Sangue escrita por Salomé Abdala


Capítulo 25
Capítulo 23 - Um dia de folga




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Flavius acordou com o telefonema:

—Alô. – disse sonolento

—Flavius, sou eu, Natasha. Pierre e Rebeca Vão nos dar o dia de folga hoje. Não quer fazer alguma coisa?

—O que pretende fazer?

—Não sei, eu e Michel pensamos em sair, conversar um pouco.

—Err... eu preciso organizar algumas coisas agora de manhã. Comprar algumas coisas para levar para casa. Posso encontrar vocês à tarde?

—Claro. Estaremos no café central.

—As duas?

—As duas!

—Ok.

Desligou. Sentou-se. Olhou pela janela. ‘’Foi num dia como esses que Felipe e eu começamos a namorar. Ainda me lembro de como Fip reagiu.’’ Olhou para os cantos como se procurasse por alguém, garantindo a si mesmo que não havia testemunhas ali. ‘’Pobre Felipe, quantas vezes o traí? E agora, com a leitura do diário a verdade virá à tona.... toda? Toda mesmo? Creio que não.’’

Novamente o telefone:

—Gabriel?

—Sim, amor. Achei sua voz muito triste ontem, telefonei para saber se está melhor.

—Sim, estou bem melhor. Hoje não daremos entrevistas, teremos um dia de folga.

—Que maravilha! E o que vai fazer?

—Natasha e Michel me chamaram para conversar pela tarde. Relembrar os velhos tempos... de novo...

—E como andam as coisas entre você e Michel? – disse num tom enciumado.

—Superficiais. Às vezes conversamos na tentativa de recuperar a velha intimidade... mas não passam de tentativas e terminamos a conversa com um ‘’tudo bem e você?’’

—E você não fica incomodado com a presença dele?

—Engraçado, mas não muito. Pensei que seria mais difícil. Achava que ver ele traria de volta sentimentos do passado, mas não aconteceu. – mentiu.

—Fico feliz em saber.

—Meu amor. Arrume nossas coisas. Me espere em Buenos Aires. Não é seguro que continue aí.

—Por que diz isso?

—Tenho medo do que Fip pode revelar no diário. Não quero que você se comprometa, ficará mais seguro na Argentina.

—Você acha que corremos algum risco?

—É melhor não arriscar.

Silêncio no outro lado da linha.

—Amor?

—Diga, Gabriel.

—Há alguma coisa nesse diário... sobre você... que eu não gostaria de saber?

—Por que me pergunta isso agora?

—Porque isso tudo será publicado, as pessoas comentarão, chegará aos meus ouvidos. Há alguma coisa que precise me contar?

—Há. Mas não agora. Te ligo depois. Te amo. Arrume as coisas. Daqui partirei direto para nossa casa em Buenos Aires, quero te encontrar lá.

—Te amo, beijos.

Desligou. ‘’Não quero voltar para casa. Quero ficar perdido em algum lugar de meu passado. Bem longe de como as coisas estão agora.’’

...

—Michel, você não acha o Pierre muito esquisito? – disse Natasha enquanto escolhia os morangos.

—Hein? O Pierre?

—É! Eu não entendo porque Fip escolheu ele para fazer essas entrevistas.

—Eu não acho que Fip tenha escolhido o Pierre.

—Como assim? Não é com ele quem estamos fazendo tudo?

—Sim, mas o que Fip nos disse foi que deveríamos fazer o que Rebeca nos pedisse. Foi ela quem nos apresentou ao Pierre. Não creio que ele tenha sido uma escolha do Fip, mas sim dela.

—Então você acha que foi a Rebeca quem Fip escolheu?

—Sim.

—E, por quê?

—Porque ele tinha que escolher alguém, talvez.

—Não me convenceu. Esses morangos estão ótimos! Vou levar. Hoje vamos ter uma sobremesa especial!

...

Abriu os olhos ainda sonolenta. Pierre estava ao seu lado, adormecido, completamente nu. Ela também nua, o corpo feminino com o qual já havia se acostumado há certo tempo. Levantou-se, caminhou até o espelho para mirar a própria face. ‘’Fip, devo tudo isso a você.’’ – pensou. Pierre se mexeu preguiçosamente na cama:

—Ainda é cedo, Rebeca, vem deitar mais um pouco.

—Já estou indo. – disse sorrindo – Preciso de um pouco de água. Você também quer?

—Sim, por favor.

Caminhou até a cozinha. Uma rosa vermelha sobre a mesa. ‘’Que delicadeza, Pierre! Nem combina com você.’’ – e sorriu. Voltou ao quarto com a rosa em punho, junto ao copo de água:

—Onde conseguiu a rosa? – perguntou Pierre.

—Ué, estava sobre a mesa! Não foi você quem colocou?

—Não. – disse bebendo a água.

...

—Me atrasei? – perguntou Flavius se sentando à mesa.

—Não, mal acabamos de chegar. – respondeu Natasha.

—Parece bem hoje, Flavius. Está até mais corado!

—Dormi bem. – respondeu.

Ambos os garotos permaneceram em silêncio, entreolhando-se:

—Olha, Flavius. Mil desculpas.

—Pelo que?

—Por ter me deitado com o Fip naquele dia. Se eu soubesse, eu juro que se eu soubesse o quanto...

—Nã..não! Pare com isso, Michel! São águas passadas. Esqueça.

—Não, Flavius, é sério! Eu sei que te fiz sofrer e...

—Quem me fez sofrer fui eu mesmo, Michel. Nunca você.- sentou-se – Você sempre foi muito doce comigo, eu só tenho que lhe agradecer, sinceramente.

—Ah que coisa mais bonita! – disse Natasha – Que hora vocês se pegam na mão e começa a trilha sonora?

—Ahaha Natasha! Estamos tendo uma conversa séria! – disse Michel.

—Na minha frente? Uma conversa séria? Vai sonhando! Flavius eu já te falei que você ficou lindo de cabelo curto? Eu adorei!

—Ah, obrigado. Gabriel gosta.

Michel fechou a cara:

—Por que ele não veio com você?

—Ele tem outras coisas para fazer.

—Você faz um mistério com esse seu marido! Parece que quer esconder ele de nós.

—Ah, para com isso, Michel! O Flavius tem esse direito! Vai saber se esse Gabriel não tem alguma deformação genética, ou algo do gênero?

—Ahahah, obrigado por me defender, Natasha, mas não, Gabriel não é deformado. Ele só é reservado. Só isso.

—Sei.

—Ah, não! Vocês vão ficar discutindo sobre isso? Esquece esse Gabriel! E daí se ele é feio? O importante é que estamos aqui, juntos, não? Um brinde a nós!

—Vou voltar para a Argentina.

Michel e Natasha interromperam o brinde no ar e olharam para Flavius:

—Como assim? – disseram quase ao mesmo tempo.

—Foi uma decisão dele. Não tem nada a ver comigo.

—Ah, não, Flavius, você fazendo o marido submisso não dá! – retorquiu Michel.

—Poxa, e quando você vai?

—Assim que isso tudo acabar.

—Ah não, Flavius!

—O que é? Que diferença faz? Não moramos cada um em uma cidade? Não nos falamos uma vez por ano ou menos? Que diferença faz eu estar em Curitiba ou em Buenos Aires? Quantas vezes por ano você me visita no Brasil? Nenhuma! O que vai mudar para você se eu estiver na Argentina?

—Saber que você está longe... não sei... Mas você tem razão. – disse Michel abaixando a cabeça. – Ah, eu gostaria de perguntar uma coisa para vocês; o Fip deixou toda a herança dele para nós. Isso inclui o apartamento aqui, a casa em Alvinópolis, e mais um monte de coisas. Eu estava pensando... não queria vender o apartamento. Queria me mudar para lá. Vocês se incomodam em não vender suas partes?

—Por mim a minha parte é sua. – disse Natasha – Posso passá-la para você.

—Por mim também.

—É que as coisas andam apertadas, aluguel, contas e tudo o mais.

—Eu quero me mudar de volta para cá! – disse Natasha num tom manhoso – Vou fechar aquele restaurante e montar algo aqui!

—Sim! – concordou Michel – Poderíamos morar juntos você e eu!

—No apartamento do Fip?

—Sim!

E os dois começaram a fazer planos. Empolgados como adolescentes. Flavius ficou a observar, um pouco enciumado... o apartamento do Fip... apartamento comprado para que os dois vivessem juntos, Fip e ele. Não deixava de sentir uma ponta de ciúmes pela situação. Mas o que poderia fazer? Estava casado, tinha uma outra vida agora. Mas lhe incomodava estar a par de toda a atenção, por isso lançou um plano no ar. Algo que o incluísse, para que pudesse também fazer parte da empolgação:

—E porque não vamos para Alvinópolis juntos, assim que isso acabar? Passar uns dias na velha mansão.

Natasha e Michel o olharam boquiabertos:

—Seria genial! – disse Natasha – Depois de relembrar tudo isso, voltar até lá! Nossa eu arrepio só de pensar!

—Eu também! – disse Michel.

‘’E eu então?’’ – pensou Flavius – ‘’Que droga de idéia que eu fui ter!’’.


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Notas finais do capítulo

Capítulo leve, suaaave. De vez em quando é bom, não é mesmo minha gente?