Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 56
Almas perdidas


Notas iniciais do capítulo

Finalmente vamos saber como Cebola vai dar um jeito nesse angu de caroço. Espero que vocês gostem do desfecho!



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Não dava para acreditar que as coisas tomaram aquele rumo. Agnes estava no controle da situação e não havia nada que eles pudessem fazer. Magali estava totalmente desacordada, Ângelo ficou muito mal por causa do raio de sujeira e Sofia estava sob controle da Penha quase quebrando o pescoço da Mônica. Sobraram apenas Cascão, Denise e Cebola que não tinham nenhum poder ou força para enfrentar aquelas três.

— Droga, por que a Magali não faz nada? Ela é forte! – Denise reclamou frustrada com aquela reviravolta. – Agora ela vai amarelar? Que feio!

Por pouco Cascão não lhe deu um tapa.

— Cala a boca que ela tá assim porque te deu o talismã dela! Isso é culpa sua! – rapaz falou olhando-a de forma acusadora. Denise se encolheu toda e voltou a chorar lamentando por ter ido atrás deles. Além de não ter ajudado em nada, ainda acabou atrapalhando a todos.

Cebola estava acuado. Mônica debatia tentando se libertar do aperto forte de Sofia, Ângelo agonizava no chão mal conseguindo se mexer e Berenice estava com as mãos apontadas para Cascão e Denise, pronta para atingi-los. Se declarar como cavalo da morte não ia salvar ninguém. Ele duvidava muito que Agnes fosse libertar seus amigos e mesmo que fizesse, eles teriam que lidar com a Serpente e não estavam preparados para isso.

— O que me diz, Cebola? Só depende de você acabar com isso!

— Acabar com isso e a humanidade, você quer dizer! Não sabe o que a Serpente vai fazer quando voltar?

— Vai construir um novo mundo e...

— Bah, vem com essa! Ela vai é destruir tudo mesmo!

Ele sabia que era inútil argumentar e só estava tentando ganhar tempo para pensar em alguma coisa. Em sua cabeça, ele repassou o que Dona Morte havia lhe falado: que o verdadeiro perigo era Agnes. Isso já estava bem óbvio. O problema era o que fazer para dar um jeito nela sem que seus amigos fossem feridos ou mortos.

— Então? Estamos esperando! – Agnes falou com impaciência.

— Anda logo, Cenourra! Essa umidade faz mal parra a minha pele perfeita!

— Eu não quero ficar aqui pelo resto da vida, seu moleque!

Quando Berenice falou “pelo resto da vida”, Cebola reparou melhor nela e uma luzinha se acendeu. Seu cérebro trabalhou como nunca em sua vida e quem chegasse mais perto podia até ouvir o som das suas engrenagens trabalhando freneticamente. Ele só tinha alguns segundos e precisava agir logo.

— Tá, me engana que eu gosto! Se eu fizer pacto com a serpente, vou ficar que nem a Berenice! – e apontou para a mulher, que o olhou sem entender nada.

— O que tem eu?

Ótimo, ele conseguiu a atenção dela. Só era preciso habilidade e um bocado de sorte.

— Olha como você tá envelhecendo! Caramba, dá pra ver daqui seus cabelos ficando brancos e acho que você perdeu um dente agora a pouco!

— Não lhe dê ouvidos, Berenice. Ele quer te confundir! – Agnes avisou. – Cebola, nada de brincadeiras ou seus amigos vão sofrer!

Ele se esforçou para manter a calma e continuou.

— Você tá ficando velha, Berenice. Muuuito velha! – ele falou um pouco alto demais. Em algum lugar, de alguma forma, Paradoxo estava ouvindo tudo e ele sabia disso. Restava torcer para que o cientista entendesse o recado. Tudo ali dependia disso. – Tô vendo daqui como você tá envelhecendo! Dá pra ver de longe, de longe!

—_________________________________________________________

À princípio ele não tinha entendido o que o garoto queria fazer, mas ao vê-lo insistir tanto que aquela mulher esquisita estava envelhecendo, Paradoxo não teve dúvidas do que fazer. Ele acionou seu relógio, os ponteiros giraram mais depressa e ele fez uma expressão de repulsa com o resultado. O relógio não funcionava com aquela criatura, mas a mulher ainda era humana e podia envelhecer.

—_________________________________________________________

— Tá vendo? Não falei? – falou triunfante apontando para a cara da Berenice.

Seus cabelos ficaram totalmente brancos, finos e ralos em algumas partes, sua pele se tornou mais enrugada e seu aspecto era o de uma mulher de cem anos. Ela tinha ficado um pouco mais parecida com a Berenice original. Se continuasse mandando sinais ao Paradoxo para envelhecê-la ainda mais, ela ia acabar morrendo. Só que matá-la não ia resolver seu problema, pois ele tinha que lidar com Agnes que era muito pior. Foi pensando nisso que uma ideia maluca surgiu e ele se agarrou a ela como um afogado se agarra a um pedaço de madeira flutuante. 

— O que está acontecendo comigo? – Berenice apalpou o rosto, passou a língua nas gengivas de onde tinham caído mais dois dentes e olhou para Agnes de forma acusadora. – O que é isso?

— Berenice, o seu envelhecimento é porque você viveu nas ruas durante anos...

— Ah, é? Por acaso você tava envelhecendo tão rápido assim antes? Ou isso não começou só quando a barreira começou a enfraquecer e finalmente foi consertada?

Seu corpo foi se abaixando lentamente até pousar e ela ficou encurvada, tremendo e olhando para as suas mãos que estavam secas, mostrando juntas nodosas, pele fina e manchada com as veias se destacando como pequenas cobrinhas azuis.

— Por que só comigo? Por que elas não envelhecem? – a mulher perguntou com a voz ainda mais rouca e velha. Cebola não perdeu tempo e respondeu antes que Agnes pudesse falar qualquer coisa.

— Agnes suga a energia das pessoas, esqueceu? É por isso que não foi afetada! E quer apostar quanto que ela divide essa energia com a Penha? – se aquilo era ou não verdade, pouco importava. Contanto que Berenice acreditasse, tudo bem.

Mentirra! Agnes não divide energia nenhuma comigo, ele quer te enganar! – Penha gritou, se desconcentrando e perdendo o controle sobre Sofia por um tempo.

A moça acordou e ao ver como estava segurando Mônica, afrouxou as mãos imediatamente.

— Minha nossa, você tá bem?

— Tô sim, vem logo! – as duas saíram correndo dali sob os gritos furiosos de Penha.

Foi com muito custo que Agnes manteve a calma. Ela não podia se descontrolar num momento tão importante.

— Eu ainda tenho a jovem bruxa. Berenice, acabe logo com os outros moleques. Berenice!

A mulher não a escutava, apenas continuava olhando para as suas mãos e Cebola viu que ela estava vacilando.

— A Serpente... ela vai consertar isso, não vai? Não vai? – a mulher olhou para Agnes, que tentou manter-se tranquila.

— Claro que sim!

— Ué, então por que você não avisou pra ela que isso ia acontecer? Só agora ela tá sabendo disso!

Ela voltou a olhar para o rapaz e ele continuou.

— Berenice, o pacto com a serpente tá sugando sua vida. Você tá envelhecendo muito mais depressa! – ele suspirou e falou com a voz firme. – Do jeito que tá, não vai durar muito tempo. De que adianta trazer sua filha de volta se não vai poder cuidar dela?

Foi como se um raio caísse aos pés dela e por pouco seus joelhos não vacilaram.

— Como sabe da minha filha? Quem te falou? – Cebola viu que ela estava em suas mãos.

—_________________________________________________________

Cascão mal ouvia a conversa, pois seus olhos estavam na Magali. Aquela mulher Drácula parecia distraída tentando manter Berenice do seu lado e ele viu que só ia ter uma única chance. Sua barra de ferro estava escondida na manga da jaqueta, pois ele jamais teria ido a uma missão perigosa como aquela desprevenido.

Aquilo não seria suficiente para vencer o monstro, mas o importante era tirar Magali das mãos dela. Mônica estava do seu lado e pareceu entender o que ele estava pensando, pois o olhou com cumplicidade e balançou a cabeça afirmativamente muito de leve. Era só esperar o momento certo.

—_________________________________________________________

— Eu sei que você é de Sococó da Ema. – Cebola continuou. – Você distribuía comida pras crianças pobres em tuppaweres e tinha até um cavalinho alado de madeira no seu quintal com as orelhas bem grandes. As crianças brincavam com esse cavalinho e chamavam de jumenta voadora por causa das orelhas.

— Não lhe dê ouvidos, Berenice. Ele deve ter pesquisado! – a voz de Agnes saiu esganiçada, pois Cebola estava cada vez mais conseguindo convencer a mulher.

— E como ele sabia que eu sou de Sococó da Ema? Como sabia da minha existência?

Cebola continuou.

— Um dia, sua filha tava indo pra uma festa a fantasia toda bonita e vestida de fada. Lembra disso?

Seus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar-se de como sua filha estava linda naquele dia, parecia um anjinho caído do céu. Ela era seu tesouro, a razão pela qual vendeu sua alma e fez a peregrinação que levou doença e morte para milhares de pessoas.

— Só que aconteceu aquela tragédia e você acha que isso foi causado por sete crianças.

— Aquelas crianças malditas... como você sabe? – um olhar acusador foi lançado para Agnes. – Você contou para ele?

— Eu... não... – até ela estava surpresa pelo Cebola saber tudo aquilo. O rapaz continuou chegando um pouco mais perto.

— Sua filha foi resgatada por um velho pescador que tava colocando armadilhas no rio. Ele a viu boiando com aquele crânio de jumenta na cabeça e a tirou da água.

A cabeça de Berenice começou a latejar e doer. Tudo o que ele disse estava certo. Como era possível?

— Você chorou por muitos dias pedindo que qualquer entidade lhe ajudasse a se vingar das crianças e trazer sua filha de volta. É ou não é verdade?

Seus olhos se arregalaram, pois não havia a menor chance daquele rapaz saber daquilo. Passado o choque inicial, ela respondeu.

— Agnes me procurou... ela disse que a serpente pode trazer minha filha de volta... – Cebola procurou mais na memória. Cada detalhe era importante e ele viu que estava chegando a um momento crucial e não podia falhar.

— Sim, um ritual onde as almas das sete crianças iam ser trocadas pela de sua filha. Tô sabendo disso.

Aquilo a fez cair de joelhos.

— Berenice, não lhe dê ouvidos! – Agnes gritou apavorada ao ver que estava perdendo a mulher.

Cascão viu que o aperto de Agnes nos cabelos de Magali afrouxou. Sua chance tinha chegado e ele sacou sua barra de ferro. Mônica também se preparou.

Num movimento rápido, usando sua agilidade como nunca, ele correu para cima de Agnes e lhe golpeou com a barra, fazendo-a cair para trás com um grito.

— Vou te matar seu moleque!

— Cascão, corre! – Mônica gritou pegando Magali nos braços e saindo rapidamente dali. O rapaz também correu, indo para junto de Denise, Sofia e Ângelo.

Agnes pensou em atacá-los, mas viu que Berenice estava caindo na lábia daquele garoto.

— Berenice, faça alguma coisa...

— Eu ainda posso fazer o ritual e trazer minha filha de volta ao menos um pouco! Só isso me basta! – a mulher se levantou pronta para atacar e Cebola procurou manter a calma. Ele estava ganhando terreno pouco a pouco. Um passo de cada vez.

— E depois? Ela vai ficar sozinha num mundo devastado pela serpente? Um mundo cheio de guerra, fome, doença e morte? Ou você tá achando que essas duas vão cuidar dela?

— Cuidaremos dela como se fosse nossa filha! – Agnes falou com a voz meio estridente, indicação de que estava mentindo.

— Ela vai é sugar a vida da sua filha de canudinho, isso sim! Por que ia se importar de cuidar dela? À troco de quê?

Ela vacilou de novo e Cebola viu que estava na hora de lançar sua última cartada.

— De qualquer forma, esse ritual aí não vai rolar. – ele falou com uma mão atrás das costas e olhando as unhas da outra mão, tirando alguma sujeirinha com a unha do polegar. Seu rosto parecia bem sereno, como se o destino da humanidade não estivesse em jogo.

Berenice o fuzilou com o olhar.

— Como é que é? Claro que posso fazer o ritual! Ainda tenho o crânio e aqueles malditos!

— Nem todos. – ele a encarou de novo tentando mostrar calma. – Só seis. Um deles morreu há um tempo.

Se tivesse dado um soco na cara dela, o efeito não teria sido o mesmo. Berenice ficou pálida, seus olhos esbugalharam e ela mal conseguia balbuciar alguma coisa.

— Foi aquele que usava fantasia de violinista, você deve lembrar.

— Mas... mas... e-eu nunca toquei em Sococó da Ema! Sempre tive cuidado para que as minhas doenças não chegassem até lá!

— Não foi nenhuma das suas doenças. – Cebola olhou para Agnes e deu um sorriso de vitória. – Ele morreu do mal da múmia.

Daquela vez Agnes deu um passo para trás quando Berenice a olhou com um ódio descomunal que ela nunca viu em lugar nenhum, nem nela mesma.

— Você! Você o matou! Como pôde?

— Ele está mentindo!

— Ué, isso pode ser verificado de boa! Vai lá procurar por ele e vão te falar isso mesmo. – Cebola deu de ombros. - Ela sugou a vida dele e aposto que foi de sacanagem pra você não poder fazer o ritual!

Claro que ele não mencionou que o violinista tinha sido morto na capital e que provavelmente Agnes o matou sem saber de quem se tratava. “A desconfiança é o pior dos venenos” Venerusa tinha falado certa vez e ela estava certa. O veneno da desconfiança se espalhou de forma irremediável e nada do que Agnes falasse ia mudar isso.

— Você prometeu! Naquele dia me disse que eu ia ter minha filha de volta! Por que fez isso? Por quê? – a mulher gritou atirando um raio de sujeira para cima de Agnes, pegando-a de surpresa.

— Pare, sua tola! Ele está tentando te colocar contra mim!

— E conseguiu, sua desgraçada!

Agnes precisou mudar para sua forma monstruosa para se defender e mesmo assim não adiantou muito, pois os ataques a faziam absorver a energia imunda e venenosa de Berenice.

— Traidora! Você vai pagar por isso! – Agnes lançou um tentáculo para cima de Berenice que o bloqueou com raio de sujeira.

— Você é a traidora, sua miserável! Só estava me usando esse tempo todo e não ia me dar nada em troca! – outro raio de sujeira foi lançado e por pouco o monstro não conseguiu desviar.

Berenice se ergueu no ar e voou em volta de Agnes lhe atirando vários raios enquanto ela tentava lhe golpear com os tentáculos, o que era difícil porque apesar de velha, a mulher ainda era rápida e quando conseguia lhe acertar, a dor era insuportável.

Cebola, que não queria ficar ali para ver as duas se matando, correu para os amigos.

— Gente, vamos vazar daqui enquanto elas estão distraídas!

— Elas vão correr atrás da gente! – Mônica falou colocando Magali nas costas enquanto Sofia ajudava Ângelo a se levantar.

— Vão, eu fico aqui e luto com elas. – Ângelo falou.

— Cara, você tá fraco demais! Anda, vamos logo!

Eles ouviram o grito furioso de Agnes.

— Sua traidora! A Serpente vai te castigar! 

— Eu vou te castigar primeiro! – e lhe acertou outro raio de sujeira. Agnes a pegou com um dos tentáculos e logo lhe soltou, pois aquilo só fez com que ela absorvesse ainda mais sua energia nojenta.

Os jovens correram para a saída e foram cercados pela Penha.

— Vocês não vão fugir!

— Ah, sai logo da frente sua fingida! – Sofia lhe deu um safanão atirando-a para o lado e continuaram a correr. Aquilo distraiu Agnes por um tempo.

— Não! Vocês não vão fugir!

Ela deixou Berenice de lado e tentou correr atrás deles. Mas a mulher não quis desistir da batalha e continuou atirando muitos raios de uma vez.

— Pessoal, se abaixem! – Cebola disse ao ver que Berenice atirava para todos os lados como louca.

Agnes foi atingida várias vezes. Outros raios passaram longe e um deles acabou acertando Penha que estava no meio do caminho se levantando após o golpe que Sofia tinha lhe dado. Todos ouviram um grito lancinante de dor.

Penha se contorcia no chão com um grande ferimento que pegou parte do seu rosto, peito e barriga. Era como se fosse uma queimadura, mas de sujeira e podridão.

— Ah, não... – Sofia murmurou e ia socorrê-la, mas Agnes veio depressa e se colocou ao lado da moça voltando à sua forma humana.

— Penha... Penha... – ela chamava mostrando pavor em seu rosto, tentando lhe amparar sem saber como fazer isso. – Você... não...

— Desculpe, amiga... eu te atrapalhei. – falou com um fio de voz, desaparecendo cada vez mais.

— Não faz isso! Você não pode me deixar! Penha!

Ela sentia dor, tristeza e desespero. Aquela moça tinha lhe ensinado a usar maquiagem, salto alto e lentes de contato. Lhe ensinou a se achar bonita, que não havia problema nenhum em ter vaidade. Aceitou-a tal como era, mesmo com seus problemas e dificuldades. Lhe consolou quando estava triste, acalmou quando estava de mal humor e até lhe fez rir, algo que nenhum outro ser vivente no universo era capaz de fazer.

Por ela, Penha aceitou seguir aquelas regras absurdas da Vinha e até deixou sua vaidade de lado para poder segui-la. Ela vendeu sua alma para a Serpente, lhe ajudou tantas vezes a conseguir vítimas colocando a si mesma em perigo e nunca lhe deixou na mão em momento algum. Sempre foram elas contra o resto do mundo.  

Agnes nunca conseguiu lhe dizer o quanto a amava e era boa amiga. Raramente mostrava afeto, nunca falava dos seus sentimentos e muitas vezes se retraía quando Penha lhe abraçava ou beijava seu rosto. E aquela moça estava ali, ferida e quase morrendo sem que ela pudesse fazer nada.

Seus lábios tremeram e pela primeira vez na vida, surgiu um traço de humanidade naquele rosto frio.

— Você vai ficar bem, vai sim! – ela pegou a amiga nos braços e voltou-se para Berenice. – Ela ainda está viva! Cure-a, você pode fazer isso! – Pediu com desespero na voz.

A outra parecia se divertir do sofrimento dela.

— Que ótimo! Eu vou para o inferno e essa mocinha também vai comigo! Por que não vai com a gente?

— Cure-a ou acabo com você!

— Grande coisa, vou morrer de qualquer forma, então alguém tem que ir junto!

Como elas estavam distraídas, Cebola fez um sinal aos outros para que saíssem do salão.

— Mas a Penha...

— Foi mal, Sofia, mas pra ela não tem mais jeito. – Cebola se desculpou e Ângelo completou.

— Ele está certo. A vida dela está por um fio e não há nada que se possa fazer. Acho que nem Berenice pode ajudar. – ele falou muito baixo e todos saíram dali discretamente.

Mas não tão discretamente.

— Eles estão fugindo! Tudo culpa sua! – Agnes gritou virando-se para eles com Penha ainda em seus braços. Bastou essa distração para Berenice lhe segurar por trás fazendo-a gritar de dor por ter que absorver a energia daquela porca.

— Vocês vão pro inferno comigo! Ah se vão!

Cebola resolveu aproveitar a chance e gritou.

— Corre, gente! É agora! – era o sinal que tinha combinado com Paradoxo para que ele acionasse o dispositivo.

Todos sentiram que alguma coisa os sugava para trás, o que os deixou apavorados. Mas não era tão forte a ponto de impedir a fuga. Já Agnes e Berenice estavam mais perto da porta e não conseguiram escapar do vórtice de Paradoxo.

— O que você fez, sua imbecil? – Agnes gritou lutando para se manter no lugar junto com Penha e escapar do aperto de Berenice.

— Eu não fiz nada, mas isso não importa!

No desespero para se livrar da mulher, ela voltou a sua forma monstruosa e golpeou Berenice com um tentáculo ignorando a dor. A mulher caiu no chão e foi sugada pela porta, voando para dentro de Umbra e sua perdição.

Como monstro, ela teve mais forças para se segurar e foi atrás dos jovens.

Cebola viu aquele grupo de tentáculos tentando alcançá-los e a fuga estava muito difícil. Céus, será que ele cometeu um erro e calculou mal? Ângelo também viu a dificuldade dos amigos e falou.

— Fujam agora! Vou ficar e dar um jeito nela!

— Você vai ser sugado!

— Não tem problema, eu me viro! Corram!

Eles não falaram mais nada e correram, enquanto Ângelo voltou na direção de Agnes e usou toda a energia que ainda tinha guardada para investir contra ela.

— Saia da minha frente, miserável! Vou te sugar até não sobrar nada!

— Você vai pro inferno que é o seu lugar! – ele gritou a empurrando, chegando cada vez mais perto da porta.

Enquanto isso, os jovens alcançaram a entrada. Mônica conseguiu sair com Magali nas costas, seguida por Cascão e Sofia. Mas Cebola só conseguiu se segurar no beiral da porta. Denise, que estava logo atrás, agarrou suas pernas com força.

— Gente, ajuda eles! – Mônica gritou apavorada. – Eu não posso largar a Magali!

O vórtice ficou ainda mais forte deixando os dois em posição horizontal enquanto Cascão e Sofia lutavam para segurar as mãos do Cebola sem serem sugados também. Mônica conseguiu se apoiar na parede junto com Magali e não pode fazer nada.

Ângelo sabia que aquilo não ia acabar enquanto Agnes não atravessasse a porta. Usando as últimas forças que ainda tinha, ele disparou uma rajada de energia que a desequilibrou o suficiente para ser sugada pelo vórtice.

Ela viu que não ia mais conseguir escapar, pois não tinha onde se segurar e estava enfraquecida por causa da luta com Berenice.

— Penha... eu vou cuidar de você. Prometo que vou! – o monstro falou envolvendo a moça com os tentáculos como se fosse uma criança e se deixou sugar para dentro de Umbra.

Ângelo, que estava muito fraco para lutar, acabou sendo sugado também para desespero dos amigos que não puderam fazer nada.

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Quando viu que aquelas criaturas foram sugadas, Paradoxo achou melhor acabar com aquilo e acionou o mecanismo de autodestruição do aparelho. A porta tremeu e foi se despedaçando, sendo sugada por si mesma pedaço por pedaço até não sobrar nada. Tudo estava acabado pelo menos.

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Com o fim do vórtice, Cebola e Denise caíram no chão.

— Ai, isso doeu! – a ruiva reclamou esfregando o traseiro.

— Nem me fale! Pensei que você fosse arrancar as minhas pernas!

— Cebola, você tá bem? – Mônica veio até ele muito preocupada. Ela colocou Magali nos braços do Cascão rapidamente e correu até o rapaz abraçando seu pescoço.

— Ei, calma, eu tô bem!

— Bem? Você quase foi sugado pra dentro daquela coisa! O que foi aquilo?

Ao invés de responder, ele abraçou a cintura dela e lhe deu um beijo, fazendo-a se calar na hora. Ele não devia estar fazendo aquilo, mas não teve como evitar. O calor do corpo dela, seu cheiro e especialmente o gosto da sua boca o dominaram por completo. Eram exatamente iguais aos da Mônica original.

— Cebola... – ela sussurrou quando seus lábios se separaram e ele a beijou de novo e de novo.

Sofia andou para o meio do salão em direção o local onde porta estava antes e abaixou a cabeça.

— Gente... a Penha também foi sugada...

Cebola soltou a Mônica, muito a contragosto, e caminhou até a amiga.

— Eu... eu sinto muito... não deu pra fazer nada por ela.

— O que vai ser dela agora? Ela vendeu a alma pra Serpente!

— Então não tem mais jeito. Só espero que o Ângelo esteja bem. Ele se sacrificou pela por nós.

Eles ficaram em silêncio por um tempo e Cebola voltou a falar consultando o relógio. Eram quase quatro da manhã, embora ele pensasse que tivesse passado mais tempo.

— Temos que correr pra chegar em casa. – disse e Cascão ficou desanimado.

— A gente levou mais de uma hora pra chegar até aqui!

— Então vamos logo. – Mônica falou. – Cascão, eu posso levar a Magali...

— Deixa que minha mina eu levo. Tô de boa.

Guiados por Sofia, que deu um último olhar triste para o salão, eles rumaram para a saída. Não havia mais nada para fazer ali.


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