A Contenda Divina escrita por Annonnimous J


Capítulo 1
Prólogo




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A chuva torrencial derramava dos céus formando um paredão de gotas que me cercava imponente até onde a visão pudesse alcançar. A velocidade do meu avião, fazia com que elas se fundissem no vidro do cockpit, escorrendo para trás em linhas irregulares e translúcidas. A única hélice de 5 pás a minha frente, fazia com que elas espiralassem ao redor da máquina e a luz vermelha que acendia no painel as iluminava, dando um tom natalino adiantado ao meu pequeno refúgio quase silencioso. Mas apesar da comparação, ainda era final de maio e estávamos em um lado do mundo onde o natal não é muito popular. Ainda mais nesses tempos turbulentos.

Abaixo do meu P-51 estava a ilha de Okinawa, lugar onde há tempos invadimos com uma força esmagadora expulsando os japoneses. Agora, o lugar tem um clima fúnebre e uma aparência devastada, mas vista de cima a ilha ainda conservava alguns traços de sua flora exuberante.

Me sentia privilegiado por ter outra visão dela que não de um grande mausoléu, porém, não sentia aquilo naquele dia. Meu corpo estava especialmente rijo hoje, era como se subitamente o assento tivesse diminuindo de tamanho. De fato, era como se todo o avião tivesse encolhido. Minhas pernas pareciam grandes demais para o espaço entre o painel e o banco, minhas mãos pareciam esconder todo o manche e minhas costas doíam no banco, isso tudo me incomodava, mesmo eu sabendo que nada disso era real. Perco mais alguns minutos olhando a tempestade acima de mim, as nuvem pesadas pareciam um grande cobertor amarrotado no céu e as gotas que caíam davam um som ritmado ao vidro do cockpit, somado com o som do próprio avião e o retumbar dos trovões.

Depois de contemplar por um tempo o céu, volto a atenção para os aviões que me rodeiam, aos meus flancos estão meus companheiros de equipe, nossos aviões de mesmo modelo estavam em uma formação em “V” padrão e eu era o segundo da direita imediatamente do lado do avião que liderava. Estávamos fazendo uma varredura local para prevenir ataques surpresa, coisa que era rotineira nesses poucos momentos de paz entre as batalhas.

Nossos aviões idênticos são ligados por uma técnica de comunicação via rádio surpreendentemente tecnológica para a época, eram meados de 1945, apesar disso, o som era metálico e por vezes sofria com alguma interferência externa. Para nos diferenciar, nosso grupo deveria escolher um animal para estampar na fuselagem de cor acinzentada: o meu era um puma negro que avançava com suas patas dianteiras em direção à hélice, enquanto o dorso se tornava uma linha negra cada vez mais estreita até alcançar a calda do avião. Meus outros amigos de esquadrão foram bem menos criativos: um escolheu uma doninha envolta por uma explosão laranja, que para ele simbolizava a esperteza e o poder de um ás; outro um pássaro Dodô circundado de azul, significando a raridade de um bom piloto, apesar de que a maioria de nós achasse um mal presságio, já que essa ave já estava extinta; o mais novo de nós escolheu um cavalo selvagem empinando ao raiar do sol nascente, que para ele significava a liberdade e brincava com o codinome do avião, “Mustang”. E por último, mas não menos importante, a única mulher na equipe, escolhera um beija flor a frente de um alvo alvejado, como se significasse que ela era rápida demais para acertar, como dizíamos, mas para ela, significava a beleza e a precisão de um bom voo. Apesar de não serem muito criativos com os animais, eles eram muito criativos com os significados, o meu só significava ferocidade e letalidade. E eu achava legal.

Mas ainda falando de nossa líder, me espantava que uma mulher estivesse nos acompanhando, ainda mais liderando, coisa rara naquela época, mas graças a seu temperamento, seu histórico de voo e a seu porte físico ninguém a enfrentava, então eu com certeza não seria o primeiro. Ela conta em sua lista mais de 15 missões bem-sucedidas e todas com mais de um abate na Europa, era quase que uma honra para nós voar com alguém tão boa e tão perigosa... Por isso ela deveria ser a primeira e de surpresa.

Tudo estava calmo no interior de meu avião, nem mesmo a chuva tamborilava agora, como se o mundo tivesse perdido seu som e em seu lugar estivesse um ruído abafado, que me pressionava mais e mais no banco. No rádio, apenas o som entrecortado e metálico de gracinhas entre a nossa unidade tomava a minha atenção, ecoando fundo em minha cabeça pelos fones abaixo do gorro acolchoado de couro.

Com uma ordem da capitã, nos inclinamos para a esquerda para olharmos para baixo e fazermos uma varredura do local, como já era de se esperar não havia nada de anormal, como nas outras semanas, apenas terrenos irregulares e queimados pelas explosões e perfurados por trincheiras e bunkers agora em frangalhos, mas minhas mãos tremiam no manche enquanto eu voltava o avião para sua posição original paralela ao solo. Meu tremor aumentava à medida que nos distanciávamos da base, pois logo estaríamos no ponto mais distante da volta elíptica e eu sabia que se aproximava o momento em que eu precisava agir. Meu peito estava cada vez mais pressionado pela culpa de algo que eu ainda nem tinha feito, enquanto a minha mente parecia voltar à tona acompanhando o movimento que meu avião fazia ao desacelerar, lentamente, até ficar levemente atrás da líder da formação.

— Shipp, – uma voz feminina doce, porém decidida ecoava do rádio para dentro dos meus ouvidos, era óbvio a sua preocupação pelo tom de sua voz – você está ficando para trás, está com problemas na máquina?

“Máquina” era como nos referíamos carinhosamente aos nossos aviões.

Um nó se forma em minha garganta, ela era do tipo de pessoa que era capaz de ignorar milhares de problemas que lhe fossem dados como se não fossem nada, a menos que eles se relacionassem com alguém que ela era íntima e ela estava realmente preocupada comigo, dava para perceber pelo tom de sua voz. Ela dizia que sua companhia era como sua família e assim que a guerra acabasse fazia questão de se reunir conosco semanalmente para beber e conversar.

Meu peito dói como se estivesse sento perfurado por um punhal com o silêncio que se segue antes que eu respondesse.

— Eu... – Tento falar, mas as palavras não saem e eu engasgo – eu estou bem... obrigado pessoal... por.… por tudo...

— Shipp? – Ela volta a me chamar, parecendo confusa.

Em uma súbita onda de coragem que passa pelo meu corpo como uma corrente elétrica viro o manche para a esquerda e puxo o gatilho vermelho que ali se encontrava antes mesmo que ela percebesse o que estava acontecendo. Junto ao motor, meu coração acelera e range em reclamação. O avião dá uma guinada violenta enquanto seu motor ronca, aumentando a velocidade do giro das hélices. As balas saem das metralhadoras laterais na base das asas e atingem todo o avião a minha frente começado pela base da asa direita junto ao corpo do P-51 e seguindo pelo cockpit que se estilhaça em cacos de vidro tingidos de vermelho, passando pela cauda e indo em direção à asa esquerda, que se desprende e entra em combustão mesmo com a chuva torrencial, projetando o avião para baixo em uma linha espiral de fumaça em direção ao solo. O beija-flor foi a última coisa que eu vi em meio a fumaça antes da calda também se desprender com a força do atrito com o ar. Por um agoniante segundo eu vi tudo acontecer em câmera lenta e eu sabia que eu nunca mais esqueceria aquela cena, ou a sensação eu agora sinto.

Em um a fração de segundo escuto pelo rádio seu último gemido de dor antes do grito incrédulo de desespero de todos, o som pesou como concreto em meu peito, comprimindo-o mais ainda. Os instantes em que eu observava os projéteis perfurando a fuselagem do avião foram os maiores e mais agoniantes da minha vida, como se eu tivesse ficado preso em um vórtex e tudo ao meu redor tivesse ficado em tempo de bala por uma eternidade.

Meu avião continua o movimento lateral e as balas continuam sendo cuspidas em uma espécie de linha pontilhada que queima as gotas de chuva, acabo atingindo mais um de meus companheiros, mas neste momento eles já estão minimamente cientes do que está acontecendo e este consegue se safar com apenas algumas avarias na asa direita, desviando do curso normal assim como todos os outros, me vejo então seguindo uma trajetória vazia e endireito o bico do avião.

— Droga cara, - grita o atingido enquanto seu avião faz um arco se movendo para trás - fogo azul! Fogo azul! O que você está fazendo?

— Ele é um traidor, avisem a base – grita outro tão alto que o rádio emite um zunido.

— Derrubem esse canalha! – Diz o último, o mais novo.

Agora não tinha mais volta.

Em pouquíssimo tempo eu tinha três aviões atrás de mim, todos os três atirando incessantemente me forçando a me contorcer no ar para não ser alvejado, para meu azar eles eram os melhores da companhia. Os projéteis passavam brilhando perigosamente perto de mim e alguns perfuravam a lataria da aeronave, mas era como se eu não os visse ou não os ouvisse, na minha mente pairava como uma névoa apenas o som do gemido de dor da minha companheira e a visão mesmo que rápida de seu cockpit perfurado sendo manchado por seu sangue. Nesse instante ela não deve ser mais que um ponto flamejante no meio da ilha envolto a metal retorcido. Nesse instante eu apenas desejava que ela tivesse tido uma morte rápida.

Um disparo perfura meu cockpit jogando uma lufada de ar úmido e vidro em meu rosto, o cortando um pouco enquanto o susto me faz puxar o manche para trás. O nariz do avião sobe violentamente, perfurando as nuvens e antes de completar o looping naturalmente, eu desacelero e deixo a gravidade cuidar de me jogar para baixo, um movimento clássico de stall, voltando a acelerar a rotação da hélice assim que ele se coloca na vertical, isso faz com que o avião desça sobre meus perseguidores que por um segundo tinham me perdido entre as nuvens densas. Dois deles passam por mim sem me perceber e sobem para as nuvens carregadas, mas o terceiro cruza minha mira e eu a cravo bem acima dele, aciono o gatilho novamente e atinjo o corpo e a calda da aeronave do retardatário.

— Ai não! Não! – ele grita em desespero, sua voz sai do tom varias vezes em cada palavra. Vejo de relance seu corpo se debatendo ao tentar evitar que o avião desça.

A calda se despedaça em uma pequena explosão e o avião do mais jovem traça uma linha reta descendente, marcada por uma fumaça preta que rasga os céus. Enquanto os dois restantes se separam, retomo a minha trajetória e por instinto decido seguir o que eu atingi na asa anteriormente.

— James, responda! – grita Ryan pelo rádio para o alvejado.

— Mayday, mayday, perdi o controle da calda, o avião não sobe, não consigo ejetar também, o vidro tá emperrado, preciso... – ainda foi possível escutar dois disparos desesperados de uma pistola, talvez para liberar as travas de proteção do visor do cockpit, mas logo o som do rádio se perde em um rangido metálico de colisão.

— Droga cara, por quê? – Pergunta Marcus, o piloto do avião com um Dodô pintado na lataria.

Eu não me atrevo a responder e sua pergunta desaparece no silêncio do dia chuvoso.

— Merda – ele exclama, por fim.

Ziguezagueamos pelo céu infestado de gotas enquanto eu gasto minha munição tentando acertar algum dos dois, porém tudo o que consigo é atingir alguns disparos. Subimos e descemos várias vezes pela linha das nuvens até que um deles desce enquanto o outro sobe, descido seguir Marcus e continuamos nesse balé mortal pelos ares, comigo descarregando outra saraivada de tiros em sua direção, enquanto ele se contorcia para que eu não o atingisse. Nesse ínterim, o membro subjacente já me alcançava pelas costas e começava a disparar antes que eu percebesse, meus óculos ficavam turvos pela chuva que entrava no cockpit, o que dificultava para que eu conseguisse vê-lo. Sentia minha respiração rápida na minha máscara, em sintonia com meu coração que a essa altura estava além de disparado, a adrenalina de poder morrer a qualquer momento é algo indescritível, mas eu podia a sentir por cada centímetro do meu corpo.

Uma ideia louca então me ocorre quando eu começava a ficar encurralado, nesse ínterim já tínhamos descido para a chuva abaixo novamente, então subi o nariz do avião e entrei nas nuvens terrivelmente carregadas esperando que me seguissem. Funcionou. Em instantes tinha dois perseguidores logo atrás de mim descarregando suas metralhadoras em minha direção, mas errando tanto quanto eu errara. Os relâmpagos clareavam todo meu campo de visão enquanto o trovão ribombava de imediato com um som ensurdecedor, precisava arranjar um jeito de me livrar dos meus perseguidores e para isso eu precisava de um bom plano.

A sorte então lança seu sorriso mórbido em minha direção, antes mesmo da sinapse dos meus neurônios acontecer.

Subitamente, um raio passa rente a traseira de meu avião, emitindo uma luz tão forte que me me cega por alguns instantes, seguido dela, vem um estalido igualmente forte que se mistura com o trovão e faz meus ouvidos chiarem de imediato, só então percebo que não eram meus ouvidos e sim a estática do rádio transmissor. Viro o avião de cabeça para baixo para saber o que causou a explosão e de relance vejo um buraco feito entre as nuvens pesadas, desço para a tempestade logo abaixo de mim junto com as gotas de chuva. Saindo das nuvens, logo avisto uma bola de fogo com asas descendo verticalmente em direção ao solo enquanto se desintegrava em peças menores. O avião de um de meus perseguidores tinha sido atingido por um raio, que, para minha sorte, foi forte o bastante para que ele fosse tirado de combate.

Outro já foi, só falta um. Quem seria?

A tempestade continua a cair e o motor do meu avião começa a fazer barulhos estranhos, precisava encontrar o último sobrevivente do meu ataque rápido antes que eu também caísse. Não que eu merecesse ficar vivo, mas não podia me dar ao luxo de morrer, não agora. O silêncio aterrador, quebrado apenas pela chuva torrencial, era agoniante, cada segundo parecia uma eternidade e a cada novo relâmpago eu olhava ao redor procurando por alguma silhueta que denunciasse a posição do último avião, mas nada parecia funcionar. De repente o meu radio chia e a voz do último aparece, isso significava que ele estava perto. Mas a pergunta que ele faz me paralisa.

— Eles a pegaram, não é? – Diz Marcus, com uma voz grave e incisiva.

Assim que escuto o que ele me diz, preferi que ele estivesse longe me mandado para o inferno em silêncio, pois o que ele fala me dói muito mais. Minha mente mergulha em um turbilhão de dúvidas e a única certeza que crescia em meio a ele era de que eu tinha feito a escolha errada, minha garganta fica seca e eu engulo à força o bolo que se formava. Pela primeira vez no dia, meus olhos pairam sobre a foto de uma mulher que eu carregava comigo no cockpit.

Era uma foto amarelada pelo tempo onde uma mulher de traços orientais com cabelos lisos muito negros e soltos se encontrava ajoelhada de forma elegante e vestindo uma yukata florida, a acompanhando igualmente sentada aos seus pés, havia também uma criança. Os olhos da garota eram iguais aos da mulher, que apoiava sua mão gentilmente sobre seu obro, a menina usava uma yukata semelhante à da mulher e seu cabelo estava preso atrás de sua cabeça por um nó sustentado por duas pequenas estacas de madeira ornamentadas por flores. Meus olhos estavam novamente turvos, mas não pela chuva, meu rosto se contorce de leve enquanto eu cerro os dentes.

— Himiko... Asuna – Minha boca se move involuntariamente e seus nomes escorregam fracos de meus lábios entreabertos.

— Eu sabia... – diz a voz grave pelo rádio como se escutasse o que eu dizia para mim mesmo. Depois de um apequena pausa e um breve suspiro, ele continua – desculpe-me amigo, não posso permitir que me leve mesmo assim. Também tenho por quem voltar depois dessa guerra.

Sua frase me desperta a tempo de virar o manche, um dos disparos atravessa o vidro do cockpit e acerta minha perna projetando uma dor lacerante por todo meu corpo, mas a adrenalina me ajuda a manter a consciência. Olho para os lados e vejo apenas o espaço vazio recortado pelos pingos da chuva que ainda caiam fortes. Um relâmpago mostra uma silhueta nas nuvens em alta velocidade e meus instintos me fazem segui-la.

Ao me aproximar de onde vi a silhueta, vejo outro relâmpago denunciar que o avião desceu um pouco e me aproveito disso para atacar como pouco de munição que me resta. Enquanto seguro com firmeza o gatilho vermelho do manche que vibra sob meus dedos, observo o contador de munição girar graciosamente até mostrar apenas três números zero enquanto os últimos disparos separam a asa do avião de meu melhor amigo. Sem sua sustentação, ele gira em espiral indo em direção ao chão, enquanto a fumaça se mistura com as nuvens pesadas de chuva.

— Até o inferno irmão – diz ele pelo rádio, sua voz tinha vários tons carregados pelo esforço em vão de manter o avião voando.

— Só se eu tiver muita sorte, irmão – respondo com uma voz que parecia vir de qualquer lugar, menos de mim.

Ele tenta me dizer mais alguma coisa, mas a estática em minha cabeça me impede de escutar suas palavras que acabam se perdendo no vazio entre nós dois.

Paro um pouco para pensar e digerir tudo o que aconteceu enquanto o avião traça uma linha reta paralela ao chão. Parecia tudo muito irreal até então, como um sonho, nem mesmo meu corpo parecia me obedecer àquela altura, até mesmo o ferimento em minha perna que sangrava a ponto de encharcar a calça não parecia doer o quanto deveria. Percebo meus olhos se fechando e não me esforço para mantê-los abertos, minha mão vagarosamente relaxa no manche e sinto, de olhos já fechados, o avião lentamente desacelerar e descer. Um clarão de um relâmpago me tira do torpor da quase morte em um solavanco, a água fria da chuva que agora tinha encharcado todo o interior do cockpit me ajuda a ficar um pouco mais desperto, a ponto de raciocinar um pouco e decidir descer, então eu viro o bico para baixo e desço para confirmar a queda do avião que antes era meu aliado. Lá estava ele, uma pilha de destroços flamejantes formando uma nova clareira na mata rara.

Minha missão acabou.

Coloco o avião em um voo linear enquanto troco a estação do rádio para uma que tinha anotado com uma faca no couro da luva, quando alguém do outro lado parece atender, digo em japonês:

— Corsa pega pelo leão, corsa pega pelo leão, câmbio.

— Muito bem leão,- retruca meu interlocutor em uma voz sibilada e satisfeita - suba para o ponto planejado. Câmbio.

— Entendido. Câmbio desligo.

Levanto o nariz do avião que parece estremecer e gemer como alguém muito ferido e subo em direção às nuvens uma última vez até atravessá-las e encontrar o sol brilhando, o que dá a elas um tom dourado. Acelerar com a perna naquele estado me fazia gemer como o avião.

Chegando lá o rádio chia novamente, fico confuso com isso, não era o programado:

— Você nos serviu bem soldado, está dispensado agora. – Diz alguém com uma voz metálica como a de um robô.

Algo na frase não me agrada, mas antes que eu pudesse fazer algo meu cockpit explode em câmera lenta. O braço que eu tento estender para alcançar a foto que se desprendia do painel é dilacerado instantaneamente por alguns disparos e o sangue borrifa por todo o lado, manchando tudo, inclusive a foto, de um vermelho escuro vivo e espesso. Não tenho tempo sequer de sentir a dor das perfurações crescentes em meu corpo antes de tudo ficar escuro. Então eu entendi, estava tudo acabado, tudo mesmo.

Uma mulher dançava lenta e elegantemente segurando leques em minha frente, acompanhada de uma música suave vinda de um instrumento de corda no fundo da sala com um piso brilhante de madeira lisa, com meu pouco conhecimento da cultura japonesa, reconheci o som como sendo de um Koto. Ela estava vestindo uma yukata branca florida e seu rosto estava pintado de branco com lábios vermelhos e olhos contornados de preto. Suas bochechas também tinham tons avermelhados e o movimento de seu corpo era gracioso e hipnotizante, senti minha alma relaxar com sua dança enquanto ela finalmente me encarava nos olhos e sorria, mas o vento sopra forte em meu rosto novamente e a visão dá lugar ao breu. Abro os olhos com o resto de força que ainda tenho e em meio a fumaça vejo a floresta se aproximando muito rápido enquanto a chuva me acompanha. Uma figura me observa no chão sob a trajetória que a aeronave fazia para se chocar com o solo, minhas forças se esvaem e eu fecho os olhos esperando pelo fim, não sentia mais medo ou arrependimento, apenas paz, mas uma paz inquietante que só o medo do desconhecido traz, sentia um misto estranho e intragável desses sentimentos, que logo foram substituídos por um vazio em minha mente.

Depois do impacto, nem isso.


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Notas finais do capítulo

Espero conseguir atualizar a história com dois capítulos por semana, quaisquer comentários de elogios, críticas e dúvidas são muito bem vindos!



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