.

— Mi... — Sehun virou-se sobre os joelhos para observa-lo uma última vez enquanto sentia o seu coração se quebrar em milhões de pedacinhos, que perfuravam o seu peito.

Minseok balançou a cabeça em negação, os olhos cheios de lágrimas de arrependimento. Mas se arrependia por não ter tido tempo para se apaixonar por esse alfa tão gentil. E sem dar mais nada a Sehun, girou sobre seus calcanhares e correu dali, as lágrimas finalmente caindo por seu rosto enquanto escutava Sehun gritar o seu nome e acordar a mãe. Saiu porta a fora, o vento frio batendo direto no seu rosto, bagunçando o seu cabelo loiro e amassando a sua roupa.

Não havia tempo para olhar para trás, ele tinha que apenas correr em direção ao altar, onde Baekhyun o estaria esperando. Ou melhor, estaria esperando Kyungsoo. E foi justamente isso que fez, apenas correu e correu... não havia tempo para passar pelas primeiras cerimônias de casamento, ele teria que comparecer apenas na última.

Minseok desabotoou o seu terno, a camisa de dentro, enquanto corria, queria facilitar a transformação, pois era assim que lobos casavam-se. Eles se apresentavam na última etapa da cerimônia, em formas de lobos se reconheciam como parceiros.

Não percebeu que estava chorando até o momento em que livrou-se dos sapatos e parou no começo do caminho para o altar. Avistou Baekhyun em sua forma de lobo. Era bonito com o pelo branco e preto e as orelhas com pontas escuras levantadas em alerta, provavelmente impaciente pela demora do noivo. O lobo o viu também, percebeu pelo modo como os olhos âmbar dele se focaram em si, e sem aviso prévio algum, transformou-se. Sua forma lupina era mil vezes melhor que a humana, se sentia tão mais livre assim, mas o sentimento de alivio que sempre vinha quando se transformava acabou cedo quando se lembrou do que deveria fazer.

Olhou em volta, atrás dos rostos surpresos dos convidados. Todos olharam na sua direção sem disfarçar nenhuma emoção, e mesmo Siwon, em pé ao lado do filho, não escondeu a pontinha de surpresa que havia nos seus olhos. Mas com certeza nenhuma expressão se equiparava ao olhar que havia no rosto do noivo.

Ninguém havia lhe contado, Minseok percebeu. Ele estava esperando o lobo preto, não o caramelado. Mas mesmo diante disso se forçou a avançar pelo caminho e para cada passo que dava, Baekhyun se mexia inquieto, sempre alternando o olhar entre o lobo que vinha na sua direção e os seus pais, não muito longe de si. Há algo errado, ele parecia querer dizer e Minseok só conseguia concordar consigo, mas não havia mais nada que ele pudesse fazer. Ou se condenava ou condenava um bando de pessoas inocentes, no fim, era melhor se sacrificar desse jeito.

“Estou salvando Kyungsoo”, se escutou dizer a Baekhyun e o lobo piscou na sua direção quando as palavras começaram a ser ditas pelo sacerdote.

“Está ficando louco”. Baekhyun respondeu baixo e Minseok quase riu, porque devia mesmo ter enlouquecido. Ele poderia ter simplesmente fugido com Sehun para o seu território e deixado que o pandemônio começasse, mas não aguentava mais fugir. Tinha estado se escondendo atrás do sentimento que Sehun tinha por si. Tinha se escondido atrás da Organização. Não dava mais para fazer isso, estava na hora de arcar com tudo que a vida estava lhe dando. Estava na hora de crescer, disse a si mesmo. E talvez, Baekhyun tenha visto um pouco disso em si porque quando a pergunta foi feita, nenhum dos dois hesitou em dizer sim.

— Está na hora de se reconhecerem na forma humana. — o sacerdote disse e Minseok entendeu que estava na hora do ato final, era o que os lobos chamavam de aliança.

O loiro viu o quase marido transforma-se em humano novamente e logo ele mesmo estava fazendo isso também. Sentiu alguém colocar algo sobre seus ombros e quando olhou para trás encontrou a figura pequena do seu pai ômega, Ryeowook. O mesmo tinha colocado uma capa sobre si. Minseok segurou o tecido vermelho em volta do seu corpo, afim de esconder a sua nudez da mesma forma que Baekhyun estava fazendo.

Voltou a olhar para frente, seus olhos nunca encontrando o âmbar de Baekhyun. Não sabia como seu lobo reagiria ao notar aquele lobo tão perto quando tinha dormido com outro há algumas horas, mas não teve tempo para pensar sobre isso pois, no minuto seguinte, Baekhyun estava segurando o seu pulso e deixando as presas a mostra.

Minseok deixou os olhos abertos quando os dentes do Byun entravam em sua pele, marcando-o como seu marido, acabando de vez com qualquer chance que pudesse existir de um futuro brilhante ao lado de Sehun. E como se soubesse que o ômega estava pensando em si, Minseok o viu. Não muito longe dali, pronto para correr na sua direção e tira-lo das mãos daquele alfa. Eles se fitaram longamente, como numa despedida e o Kim teve coragem de sussurrar um “sinto muito” para si, pedindo silenciosamente que o vento levasse suas palavras até o Oh, no entanto Sehun não pareceu escutar quando deu um passo em sua direção.

Ele não podia simplesmente perder Minseok assim, tão fácil. Precisava tentar mais um pouco.

O ômega sabendo o que ele faria, segurou o pulso de Baekhyun depois que este soltou o seu. Era a sua vez de marcar Baekhyun, afinal. Deixou que suas presas saíssem e sem esperar mais nada, afundou-as na pele do alfa apenas para que Sehun caísse de joelhos, derrotado demais para continuar com a ideia de roubar Minseok para si. Estava acabado, o ômega pensou. A cerimônia estava completa, agora ele não era nada mais que Kim Minseok, o Ômega Principal de Byun Baekhyun.


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