Sono Eterno escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 3
Esquecer para viver


Notas iniciais do capítulo

Oie! Esse ainda é apresentação dos personagens (tentei citar todos), alguns vão ter um destaque maior por conta da história do personagem ajudar no desenvolver, mas todos são importantes (e suspeitos rs).
Queria agradecer aos favoritos e aos comentários, vcs me deixaram muito feliz ♥



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02 de outubro, sexta-feira.

O alvorecer começou a despontar no céu, anunciando a chegada de um novo dia, iluminando as janelas do dormitório feminino da lufa-lufa e Natalie Primus nem se dera conta que a noite já havia acabado e ela ainda estava acordada. Passara a noite toda presa às palavras que o livro emprestado de seu veterano, Ian, dizia sobre feitiços de memória, e estava cada vez mais certa sobre alguém ter jogado em si um Obliviate. Mais conhecido como um feitiço de esquecimento, exige precisão e muito cuidado para não causar danos irreversíveis ou mesmo dar fim a diferentes memórias daquele que o recebe; se feito de forma inadequada, pode acarretar em diferentes efeitos colaterais, como o resquício de memória que podem causar a sensação de perigo ou familiaridade ao entrar em contato com coisas e situações que fazem alusão as lembranças apagadas. Não podia ser coincidência ela estar vivendo isso; mas o que ela teria feito de tão grave para alguém roubar de si sua memória? Não fazia ideia. Precisava de alguém de confiança e com bastante conhecimento sobre feitiços para conversar e tentar achar uma forma de reverter isso. Quando chegou nessa conclusão, rapidamente pegou um pedaço de pergaminho e escreveu uma carta contando os detalhes do que estava acontecendo e de suas suspeitas, finalizando com um pedido para que se encontrassem em sigilo e enviou por sua coruja para Fernanda Rolon, com a esperança de que a mesma já estivesse desperta e a respondesse rapidamente. 

Ansiosa, Natalie ponderou se Fernanda havia sido a escolha certa para contar o que estava acontecendo. Havia conhecido Fernanda na biblioteca, quando lia um livro sobre mistério, escrito por uma trouxa, e quando viu-a se aproximando com suas vestes verde e prata da sonserina, e o cabelo castanho-escuro movimentando-se com leveza com seus cachos abertos que iam até a altura dos ombros, somado com sua pose imponente, pensou que seria ridicularizada; mas, ao contrário, Fernanda comentou que o livro que ela lia era um de seus preferidos e ali começou uma amizade. Com o tempo, Natalie descobriu que Fernanda era na verdade brasileira, nascida trouxa e descendente indígena de uma tribo chamada Bororo, estava no sexto ano em Hogwarts e aproveitava bastante dos dois mundos que fazia parte, sendo uma das melhores alunas no seu ano e conhecedora de muitas coisas trouxas. Não podia dizer que eram melhores amigas, entretanto, levando em conta que Fernanda havia dado esse voto de confiança a Natalie contando sobre sua vida (o que não fazia com ninguém), era justo que Natalie desse um voto de confiança a garota também. 

Demorou cerca de trinta minutos para que a coruja de Natalie voltasse com a resposta. Algumas das garotas que dividiam o dormitório com Natalie já estavam despertas, se arrumando para tomar o café da manhã e iniciar a rotina de estudos, mas ainda saíram depois de Natalie, que ao ler a carta, calçou seus sapatos e saiu tão rápida quanto uma firebolt do quarto. Desceu a escada do dormitório pulando degraus e nem se lembrou de pedir desculpas a Dara e Ian quando trombou com os dois no salão comunal, tamanha era sua pressa. A mensagem de resposta dizia para que as duas se encontrassem dali a quinze minutos próximo a entrada da Floresta Proibida para que tivessem mais privacidade, já que a maioria dos alunos estavam concentrados no café da manhã. O caminho era um pouco longo e talvez ela estivesse se arriscando indo até lá, mas a ansiedade para entender tudo o que acontecia era maior que as preocupações ou sinais de alerta (como, por exemplo, o fato da letra na carta de resposta ser diferente da letra usual de Fernanda). 

Assim que passou um dos portais de pedra, que levavam ao caminho que ia de encontro a casa de Hagrid, Natalie percebeu que havia algo estranho com seu corpo. Um formigamento que vinha da ponta dos pés e subia toda a perna, passando para o tronco e braços, e se concentrou na garganta. Mesmo tossindo e movimentando seu corpo em agonia, continuou andando, pois quando encontrasse Fernanda, a sonserina poderia ajudá-la a fazer a sensação passar. Essa esperança diminuiu quando suas pernas fraquejaram, fazendo seu corpo tombar para frente, e sua tosse veio acompanhada de sangue. Ao menos, assim que tossiu, a sensação de formigamento diminuiu, mas não tinha forças para se levantar ou chamar ajuda, permanecendo caída na grama molhada de orvalho. 

Não sabia dizer quanto tempo se passou já que pelo cansaço da noite não dormida e fraqueza do corpo, acabou apagando. Só acordou quando um grupo de sonserinos passou por ali, quando se preparava para ir a aula de Trato das Criaturas Mágicas. 

— Ei, aquela ali não é uma garota da lufa-lufa? - Mary Killian perguntou apontando para o corpo de Natalie caído a alguns metros de distância dela e de seu grupo. Normalmente Mary estaria sozinha, já que seu humor ácido e comportamento considerado lunático e inconstante dificultava a criação de laços de amizade; isso somado a aparência tão delicada como uma boneca de porcelana, mas o olhar sombrio e desestabilizador. Porém, naquela sexta-feira em particuplar, estava acompanhada de Elizabeth Rosier, Fernanda Rolon e Lisbeth Louviere. As quatro pertenciam a Sonserina e se dirigiam a aula, apesar dos anos diferentes, sendo Lisbeth e Mary as que iriam se infiltrar na aula do sexto ano. 

Non temos nada a ver com isso. - Lisbeth respondeu, com o sotaque francês carregado que possuía. - Temos que chegar primeiro que os idiotas da grifinória para que non falem ao professor que vamos assistir a aula.

Elizabeth rolou os olhos, irritada com a resposta da mais nova. Não havia concordado com a ideia de ser babá das duas, mas não as impediu quando Lisbeth e Mary começaram a segui-la.  Lisbeth estava no quarto ano e infelizmente a fama que criara dentro da escola não era das melhores, principalmente por ser francesa, já que a pergunta constante do porque não estudava na escola de bruxaria de lá, Beauxbatons, se tornou um incentivo para azarar quem quer que fosse e duvidasse da desculpa dada de que Beauxbatons não era boa suficiente para lhe preparar para o mundo bruxo. Vinda de uma família sangue puro, e criada para ser uma herdeira que reconstruiria o poderio de sua família, sempre fora muito egocêntrica e ambiciosa; uma prova era a insistência de acompanhar suas veteranas em seu horário vago; acreditava que assim estaria a frente de seus colegas de classe, e essa ideia havia contaminado Mary, que acreditou que também devia estar a frente nos estudos. 

Ignorando o que Lisbeth havia dito, Fernanda começou a se aproximar do corpo abandonado na grama. 

— Espera… É a... Natalie? - Indagou, correndo ao encontro do corpo da amiga. — Natalie? O que você está fazendo aqui? - perguntou chacoalhando o corpo da lufana. 

— Será que ela desmaiou? Já estamos no outono, e hoje o dia está frio para tomar banho de sol deitada na grama… - Mary acrescentou também se aproximando. 

— Isso na manga da blusa della é sangue? - Lisbeth reparou. Seus olhos cor de âmbar estavam arregalados, e os lábios rosados comprimidos, dando destaque a pinta que tinha abaixo dos lábios. Se seu cabelo preto não estivesse preso com uma presilha de lua, provavelmente teriam coberto seu rosto quando se aproximou mais de Fernanda. 

— Precisamos chamar algum professor e levá-la na enfermaria. - Elizabeth se pronunciou. Alguns outros alunos do sexto ano da grifinória e da sonserina já começaram a surgir e caso vissem o estava da lufana, poderiam causar um alvoroço. 

— Me ajudem a levantá-la. - Mary pediu afastando o cabelo castanho e pegando os braços de Natalie, para erguê-la sentada. Toda a movimentação e a presença de vozes chamando-a fez com que Natalie aos poucos fosse retomando a consciência. 

— Eu vou chamar um professor, fiquem aqui. - Elizabeth pediu e saiu arrastando Lisbeth para que ela também procurasse algum professor. 

— Natalie! O que aconteceu? - Fernanda perguntou quando percebeu que a garota finalmente estava abrindo os olhos. 

— O que…? - Ainda desorientada e se sentindo fraca, demorou alguns segundos para Natalie perceber que estava rodeada pelas duas sonserinas. Entretanto, ao identificar de quem se tratavam, um grito dolorido escapou de sua boca, enquanto se movimentou apressada para se afastar daquelas pessoas. 

Levantou do chão em pura adrenalina, e logo sentiu uma forte tontura lhe acertar, mas quando Fernanda tentou segurá-la para não cair ao chão de novo, com passos cambaleantes e a voz abafada murmurando repetidamente “Se afasta de mim”, Natalie tomou certa distância. Isso chamou atenção dos alunos que ali passavam. Entre eles estava Lilith Aradia, uma garota ruiva do terceiro ano, que pertencia a grifinória e era conhecida por toda a escola por ter duas heranças sanguíneas: era metamorfa* e um maledictus*. Tais características fizeram com que as pessoas tivessem receio de se aproximar da garota, e criassem teorias malucas do porquê aquilo acontecia com ela; a mais famosa era a de que Lilith era a reencarnação da dita primeira mulher existente. Como que para fomentar as conspirações nem Lilith, nem sua família, negaram nada do que falavam sobre si, ajudando a criar uma personalidade volúvel na garota. E assim com sua personalidade, era suas relações: rapidamente criava um vínculo e rapidamente o desfazia. Com Natalie havia sido assim desde que a conhecera no primeiro dia de aula; as duas dividiram o mesmo barco para atravessar o lago até Hogwarts, e enquanto conversavam ali, iniciavam uma amizade. Mas quando o chapéu seletor as colocou em casas diferentes, Lilith já não mais interagia com Natalie a não ser quando sentia que precisava de algo. E, naquele momento em que viu Natalie toda desorientada e pedindo distância das duas sonserinas, não hesitou ao pegar sua varinha e lançar um “Petrificus Totalus” nas duas, prendendo seus corpos e ações, deixando Natalie correr. Sentiu-se vingada vendo as duas veteranas paradas, simplesmente porque eram da casa com mais rivalidade da sua, e continuou caminhando como se nada tivesse acontecido, sem ter reparado de fato do estado perturbador que Natalie se encontrava. 

Com o estado debilitado e o raciocínio confuso, Natalie atribuía sua situação a Fernanda e o arrepio que sentiu ao se perceber na presença dela e de Mary não ajudou a afastar essa ideia de sua mente. Algo muito errado estava acontecendo e não conseguir se lembrar o porque era desesperador. Aos tropeços, seguiu rumo ao colégio. Com a garganta seca e ardendo, precisava urgentemente de um copo de água. Contudo, ao passar ao lado da estufa de Herbologia encontrou-se com Claire que ao ver o estado da garota, alarmou-se. 

— Natalie! Você está bem? O que aconteceu? - A corvina perguntou segurando levemente o ombro da colega. Os olhos azul-esverdeados arregalados em preocupação se encontraram com os olhos escuros como madeira queimada de Natalie, que se pôs a chorar. 

— Ro-roubaram minha memória. - Natalie murmurou limpando sem muito cuidado o rosto sujo de barro e lágrimas. Claire se lembrou do comportamento estranho na biblioteca no dia anterior e preocupou-se ao ver as mangas de Natalie sujas com algo vermelho. 

— Eu acho que posso te ajudar. - Decidiu-se por fim, pegando na mão de Natalie e a conduzindo ao banheiro feminino mais próximo para que pudessem se limpar e conversar com mais liberdade. 

Enquanto Natalie lavava o rosto e tentava estabilizar a respiração, Claire contou-a que sua mãe já havia trabalhado como curandeira no St.Mungus e era Mestre em Poções; com toda certeza já havia trabalhado em algum caso de perda de memória e preparado uma poção para reverter, já que a outra forma conhecida para obter memórias perdidas era através de tortura e essa não era um opção para as duas terceiranistas. Aceitando a ideia, Claire também contou que já estava quase na hora do almoço, mas que Natalie deveria dar uma passada na enfermaria enquanto ela ia ao corujal entregar uma carta pedindo a poção para a mãe. Concordaram também em não contar essa situação a ninguém até que tivessem respostas, e que antes mesmo do jantar se veriam no banheiro feminino do terceiro andar para tomar a poção. E assim o dia se seguiu. Quando os professores que Elizabeth e Lisbeth haviam chamado encontraram Natalie na enfermaria a lufana inventou que era sonâmbula e que devia ter ido parar na grama por causa disso. A desculpa não foi muito convincente, mas como a enfermeira ainda não tinha o resultado do que havia acontecido com a garota, acabou ficando por isso mesmo. 

Às seis horas da tarde, Claire e Natalie se encontraram no banheiro. Claire explicou antes de entregar a poção que havia alguns efeitos colaterais e que provavelmente sua cabeça doeria como se cada memória a retornar fosse um soco diferente. Mesmo assim, Natalie tomou o líquido viscoso e azul sem exitar. 

Foram vinte minutos de suspiros e bramidos agoniados, com Natalie se contorcendo no chão de granito bege do banheiro. Claire segurava com muito esforço as lágrimas que queriam cair ao ver a situação que a colega se encontrava. Parecia muito dolorido para alguém vivenciar aquilo e injusto isso acontecer justamente com uma pessoa que sempre tentava se dar bem com todo mundo como Natalie. Em sua vida, poucas vezes presenciara uma cena tão triste como aquela, e por não ter o que fazer para que aquilo parasse, se sentiu inútil. Quando Natalie finalmente parou de se remexer e se sentou no chão, ainda apertando a testa com as duas mãos, Claire suspirou de alívio. 

— Funcionou? Você está bem? - Indagou. Natalie puxou o cabelo, em evidente irritação. Mas, quando levantou o olhar para Claire, a garota percebeu como seus olhos pareciam opacos e sem brilho, como se tivessem acabado de presenciar uma morte. 

— Sim. - Respondeu de forma vaga. Sua voz estava rouca e sua postura evidentemente cansada. Natalie havia se lembrado de tudo e entendeu porque não saber de nada era uma opção muito melhor. Uma opção segura. — Você vai para Hogsmeade amanhã? - mudou de assunto, confundindo Claire. Entretanto, essa era sua intenção. A partir desse momento, precisava fingir não saber de nada, ou sua vida estava perdida. 

                                          ~**~

*Metamorfo: Bruxos que podem se transformar sem a necessidade de um feitiço, como a Tonks no livro.

*Maledictus: Diferente do metamorfo, confere a habilidade de transformar em uma criatura única, quando quer até certa etapa da vida. É uma maldição sanguínia passada de mãe para filha. exemplo: a nagini

 

 


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Notas finais do capítulo

Gente eu coloquei os * dentro do cap, pq diz a lenda q as notas vão sumir um dia. senti a necessidade de explicar sobre isso, mas se vcs acharem q foi sem necessidade me fala q eu não fico colocando mais sauusahusa
* Dessa vez conhecemos os outros 4 personagens. Ainda não é necessário acusar ninguém, pq foi o cap de apresentação, mas no próximo já vai ter uma escolha rsrs.
*último cap focado na Natalie, pq o proximo remete ao prólogo
*Muito obrigada por ler! Se quiser falar o q achou no comentário, ficarei muito feliz! Beijos!
ps: personagens q me mandaram ficha, mas n seguiram as regras ou o leitor n me respondeu n puderam entrar na fic, desculpa



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