Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 29
Capítulo 28




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Uma hora após o fim da primeira tarefa, Dallas ainda estava em um estado de nervos que fazia todo o seu corpo tremer. Dragões! De tudo o que o Ministério poderia pensar para colocar como desafio para os campeões, dragões foi a última coisa que passou pela cabeça dela. O mundo da magia era interessante, mas possuía uma curiosa displicência quando o assunto era a segurança de jovens bruxos. Era como se, inconscientemente, a sociedade estivesse fazendo uma seleção natural onde somente os bruxos mais fortes, que sobrevivessem a adolescência e as loucuras e periculosidades que algumas matérias de Hogwarts ofereciam, ganhariam o direito de viver naquele mundo. Portanto, não deveria ter se surpreendido quando viu os dragões. 

Potter, claro, foi espetacular ao invocar a sua Firebolt e voar a toda velocidade pelos terrenos da escola, fugindo do Rabo-Córneo Húngaro, como se a sua vida dependesse disto. E, pensando bem, realmente dependia. Mas no fim conseguiu capturar o infeliz do ovo dourado e ser ovacionado por todos aqueles que até horas atrás debochavam no grifinório. Dallas sentiu nojo absoluto quando testemunhou tamanha falsidade. 

Agora tudo finalmente tinha passado, Potter sobreviveu a primeira tarefa e o coração de Dallas aos poucos parava de bater tão acelerado em seu peito. A voz de Draco e os seus resmungos eram um eco distante e a tensão de todos aqueles acontecimentos a deixou exausta. Dallas recolheu-se cedo, esperando que quando abrisse os olhos no dia seguinte, as coisas estivessem melhor. E, curiosamente, estavam. Mais da metade de Hogwarts agora apoiava Potter junto com Diggory, a outra parte mantinha-se neutra e os sonserinos, somente para contrariar a regra, continuavam contra o garoto. Dallas, como sempre, era a exceção. E então, ao final do café da manhã, Dumbledore anunciou o Baile de Inverno e foi aí que Dallas compreendeu qual era o tal evento formal que a sua avó tinha comentado. Mas o pior não era o baile, porque de eventos formais Dallas estava diplomada, o pior era que a ida para o baile exigia um acompanhante e Dallas viu nisto o seu inferno astral começar. 

Não era burra e muito menos cega e tinha espelho no banheiro do dormitório feminino. Um espelho que todas as manhãs fazia questão de dizer que se ela ficasse ainda mais bonita, seria uma ofensa a humanidade. Dallas percebia que os genes Veela estavam ficando cada vez mais aflorados, percebia os olhares que fingia não ver, então não foi com surpresa que após o anúncio do baile, os primeiros corajosos aproximaram-se dela para convidá-la para o evento, e serem grosseiramente dispensados. 

— Nós poderíamos ir juntos ao baile. — Dallas declarou de forma imperiosa ao sentar-se ao lado de Patrick na hora do almoço. Theodore Nott tinha acabado de convidá-la para o baile e esta foi uma experiência que ela não queria repetir nunca mais em sua vida. 

— Sem chances. Até porque, eu não estarei aqui. 

— Como é?

— O Baile de Inverno será no Natal e não é um evento mandatório. Além disto, todo fim de ano os Gordon embarcam para a Austrália para aproveitarem o calor e o sol da Oceania. 

— Eu te odeio, profundamente. 

— Eu sei. Mas não sei porque você está pedindo para mim, Harry está bem ali. — Patrick apontou com a ponta do garfo para a mesa da Grifinória. — Ele ainda não te convidou? — o tom dele era genuinamente surpreso e Dallas fez uma carranca. Não, Potter não tinha a convidado e provavelmente nem iria. Uma coisa eram encontros e conversas casuais, sem testemunhas ao redor deles, e troca de correspondências durante as férias, outra era o garoto de ouro da Grifinória levar uma serpente da Sonserina para um evento público. 

— Eu não vou ao Baile de Inverno com Potter. Até porque, é bem provável que ele convide a Granger. — a carranca dela aprofundou-se e Patrick riu. A foto de Potter e Granger abraçando-se antes da primeira tarefa foi manchete do Profeta Diário e o texto de Rita Skeeter sobre o romance entre os dois jovens deixou um gosto amargo na boca de Dallas quando o leu. Realisticamente, ela sabia que não deveria acreditar no que Skeeter dizia, ou escrevia, a repórter tinha fama de inventar e aumentar muitas coisas em suas matérias, pois ela era uma colunista de fofocas, por favor, mas uma imagem vale mais do que mil palavras e Granger e Potter estavam bem grudadinhos naquele abraço. 

— Vocês dois são dignos de pena. — Patrick disse com um rolar de olhos. — E são patéticos. — completou, mas não elaborou. 

— E você? Você não foi de ajuda alguma. — Dallas resmungou e saiu da mesa da Corvinal tão apressada quanto chegou, indo a passos largos para a mesa da Sonserina e largando-se no lugar vago ao lado de Draco. — Você! — ela disse, apontando um dedo em riste para o garoto que sobressaltou-se diante do súbito tom de acusação dela. — Já tem um par para o Baile de Inverno?

— O quê? 

— Par, Draco, para o baile, você já tem?

— Não? — Draco respondeu hesitante, não gostando do rumo daquela conversa. 

— Agora tem! — Dallas respondeu com triunfo e Draco engoliu em seco. Não estava muito disposto a ir ao baile com a própria irmã, ainda mais um evento deste que implicava amassos em cantos escondidos ao final da festa, mas as suas opções também não eram boas. Millicent não ficaria na escola para a festa, Daphne já tinha arrumado um par e Pansy… Pansy era grudenta e uma companhia fútil e desagradável. É, talvez ir com Dallas não fosse uma opção muito ruim. 

Do outro lado do salão, Harry observou com raiva borbulhando dentro de seu peito Dallas convidar Malfoy para o baile. Certo que embora quisesse muito ir com a garota, chamá-la para ser o seu par não era uma opção viável. 

— Você está sob os holofotes, Harry, e Skeeter vai fazer a festa se tu aparecer no baile com Dallas nos braços. — Hermione havia aconselhado, coberta de razão. A última matéria de Skeeter foi desastrosa e desagradável. Hermione era a sua melhor amiga, sua irmã, e ver aquela repórter distorcer o relacionamento deles daquela maneira foi nojento. Felizmente Ron, que voltou a ser seu amigo depois de perceber que Harry jamais cometeria a loucura de colocar-se em uma confusão como esta apenas por um minuto de glória, não acreditou em uma palavra do que Skeeter disse. O relacionamento entre Hermione e o amigo estava estranho demais e Harry não queria ser um efeito colateral nas brigas deles, ou tomar partido de nenhum dos dois. 

Mas, ainda sim, mesmo que não pudesse convidar Dallas, preferia vê-la indo com qualquer um ao baile, menos com Malfoy. No fim, desgostoso e com indigestão por causa do que presenciou no café da manhã, e após testemunhar mais uma briga entre Ron e Hermione quando a amiga recusou o convite de Ron ao dizer que já tinha companhia, Harry viu no sorriso coquete de Parvati a oportunidade de finalmente resolver aquele impasse e ainda ajudar o melhor amigo ao pedir que a colega grifinória trouxesse a irmã dela à festa como par de Ron.

O Baile de Inverno era algo que Harry realmente não queria frequentar mas, como campeão de Hogwarts, era obrigado a ir. A aproximação da hora da festa tirou dele toda a alegria daquela manhã de Natal, onde abriu presentes, brincou com os amigos na neve e tomou chocolate quente em frente a lareira da Grifinória. Mas ao menos as suas vestes formais não eram tão ridículas quanto as de Ron. 

No fim, arrumados e nervosos, ambos os garotos seguiram para o salão principal para esperarem pelos seus pares. Hermione não estava com eles e a explicação veio quando ela apareceu no topo da escada, lindamente arrumada e, para a surpresa de todos, Krum destacou-se do grupo de alunos da Durmstrang e estendeu um braço para ela. 

— Eu não acredito que a Hermione está confabulando com o inimigo. — Ron murmurou com azedume ao seu lado. A expressão dele era nebulosa e o amigo nem ao menos percebeu quando Padma surgiu na entrada do salão, também tão belamente vestida quanto Hermione, e parou ao seu lado.  

— É, eu também… — Harry iria concordar com o amigo, somente para mostrar solidariedade ao sofrimento dele, mas as palavras entalaram em sua garganta quando Dallas surgiu no topo da escadaria como uma visão descida diretamente do Paraíso. 

Ela estava absolutamente estonteante em um vestido claro e de detalhes floral, como um jardim de rosas que estendia-se pelo seu torso e braços. O cabelo estava preso em uma trança que começava em uma lateral da cabeça e terminava do lado oposto, deixando alguns fios soltos que emolduravam o rosto dela. Os lábios cheios estavam mais destacados pelo batom rosado, os olhos pela maquiagem e os fios castanhos brilhavam com toques de purpurina dourada. 

— Harry? Harry! — Harry ignorou o chamado de Parvati, ocupado demais em apreciar aquela visão que descia os degraus como se flutuasse e passou por ele, lançando-lhe um longo olhar, antes de encontrar-se com Malfoy do outro lado do hall de entrada. E então, ao ver o sonserino estender o braço para Dallas, que sorriu para ele, o encanto se quebrou e o rosto de Harry torceu-se em um carranca de desagrado quando ele virou-se para encarar Parvati. — Se queria vir ao baile com a Winford, por que não a convidou? — havia um forte tom de acusação e irritação na voz da garota, mas Harry não a respondeu, somente estendeu o braço para ela e tomou o seu lugar na fila de campeões, como McGonagall ordenou. 

 

oOo

 

— Você vai ficar sentada aqui a noite toda? — Draco resmungou. Após a dança inicial de abertura do baile, Dallas simplesmente escolheu um mesa, sentou e lá ficou. 

— Parece um plano bom. — ela respondeu com um dar de ombros e um gole de seu ponche. 

— Você deve ser a alegria de todas as festas, heim? — Dallas riu, mas não moveu um músculo. Baile era baile, fosse no mundo trouxa ou no mágico, e a última vez em que esteve em uma festa na qual ela precisou usar salto alto e vestido caro, acabou rolando na lama com Nicholas e abrindo um talho no supercílio dele. 

— Draco, se eu te entedio, Pansy está bem ali. — ela apontou para a sonserina que não havia tirado os olhos deles dois desde o início do evento. Pansy ficou bem contrariada quando viu que perdeu a oportunidade de convidar Draco para o baile.

— Eu aceitei vir com você para não ter que lidar com a Pansy, você bem sabe disso. — ele sibilou e Dallas rolou os olhos diante do drama puro que era Draco Malfoy. 

— Certo então, vamos dançar. Talvez assim você cale a boca. — declarou, largou o copo sobre a mesa e com um gesto fluido saiu de sua cadeira e puxou Draco para o centro da pista da dança, onde começou a mexer-se de acordo com o ritmo lento da música e lançou ao garoto um olhar significativo, onde perguntava o que ele esperava para colocar as mãos ao redor do corpo dela e começar a se movimentar. 

Felizmente Draco não demorou muito para compreender o que ela queria e logo ambos estavam dançando ao longo da pista de dança. 

— Isto é tão estranho. — Dallas o ouviu murmurar perto de seu ouvido.

— O que é estranho?

— Nós, aqui, dançando. Quero dizer, somos irmãos. — ele disse em um tom ainda mais baixo. 

— E daí?

— E daí que em Hogwarts as pessoas vivem de fofocas. Você sabe o que irão falar sobre nós amanhã. 

— E você se importa por quê?

— Você não?

— Anos sendo alvo das fofocas e comentários maldosos das pessoas, por ser a bastarda dos Winford, meio que me tornou imune a opinião alheia. — silêncio por alguns segundos, com somente a música ecoando ao redor deles. 

— Exceto se a opinião for do Potter. — Dallas parou de dançar e afastou-se um pouco, ainda nos braços de Draco, para olhá-lo nos olhos. 

— Do que você está falando?

— Dallas, eu não sou idiota, ou cego. Eu não faço ideia do que há entre você e o Potter, mas sei que é complexo, profundo e não é passageiro. Um aviso? Termine com isto. 

— Por quê? 

— Porque não é seguro. — Draco declarou, voltando a puxá-la para o seu abraço e a obrigando a dançar junto com ele. 

— Ele é só um garoto de quatorze anos, Draco. O que exatamente ele pode fazer contra mim?

— Você não pode ser tão estúpida ou inocente, eu sei que você não é. Harry Potter é um alvo e transforma em alvo todos que lhe são próximos. E você? Um cego pode ver que a ligação entre vocês é peculiar, é diferente, é bem mais profunda que qualquer coisa que ele tenha com a sabe-tudo Granger ou o pobretão do Weasley. Você é um alvo fácil, é uma fraqueza do Potter. — novamente Dallas parou a dança para encarar Draco nos olhos.

— Para eu ser um ponto fraco, isto significa que Potter precisa ter alguém para me usar contra ele. 

— Dallas, você sabe de quem eu falo, você sabe a quem me refiro. — Dallas sabia e se Draco estava dando o aviso, é porque ou ele sabia de alguma coisa, tendo um Comensal da Morte como pai ou também, como ela, teve a sensação de mau presságio na Copa Mundial de Quadribol após o súbito ataque ao acampamento. 

— Não se preocupe, Draco. — ela soltou-se do abraço dele e afastou um passo. — Eu nunca tive vocação para ser uma donzela em perigo. — ela deu as costas para Draco e tomou o rumo da saída do salão. Precisava de um pouco de ar fresco, precisava respirar e colocar as ideias em ordem. 

— Dallas? — mas ouvir Potter a chamando não a ajudou muito em sua decisão. Ele havia a seguido para fora do salão, os seus olhos verdes brilhando e a mirando com intensidade, os mesmos olhos que ela sentiu estarem cravados sobre si durante toda a festa. — Malfoy e você… — Dallas quis rir do absurdo daquela conversa. Foi para isto que Potter a tinha parado? Para tomar satisfações sobre a sua vida amorosa, como se ele tivesse algum direito sobre esta?

— E você e a Granger? — Potter não respondeu e nem precisava, porque a discussão entre Granger e Weasley no salão foi vista por quase todo mundo. 

Dallas aproximou-se do garoto e notou com curiosidade que, como ela, a puberdade estava começando a alcançar Potter. Ele não era mais tão baixo, ficando alguns centímetros mais alto do que ela, mesmo com Dallas de salto, não estava mais magricela, com aspecto desnutrido, o cabelo negro continuava uma rebeldia constante, mas ele aos poucos perdia a gordura da infância e em seu lugar surgia traços retos, queixo quadrado e maçãs do rosto altas, sobrancelhas grossas e cílios negros destacando os olhos que não pareciam mais tão escondidos assim por detrás dos aros redondos dos óculos. 

— Potter… — Dallas deu um passo na direção dele, aproximando-se o suficiente para sentir a respiração dele na subida e descida cadenciada do peito de Potter. — Por que você acha que colocaram o seu nome no Cálice de Fogo? 

— Para ferrar comigo? — ele respondeu em um murmúrio. 

— Potter, Dumbledore é um bruxo poderoso e de vasto conhecimento e alguém deu-se ao complicado trabalho de burlar o feitiço etário para colocar o seu nome no cálice. Por quê? — Dallas não precisou de uma resposta verbal, porque o rosto de Potter mostrava exatamente que ele já havia pensado no assunto, várias e várias vezes, e sabia qual era a única resposta possível para esta pergunta. 

— Talvez, então, seja uma boa ideia pararmos com isto. — ele disse tão baixo que Dallas teve que dar outro passo à frente para escutá-lo, os seus corpos moldando-se como duas peças perfeitas de um quebra cabeça. — A colocaria em menor risco. 

— Eu não sou uma donzela em perigo, Potter. Eu sei me cuidar. — repetiu as mesmas palavras que disse para Draco mais cedo. Potter deu um meio sorriso para ela. 

— Eu tenho completa ciência de que você pode se cuidar. Eu que não estou preparado para te perder, não deste jeito. — ele retirou a pulseira com o pingente de cavalo do pulso e a colocou na palma da mão de Dallas, fechando os dedos dela sobre a joia, em seguida deu um beijo morno e longo da testa dela. — Adeus, Dallas. — afastou-se e tomou o caminho para as enormes portas dupla que davam acesso do castelo para o terreno da escola. Quando ele desapareceu na escuridão da noite que Dallas finalmente conseguiu proferir uma resposta.

— Adeus, Harry.


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