Cada dia se passava e cada um deles, Rakan contava um pouco do que faria e da forma mais formidável, em enigmas fáceis e ridículos para alguém de idade como Yasuo. Sempre encarando o guardião ao final do dia e ficando sem entender quando o mesmo andava de um lado para outro, parecendo pensativo e sério, até mesmo bobo nesses momentos, o que só divertia o outro ali, deixando que o familiar do guardião repousasse em sua cabeça enquanto Adorável seguia ao lado do guardião, feliz e achando ser algum tipo de brincadeira. 

Surgiu sim a pergunta de como Xayah não desconfiava das saídas do parceiro durante aquela semana, se o tempo daquele lugar de Runeterra não afetava em outros planetas, se a mesma não estava seguindo ou buscando resposta de como voltar ao normal e se livrar da escuridão. Quando pensava em Xayah, procurava não pensar tanto na mesma e nem mesmo se lembrar das aparições da mesma no mangá... Lembrava bem como ela era poderosa com Rakan ao lado, sendo a pessoa corrompida mais poderosa até o momento. 

E Yasuo deveria sempre se lembrar que estava em um mundo hostil e cheio de coisas traiçoeiras, de pessoas que poderiam o matar ali de maneira fácil... Como Ahri quase o fez. 

“Nem mesmo sabe quem trouxe você”. Não, ele não sabia quem o tinha convocado para aquele mundo. Pensou em agradecer aos primeiros cinco minutos ao ter visto suas personagens favoritas, mas em ter um Rakan ameaçador no mesmo ambiente que ele, o arrependimento bateu bem forte. 

A rotina dele se resumia em trabalhar a maior parte da manhã e à tarde e, voltar com Garen e Katarina e durante a noite, ouvir os planos malucos e enigmáticos de Rakan, sendo travesseiro do familiar dele e sempre acenando em concordância. Conseguiu até mesmo fazer uma listinha para não ficar maluco, com objetivos para não se sentir como um personagem... Estava se saindo bem em não ficar maluquinho. 

— Ei, Yasuo! 

Rakan congelou no meio do quarto assim que a voz de Garen ecoou pelos corredores, era final de semana, um domingo nublado e um pouco frio, um dos dias que Rakan passava a maior parte do tempo com ele. 

Indicando com o olhar para que o guardião ficasse em algum canto do quarto, Yasuo saiu do cômodo e ficando perto das escadas apenas para ver uma pessoa familiar... Duas pessoas familiares ali. 

— Janna! — E descendo apressado pelas escadas, Yasuo a segurou em um abraço e sendo retribuído, ouvindo a mesma dar uma risada e sorrir para ele — Estou feliz em ver você...  

— Precisávamos vê-lo, Janna acabou lembrando e insistindo — Luxanna disse logo ao lado, o abraçando também e sorrindo — Meu irmão consegue ser bagunceiro mesmo com duas pessoas morando no mesmo teto que ele — Resmungou e da sala, Yasuo conseguiu ver a careta de Garen e ainda ouvir a risada de Katarina — Precisávamos conversar algo sério com você... — Sussurrou, a expressão dela mudando e se desmanchando para uma feição preocupada. 

— Se for sobre a Ahri... — Começou e o olhar de Luxanna ficou confuso — Não era sobre a Ahri então... 

— Não...? — Franzindo o cenho, a mesma negou com a cabeça e o puxou pela mão, o levando de volta para as escadas e subindo. 

Algo estava errado e ele tinha passado apenas quase duas semanas fora!  

— Ela fez algo a você? — Janna perguntou, o tocando pelo ombro e o olhando com preocupação, mas Yasuo apenas negou. 

Teria que mentir. De novo. 

— Como você conhece ela? — Lux perguntou, era claro que os olhos dela brilhavam apenas de falar o nome da outra guardiã. 

— Ela apareceu no meu trabalho alguns dias atrás, um colega a chamou pelo nome e ela pediu algumas dicas de álbuns novos — Contou, dando de ombros — Meu colega falou que ela era popular, não queria que ela falasse que se encontrou com alguém mais velho para os alunos — Murmurou, constrangido. 

— Não viemos falar dela — Janna contou, negando com a cabeça e sorrindo acolhedora. 

— Viemos contar que conseguimos conversar mais com aquele guardião e já que você é um de nós e sabe do que fazemos... — E dando de ombros, Luxanna começou a ficar vermelha. 

— Você não precisa me contar nada caso não queira, Lux — Yasuo sussurrou, sorrindo fracamente — O que você me contou, do pouco, sei que deve ser algo importante demais para outras pessoas saberem, não precisa contar para mim... 

— Mas é preciso, porque ele pediu...  

A não. 

— O quê? — Indagou, confuso e encarando Janna para ter uma resposta, mas a mesma desviou o olhar. 

Luxanna contou tudo o que Rakan falou, sobre a ameaça que chegaria e o autor dela, de uma guardiã estelar que engoliria tudo para o mais profundo breu das sombras e corrupção. De que as mesmas deveriam estar preparadas para não acabarem como ele... As orientando a ficarem fortes e ainda pedindo ajuda delas caso as coisas ficassem feias.  

Mas com um porém... Que não poderiam contar para a líder do outro grupo o nome dele, não deviam falar. 

Mas o pior foi ouvir que Rakan ainda falou para elas de que Yasuo era um “oraculo” adormecido no corpo de um mortal e que a magia das sombras o tinha tirado do curso original dele, por isso insistiu em ir atrás dele no início, o que fez Yasuo concluir que ele não contou a ela que estavam se encontrando e que naquele momento também, o outro estava no quarto de Yasuo. 

— Mas ainda fica a pergunta... Ele não machucou você, certo? — Luxanna perguntou. 

— Não, Lux... Ele não me machucou e nem vai, acho — Contou, olhando para Janna e vendo a mesma o encarar, preocupada — Ele me chamou de inútil e nunca mais apareceu, acho que isso é um bom sinal. 

E ele falou alto para Rakan ouvir mesmo, que se ele ainda estivesse no quarto, que escutasse e soubesse que Yasuo não esquecia as coisas tão facilmente. 

— Isso é bom, assim você fica fora de risco — Ela suspirou, sorrindo abertamente para ele — E queríamos visitá-lo, saber como você tem passado e alias, me contar essa história da Ahri melhor — E lá estava, o brilho no olhar da guardiã que Yasuo adorava. 

— Lux... Ela só pediu uma pequena ajuda, não foi nada demais — Resmungou, atraindo uma risada de Janna. 

Queria esquecer aquela garota assustadora, temia até nem conseguir encarar a Ahri do seu mundo por conta da colegial, porra, ele ficou com o ombro queimado! 

— Ela falou de mim? — Perguntou e agora o olhar de graça era dele — Digo, ela é uma pessoa que está no último ano do ensino médio, deve ser muito legal ser um dos mais velhos e populares, além do mais, ganhar uma bolsa de estudos... 

— Você anda espiando a vida da Ahri, Lux? — Yasuo perguntou, com graça na voz, tentando até mesmo conter um sorriso, mas em vão. 

— O quê? Claro que não! — Rebateu, ficando vermelha e falando mais alto. 

— Ela anda espionando — Janna falou, sorrindo docemente e dando uma leve risada — Ela conversou até mesmo com Ezreal. 

— Eu não estou usando-o caso esteja pensando algo errado de mim — Argumentou, fazendo uma careta ao ouvir o nome do garoto. 

Coitado, Ezreal era o personagem mais deixado de lado que Yasuo já viu. Primeiro ele lembrava bem das interações quando Lux o conheceu, algo como “era pra gente ‘tá namorando? Eu nem conheço você”. Yasuo tinha rido disso na época, mas com respeito ao guardião estelar. 

— Ele gosta de você, Luxanna — Janna argumentou, o cenho franzido. 

— Eu sei que ele gosta — Falou, o rosto corado e Yasuo se atreveu em apertar as bochechas dela — Ei! — E é claro que ele as afastou ao receber leves tapas, rindo do rosto agora bem vermelho dela — Mas é injusto com ele e comigo, temos deveres, não podemos... 

— Mas você fica puxando saco da Ahri — Yasuo implicou e Lux se encolheu. 

A não. 

— Entendi... — Sussurrou, olhando para Janna e vendo como sua “prima” achava graça — Seu irmão sabe?  

— Sei do quê?  

E parado nas escadas, eles nem tinha percebido que o outro tinha subido e ido até eles ver o que estava acontecendo, o que restou apenas para Lux ficar ainda mais envergonhada, mais do que já estava, e andar até o irmão, o forçando a voltar para Katarina e os deixarem em paz, o que não adiantou tanto assim já que Garen se aproveitou da situação e vergonha da irmã para a pegar no colo e a deixando no ombro, a carregando escada abaixo. 

— Me larga, Garen! Eu vou contar para a mamãe!  

Yasuo não conseguiu mais, gargalhou ao lado de Janna e acompanharam os dois, seguindo para a sala e vendo Katarina implicar com Lux, dando beliscões enquanto Garen a balançava, ambos tirando com a cara da pobre coitada. 

Era uma cena boa, mas ele não se junto aquilo e apenas assistiu... Algo rotineiro, novo já que ele não tinha irmão ou irmã, apenas um de consideração que o odiava. 

O suficiente para convencer Lux a ficar e Janna também, mas o melhor argumento foi de que “Jinx não colocaria fogo em casa”. 

A tá.  

Yasuo dispensou a noite de filmes e fugiu para o quarto, apertando Janna em um abraço para não atrair desconfiança, trancando até mesmo a porta e suspirando. 

— Ela é bem escandalosa — Rakan comentou, uma leve careta e encarando Yasuo, esse que se aproximava devagar — Esqueci que irmãos são um saco, os mais novos principalmente... 

— Uh? Você tem irmãos? — Perguntou curioso, fazendo um leve carinho em Riku e o tomando em seus braços, deixando que uma pequena Adorável dormisse no coo do outro. 

— Tinha. 

— E o que aconteceu? Você não os vê mais? 

— Quando eu consigo, os visito... Mesmo quando eles de alguma forma tentam me esquecer... — Respondeu, a voz dele carregava algo, uma dor apalpável e que Yasuo conhecia bem — Uma das únicas coisas que me mantem com os pés no chão e com a mente salva da matéria sombria... 

— Deve ser difícil...  

— E é, mas eu preciso terminar isso, acabar com o meu erro — Falou, negando com a cabeça — Devo isso a Xayah...  

— Você não vai me contar o que aconteceu quando vocês aprenderam a manipular matéria sombria? — Perguntou, vendo o olhar de surpresa por poucos instantes em Rakan — Eu sou um oráculo — O lembrou. 

— Melhor você não saber... Vai que acabe desistindo e me fazendo voltar três casinhas? — Brincou. 

— Rakan... 

— Acredite, foi a coisa mais dolorosa que senti em toda minha existência, compartilhar isso vai soar nojento e grotesco... 

É, Yasuo teria que teorizar mesmo. 

— Seria bom saber para entender com o que vamos lidar — Deu de ombros, suspirando e olhando para Riku, o familiar tinha adormecido durante a conversa e era a coisa mais fofinha que ele já viu, o pegando e embalando em seus braços — Mas o assunto pode morrer por aqui. 

— O que todas as guardiãs vão lidar é algo que vai afetar todo o universo — Sussurrou — Você? Irá apenas assistir ao espetáculo, esperando a dança final. 

— Mas eu irei ajudar de alguma forma, não é? 

— De certa forma, sim... — Deu de ombros — Quando tocar a badalada final, você vai dançar o início do fim. 

— Odeio quando você usa enigmas... — Resmungou e Rakan deu uma risada. 

— Um dia você vai entender.