Azul e Vermelho: Os Foragidos escrita por ToddJason


Capítulo 4
Assassino




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— Então você é um justiceiro. – Bruce apontou, ofendido. – Foi para isso que eu te treinei, Jason? Foi isso que eu te ensinei?

— Eu fui obrigado, Bruce. – O jovem respondeu, em defesa. – Você acha mesmo que eu faria isso por minha própria vontade?

— Obrigado por quem? – o homem levantou o tom, assustando um pouco o pequeno Tim, que de­­­sfez o abraço. – Quem nesse mundo conseguiu fazer você se submeter?

— Ártemis. – replicou. – Uma amazona. Foi ela que me ressuscitou e me forçou a adotar esse tipo de atitude. Se eu me recusasse, ela me mataria de novo, sem muito remorso.

— Hum. – Bruce ainda parecia um pouco desconfiado, mas aceitou a resposta de Jason. – Certo. Pois faça-nos um favor, então. – disse, indo até um dos sofás que estavam próximos. Assim que se sentou, chamou todos para seguirem. – Conte-nos tudo.

Alfred sentou-se ao lado de Bruce, e foi seguido pelo pequeno Tim, que ficou ao outro lado de seu pai. Jason e Dick sentaram-se no sofá que ficava exatamente oposto ao primeiro. Segurando a mão de seu amado para tomar coragem, o mais novo começou a falar. Contou as mesmas coisas que havia contado para Dick mais cedo, porém, sem citar que agora estava gostando um pouco do que fazia, não queria ser expulso tão cedo.

— Isso tá bem longe das aventuras que eu tenho com o Batman, que chatice! – Tim resmungou, levantando-se do sofá e fugindo para a cozinha. Alfred seguiu, para evitar que o garoto fizesse alguma bagunça.

— Não é o suficiente para me convencer totalmente, Jason. – Bruce lamentou. – Mas já explica grande parte do ocorrido. Agora, diga-me...

Um silêncio se implantou naquele lugar, com o mistério que Wayne fazia, deixando os dois jovens tensos.

— Aceita voltar para a nossa família? – Sorriu.

Jason tardou a acreditar no que tinha acabado de ouvir. Certamente, sabia que Bruce estava contente por ter seu garoto de volta, mas não esperava que fosse convidado a voltar tão cedo.

— Eu? – perguntou, mesmo sabendo que Bruce realmente falava de si. – Nossa, mas...

— Aceita ou não, garoto?!? – questionou, impaciente.

— Aceito, aceito! – respondeu de imediato, tentando conter a empolgação. – Mas antes preciso buscar minhas coisas.

— Sinta-se à vontade para escolher onde vai dormir, então. – Bruce disse, se levantando, e deixou o lugar, subindo as escadas para a sala de controle da mansão, para refazer algumas configurações.

Com um sorriso estampado em seu rosto, Jason olhou para Dick, que também estava sorrindo. Com aquele simples olhar, foram capazes de transmitir tantos sentimentos. Estavam se sentindo tão felizes, só restava comemorar. Tomando a dianteira, o mais novo envolveu as bochechas do outro, puxando seu rosto para mais perto do seu, logo juntando seus lábios para mais um dos mágicos beijos que eles compartilhavam. Trocavam milhares de sensações positivas com aquele ósculo, uma pura conexão, sentiam-se no Céu.

Tudo estava perfeito, até que um garoto muito levado se aproximou e acabou presenciando a cena. Para Tim, aquilo era um absurdo. Havia aprendido com alguns adultos que aquilo só se podia fazer depois do casamento e, claramente, Jason e Dick não eram casados.

— Aaaaalfred! – o pequeno gritou, chamando a atenção dos jovens. – Jason e Rick estão aprontando no sofá!

Um Alfred nervoso apareceu, correndo atrás do fugitivo e preocupado com a cena que ele poderia estar presenciando. Para seu alívio, quando viu seus outros dois patrões, percebeu que não passava de um beijo.

— Mestre Drake, preciso que deixe Mestre Grayson e Mestre Todd em paz. – disse, puxando a criança pela mão para longe daquele lugar, para ensinar algumas coisas sobre o que ele tinha visto.

— Agora eu entendo por que você disse que o Tim tem ocupado tanto o Bruce. – Jason riu, apesar de ter estragado o clima, aquilo havia sido definitivamente engraçado.

— Esse pestinha... – Dick murmurou. – Não se preocupe, foi só a primeira de muitas vezes. – Acabou rindo também. – Ei, quando que você vai buscar suas coisas? – Acariciou a bochecha do outro.

— Acho que vou agora mesmo, baby. – respondeu, retribuindo as carícias com um beijo na bochecha. – Não vou demorar, é que tenho que avisar a Ártemis, e bem... – Desviou um pouco o olhar, focando num nada qualquer. – Você já deve imaginar que a reação dela não vai ser das melhores.

— É, eu imagino. – Tranquilamente, abriu espaço para que Jason pudesse se levantar, e ele assim o fez.

— Volto logo. – abaixou-se um pouco para conseguir entregar um selinho aos lábios de Dick. – Se algo acontecer, eu mando uma mensagem. – Partiu em direção à porta da mansão. – Até logo, meu amor. – Acenou, enquanto sumia do campo de visão de Grayson.

— Tchau... – o jovem respondeu, mais para si mesmo do que para outra pessoa. – Até logo... – No fundo, Dick sentia que algo ruim estava prestes a acontecer. Jason estava saindo mais uma vez da Mansão Wayne. E ele, mais uma vez, havia ficado, sem ter o que fazer.

Antes que pudesse levantar, Dick foi atacado por uma criatura pequena, que logo identificou como Tim Drake. A criaturinha havia se jogado em cima dele, abraçando-o com força e tentando se ajeitar.

— Desculpa por ter abraçado o Jason na sua frente, Rick! – A frase saiu um pouco abafada, pois ele estava com o rosto afundado na barriga do jovem. – Não sabia que ele era seu.

— Ei! Quem te disse que ele é meu? – Questionou, curioso.

— Foi o Alfred! – respondeu, conseguindo arrumar sua posição, sentando-se nas coxas de Dick. – Ele me disse que o que eu fiz foi errado, porque você só estava dando carinho para o seu... – pensou um pouco, mas sem sucesso. – Seu... não lembro a palavra!

— Ah, então foi isso. – Suspirou, aliviado. Mas ainda se questionava: qual seria aquela palavra que Tim havia esquecido? – Não tem problema, Timmy. – Bagunçou os cabelos do jovenzinho.

— Tá bom, Rick. – Terminando a frase, desceu de onde estava e voltou para a cozinha.

Dick estranhou bastante o acontecido, mas, sabendo da natureza sapeca do mais novo, não ficou surpreso. Afinal, aquela coisinha pequena que sempre corria pela mansão era uma caixa de mistérios.

—x-

Já conseguia ver o trailer dos Foragidos. Jason se aproximava rapidamente com sua motocicleta, mas algo estava diferente. As luzes estavam apagadas. Sabendo as horas que se contavam naquele momento, ele estranhou bastante. Assim que chegou, desligou o motor, estacionou a moto e deixou seu capacete pendurado. Abriu a porta, e viu que ninguém estava lá. Acendeu as luzes, e nada mudou. Ártemis e Bizarro não estavam lá. Um pouco preocupado, ele procurou por algum indicador de aonde eles poderiam ter ido, e não demorou até achar um recado preso à geladeira.

"Jason, não sei que horas vai chegar aqui, mas se chegar e não estivermos, saiba que estamos interceptando alguns criminosos nas Docas. Por favor, venha nos ajudar. – Ártemis.", era o que se lia.

Temendo pelo bem de seus companheiros, Jason não hesitou em se preparar para ajudá-los. Foi ao quarto e pegou sua jaqueta favorita, sua "camiseta", que estava mais para armadura, suas calças apertadas e seus sapatos muito bem engraxados. Despiu-se das roupas do encontro e vestiu as de "trabalho". Antes de sair, é claro, pegou seu capacete vermelho e suas duas pistolas de confiança. Trancou o trailer e, antes de subir novamente na motocicleta, pegou o celular, desbloqueou e enviou algumas mensagens para Dick.

[19:58] Jason T.: Ei, amor

[19:58] Jason T.: Vou demorar pra voltar, tive um imprevisto

[19:59] Jason T.: Tenho q ajudar Ártemis e Bizarro com um problema nas docas

[19:59] Jason T.: Quando estiver voltando, te mando msg

[20:00] Jason T.: Te amo

Não tinha tempo para aguardar uma resposta, então desligou o dispositivo e subiu na motocicleta, partindo em alta velocidade para as docas.

—x-

— Jason já saiu, Richard? – Bruce questionou.

— Sim, agora há pouco... – respondeu. – Não consigo evitar minha preocupação, Bruce...

— Não se preocupe, estarei de olho nele. – Sorriu.

— E quando não está? – Dick riu, se sentindo um pouco mais leve.

—x-

Chegando ao lugar, Jason imediatamente avistou seus companheiros escondidos atrás de algumas caixas, observando alguma coisa. Se aproximou silenciosamente e se escondeu junto a eles, tentando descobrir o que estavam espionando.

— O que está acontecendo, Ártemis? – o jovem perguntou, vendo alguns homens usando máscaras escuras retirando algum tipo de carga de um caminhão e colocando-a num navio.

— Estão querendo fazer transporte ilegal de armas. – A mulher respondeu. – E pelo que vimos daqui, são muitas pessoas, muitas, mesmo. Parece que estão querendo usar a numérica como vantagem.

— Se trezentos espartanos conseguiram derrotar um exército de milhares de homens... – disse Jason, sugerindo que queria partir para cima.

— Não inventa, cara. – Ártemis interrompeu aquele pensamento. – Os espartanos tinham escudos impenetráveis e lanças profundas, muito diferentemente de nós.

— Besteira... – O jovem bufou, mas cedeu. – O que faremos, então?

— Podemos tentar uma abordagem mais silenciosa. – respondeu, apontando para um caminho até o caminhão que estava, aparentemente, sem olhares inimigos. – Você é o melhor nisso, Jason.

— Não é a coisa mais divertida a se fazer, mas eu aceito. – riu. – Eu vou na frente, então.

— Estarei logo atrás. – Assegurou a ruiva. – Bizarro, fique aqui para o caso de alguém aparecer.

— Bizarro "não protege" Jason e Ártemis! – respondeu o zumbi.

— Perfeito. – A amazona comemorou. – Vamos nessa então.

Seguindo lentamente pelo caminho que haviam encontrado, Jason e Ártemis logo começaram a ouvir algumas conversas entre os criminosos. Falavam sobre Máscara Negra, um dos chefes do crime de Gotham, e sobre como seriam recompensados por aquela operação totalmente despercebida pela polícia e até mesmo pelo Batman.

— Pensando agora... – sussurrou Jason. – Como descobriu isso?

— Um informante meu. – a ruiva respondeu. – Ele se identifica com a sigla "R. H.", é tudo que posso te contar.

— Essa sigla não me é estranha. – pensou um pouco consigo mesmo. – Já a vi em algum lugar.

— Ele já ajudou bastante a gente, é bem capaz que você já tenha visto ele, inclusive. – A ruiva riu.

Antes que Jason pudesse falar mais alguma coisa, os dois chegaram à parte da frente do caminhão. Estava sem motorista, aparentemente todos os homens estavam trabalhando na carga. Para a infelicidade de um deles, uma pequena distração acabou abrindo uma janela para que Jason o eliminasse.

Se aproximando rapidamente, ainda que silenciosamente, Todd atingiu a nuca do homem com o cano de uma das pistolas, o impacto forte o suficiente para desacordá-lo. Pensou um pouco, deveria matá-lo ou não? Bem, sabia que ele não apresentaria mais problema por algum tempo, então preferiu só deixar que dormisse. Arrastou o corpo desacordado para debaixo do caminhão para evitar detecção, e percebeu que Ártemis já estava eliminando mais um, escondendo-o atrás de algumas caixas de carregamento.

Usando o para-choque para se proteger da visão inimiga, Jason esperou a aproximação de mais um dos homens, a fim de também eliminá-lo, e foi o que aconteceu. Conseguiu agarrá-lo e tampar sua boca para que não gritasse, enquanto era sufocado por ter seu pescoço pressionado pelos braços de seu atacante. Infelizmente, o Capuz Vermelho não havia sido tão discreto, pois sentiu a presença de alguém atrás de si, e para seu azar, era um dos criminosos.

— Cacete! – o homem gritou com o susto, e já se pôs a preparar seu rifle de assalto para atirar. Antes que pudesse aproximar o dedo do gatilho, foi nocauteado com um soco vindo de Ártemis.

— Acho que não vamos mais conseguir ser silenciosos aqui, Jason. – a mulher anunciou, apontando e olhando para os homens que antes estavam trabalhando na carga. Eles agora estavam furiosos, preparando-se para começar um tiroteio. – Vamos voltar para o Bizarro antes que seja tarde!

— Intrusos! Intrusos! – gritava um dos homens. – Vamos pegar eles!

Puxando Jason pelas mãos, a amazona correu voltando pelo caminho que eles tinham tomado anteriormente, usando seu escudo para protegê-los dos tiros que vinham em sua direção. Quando chegaram a Bizarro, que ainda estava bem escondido, se juntaram novamente ao zumbi e sentaram-se, para tentar descansar um pouco.

— Temos que revidar. – a ruiva anunciou. – Jason, acho melhor você sacar logo estas duas pistolas e me mostrar tudo que aprendeu.

— Não sei, Ártemis... – respondeu o jovem, pensativo. – Se eu matar tanta gente assim, posso acabar...

— Não quero saber! – gritou, interrompendo o discurso de seu parceiro. – Você vai sacar essas desgraças, ou então vai ser o primeiro a morrer aqui!

— Tá bom, tá bom! – reclamou, tirando as duas pistolas dos coldres e destravando-as. – Lá vamos nós, usa seu escudo pra me dar cobertura.

A amazona concordou e levantou seu escudo, posicionando-o sobre uma das caixas que os escondia, parando centenas de tiros. Aproveitando a distração Jason se esgueirou pelas sombras até chegar atrás de alguns homens, fora do campo de visão de qualquer outro. Apontou suas pistolas para a multidão e atirou. Algumas dezenas de tiros foram necessárias para eliminar todos, contavam-se oito, e o jovem conseguiu sair quase ileso, tendo recebido apenas alguns tiros de raspão, graças à sua agilidade adquirida no treinamento de Robin. Mas ele não tinha muito tempo para comemorar, mais homens chegavam. Correndo pelas mesmas sombras para evitar ser visto, ele retornou para seus amigos. Tudo parecia correr minimamente bem, mas havia um detalhe que Jason demorou a perceber.

— Ártemis... – chamou receoso. – Oh, merda.

— O que houve, Jason? – perguntou, preocupada.

— Eu não trouxe mais pentes de bala. – disse, passando as mãos por todos os bolsos, na esperança de achar algo. – Esqueci no trailer.

— É sério isso?!? – gritou, enraivecida. – Você é um fracassado, Todd. E agora, nós vamos todos morrer aqui porque você é um idiota. É por isso que eu não me importo com esse tal “amor”, é só uma perda de tempo que nos faz de bestas, e foi exatamente o que aconteceu com você!

— Não fica colocando toda a culpa em mim, não, sua vagabunda! – Aos poucos, Todd estava perdendo a cabeça, junto de sua parceira. – Se você tivesse me esperado para vir pra cá, talvez pudesse ter me lembrado de pegar as merdas dos pentes!

— Não sou eu que uso essas desgraças de armas de fogo aqui, seu insolente! – Puxou Todd pela “camiseta”, aproximando-o para que sentisse sua fúria. – A responsabilidade pelo nosso poder de fogo é toda sua, retardado.

— Sua puta, foi você que me forçou a fazer isso, desde o princípio! – Era possível notar o rosto de Jason ficando vermelho, de tão nervoso que ele estava. – Eu nunca quis usar essas porras de arma, mas você me obrigou a usar, e agora tá reclamando?!?

— Não me acuse pela sua própria incapacidade, Todd. – retrucou, soltando o jovem, tentando se acalmar. – Agora só nos resta aceitar esse destino que você criou.

— Desgraçada... – xingou baixo, para si mesmo.

— Pessoal, vamos “continuar” com essa briga “linda.” – Bizarro interveio, separando os dois brigantes com empurrões em direções opostas. – Temos que “nos distrair” em como “não vamos” sair daqui.

— Tem razão, Bizarro. – a amazona concordou. – Só que não tem como sair daqui, meu escudo não comporta todo mundo.

— É culpa minha, mesmo. – Jason admitiu para si mesmo, suspirando por um longo tempo, como se estivesse deixando toda sua raiva sair. Sentia algumas lágrimas descerem seu rosto. – Me perdoe, Dick... – O pensamento de que estaria, mais uma vez, deixando seu amado sozinho era torturante. Richard mal havia superado a perda, e, um dia depois de ter recuperado sua motivação, iria perdê-lo novamente? Jason não conseguia aceitar isso.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som de um helicóptero, que sobrevoou o lugar onde estavam escondidos, e logo começou a atirar na direção deles.

— É, se tinha alguma coisa que a gente podia fazer, acabou de se tornar impossível. – comentou a ruiva, já assumindo sua própria morte. Aos poucos, os tiros iam rompendo as caixas que ainda os protegiam.

De repente, o som dos tiros cessou, e logo um estrondo seguiu, alguém havia atingido o helicóptero com um míssil. Olhando para o céu, procurando pela origem do tiro, Jason avistou o Batwing se aproximando em alta velocidade, e sentiu seu corpo todo relaxar por um instante, estava a salvo. Quis descansar a cabeça, então não quis levantar-se para assistir ao morcego triunfantemente derrubando todos os criminosos em um piscar de olhos.

Sons de tiros, socos fortes, voadoras, equipamentos de alta tecnologia, uma pura nostalgia para os ouvidos do jovem, que se lembrava de participar de combates tão mais emocionantes quanto os que tinha agora. Logo, um silêncio, já era seguro sair do esconderijo. Jason, junto de Ártemis e Bizarro, levantaram-se e logo estavam se aproximando do Batman, que estava acompanhado de Robin e Batgirl.

— Obrigado por nos salvar. – a amazona iniciou. – Não sei o que seria de nós caso não tivessem chegado aqui.

— Onde está Jason Todd? – o morcego perguntou, ignorando totalmente os agradecimentos. – Quero falar com ele.

Ouvir aquele tom de voz fez o jovem engolir seco, sentindo que tomaria uma bronca novamente.

— Estou aqui. – Disse, saindo de trás de Bizarro. – Estou aqui, Batman.

Com um impulso de raiva, Bruce partiu para cima de Todd, agarrando sua blusa e levantando-o ao ar.

— Você MATOU aqueles homens! – gritou repreensivo, olhando diretamente nos olhos de seu interlocutor. – Pensei que nossa conversa de mais cedo havia sido suficiente, Jason!

— Era a minha única opção, Batman! – Estava sendo cauteloso para não revelar a identidade do morcego, mesmo sentindo-se muito ameaçado. – Se eu não fizesse isso, quem teria morrido seria eu.

— Eu te ensinei como sobreviver a essas situações, Jason... – Devolveu o garoto ao chão, mesmo que ainda estivesse furioso. – Você simplesmente esqueceu de tudo. – virou-se de volta para seus parceiros, que assistiam em silêncio. – Entre no Batwing, em casa conversaremos. Vou arrumar essa bagunça e logo te levarei de volta. – apontou para a nave já estacionada, sem olhar novamente para o jovem.

— Certo... – respondeu, cabisbaixo. – Estou indo.

E assim fez, em silêncio. Andou lentamente até a nave, e, antes de entrar, foi abordado por Ártemis e Bizarro.

— O que está fazendo, Jason? – a amazona questionou, nervosa. – Vai mesmo nos deixar, assim?

— Não tenho escolha, Ártemis. – respondeu desanimado. – Eu temo que, se eu o desobedecer, acabe prejudicando meu relacionamento com o Dick. E você sabe que, ultimamente, isso tem sido a coisa mais importante pra mim.

— Não é possível... – a ruiva lamentou, visivelmente chateada. – Nos veremos novamente?

— Se depender do Batman, não. – Suspirou. – Mas eu prometo que convidarei vocês para o meu casamento. – brincou, sorrindo levemente.

— Então é bom você se casar logo. – ordenou.

— Farei meu melhor. – respondeu. – Até mais, vocês dois.

— Bizarro “não vai” sentir falta de Jason “chato”. – o zumbi avisou.

— Eu sei bem, Bizarro. – disse ao entrar na nave. – Agora, voltem para o trailer, por favor. – pediu. – Não se preocupem com as minhas coisas, deixem como lembranças, inclusive a moto. Eu me viro com o que tiver lá em casa. Não morram.

— O mesmo para você. – Ártemis respondeu em voz baixa. – Adeus, Jason.

Com esta despedida, Ártemis e Bizarro logo saíram da vista de Jason, retornando para o trailer, que agora teria uma cama vazia para sempre.

Respirando fundo para não surtar ali mesmo, Jason pegou seu celular e percebeu que havia recebido algumas mensagens de Dick.

[20:21] Meu futuro: Ok, Jay

[20:21] Meu futuro: Ficarei esperando por vc aqui

[20:22] Meu futuro: Se cuida, meu neném

[20:22] Meu futuro: Também te amo ♥

Naquele instante, passou pela cabeça de Jason a ideia de que talvez Dick tivesse contado para Bruce o que estava acontecendo, e por isso o Batman teria aparecido. Não sabia se devia sentir-se grato ou se devia xingá-lo aos montes, mas acabou cedendo para a primeira opção. Talvez ele nem estivesse vivo para sentir raiva, caso esse aviso não tivesse sido feito. Ainda assim, sentia-se um pouco triste por ter de abandonar seus parceiros de tantos anos, e prometeu a si mesmo que um dia iria vê-los novamente.

[21:35] Jason T.: Oi bb! Tô bem

[21:35] Jason T.: Tivemos um problema, mas o Bruce veio resolver

[21:35] Jason T.: Daqui a pouco já vamos voltar

Desligou o celular. Agora, só restava esperar que Bruce, Tim e Barbara terminassem de “arrumar a bagunça”, que não seria nada mais que aguardar as tropas do D.P.G.C. chegarem e prenderem todos aqueles criminosos, exceto os que havia matado. Nesse instante, Jason percebeu o que havia feito, e entendeu por que Bruce ficou tão bravo.

Não demorou muito até que o trio retornasse para o Batwing, que curiosamente tinha espaço para até sete pessoas. Nenhuma palavra foi trocada entre Bruce e Jason durante a viagem de volta para a Mansão Wayne, as únicas vozes que se ouviam eram as de Barbara e Tim conversando sobre qualquer bobagem. Barbara foi deixada no telhado da Torre do Relógio de Gotham, seu esconderijo secreto, e Tim seguiu quieto pelo resto da viagem, deitado no banco, com a cabeça descansando nas coxas de Jason, que pouco se importou, talvez nem tivesse percebido.

A nave pousou na Batcaverna, e todos desceram em silêncio. Subiram para a Mansão Wayne sem trocar nem mesmo olhares. Tim estava achando muito estranho, nunca tinha visto um clima tão pesado quanto aquele, chegou a ficar assustado. Quando chegaram ao interior da mansão, foi então que alguém abriu a boca.

— Tim, está na sua hora de dormir. – Bruce anunciou. – Encontre o Alfred e peça para ele te ajudar a se vestir.

— Tá bom. – O pequeno respondeu, disparando em direção à cozinha, indo procurar seu mordomo.

— Certo, agora podemos conversar. – Anunciou Bruce, acionando um mecanismo que afrouxou sua máscara, permitindo sua retirada. – Tire esse capacete. – ordenou.

Sem contestar, Jason obedeceu, retirando sem muitos esforços seu capacete. Bruce estendeu a mão, para confiscar o objeto. Com um estalar de dedos, uma das paredes se abriu, mostrando um pequeno armário. Nele, Bruce colocou aquele capacete vermelho.

— As armas. – pediu, com a voz firme, e assim as recebeu, também guardando-as no armário. – Tem mais algum equipamento letal?

— Não. – respondeu com a voz trêmula. – Deixei tudo no trailer.

— Sobre esse trailer, você já sabe, não é? – cruzou os braços, olhando com reprovação para o jovem.

— Sim, não posso mais ir até lá, nem mesmo ter contato com Ártemis ou Bizarro.

— É bom que saiba. – bufou, tentando liberar o estresse. – Amanhã iremos comprar roupas para você. Por hoje, você vai dormir assim mesmo. – avisou. Estalando os dedos de novo, fez com que aquele armário ficasse escondido novamente. – Ouse me desobedecer outra vez, e você nunca mais verá o Richard.

— Não vou te decepcionar, Bruce. – Jason disse baixo, um pouco nervoso. – Não vou arriscar perder tudo que importa pra mim, outra vez.

— Fico feliz em ouvir isso. – Sorriu levemente para o jovem. – Está liberado. Dick dorme no terceiro quarto daquele corredor em que seu quarto ficava. Tem minha permissão para dormir junto dele todos os dias. – Com essa fala, Bruce subiu as escadas até seu próprio quarto, onde poderia fazer suas coisas em paz.

— Certo... – o jovem disse para si mesmo.

Hesitando um pouco para subir as escadas, Jason se direcionou até o quarto que Bruce havia indicado. Percebeu que, na porta, havia uma placa de madeira dizendo “Richard”, e, um pouco abaixo, uma pequena pichação, que dizia “e Jason”, escrito em vermelho e aparentemente à mão. A tinta parecia fresca, e o jovem deduziu que Dick havia adicionado aquele detalhe recentemente. Sorriu levemente com esse pensamento, mas logo sentiu-se derrubado novamente pela tensão que havia passado.

Jason bateu duas vezes na porta, antes de abri-la, para avisar que havia chegado. Quando abriu, encontrou Dick deitado, assistindo a algo no celular, com seus fones de ouvido. Não havia escutado as batidas, mas percebeu a luz que entrou em seu quarto quando a porta foi aberta.

— Jay! – comemorou a chegada de Todd, tirando seus fones e jogando-os junto com o celular na cama, levantando-se e correndo para um abraço. – Você finalmente chegou!

No entanto, Jason não reagiu ao abraço. Estava olhando para algum ponto no chão, desnorteado. Percebendo isso, Dick levou suas mãos ao rosto de seu amado, ação que conseguiu ser suficiente para acordá-lo daquele transe.

— O quê? – perguntou, assustado. – Oh, Dick... – acalmou-se ao ver quem o segurava. – Me desculpe, não estou muito bem.

— Por que, Jay? – indagou, preocupado, descendo suas mãos até as de Jason, e segurando-as.

— Podemos nos sentar? – pediu, olhando para a cama.

— Claro... – respondeu, indo até a cama arrumar um espaço para os dois.

Sentaram-se lado a lado na cama, de frente para um armário que ficava do outro lado do quarto. Jason segurou fortemente a mão de Dick, pois estava prestes a contar o que estava lhe magoando. Grayson ouviu atentamente tudo que ele contava, compreendendo os dois lados, tanto de Todd quanto de Bruce.

— Eu entendo o lado dele, Jay, mas ainda assim acho que ele pegou muito pesado com você. – Suspirou. – Olha, você sabe que eu não me importo com essas coisas, né?

— Eu sei, amor, é que... – Jason já não tinha mais argumentos, naquele momento, só queria descansar. – Deixa pra lá... Já aconteceu, eu só tenho que aceitar e viver de acordo, agora.

— E eu vou estar aqui pra te ajudar com isso. – Se aproximou rapidamente e beijou a bochecha do outro. – Pense que agora teremos mais tempo juntos...

— Você é a única coisa que me anima pra viver, baby. – declarou, puxando Dick para um beijo de verdade. Após alguns minutos naquela troca intensa de sensações que só eles sabiam como fazer, Jason desfez o ósculo, olhando fundo nos olhos do homem à sua frente. – Só quero dormir, tô exausto...

— Não pensa em dormir com essa roupa desconfortável, né? – perguntou, já levantando-se para pegar roupas decentes no armário. Encontrou uma camiseta de malha vermelha, bem como uma bermuda de moletom, ambas vermelhas. Seriam essas. – Aqui, vista isso. – Disse, jogando as duas peças de roupa para Jason.

— Não precisava, Dick... – ficou um pouco envergonhado com aquilo. – Mas, obrigado...

— Vista-se logo, que eu também quero dormir. – Avisou, fechando o armário, e sentou-se novamente na cama.

Jason obedeceu, tirando sua jaqueta, a sua “camiseta-armadura”, seus sapatos, e enfim suas calças. Estar com o corpo exposto assim não o incomodava, pois o único que via era justamente aquele para quem mais queria se exibir. E diga-se de passagem, Dick estava mais vermelho que a pintura do Bat-símbolo do Capuz Vermelho. Vestiu rapidamente a roupa, e quando se virou de volta para a cama, Dick já estava deitado, esperando seu retorno.

Praticamente se jogando em cima da cama, Jason demorou até encontrar uma posição confortável, e, quando encontrou, era deitado de lado, olhando diretamente para os olhos de Dick, que também estava na mesma posição, só que na direção oposta. Este encontro de olhares fez com que os dois sorrissem um para o outro.

— Será que eu vou conseguir dormir, tendo essa vista tão bela com meus olhos abertos? – provocou Jason, acariciando a bochecha do jovem à sua frente.

— Claro que vai, seu bobão. – respondeu Dick, se aproximando mais e depositando um selinho nos lábios de Todd, antes de se virar e ficar de costas para o outro. – Boa noite, Jay.

Como um bom garoto, Jason passou seu braço por cima do tronco de Dick, abraçando-o. Ali estava: a melhor posição para dormir.

— Boa noite, baby.


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