Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 28
Capítulo 27




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A sensação era incômoda e estrangeira e Harry não gostava nada dela. Era como se algo comprimisse os seus pulmões e não o deixasse respirar direito, era como se estivesse sofrendo de indigestão e não havia poção anti-ácida que fizesse o mal estar sumir. 

Dallas estava sentada à mesa da Sonserina, um cenário peculiar visto que ela vivia na mesa da Corvinal, mas um cenário que estava tornando-se cada vez mais frequente. Isto e a constante companhia de Malfoy que de uma hora para outra tornou-se a sombra da garota. Para Harry, tudo aquilo era estranho, porque ele ainda lembrava bem de ter Dallas em seus braços, tensa e bufando de ódio por causa do babaca do Malfoy, e agora ela sorria para as besteiras que ele falava e o tocava com uma familiaridade como se ambos fossem amigos próximos há anos. E então, o correio matinal chegou e a coruja real que pertencia ao arrogante do Malfoy aterrissou na mesa da Sonserina com um enorme embrulho de presente, aterrissou bem na frente de Dallas que fez uma expressão chocada e lançou um olhar surpreso para Malfoy que sorria de orelha a orelha, daquela forma arrogante e petulante de sempre. Da forma que fazia Harry querer arrancar o sorriso do rosto do sonserino com um soco. 

— Harry? Harry! Você está entortando a colher! 

— O quê? — Harry piscou e desviou o olhar da mesa da Sonserina para o rosto preocupado de Hermione e então para a colher em sua mão que estava retorcendo-se como uma tira de borracha, como a aranha sob o efeito do Cruciatus na aula de Moody. 

Como se o metal queimasse, Harry largou a colher em cima da mesa, retorcida e desfigurada, e voltou a atenção para Hermione.  

— O que aconteceu? — Hermione perguntou, mas Harry não queria explicar para a amiga que estava mordendo-se de ciúmes. Porque agora ele reconhecia a estranha sensação de indigestão que não era indigestão. Ele estava com ciúmes. Porque Dallas? Dallas era tanta areia para o seu caminhão que o montante era capaz de erguer uma montanha do tamanho do Everest. Independente de ser a filha bastarda de um rico empresário londrino, ela ainda vinha de uma família nobre, teve a melhor educação, tinha as melhores coisas que o dinheiro poderia comprar, era bonita e inteligente e tinha acabado de ganhar de aniversário do Malfoy um jogo de vestes de inverno que dava para ver a distância que eram da melhor qualidade, e eram caras. 

E o que Harry tinha comprado para Dallas, apesar de sua contrariedade em ver a menina próxima demais do Malfoy para o seu gosto? Uma presilha de cabelo prateada em formato de borboleta, cujas asas mudavam de cor conforme as cores do arco íris. À época da compra, ele considerou o presente uma boa ideia. Não tinha muito valor monetário, a presilha não era feita de prata pura, mas somente folheada, mas era bonita e Harry achou que combinaria com Dallas. Agora ele sentia-se um idiota, com o pequeno pacote do presente pesando no bolso de sua calça enquanto mais presentes grandes e obviamente caros aterrissavam na mesa da Sonserina, na frente de Dallas.

— Harry, ela vai gostar do presente. — Hermione comentou depois de acompanhar o olhar de Harry para a mesa da Sonserina, para a chuva de presentes e os olhares surpresos de Dallas. 

— Meu presente é ridículo, Hermione. — Harry comentou com um muxoxo. Hermione o ajudou a escolher o presente porque, sejamos sinceros, ele ainda era um garoto que não entendia nem um milésimo de um terço do que se passava na cabeça das mulheres e os seus gostos. Um garoto que podia ser rico, mas que foi criado por dez anos em um armário debaixo de uma escada, que hoje vivia em um quarto igualmente minúsculo, e que se teve alguma educação por parte dos Dursley foi porque os seus tios gostavam de manter as aparências, fingir ser de uma elite a qual não pertenciam, e todos na Rua dos Alfeneiros sabiam da existência de Harry e iriam questionar se não vissem o garoto ir para a escola ou se ele não fosse capaz de ao menos dar um cordial bom dia para os vizinhos. 

— É mesmo? Então por que ela ainda usa a pulseira que você deu à ela no ano passado? — Hermione meneou a cabeça na direção de Dallas que caminhava para a saída do salão, com o braço abarrotado de embrulhos meio abertos. A dita pulseira reluziu sob a luz do sol provinda do céu encantado e o coração de Harry deu um pulo no peito ao notar isto. A pulseira foi tão barata e sem significância monetária quanto a presilha. A única coisa que havia de importante na joia eram os feitiços de proteção que, segundo Dallas, nem ao menos funcionaram direito, não como Harry pretendia que eles funcionassem, mas, ainda sim, lá estava a mesma tilintando no pulso magro da garota. 

Harry saiu de seu assento em um pulo e tomou o rumo da saída do salão, alcançando Dallas quando ela estava aproximando-se do fosso com as escadas moventes. 

— Dallas! — chamou em um ofego e a garota parou e virou-se para observar a chegada dele. Com um deslize, Harry parou a poucos palmos de distância da sonserina. 

— Ora, ora. Eu voltei a ser Dallas, Potter? Quando até ontem eu era Winford para você? — ela soltou debochada e com um arquear de sobrancelhas e Harry piscou repetidamente, um tique nervoso comum de quando ele estava confuso, mas, desta vez, a compreensão chegou mais rápido a sua mente que o usual. 

— Desculpe se eu magoei você. — isto era o máximo que Harry iria dizer. Porque não iria admitir tão cedo que agiu de forma estúpida por causa de ciúmes. Ele ainda tinha o seu orgulho de grifinório. 

— Você não me magoou, Potter. É preciso ter algum grau de importância para mim para me magoar, e isto você não tem. — a tirada ácida foi solta na intenção de ferir, isto era certeza, mas Harry poderia não conhecer bem o universo feminino, mas os últimos anos de amizade com Hermione o fez aprender uma coisa ou outra. Portanto, ele sorriu, o que aprofundou ainda mais a carranca de contrariedade no rosto de Dallas, que esperava que ele também ficasse magoado com a alfinetada dela. Mas Harry sabia ler nas entrelinhas de vez em quando, o suficiente para ver que a atitude dele a machucou o bastante para ela querer se vingar o machucando de volta. E se a machucou, isto significava que ela se importava com ele. Por isso do sorriso paspalho que surgiu em seu rosto. 

— Se você diz. — Harry deu de ombros, ainda sorrindo, e o modo como os lábios cheios de Dallas torceram de desagrado foi adorável demais para ele conseguir evitar a risada. 

— Existe alguma razão para você estar aqui, Potter? Além de rir da minha cara? 

— Eu não estou rindo da sua cara. 

— Não? Então rir do nada é algo que você costuma fazer? Deixe-me te dizer Potter, que isto é coisa de gente maluca. 

— Você acordou de bom humor hoje, pelo que vejo. — gracejou.

— Potter! — Dallas exclamou o nome dele com clara impaciência em seu tom de voz.

— Feliz aniversário, Dallas. — Harry desejou e estendeu para ela o pequeno embrulho que retirou do bolso. Para a sua surpresa, Dallas simplesmente largou os presentes que estavam em seus braços no chão, sem nenhuma importância se havia algo de quebrar ali dentro, para recolher o pacote que lhe foi oferecido. E Harry não sentiu-se envaidecido com aquele ato dela, nops, nem um pouco. 

Harry a observou abrir o presente com o coração aos pulos. Quando a última parte da fita foi solta e a tampa da caixa começou a ser erguida, ele considerou arrancar a embalagem das mãos dela, a insegurança falando mais alto do que a vontade de agradar, e sair correndo por Hogwarts feito um louco fugindo de um balaço encantado. Mas, no fim das contas, tudo o que ele fez foi ficar parado no lugar, como se tivesse criado raiz, e observar Dallas recolher a presilha entre dedos longos e delicados e apreciar por um minuto os pequenos detalhes que constituíam a borboleta. Então, assim como fez com os outros presentes, ela largou a caixa da borboleta no chão, mantendo a presilha entre os dedos, para um segundo depois separar algumas mechas do cabelo castanho e prendê-las com o seu novo presente.

A respiração de Harry ficou entalada na garganta diante deste gesto e agora ele admitia que ficou extremamente envaidecido. Porque enquanto os presentes dos outros, o presente de Malfoy, eram largados no chão com descaso, o seu era posto em uso minutos depois de recebido pela aniversariante. 

— Muito obrigada, Potter. — Dallas agradeceu, recolhendo os presentes descartados no chão com um menear de varinha. — Foi muito gentil. — o tom dela era polido e distante, como se o fato de Harry ter lembrado do aniversário dela não tivesse sido grande coisa. Mas havia um leve rubor nas bochechas pálidas da garota, um brilho diferente no olhar dela, fora o fato de que Dallas não esperou nem um segundo para colocar o presente em uso. Portanto, as palavras polidas dela não significavam nada, mas as microexpressões e gestos disseram tudo para Harry. Dallas estava muito mais do que agradecida pela lembrança, só era teimosa demais para demonstrar isto. Mas não tinha importância, o que tinha importância era que ela gostou de seu presente, mais do que o dado pelo Malfoy, e isto garantiu um sorriso paspalho em seu rosto pelo resto do dia. Sorriso que morreu após o banquete de Halloween, quando o Cálice de Fogo cuspiu o seu nome como o quarto competidor do Torneio Tribruxo. 

 

oOo

 

— Não! — o tom de Patrick era firme, assim como os dedos dele no pulso de Dallas, a mantendo no lugar. O Cálice de Fogo cuspir o nome de Harry Potter pegou a todos de surpresa, inclusive o próprio Potter, se a cara dele de desespero fosse alguma indicação, mas Dallas tinha a certeza que a reação de ninguém chegava próxima a dela. O seu coração parou no peito, a respiração entalou na garganta e ela podia jurar que iria desmaiar quando Dumbledore anunciou o nome do grifinório para todo o salão.

— Ele não pode… — Dallas balbuciou, voltando a sentar ao lado de Patrick. O choque a fez sair do lugar em um pulo, a intenção era correr até Potter e desaparatar com ele dali, mesmo que fizesse ideia de como se aparatava, mas Patrick foi mais rápido e a segurou com força o suficiente para deixar marcas em sua pele, mas também para mantê-la no lugar. — Ele não pode competir, ele não é maior de idade. Dumbledore não vai permitir isto, certo? Não vai, não vai mesmo. — as palavras saíam de sua boca atropelando umas as outras, o seu cérebro, sempre tão ligeiro e sagaz, parecia ter dado erro de processamento. Nada computava e tudo parecia surreal demais para ser verdade. 

— Claro que não. — Patrick disse em um tom firme. — Mas como ele conseguiu enganar o feitiço da faixa etária? Nem Fred e George conseguiram. — Dallas o mirou com ódio mortal nos olhos. 

— Potter não driblou nada! Ele não se inscreveu! — ela disse com convicção, porque não precisava pedir explicações ao garoto, ela sabia, no fundo de seu ser, que Potter jamais faria isto. Ele já tinha problemas demais com bruxos das trevas e um possível retorno de Voldemort para cometer tamanha imbecilidade. A não ser que por debaixo daquela coragem Grifinória toda na verdade existisse um garoto com tendências suicidas. Mas disto Dallas duvidava. 

— Dallas, você tem que concordar que é suspeito. Nos últimos quatro anos Harry Potter tem um histórico de feitos heroicos dentro de Hogwarts. Visto isto, inscrever-se no Torneio Tribruxo não seria muito diferente do modus operandi dele. 

— Claro que seria! — Dallas sibilou com raiva. — Os feitos heroicos de Potter foram atos acidentais. Ele se envolveu na situação por puro acaso e acabou, com sorte, saindo vitorioso. Mas isto? — ela apontou com um gesto largo para o Cálice de Fogo flamejando em frente a mesa dos professores. Dumbledore, McGonagall, Snape e Fudge tinham sumido com Potter por uma porta lateral de acesso ao salão. — Isto seria proposital e colocar-se em risco de forma proposital não faz parte do modus operandi de Potter. 

— Certo. Então como o nome dele foi parar no Cálice? Dumbledore com certeza pensou em tudo, o feitiço da faixa etária não somente impede que menores de dezessete anos atravessem a barreira para colocar os seus nomes, mas também impede que maiores de dezessete anos atravessem a barreira para colocar o nome de menores de dezessete. 

— O que significa que alguém muito poderoso enganou o feitiço. Alguém com muito mais conhecimento em magia que um garoto do quarto ano, não é mesmo? —  é, Patrick pensou, nisto Dallas tinha razão. 

Meia hora depois os juízes do torneio e os professores e diretor retornaram ao salão e anunciaram que a participação de Potter era válida e portanto ele seguiria na competição como um dos campeões de Hogwarts. Dallas sentiu novamente o seu coração parar diante desta notícia. 

O dia seguinte após a seleção não amanheceu melhor do que a noite anterior. Draco, obviamente, passou horas discursando na sala comunal da Sonserina sobre privilégios e como Potter gostava de chamar a atenção e Dallas sentiu-se enjoada e com uma dor de cabeça forte o suficiente para impedi-la de discutir com o irmão. Draco já havia deixado claro que não gostava de Potter simplesmente porque o santo dele não cruzou com o do outro garoto. Tentar mudar isto era caso perdido e ela não estava com nenhuma disposição para tentar, não naquela noite. Infelizmente, a entrada de Potter no torneio não foi algo que desagradou somente os sonserinos, mas sim praticamente a escola inteira. E o discurso dos outros alunos era incrivelmente semelhante ao de Draco. Todos achavam que Potter fizera isto pela fama, porque queria mais um ato heroico para adicionar a sua coleção, porque queria chamar a atenção. Até mesmo os grifinórios, que supostamente deveriam ser leais aos seus, achavam o mesmo. Weasley, que deveria ser o melhor amigo de Potter e apoiá-lo, achava o mesmo. 

Dallas queria azarar todos esses idiotas, e só não o fazia porque o seu ato de rebeldia não adiantaria de nada exceto uma longa detenção. 

A situação ficava ainda mais tensa à medida em que o tempo passava, em que o furor entorno do torneio crescia e o dia da primeira tarefa aproximava-se. Draco, em um golpe brilhante de genialidade e pura maldade, enfeitiçou os broches do F.A.L.E. para proferir ofensas contra Potter e manifestar apoio total a Diggory. Potter seguia pelos corredores de cabeça erguida, apesar de ter praticamente quase toda a escola contra ele, mas a tensão constante em seus ombros mostrava que ele estava sendo severamente afetado por toda aquela situação. 

— Potter! — Dallas o chamou após o garoto sair da sala de McGonagall. Um duelo no corredor entre Draco e ele teve como dano colateral Goyle e Granger, e detenções para ambos os garotos. 

Harry suspirou ao ouvir o seu nome, mas não virou-se para encarar Dallas. Já tinha perdido a amizade de Ron, a amizade de praticamente todos os seus amigos da Grifinória. O pouco apoio que tinha vinha de Hagrid, Hermione e das cartas de Sirius, portanto não suportaria saber que Dallas também estaria contra ele, não neste momento. A sua vida já estava miserável o suficiente para ser acrescentado mais este soco na sua cara. 

— Potter. — Dallas o contornou e parou na frente dele, o obrigando a olhá-la nos olhos. Ela usava a presilha de borboleta, um acessório que tornou-se comum no cabelo dela, e vendo isto Harry quis acreditar, por um segundo que fosse, que talvez aquela conversa não fosse ser tão ruim. — Dumbledore descobriu quem colocou o seu nome no Cálice? — a pergunta o pegou de surpresa. Porque era algo que ninguém deu-se ao trabalho de perguntar para ele. Todos simplesmente presumiram que Harry arrumou um modo de entrar no torneio, não que alguém o candidatou sem o seu consentimento ou conhecimento. 

— Você não acha que eu me candidatei? — Dallas rolou os olhos diante da pergunta dele.

— Potter, você é estúpido, mas não é tão estúpido assim. O Torneio Tribruxo tem um histórico de violência, mutilação e morte. Não faço ideia porque decidiram ressuscitá-lo, mas não é bem do seu feitio colocar-se em risco desta maneira. 

— Segundo as más línguas, é porque eu preciso desesperadamente alimentar o meu ego, fazer jus ao meu título de Herói do Mundo Mágico e manter-me no topo, sempre. Manter o fogo da minha fama crepitando. 

— Tu foi Herói do Mundo Mágico por puro acidente, Potter. Não se ache grande coisa por causa disto. — Harry sorriu, extremamente aliviado em saber que ao menos Dallas acreditava na inocência dele. — Aqui. — ela retirou a pulseira com os feitiços de proteção e estendeu para ele. 

— Isto foi um presente, Dallas. Eu não posso aceitar de volta. 

— Foi um presente que você me deu para me proteger dos Dementadores e que eu estou te emprestando para protegê-lo neste torneio. Eu vou querer a minha pulseira de volta quando tudo isto terminar. — Harry aceitou a pulseira, com os dedos trêmulos e absolutamente tocado pelo gesto dela. — E então? Dumbledore descobriu quem te colocou nesta roubada?

— Não. — Harry respondeu após prender a joia em seu pulso. 

— Potter. — a voz de Dallas ganhou um tom sério e levemente sombrio. — Eu não brinquei quando disse que o torneio tem um histórico ruim. Por favor… Tenha cuidado. 

— Eu vou ter. — Harry respondeu, novamente tocado pela preocupação dela e em um gesto rápido a puxou para um abraço e afundou o rosto nos cabelos castanhos, aspirando a fragrância gostosa de flores que os fios emanavam. — Eu vou ter. — prometeu.

Não ganharia o torneio, porque esta não era e nunca foi a sua intenção, mas sairia vivo deste, por Dallas.


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