Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 7
Mas ela ainda está muito longe




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Era para ter sido uma manifestação pacífica por mais transparência por parte do governo do estado. No entanto, o caos reinava por todos os lados. Pessoas brigando, policiais batendo nos manifestantes com cassetetes, jatos d'água sendo atirados na multidão, balas de borracha, gás lacrimogêneo, muita quebradeira e carros virados.

Toda a força policial da cidade teve que ser acionada para conter a multidão furiosa que aumentava cada vez mais. Pessoas que nem estavam participando da manifestação se juntaram ao tumultuo, muitos foram pisoteados, espancados ou mortos.

Repórteres não sabiam se deviam correr, fazer a reportagem ou entrar no meio da briga. Um câmera man atirou o equipamento na cabeça de um policial, que tentou revidar e foi atacado por trás por uma senhora idosa com sua bengala, que teve a perna mordida por um rapaz.

À medida que seguia sua caminhada, o caos ia se instalando por toda parte. Aquilo era tão divertido! O melhor era que ninguém suspeitava que tudo aquilo era culpa sua. Como podiam saber?

Seu sonho era ir para Israel ou Palestina. Eles estavam um tanto parados ultimamente, alguém precisava esquentar o conflito. Ou então ficar o mais perto possível onde ia ter uma reunião importante de algum governo. Com certeza iam declarar guerras. Viajar pelo mundo afora era fácil, bastava escolher um destino.

— Hum... Melhor pegar alguns folhetos de viagens. Isso é tão promissor!

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A pesquisa no laboratório de informática não tinha rendido bons resultados porque a internet era controlada naquela escola. Os alunos só podiam acessar sites educativos do colégio e cada um era mais chato que o outro. Um deles tinha história geral e do Brasil, mas ele não descobriu nada de interessante. A primeira vista, os principais eventos históricos daquele mundo eram os mesmos do original. Então outra idéia lhe ocorreu quando soou o sinal encerrando as aulas daquele dia.

Ele sabia que tinha muitas coisas para fazer em casa, mas precisava fazer aquilo de qualquer jeito e aquela podia ser sua única alternativa. Se ninguém na terra o ajudava, o jeito era apelar para o sobrenatural.

Se tinha alguém que podia ajudá-lo era a Madame Creuzodete. Ela devia saber qual era a fonte do desequilíbrio daquele mundo. Se conseguisse dar essa informação ao Paradoxo, os dois podiam pensar juntos numa forma de resolvê-lo. Podia ser a passagem para sair daquela vida horrível e de quebra ter a Monica de volta.

— Deixa eu ver... acho que a barraca dela fica por aqui. Mas hein? – ele só encontrou um terreno baldio. – Droga, será que nesse mundo a barraca dela fica em outro lugar?

Perguntar para os vizinhos não resolveu. Ninguém nunca ouviu falar de nenhuma Madame Creuzodete e as pessoas deram risadas quando ele disse que queria falar com uma vidente.

— Rapaz bobo, isso não existe! São todos uns charlatães! – o dono de um bar ali perto falou entre risos e Cebola resolveu voltar para casa muito frustrado. Pelo menos não havia ninguém, já que aqueles dois ficavam fora o dia inteiro.

Por isso ele resolveu ir para o quarto tirar um cochilo antes de começar a trabalhar, mas viu que alguma coisa estava faltando.

— Ué, cadê as caixas que estavam aqui?

Havia duas caixas no quarto do seu duplo que continham álbuns e fotos de família, lembranças e vários objetos de grande valor sentimental.

— Tá procurando por isso?

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Após o almoço, Mônica foi se arrumar para ir trabalhar e Luisa acompanhou tudo de coração apertado, pois não gostava nem um pouco de ver a filha se vestindo daquele jeito. E dava para ver que a moça não estava nem um pouco feliz.

— Já tô acabando de me arrumar, mãe. – ela falou com a voz triste e desanimada.

— Tudo bem, eu vou pegar minha bolsa.

Ela foi até o quarto de casal, onde Luiz se preparava para voltar ao trabalho e ele notou seu abatimento.

— O que foi, querida? A Mônica passou mal de novo?

— Não. Ela está indo trabalhar com a Srta. Duister. – a mulher suspirou e sentou-se na cama. Ele sentou-se ao lado dela.

— Eu estive pensando... será que nossa filha precisa mesmo continuar trabalhando com essa mulher?

— Não precisa, só achei que ela ia ficar mais dócil e comportada...

Luiz olhou para a frente com o olhar meio parado e rosto sério.

— Por que isso é tão importante para você? Mônica nunca foi uma filha má, nunca deu trabalho... quer dizer, tirando aquele episódio do ano passado, mas foi só aquilo.

— ...

— Acho que você exige demais da nossa filha. Ela é jovem, precisa viver e não parece estar vivendo. Isso me preocupa muito.

A esposa olhou para o outro lado e apertou os lábios.

— Acho que em primeiro lugar deveria vir a felicidade dela, não nossas expectativas. Pense nisso, sim? Não adianta nada ter uma filha dócil e obediente, mas infeliz. Eu não quero isso.

Ele pegou o terno e foi trabalhar, despedindo da esposa com um selinho. Luisa foi logo em seguida e viu Mônica sentada no sofá esperando por ela. Sua filha estava tão triste e abatida que chegava a dar pena, mas tudo aquilo era para o seu bem. Um dia ela ia entender.

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Quando ouviu aquela voz desagradável, Cebola virou rapidamente e deparou-se com Rosália segurando uma foto antiga onde seu duplo aparecia com os pais e a irmã, que ainda era um bebê. O que aquela bruxa estava fazendo ali naquela hora?

— Você pegou as caixas? Pra que isso?

A mulher saiu dali e ele a seguiu. Na sala, Rômulo esperava os dois com aquele isqueiro na mão, acendendo e apagando continuamente. Rosália colocou a foto perto do isqueiro e Cebola viu tudo em câmera lenta e com detalhes: um isqueiro cor de chumbo com uma caveira no meio de chamas vermelhas estilizadas. Ao lado da caveira, escrito verticalmente, estava o nome Harley Daidson. Desse isqueiro saiu uma chama que queimou lentamente o cantinho da foto.

— Ô, faz isso não! É foto da minha família (ai!) – Rômulo saltou do sofá e deu um forte tapa na cabeça dele.

— Não fala assim com minha mãe, seu palerma.

— Agora senta aí que você vai me escutar direitinho! – a mulher ordenou apagando o fogo que tinha iniciado.

Cebola obedeceu sentindo grande vontade de esganar aqueles dois.

— Você vai limpar seu quarto e tirar aquelas tranqueiras de lá ainda hoje.

— Limpar meu quarto? (ai!) – outro tapa foi dado na sua cabeça.

— Não me interrompa, seu malcriado! Você vai tirar aquelas caixas, esvaziar o armário e tirar tudo o que é seu de lá de dentro. Ai de você se sobrar uma única meia!

Diante da expressão do rapaz, ela esclareceu.

— Essa casa fica muito bem localizada e o aluguel de um dos quartos vai render muito dinheiro.

— Como é que é? Você vai alugar o MEU quarto? De jeito nenhum! Eu vou dormir onde?

— Isso não é problema meu! Você vai fazer o que estou mandando e ponto final!

— Espera só até o tio saber o que você tá fazendo! Aí eu quero ver como você vai se explicar.

— Rômulo!

O sujeito torceu o braço do Cebola, só o suficiente para doer sem quebrar.

— Se você contar para alguém eu boto fogo em todas as suas fotos de família! De hoje em diante quero você de bico fechado, entendeu?

Como o rapaz não respondeu, Rômulo acendeu o isqueiro de novo e Rosália colocou a foto perto da chama.

— Perguntei se entendeu!

— Tá bom, entendi...

— Vai me obedecer daqui por diante?

— Vou.

— Acho bom mesmo. Agora limpe esse quarto que eu vou redecorar tudo para receber o novo inquilino.

Os dois saíram da sala, deixando o rapaz totalmente desesperado. Lágrimas caiam pelo seu rosto e Cebola estava mais apavorado que nunca porque agora tinha que agüentar os abusos daqueles dois sem poder falar nada com ninguém. Ele nem deveria fazer todo aquele sacrifício por fotos que não eram da sua família de verdade, mas elas valiam muito para seu duplo e ele não tinha coragem de deixar aquela mulher colocar fogo em tudo. Sem falar que ele não estava a fim de ir para um colégio militar, o que ia reduzir a zero suas chances de voltar para casa.

Passado o choque, ele foi cumprir as ordens xingando Paradoxo mentalmente e jurando que ia acertar o nariz dele da próxima vez que encontrassem. Era culpa daquele cretino ele estar sofrendo daquele jeito.

Além de esvaziar o quarto, ele teve que limpar tudo, lavar a janela, o banheiro, remover algumas manchas nas paredes e ainda instalou a nova cortina que Rosália tinha providenciado para o quarto. Um técnico instalou um suporte com uma televisão LED de 32 polegadas que pertencia a mãe do Cebola e tinha sido guardada no porão porque Rosália tinha uma TV maior.

A roupa de cama foi trocada, toalhas novas foram colocadas no banheiro, assim como papel higiênico e sabonete. Rômulo até tinha conseguido um frigobar. Quando tudo foi terminado, ela admirou o resultado muito satisfeita enquanto Cebola estava totalmente injuriado ao ver seu quarto ser melhorado só para ser alugado para outra pessoa. E ele ainda teria que lavar as roupas do inquilino!

Passava das onze da noite quando Rosália se deu por satisfeita e o dispensou. Com a mudança, Cebola foi obrigado a morar no porão que já estava entulhado com os antigos móveis daquela casa, uma vez que sua tia tinha trazido os dela quando foi morar com ele.

Foi com muito custo que ele conseguiu um canto para estender um colchonete e guardar seus pertences. Deitado no colchonete fino, sentindo o corpo doendo e o coração ferido, ele lembrou da sua família no mundo original e pela primeira vez se deu conta de como sua vida era boa. Ele tinha ambos os pais vivos e cuidando dele, tinha a irmã que apesar de ser uma peste, era uma garotinha engraçada, inteligente e até meiga de vez em quando. E tinha o Floquinho, seu amigão canino que sempre lhe fazia festa quando chegava em casa.

Sua única preocupação era com os estudos. Ele não precisava lavar, passar nem servir de escravo para ninguém. Eram seus pais que cuidavam de tudo. Céus, ele era feliz e não sabia! Ele achava que sua família era chata e o incomodava muito, mas perto de Rosália e Rômulo aquilo não era nada. 

Uma semana depois, Rosália conseguiu alugar o quarto por nada menos que 1400 reais com café da manhã, jantar e serviço de lavanderia. Era um universitário que ficava fora o dia inteiro e só voltava à noite. Ele ia ser bem servido naquela casa enquanto Cebola teria que ficar naquele porão sendo tratado como escravo.

A cada dia que passava, ele odiava mais e mais aquela realidade.

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Na televisão, uma repórter transmitia de um lugar que tinha sido saqueado por uma multidão faminta.

— A polícia ainda está tentando identificar os responsáveis pelo saque, mas até o momento ninguém foi preso. Segundo testemunhas, mais de cem pessoas invadiram o depósito de grãos e...

Ele foi mudando de canal sem parar em nenhum.

— Toda a plantação foi devastada por uma nuvem de gafanhotos e esse ano a região terá a pior colheita de toda a história.

— Faz cerca de oito anos e meio que não chove...

— A área deserta está avançando rapidamente e tempestades de areia...

— O derretimento dos pólos está acelerando cada vez mais e o nível dos mares está subindo.

— Manifestações violentas se alastram por todo país...

— A série de assassinatos continua sem solução...

— Cerca vinte e seis baleias encalharam na praia...

— O conflito se agravou ainda mais...

— Cientistas detectaram alterações alarmantes no campo magnético terrestre...

— Dois atentados a bomba mataram...

— Uma nova epidemia de gripe já matou perto de duas mil pessoas...

Por fim, ele desligou a televisão, pois não agüentava mais tantas notícias ruins. Uma mulher entrou na sala carregando uma bandeja de chá.

— O senhor está bem? – Srta. Duister perguntou com uma voz levemente baixa, suave e monótona. Se continuasse falando por pelo menos dez minutos, ele poderia cair no sono facilmente.

— Está cada vez pior. – o velho respondeu mais para si mesmo do que para ela. – E sei que vai piorar mais ainda no futuro.

Ela colocou a bandeja de chá na mesa e preparou uma xícara enquanto falava com sua voz monótona.

— Não seria melhor diminuir...

— Não. – Disse com os lábios apertados e aquela cara de velho teimoso. – O que está feito, está feito. Não voltarei atrás.

Ela decidiu não falar mais nada, pois sabia que aquele velho arrogante preferia ver o mundo se despedaçar do que voltar atrás numa única decisão.

— Aqui está seu chá, senhor. – limitou-se a dizer lhe estendendo a xícara que ele aceitou inalando o vapor adocicado antes de dar um gole.

— Earl grey. O meu preferido. Como conseguiu? Achei que estivesse em falta.

— Não foi fácil, mas nossos contatos deram um jeito. Ultimamente têm faltado muitos produtos alimentícios. Acha que vai atingir a cidade?

— No momento não, mas eu não sei como será daqui a três ou quatro anos. Acho que a tendência é só piorar.

Ele deu outro gole do chá saboreando o máximo possível. Mimos como aquele podiam se tornar cada vez mais raros com o tempo. Mesmo assim, ele pretendia manter sua decisão até o fim. Era aquilo ou enfrentar algo muito pior.

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Fofocar com as amigas era bom, mas ela se sentia um tanto cansada de tantas futilidades. Sem falar que Carmem e seu grupinho tinham entrado na conversa e ela não suportava aquela garota metida e irritante.

Mônica estava caminhando no pátio e o viu isolado num canto, sentado no chão e cismando consigo mesmo. Cebola sempre foi muito introspectivo, mas nos últimos dias estava mais quieto que o normal.

DC já tinha falado que não queria ver os dois conversando, mas ela estava ficando farta do namorado ser tão controlador. Pensando bem, ela estava farta de ser controlada por todo mundo.

Os pais a controlavam dentro de casa, sempre cobrando comportamento de uma princesa. Na escola tinha o DC e também as amigas. Pelo menos o Cebola nunca tinha lhe cobrado nenhum tipo de perfeição, muito pelo contrário. Ele sempre a incentivou a ser quem era.

“Coitado, ele parece tão mal...”

—_________________________________________________________

Sentado no chão e imerso em seus pensamentos, Cebola se sentia de pés e mãos atados com tantos problemas. De manhã ele tinha que ir a escola e durante o resto do dia era obrigado a cuidar da casa, lavar e passar a roupa de todos, inclusive a do inquilino. Céus, ele nunca tinha trabalhado tanto em sua vida e estava ficando apavorado com aquilo.

A situação estava ficando crítica porque ele não conseguia investigar a causa do desequilíbrio enquanto esfregava as cuecas freadas do Rômulo ou limpava o chão da cozinha. Ele mal podia sair de casa, não tinha internet, nenhum lugar onde pesquisar e nem para quem perguntar. Então ele percebeu que se quisesse resolver aquele problema, teria que dar um jeito de se livrar de Rosália e Rômulo primeiro, caso contrário nunca ia conseguir nada. Mas como se livrar daqueles dois sendo que ele estava amordaçado e não podia contar nada a ninguém?

— Oi, você tá bem? – uma voz perguntou e ele levantou a cabeça. Era a Mônica, olhando para ele bastante preocupada.

— Eu tô de boa, preocupa não.

— De boa? Você tá péssimo! De verdade, o que tá acontecendo?

O rapaz não respondeu, pois não tinha coragem de contar a ninguém o que estava acontecendo em sua casa. Pelo menos não enquanto não descobrisse onde Rosália tinha escondido as fotos.

— Toma, você quer? – ela perguntou lhe estendendo uma vasilha de plástico com um grande pedaço de bolo dentro. – Pode comer, eu já tô cheia.

Cebola aceitou sem se fazer de rogado, pois ainda estava com fome. O sanduíche magro que tinha levado para o lanche não foi suficiente.

— Hum, tá delicioso!

— A Durvalina cozinha muito bem e me dá umas coisinhas escondido da minha mãe.

— Ela não gosta que você coma essas coisas?

— Ah, ela fala que engorda, mas é tão bom!

— Você não tá gorda, muito pelo contrário.

— Mas ela sempre preocupa demais com isso...

Ela sentou-se do seu lado e também parecia abatida. Talvez toda aquela gripe fosse apenas estresse por causa da cobrança excessiva dos seus pais. Ele se lembrava bem disso quando acompanhou a Mônica original naquele mundo.

— Às vezes eu queria que minha mãe não cobrasse tanto.

— Por que não conversa com ela?

— Eu não quero deixar ela magoada...

Cebola olhou para o rosto dela e viu que a moça estava muito desanimada. E viu outra coisa também que até então não tinha notado. Ou melhor, viu que faltava alguma coisa. Por mais que ela fosse linda, meiga e adorável, aquela não era a Mônica que ele conhecia.

— Que foi? – ela perguntou virando o rosto para ele e o rapaz pode olhar em seus olhos.

Seu coração encolheu e ele sentiu um frio estranho dentro de si. Não, aquela não era a Mônica e não tinha nada a ver com ela. Ele não via aquele brilho em seus olhos, nem a coragem, força, independência, atitude, nada.

— Cebola, por que você tá me olhando assim de novo? – ela perguntou parecendo magoada e ele entendeu o que tinha acontecido de verdade: foi seu duplo quem não quis namorar com ela. Ele amava a Mônica original e não aceitou aquela cópia. E não tinha como aceitar porque ela não tinha quase nada da Mônica que ele amava de verdade. Era só um duplo.

— Ô, que palhaçada é essa? Já te falei pra não ficar andando com esse cobaia!

— E eu já te falei que você não manda em mim! Eu converso com quem eu quiser e você não tem nada a ver com isso!

DC fez com que ela se levantasse puxando-a pelo braço, deixando Cebola indignado.

— Não faz isso com ela, seu tosco! Tenha mais respeito! – um soco foi desferido em seu rosto e Mônica tentou segurar o braço do namorado, que descontrolado fez com que ela caísse no chão. Uma turma se reuniu ao redor, o inspetor chegou e todos foram parar na diretoria.

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— Como está indo? – Srta. Duister perguntou ao telefone.

— Tudo está perfeito. – a voz no outro lado da linha respondeu. – Você terá notícias quando assistir aos noticiários. – pausa para uma risada. – Já falou com...

— Tome cuidado, estamos ao telefone. Sim, já falei e tudo está correndo perfeitamente.

— E como está indo com sua parte?

Srta. Duister suspirou discretamente, o suficiente para que ninguém ouvisse.

— Eu ainda não consegui encontrar nada.

— Isso é ruim, precisamos disso para prosseguir nosso plano.

— Eu sei. O problema é que não tenho recebido instruções há várias semanas. Não entendo o porquê desse silêncio. Estou sem saber o que fazer no momento.

A voz do outro lado da linha calou-se por um tempo e depois voltou a falar.

— Sem isso, todo nosso trabalho não valerá de nada. E o tempo está passando.

— Também sei disso, mas no momento só nos resta continuar com o que estamos fazendo. Tenho o pressentimento de que em breve receberemos novidades.

— Mal posso esperar!

Ela desligou o telefone e voltou aos seus afazeres. Por um instante, ela parou o que estava fazendo e ficou olhando o vazio sentindo algo estranho em seu corpo. Era uma sensação diferente, como se uma coisa muito grande estivesse para acontecer, talvez um tipo de mudança. Ela estava esperando aquilo durante muitos anos, mas ainda se sentia desconfortável por ter que fazer tantas coisas no escuro, sem saber onde estava pisando.

Mas ordens eram ordens e ela tinha que cumprir tudo a risca.

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Ela estava na enfermaria se recuperando. Mas seu coração ainda doía muito e ela se sentia o maior lixo da Terra. Como pode ter sido tão covarde?

Na sala do diretor, DC e Cebola trocaram várias acusações e seu namorado mentiu, como sempre. Com isso, Cebola saiu como culpado e foi suspenso. Ao invés de falar algo em sua defesa, ela só ficou chorando feito um bezerro desmamado e no fim acabou tendo outro ataque de tosse. Por que ela não o defendeu? Por que não falou a verdade?

Mônica se sentia impotente, imprestável e fraca. O que aconteceu com sua força? Ela ainda se lembrava das vezes que enfrentou a maior valentona do colégio, de quando deu vários foras no DC e até quando levantou a voz para os seus pais. Naqueles dias ela se sentiu forte e poderosa, mas com o tempo sua força pareceu ter escoado como areia entre os dedos e agora só restava uma garotinha mimada, chorona e inútil.

Provavelmente foi por isso que Cebola não quis nada com ela. Quem ia querer uma criatura tão patética? Só mesmo o DC. Se ela tivesse ficado contra ele, poderia perder o namorado e acabar sozinha. Ela ainda se lembrava do jeito que ele tinha olhado para ela minutos antes, porque foi o mesmo olhar que ela viu nele naquele dia, na lanchonete. Depois daquele olhar, ele foi embora e nunca mais se interessou por ela novamente. Seu coração ficou partido.

— Oi, linda... – o rapaz entrou na enfermaria fazendo cara de cachorro sem dono.

— Não chega perto de mim!

— Ei, calma, desculpa, viu?

— Desculpa nada, você me machucou!

Ele a abraçou, apesar da sua resistência, e falou com a voz mais doce do mundo.

— Eu tava nervoso porque você ficou de papo com aquele cobaia. Poxa, já te falei tantas vezes para não ficar de papo com ele e você fez o contrário? O contrariado aqui sou eu!

— Não gosto que você fique controlando minhas amizades!

— Eu nunca faço isso, mas acontece que houve algo mais entre vocês e agora ele tá te rodeando de novo.

— Mas ele não tentou nada, juro!

— Não tentou, mas vai ficar te confundindo, enrolando e depois vai tirar o corpo fora que nem da última vez, você lembra? Ele ficou todo cheio de dengo e no fim não deu em nada!

— Eu sei...

— Mas eu fiquei do seu lado, te assumi e agora nosso namoro tá muito bom. Por favor, não estraga tudo por causa daquele perdedor, senão você acaba ficando sem ninguém.

— Tá bom, DC. Mas deixa ele em paz, por favor. Não tem necessidade de ficar brigando.

— Já é! Você para de falar com o cobaia e eu não acerto a cara dele. E todo mundo fica feliz. Agora me dá uma beijoca!

Ela voltou a tossir fazendo-o se afastar com repulsa para não pegar aquela gripe.

— Vou chamar a enfermeira, espere aqui.

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Cebola pegou suas coisas e foi embora muito decepcionado com o que tinha acabado de descobrir. Todo o encanto que ele sentia pela Mônica alternativa desapareceu em instantes. Não tinha jeito, ele amava a Mônica forte, durona e teimosa. Não tinha como amar uma garota que era o oposto disso. Foi por essa razão que suas tentativas de arrumar outra namorada deram errado, porque nenhuma era como a Mônica. Só ela servia para ele.

E daí que a Mônica original tinha defeitos? Pensando bem, ele sabia que tinha os dele e nem tinha direito de acusá-la de nada porque fora ele quem estragou tudo.

“Pelo visto tudo aqui é bagunçado” pensou.  

O Cascão alternativo era um caso perdido. Todas as suas tentativas de se aproximar dele foram em vão. O rapaz sequer respondia seus cumprimentos e pelo que ele sabia, estava a um passo de ser expulso do colégio por causa da sua falta de higiene. Era até um milagre ele ainda estar estudando ali.

Os outros alunos eram uns idiotas. Ninguém o cumprimentava e mesmo Denise costumava ignorá-lo quando estava com as amigas. E ainda tinha o DC que estava ficando cada vez mais abusado. Aquele soco tinha sido só o começo.

— Acho que não tem como isso piorar!

Ele falou em voz alta e logo se arrependeu, pois sempre que alguém falava isso, as coisas acabavam piorando.

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DC mal podia acreditar que tinha dado um merecido soco na cara daquele cobaia e saído impune. Ele nunca imaginou que tal coisa fosse possível porque Cebola sempre foi muito forte e brigava bem. Era por isso que ele nunca tinha partido para cima dele antes e só o fez daquela vez porque perdeu a calma. Aquilo podia ter lhe custado um olho roxo ou nariz quebrado, mas ele saiu ileso.

“Fala sério, eu tava com medo daquele cobaia a toa, ele não é de nada! Agora é que eu acabo com a raça dele!”

Ele ainda não esquecia do vexame do ano passado na festa da Carmem e da sua tentativa de confrontar a Magali. Aquele idiota atrapalhou sua vida várias vezes e tudo o que ele queria era se vingar. Finalmente sua chance tinha chegado.

Mas não podia ser dentro da escola por causa daqueles malditos inspetores. Teria que ser na rua, onde era terra de ninguém. E para garantir que não ia ter problemas com a Mônica, DC planejou executar seu plano no último dia de aula para aquele perdedor levar uma lembrança dele para as férias.


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