Sono Eterno escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 2
Lembrança aprisionada


Notas iniciais do capítulo

Olá! Esse é o primeiro cap de introdução dos personagens, espero q gostem. Boa leitura!



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01 de outubro, quinta-feira.

    As paredes de pedra acinzentadas em estilo arquitetônico gótico de Hogwarts já não encantavam mais Natalie Primus. O que era um sentimento confuso e novo à garota, que sempre adorara estar na escola. Não sabia muito bem dizer quando foi que a sensação de perigo constante começou a acompanhá-la; suas lembranças pareciam fragmentadas, tendo mais de uma vez tentado recordar coisas que fizera desde o começo do ano letivo, e encontrando um vazio como resposta. Havia também momentos em que ficar perto de alguns alunos e professores lhe causava inquietações, manifestadas por arrepios ou seu mau costume de roer as unhas, mesmo que não se lembrasse de ter trocado alguma palavra que fosse com essas pessoas. Este medo irracional, porém, serviu para que em seu tempo livre, ao invés traduzir em seu pergaminho o texto que a professora havia passado em Estudo das Runas Antigas, fosse para a biblioteca em busca de respostas. 

    A suntuosa biblioteca de Hogwarts continha um dos maiores acervos já vistos, com livros de diversas línguas e sobre diversos povos que usavam magia, contendo uma parte para escritos trouxas, irrelevante para alguns e motivo de vergonha para outros -que não suportavam a ideia de que Hogwarts, uma escola para bruxos de renome, precisasse recolher informações de meros humanos-não-mágicos. Após a Segunda Grande Guerra, e todas as mudanças feitas no Ministério da Magia por influência do famoso “Trio de Ouro”, muitas coisas haviam mudado quanto ao tratamento de bruxos nascidos em família trouxa, mestiços e outras criaturas mágicas (como os elfos domésticos), mas a oposição a essas ideias, que parecia ser uma pequena ventania, estava ganhando a força de uma tempestade silenciosa e mortal. 

    Sem saber muito bem por onde iniciar, Natalie começou a percorrer os corredores, lendo atentamente os títulos de livros que lhe apareciam. Concentrada nessa tarefa, não percebeu quando trombou sem querer em Dara Hunt, uma veterana de sua casa, Lufa-Lufa, que estava acompanhada de Claire Skahnder, uma colega de seu ano mas que pertencia a Corvinal. 

— Desculpa, você está bem? - Natalie perguntou a Dara. A veterana estava com seu uniforme, apesar de dispensar a capa já que o dia estava com a temperatura amena, fazendo o cabelo curto cortado em estilo channel, ganhar mais destaque com sua cor azul, que combinava com os olhos de mesma cor. Suas feições delicadas e a baixa estatura, combinavam com sua personalidade simpática e alegre, e se não fosse por sua conhecida inteligência, poderia facilmente ser confundida com uma aluna do terceiro ano, apesar de já estar no quinto. Ainda que tivesse perguntado se sua veterana estava bem, o esbarrão intensificara em Natalie a sensação de perigo, fazendo um arrepio frio percorrer todo o seu corpo. Era a primeira vez que isso acontecia perto de Dara.  

— Você que não parece muito bem, na verdade. - Dara respondeu-a. Estava ali devolvendo alguns livros que havia pego para estudar para os N.O.M.s (Níveis Ordinários em Magia), e encontrara Claire que estava em dúvida se havia feito a escolha certa quanto às matérias eletivas e resolveu acompanhar a veterana na biblioteca enquanto a mesma a explicava sobre como havia sido sua experiência com Trato das criaturas Mágicas e Estudo dos Trouxas. Estava tão distraída quanto Natalie, e a batida nem havia sido tão forte assim, não fazia sentido a amiga esboçar aquele olhar assustado. 

— Ah eu… Estou bem. Vocês poderiam conversar comigo por um momento? - Indagou com um sorriso fraco. Dara e Claire olharam-se confusas, mas concordaram, indo até um canto mais afastado da biblioteca para que não importunar quem quer que fosse que estivesse por ali estudando, o que não funcionou muito, visto que no ponto afastado que escolheram havia uma aluna tão concentrada no que lia que seu rosto estava encoberto pelos livros, passando despercebida pelas garotas. 

— Aconteceu alguma coisa? Você parece agitada. - Claire perguntou. Apesar de não ser uma das pessoas mais próximas de Natalie, Claire era uma boa amiga e vista como uma boa pessoa. Sempre que percebia alguém em uma situação difícil, ou com alguma dificuldade nos estudos, era a primeira a se oferecer para ajudar; esse comportamento lhe gerou amizades diversificadas e inimagináveis, além de certa inimizade de pessoas que sentiam inveja de seu jeito descontraído e ingênuo de lidar com as coisas. Sua aparência era tão delicada quanto a de Dara, com feições ainda infantis apesar de seus 14 anos, longos fios lisos e loiros e olhos azul-esverdeados como o mar em um dia de calmaria. Mas ao olhar para eles, Natalie ficou ainda mais inquieta. 

— Eu… Es-estava procurando um livro… Um livro de feitiços. - Natalie embolou-se para falar. Pela primeira vez, não sentiu-se confortável para falar a verdade. - Esqueci de fazer a tarefa da aula passada, mas o professor me deixou levar até hoje em seu escritório. É sobre um feitiço de memória. - Inventou. 

Apesar dos esforços para fingir estar bem, a mentira não parecia ter convencido Claire ou Dara. Pelo que conheciam de Natalie, ela não ficaria tão agitada por causa de um exercício não feito. Principalmente um exercício que envolvia feitiços de memória. E se esse fosse o caso, não as teria levado até um canto afastado na biblioteca para conversar. 

— Não me lembro dessa atividade… - Claire comentou franzindo as sobrancelhas. 

— Feitiços de memória no terceiro ano? Uau, eu só tive essa matéria no quarto. - Dara acrescentou. 

— Eu só… - Natalie elevou a voz, incomodada com os questionamentos. Ter feito isso provocou feições surpresas nas garotas a sua frente, e de desagrado na que estava estudando perto delas. - Só me indiquem um livro, certo? 

Ponderou se contava sobre as sensações e os momentos esquecidos, decidindo por fim não envolvê-las no assunto. Precisava descobrir por si mesma o que estava acontecendo. 

— Ei. - As três garotas escutaram, seguido de três passarinhos de papel que as acertaram em cheio, com picadas doloridas. Ao virarem-se, enfim perceberam não estarem sozinhas. Atrás de uma pilha de livros estava Elizabeth Rosier, uma sonserina do sexto ano. — Vocês sabem onde estamos? - Perguntou com uma expressão séria. Afastando com a varinha os passarinhos de papel, Claire respondeu:

— Na biblioteca?

— Exatamente. - Elizabeth sorriu, mas não havia doçura em sua expressão. Passando a mão pelo cabelo loiro, colocou uma mecha atrás da orelha e olhou irritada para as três garotas. — Se querem conversar, vão para outro lugar. - Finalizou abrindo um dos livros que estava em sua grande pilha. 

Claire e Dara novamente se entreolharam, sem saber como levar a situação. Conheciam Elizabeth (ou pelo menos sua fama), e continuar irritando-a não renderia bons frutos. 

— Desculpe. - Natalie rapidamente respondeu. Sabia que quem estava causando desordem era ela. Não conseguia entender muito bem o que a deixa tão fora de si, mas os pedaços de tempo perdidos em sua memória, pareciam aprisioná-la em um quarto escuro. Talvez encontrar um feitiço de memória não seria de todo ruim, mas para isso ela precisava pensar, em um lugar silencioso e sem ninguém. 

Sem dar justificativas, e ignorando os chamados de Dara e Claire, Natalie saiu da biblioteca com passos apressados, e não possuindo um destino em mente. Passou trombando em algumas pessoas, provocando cochichos entre os quadros nas paredes, que acompanhavam seu andar, comentando com os jovens dessa geração não possuíam educação. Só diminuiu o ritmo quando se viu frente a torre de astronomia, e para lá se dirigiu. Após subir todos os degraus, percebeu-se sozinha. A localidade da torre proporciona aos alunos uma linda vista dos terrenos de Hogwarts, alcançando até mesmo o povoado que ficava ali perto. O céu estava nublado, mas pincelado com as cores laranja e amarelo no horizonte, anunciando timidamente o pôr do sol. Resolveu ficar por ali, acalmando-se enquanto admirava a vista. Observou o lago, e os alunos circulando em volta dele; o campo de quadribol e as arquibancadas, que estavam vazios; a densa floresta proibida e, por fim, Hogsmeade. Uma sensação de familiaridade tomou-a, apesar de não se lembrar de ter algum dia ido até lá. Ficou tão presa nesse sentimento, que não percebeu quando o dia deu lugar a noite, e atrás de si passou Elizabeth Rosier. 

— Você queria um livro de feitiços? - Elizabeth perguntou aproximando-se de Natalie. Estava indo para seu dormitório, e até iria ignorar a presença da lufana, mas por ter escutado a conversa que ela tivera com as garotas, sabia que continha a resposta que Natalie procurava. 

— Merlim! Que susto. - Natalie virou-se para Elizabeth. Ter reclamado rendeu um revirar dos belos olhos azuis da garota a sua frente, que levantou um pouco o rosto, junto de uma das sobrancelhas, como quem pergunta se há algum problema. — De-desculpa. É, eu… Estava procurando sobre feitiços de memória.  

— Esse é um dos exemplares que trata sobre o assunto. Os livros mais atuais não falam com tanto detalhe. - Elizabeth mostrou um dos dois livros que segurava. A capa estava visivelmente deteriorada, com algumas partes verdes (sua real cor) e todo o restante marrom e amarelada, como se o livro tivesse caído numa poça de água suja da chuva. 

— Obrigada! - Natalie agradeceu, estendendo a mão para pegar o livro. Não reconheceu Elizabeth; pelas roupas verde e prata percebeu que a garota pertencia a sonserina, mas não sabia dizer seu nome ou ano em que estava. Elizabeth riu nasalado, observando a mão estendida de Natalie. 

— Há mais exemplares disponíveis na biblioteca. Infelizmente, para você, estão todos emprestados. - Afirmou. Entendendo a mensagem, Natalie riu sem graça e recolheu sua mão. Não havia intenção de empréstimo ali. — Se tem mesmo que fazer um exercício, deveria voltar para a biblioteca ao invés de ficar matando tempo aqui na torre. - Elizabeth acrescentou, para logo em seguida dar as costas para Natalie, seguindo o caminho até seu salão comunal. 

Apesar de realmente querer procurar sobre esse tipo de feitiço, a biblioteca não era a primeira opção, já que os livros estavam todos emprestados. Por ser tarde, a opção que pareceu compensar era ir para seu próprio dormitório; não estava com fome, então dispensaria o jantar e, pelo horário, não teria que encontrar muitas pessoas, evitando dar satisfações ou mesmo sentir os arrepios novamente. Com isso em mente, rumou até o salão comunal da lufa-lufa. Assim como previra, não havia quase ninguém no salão além de dois primeiranistas que estavam entretidos jogando xadrez. Observou atentamente o espaço, e se deteve a parte que continha duas estantes de livros e uma mesa retangular, usada pelos alunos às vezes para estudo e outras vezes como depósito de coisas; não estranhou ver ali uma pilha de livros mal-organizada, diversos tinteiros (uns vazios e outros não), e algumas penas. Mas o que realmente chamou a atenção, foi o grosso livro com folhas amareladas e capa verde, assim como o que havia visto a poucos minutos. Aproximou-se para analisar, e começou a folheá-lo, não percebendo quando Ian Hwang se colocou atrás dela. 

— Licença… - Chamou atenção de Natalie. - Esse livro é meu.

Envergonhada e surpresa, Natalie fechou o livro. Ian havia acabado de descer do dormitório para poder ir jantar, mas se lembrou que havia esquecido seus materiais em cima da mesa; tamanha foi a surpresa quando percebeu que havia alguém mexendo em suas coisas no meio segundo que as deixara ali. Sabia quem era Natalie, afinal, participavam da mesma casa e Ian fazia questão de se lembrar ao menos do rosto da maioria de seus colegas. Conhecido como uma pessoa muito sensível e prestativa, é reconhecido como um dos veteranos mais fofos do sétimo ano. Seu rosto um tanto redondo, combinado com o cabelo liso que cobria os olhos e a boca pequena, de lábios fartos, com seu típico sorriso calmo, reforçava essa ideia. Alguns diriam que ele possuía a calmaria de monges budistas, apesar de ser um julgamento equivocado devido a sua descendência coreana-canadense. 

— Desculpa. Como estava aqui na mesa eu achei que fazia parte da pilha de livros de enfeite do salão.

— Sem problemas. - Ian respondeu-a, organizando os materiais que estavam jogados. - Você já comeu? Se não descer daqui a pouco vai ficar sem jantar. 

— Na verdade… - Natalie ignorou a sugestão de seu veterano, com o olhar preso no livro. - Você me emprestaria seu livro de feitiços? Prometo que o devolvo amanhã de manhã. 

— Tudo bem. - Ian deu de ombros. Não estudaria mais durante a noite, então não via o porque negar o empréstimo. Natalie estava tão focada em como dar fim ao vazio que preenchia seus sentimentos, que nem mesmo se lembrou de agradecer a Ian; apenas pegou rapidamente o livro de rumou ao dormitório feminino, afoita para encontrar alguma pista que fosse entre as páginas desbotadas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Nesse cap conhecemos 4 personagens, e no prox vai ter mais 4 (Zoen, eu acabei n colocando seu personagem pq fiquei a espera da sua resposta). Espero q tenham gostado.. Sei q nao desenvolvi muito bem todas as caracteristicas deles, mas prometo q ao longo da história elas aparecem. Como vcs n conhecem todos os personagens, ainda não vai ter votação, mas qual pareceu mais suspeito para vc? rs
obrigada por ler, beijão!
ps: fiquem a vontade para chamar minha atenção com críticas e alertas (tipo gramaticais ou q foge do mundo hp)



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