A Contenda Divina escrita por Annonnimous J


Capítulo 13
O grito na Caverna




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— Eu, – Shura pesa suas palavras, ele se sentiam intimidado pela mulher, não dava pra negar, sua postura forte em um corpo que, apesar de mais fraco que o seu próprio, também tinha sua força, o que a fazia ser intimidadora de uma maneira psicológica que ele já sentira antes, enquanto era vivo. Mas de qualquer forma, o que mais o incomodava era a condição da mulher. Ele continua, frustrado – eu não tenho escolha, não é?

— O que acha? – ela desafia, triunfante, o vencera pela segunda vez, patético como esperava. De alguma forma, esse comentário despertou algo dentro de Shura, um sentimento ao mesmo estranho e familiar, vendo o modo como a mulher fala, autoritária e reta, de certa forma ele se lembra de como ele era com Mariah e isso o incomoda. Afastando esse pensamento, ele continua.

— A verdade sobre isso é que ... – ele pensa, suspira e toma coragem – a verdade, é que quando eu uso meu trunfo, eu também sofro dano.

A mulher grunhe, como se para ele continuar, e ele continua, obediente.

— Meu trunfo é o poder sobre o fogo, de fato, eu consigo conjurar fogo com o meu corpo, qualquer parte dele...

— Qualquer parte? – ela o interrompe, olhando rapidamente para baixo e depois voltando a fitar Shura no rosto com os olhos bem abertos, ele demora um pouco para entender, quando o fato lhe bate, ele se embaraça.

— Se atente ao fato, por favor.

— Certo, certo, continue Lava Boy.

— Como eu dizia, – Shura se torna sério novamente, ignorando o gracejo – meu poder é forte, não nego, mas cada vez que eu o uso, ele causa um dano irreversível à minha máscara, se eu usar muito, eu morro, por isso eu só o uso como um último recurso.

Eyria o observa por mais um tempo, ele não se atreve a olhá-la nos olhos, mas não importava mais, ela já teve o que queria, se caso fosse necessário, ela já sabia os meios para derrota-lo, apesar de seus instintos dizerem que não era necessário. Os dois ficam em silêncio, enquanto o vento soprava sobre eles e fazia com que seus cabelos e roupas chacoalhassem de leve. Eyria então respira fundo, o gato, ainda zombador, abre sua boca por um instante, de soslaio, Shura podia jurar que tinha visto lábios pintados de vermelho. Ela cospe na mão e tão rápido como abriu, o gato fecha sua boca. A semideusa então estende a destra para Shura, ele a olha com um misto de surpresa e nojo, inclinando o corpo um pouco para o lado oposto da mulher enquanto alterna a visão entre a sua mão e seu rosto.

— Temos um trato, Shura, ou devo dizer, Agni.

Uma vez mais, o homem se espanta com a mulher, não apenas corajosa e forte, ela era inteligente e deveria ter uma rede de contatos invejável. Sem opção, ele segura a mão estendida da mulher, com as palmas se colidindo e sendo unidas em uma pelo cuspe, fazendo um sonoro “splash” ao se colidirem.

— Certo – ele resmunga, tentando ignorar a sensação da saliva da mulher em sua mão.

— Quero que saiba, que esse contrato é puramente por vantagens e se por acaso você ou a pirralha forem um empecilho, não vou hesitar em deixá-los para trás.

— Digo o mesmo.

Eles soltam as mãos e o homem trata de limpar a palma em sua calça, a mulher, por outro lado, só acha graça naquilo e se volta para frente, olhando para a entrada da caverna logo adiante.

— Bom – começa Shura depois de mais um curto momento de silêncio – você disse que a partir de agora vai começar a nos ajudar, mesmo que por puro oportunismo. Quero que você me conte mais de você.

— Me desculpe Shura, eu prefiro caras mais fortes, nada pessoal.

Shura ri.

— Mas - ela continua – antes disso, quero te fazer outra pergunta, como exatamente você acha que saber do meu passado vai nos transformar em uma boa equipe?

— Como você...

— Como eu sabia que você queria isso desde o início? – Corta ela, rindo de leve – faz parte de quem eu fui, sou muito boa em ler pessoas, mesmo as de poucas palavras como você. Mas você ainda não me respondeu.

— Na verdade – ele fala ainda desconfiado – eu creio que conhecendo melhor seu companheiro de armas, você pode ser capaz de saber como ele vai se comportar em um campo de batalha, sabendo suas fraquezas você seria capaz de criar estratégias melhores...

— E seria capaz de matá-lo caso a ocasião pedisse.

— O que? Não, eu não quero... – Shura trava. Depois de um longo suspiro, ele continua, sem a perder de vista. – Eu só quero entender quem de fato é você, Eyria, a abençoada por Éris. Não quero confiar a minha retaguarda a alguém capaz de me partir em dois, não sem conhecer ela primeiro.

— Vejam só, ele sabe o nome de minha deusa regente, mas me permita lhe perguntar, você entende perfeitamente quem é a sua outra companheira?

Shura a fita com curiosidade. Suas írises corriam toda a máscara da mulher que brilhava nas últimas luzes do sol poente, nem percebera que já se passou tempo o suficiente para o Sol descrever sua trajetória descendente até o ponto em quase se esconder por completo. Ele tentava em vão perceber alguma linha de expressão mesmo que minúscula por trás dela, mas seus olhos pareciam tão irresolúveis quanto a sua máscara.

— A Mariah é só uma criança que veio parar aqui por engano, ela não tem nenhuma chance em uma batalha contra semideuses, por isso eu preciso de uma companheira que eu confie para me ajudar a cuidar dela enquanto vencemos a contenda.

— Você já percebeu o quanto subestima ela e se coloca como um mártir?

— O que você está dizendo? – Shura se sente indignado com a pergunta. Afinal, para ele, tudo que ele tinha tentado fazer até ali foi para proteger a garota da melhor maneira possível, mesmo tendo que lutar com seres mais poderosos que ele a todo momento.

— Eu estou dizendo, Shura, que o que você fantasia como proteção, não passa de indiferença disfarçada, você não quer proteger ela, você quer se proteger, assim como está fazendo ao me perguntar quais as minhas reais intenções. Eu ainda arrisco a dizer, pelo jeito como me olha, que você se preocupa mais com o seu bem-estar que o de qualquer um, eu estou certa?

Shura é tomado por ira novamente, as gravuras em sua máscara brilham em um vermelho ardente enquanto ele se levanta. Eyria o segue e se coloca de braços cruzados diante dele.

— Você não tem a mínima ideia do que está falando! – Fala ele rangendo os dentes e apontando o dedo no rosto da mulher. – Eu protegi ela muito bem lá atrás e assim eu vou continuar, mesmo que você se torne uma ameaça.

— Eu percebi isso quando eu cheguei lá naquela hora, você parecia bem no controle da situação. – Ela ri, para a fúria do rapaz.

— Afinal, o que você quer de mim? – Pergunta ele abaixando a mão, mas a fuzilando com os olhos.

— Eu quero, Shura, que...

Um grito então irrompe o silêncio, gelando Shura e Eyria. Novamente eles trocam olhares, mas dessa vez eram olhares preocupados. Enquanto ele diminui, os semideuses percebem que vinham da caverna, Shura é o primeiro a gritar:

— Mariah!

Antes que ele terminasse, sua voz já se confundia com a de Eyria e ambos correm para a entrada, apavorados.


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