Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 49
Prisioneiros do vampiro




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Boris acordou com a boca seca, uma dor de cabeça terrível e o corpo cheio de cãibras. Ele tentou se mexer e viu que suas mãos estavam amarradas na cabeceira da cama com cabos de telefone.

— O que... onde estou... – murmurou confuso. Sua visão ainda estava ajustando o foco e ele viu duas pessoas de pé na sua frente. Uma era Agnes, a outra Sofia. Diabos, ele nem imaginou que aquela garota estava na casa com elas!

— Dormiu bem, irmãozinho? – Agnes perguntou com cinismo, olhando-o de um jeito bem estranho.

— Me solta daqui, sua louca!

— Para você ir correndo até a polícia? Acho que não! Você fez com que eu perdesse duas boas refeições e agora estou faminta!

— Faminta? Agnes, isso não faz sentido nenhum! O que você faz com essas pessoas, pelo amor de Deus?

— Eu sugo a vida dela, seu tolo! Já era para você ter percebido há muito tempo!

— Suga a vida delas? Como? Por quê?

Ela levantou a blusa e mostrou uma marca de IOR em suas costelas, no lado direito do seu corpo.

— Eu fiz um pacto com ela.

— Com ela... a Serpente? Você enlouqueceu? Por que fez isso?

— Para ser livre, seu idiota! Não estava mais aguentando viver sob tantas regras idiotas, sofrendo castigos e sendo reprimida o tempo inteiro!

— Isso não é justificativa para...

— Para mim é suficiente. Levou tempo, muito tempo. Mas estou perto de ter tudo o que sempre quis e nada vai me deter!

Por um instante ele quis lhe dizer que Cebola ia detê-la e calou-se a tempo. Ele não queria prejudicar o rapaz.

— Você está prestes a trazer um grande mal a esse mundo!

— Eu pareço me importar? Ninguém nunca se importou comigo, então quero mais que essa droga de mundo queime!

— Por favor, pense bem...

— Cale a boca! Você está me dando fome!

Ela passou as mãos no rosto, como se fizesse um grande esforço para se controlar e falou.

— Você ficará bem aqui. – ela respirou fundo e virou de costas, saindo rapidamente do quarto. Sofia foi atrás dela e fechou a porta. A pobre moça parecia assustada.

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Agnes se jogou no sofá e afundou o rosto numa almofada.

— Você precisa de alguma coisa?

— Saia daqui e vá para o seu quarto! – ela rosnou e aquela criatura ignorante saiu dali rapidamente.

Sua fraqueza estava cada vez pior. Ela absorveu um pouco da energia da Penha, um pouco da Sofia e outro tanto de Boris, mas aquilo estava longe de ser suficiente.

Flashback

— Penha, você tá bem?

— Sua inútil, por que não aparreceu antes? Meu braço está sangrando!

— Eu... desculpe...

Parre de falar e dá um jeito de amarrá-lo antes que ele acorde!

Sofia fez o que foi mandado enquanto Agnes se apressou em amarrar um pedaço de tecido ao redor do braço da Penha.

— Você precisa ir ao hospital, está sangrando muito.

— Aqueles dois... Eu vou trazê-los de volta, tenho que fazer isso!

— Eles podem estar longe.

— Nem tanto. Eu vou tentar alcançá-los com o meu carro e Sofia farrá o resto.

O plano parecia bom, exceto por uma parte: os rapazes levaram o carro embora.

Sacrebleu! Erra o carro do meu pai!

Agnes quase sentiu vontade de chorar. Um banquete maravilhoso tinha escapado entre seus dedos por culpa do Boris.

— Como vou emborra parra casa agorra?

— Use o carro do Boris. – Agnes respondeu. – Vá e dê um jeito no seu ferimento.

Penha olhou para o seu braço encharcado de sangue.

— Eu vou ficar bem, mas você precisa se alimentar!

— Desse jeito você não poderá fazer nada por mim. Vá. Se tudo der errado, eu ainda tenho Sofia. E talvez o Boris.

A moça olhou para baixo por um tempo, engoliu em seco e voltou a lhe olhar.

Oui. Farrei isso, mas voltarrei quando puder. – Ela estava indo embora quando lembrou de uma coisa. – Aqueles dois idiotas podem acabar chamando a polícia! Não posso te deixar aqui!

Aquilo não a assustava. Boris não tinha falado nada indicando que ela era responsável pelo mal da múmia, então o mais provável era eles terem pensado se tratar apenas de uma briga conjugal, como deram a entender durante o confronto. E ela estava fraca demais para ficar andando de um lado para outro.

— Vá, eu ficarei bem.

— Pode ser, mas tenho que tomar algumas precauções.

Ela foi rapidamente para os fundos da casa e minutos depois saiu de lá com uma caminhonete. Era daquele sujeito abusado que Penha tinha levado para lá dias atrás. Agnes estava sendo procurada e a placa do carro dela estava sendo divulgada por todos os lados, então usá-lo era péssima ideia.

— Ainda tem gasolina e vou deixar a chave na ignição.

— Não precisa...

— Se algo acontecer, entre nela e fuja. Todo nosso plano vai dar errado se você for presa. Agorra eu preciso ir. Por favor, tenha cuidado.

Fim flashback.

Agnes se lembrava de tudo sentindo raiva e fome. Mesmo tendo comido bem, ela ainda estava fraca e desanimada. Se acontecesse de a polícia lhe encontrar, ela não ia conseguir fugir para lugar nenhum. O jeito era acabar com Boris ou Sofia. Talvez a Sofia? Ela era mais jovem, cheia de vida. Ia lhe dar muita força. Por outro lado, Boris tinha visto demais e se tornou um problema para ela.

Nunca esteve em seus planos ferir o irmão, mas as coisas tinham mudado. Aquilo tinha que mudar também.

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Eles pararam o carro no centro da cidade, ofegando e morrendo de medo.

— Cara, que susto! Você só mete a gente em roubada!

— Eu? Você também concordou em ir com ela!

— É, mas eu não sabia que o pai dela ia aparecer!

— Credo, a mãe dela é a maior mocreia! E na foto parecia uma tremenda gata!

Eles saíram do carro e resolveram ir para casa de ônibus, pois não queriam ser vistos por aí com um carro roubado. Foi muita sorte a garota ter deixado chave na ignição e mais sorte ainda aquele maluco não ter ido atrás deles.

— Ainda não entendo por que a gente ficou fraco daquele jeito. Tô meio estranho até agora!

— Vai ver foi o susto com a cara dela. Não caio nessa nunca mais, tô vacinado agora!

Como estavam exaustos, cada um tomou o rumo de casa e procurou esquecer aquele acontecimento agradável.

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Ângelo pousou no telhado da casa e ficou observando. Boris estava preso num quarto e Sofia estava em outro. Agnes estava na sala assistindo televisão e remoendo sua fome. Era só questão de tempo até ela atacar aquela pobre garota e depois seu irmão. Ele estava ali para levar suas almas caso tudo desse errado.

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Apesar do sangramento, o corte não foi profundo e não ia precisar dar pontos. Ela tomou um banho para lavar bem o ferimento, aplicou um spray antisséptico e fez um curativo. As roupas sujas de sangue foram colocadas num saco plástico para serem jogadas no lixo depois. O passo seguinte era arrumar uma vítima para Agnes ainda naquela noite.

“Que bobagem... Sofia está lá com ela.” A moça pensou. Aquela criatura grande e boba não valia o risco de pegar outro carro e andar por aí de noite. E tinha Boris também. Será que Agnes ia querer sugar a vida do irmão? Talvez ela preferisse sugar Sofia primeiro porque tinha mais energia e deixar o irmão como ultimo recurso. Embora não se importasse com aquela criatura boba, ela pensou que talvez fosse bom poupá-la por mais um tempo em caso de necessidade. Foi pensando nisso que ela vestiu a roupa e correu para a garagem.

— Onde você pensa que vai, mocinha? – uma voz falou fazendo-a pular de susto.

— P-pai? Mãe? Vocês não tinham ido parra aquela festa...

— Já voltamos. – sua mãe respondeu de braços cruzados e cara feia.

— Eu tenho duas perguntas. – Seu pai voltou a falar. – Onde está aquele meu carro prateado? E o que o carro do Sr. Boris está fazendo na nossa garagem? – ele mostrou para ela uma carteira de motorista que deve ter sido tirada do porta-luvas.

— E que aconteceu com o seu braço? – sua mãe emendou ao ver o curativo.

Explicar o ferimento era fácil, bastava dizer que tinha sido um acidente. O problema era explicar aquele carro.

— Er... eu... não sei... acho que ele deve... er... ter ido emborra com o carro errado! – patético de doer, mas foi a única coisa que conseguiu pensar. Claro que ninguém acreditou.

Sua mãe avançou e a pegou pelo braço que estava ferido lhe sacudindo várias vezes.

— Mãe, a senhorra tá me machucando!

— O que você fez? Por onde tem andado? Os empregados dizem que você pega o carro do seu pai e sai todos os dias! Você não tem idade para dirigir! Quer que a polícia te pegue e nos mate de vergonha?

Penha se soltou puxando o braço com força.

— Vocês não morrerrão de vergonha, não precisam ter medo! Agorra me deixem em paz!

— Não até você responder nossas perguntas. Onde está o Sr. Boris? Você roubou o carro dele? Isso pode nos causar problemas!

— Somos ricos, pai. Ninguém pode fazer nada contra a gente.

O homem esfregou o rosto e falou com a voz cansada.

— É esse o problema, não é? Você sempre acha que nosso dinheiro vai te proteger.

— Isso é culpa nossa, não devíamos ter te criado dessa forma. Queremos a verdade, Penha. Isso é muito grave.

— Você está indo ver aquela assassina, não está? Não podemos permitir isso. Jarbas!

O chofer apareceu e segurou Penha pelos braços.

— Me solte agorra mesmo, seu atrevido! Quem você pensa que é parra me tocar?

— Leve-a para o seu quarto e tranque a porta. Nós vamos entrar em contato com a polícia e descobrir onde está o Sr. Boris.

— Não faça isso, pai! Amanhã eu vou devolver e tudo ficarrá bem!

— Você não quer contar a verdade. Não temos outra opção a não ser agir. Você ficará trancada em seu quarto e não sairá de lá até nos dizer onde está aquela assassina.

Não adiantou gritar e nem protestar. E por ter dado energia para Agnes, Penha também estava fraca para usar seus poderes e acabou sendo levada para seu quarto à força. A porta foi trancada e ela gritou e esmurrou até suas mãos sangrarem e a garganta ficar quase em carne viva, mas ninguém lhe atendeu.

— Não, eu não posso ficar aqui! Agnes precisa de mim! O que eu faço agorra

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Passava das dez da noite e nada da Penha aparecer. A cada minuto que passava, Sofia sentia o pavor aumentar. Parte dela dizia que não tinha o que temer, mas outra parte sabia muito bem o que Agnes poderia fazer se não tivesse mais ninguém para sugar. Bem, havia o Boris. Será que ela ia matar o irmão e poupá-la? Por mais ingênua que fosse, ela achava aquilo bem difícil. Ela até confiava na Penha, mas em Agnes de jeito nenhum. Aquela mulher nunca foi sua amiga.

De vez em quando ela ouvia passos pela casa e a sombra de alguém passou por debaixo da porta do seu quarto. Era Agnes e ela estava com fome.

— O que eu fui fazer? – a moça murmurou sentindo as lágrimas caírem de medo. Por que ela teve que se juntar com aquelas duas? Tudo o que ela queria era ter uma amiga, seria pedir demais?

Ela era uma menina solitária e Penha foi a única que se importou em falar com ela enquanto todo mundo lhe ignorava. Como gratidão, ela passou a proteger a amiga dos valentões do colégio que sempre implicavam com ela sem razão nenhuma. Na cabeça dela, as outras garotas tinham inveja da beleza da amiga, os garotos tinham raiva porque ela não dava bola para nenhum deles. Então Sofia protegia Penha de todos. Com ela por perto, ninguém ousaria levantar a mão para sua única amiga.

Tudo parecia ir bem até Penha começar a falar sobre pacto com uma tal de serpente, grande mudança no mundo, coisas estranhas que Sofia não entendia.

— O mundo nunca mais serrá o mesmo. Quando a Serpente voltar, eu terrei tudo o que sempre quis. Se você me ajudar e for boa comigo, vou te recompensar muito bem. Sua família serrá poupada e vocês terrão uma vida confortável como meus criados.

— Hã... muita gente vai morrer?

— Pessoas inúteis, não se preocupe com isso. Eles não se importam com a gente, então não vamos nos importar com eles. Tudo ficarrá bem se você continuar do meu lado.

Foi assim que Penha lhe convenceu. E nem foi tão difícil assim, bastava ajudá-la nos serviços que Agnes lhe dava e continuar lhe protegendo dos valentões e garotas encrenqueiras. Mas tudo pareceu desandar depois do que aconteceu com os membros do conselho. Sofia nunca imaginou que aquelas duas seriam capazes de tamanha atrocidade. Ela só pode assistir impotente enquanto Penha, Agnes e aquela Berenice faziam as coisas mais hediondas possíveis com aqueles velhos. Desde então ela passou a sentir medo, mas procurou manter a boca fechada ou podia sobrar para ela também.

Só que seu silencio não adiantou de nada. Ela estava acuada, longe de casa e sem ao menos um celular para pedir ajuda. Penha levou seu aparelho embora alegando o risco dele ser rastreado pela polícia. Era isso ou o receio de que ela ligasse pedindo ajuda?

“Não, Penha nunca faria isso. Ela é minha melhor amiga!”

Seria mesmo?

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Um cochilo poderia poupar suas energias, mas Agnes tinha receio de não acordar. Não tinha jeito, um daqueles dois teria que ser sacrificado naquela noite. Por que Penha não voltava logo? Teria acontecido alguma coisa? Já era bem tarde e talvez ela não tivesse como sair naquela hora.

Não adiantava ficar especulando. Por alguma razão, Penha não pode voltar e ela se viu obrigada a sacrificar Boris ou Sofia. Qual deles? Seu irmão intrometido ou o bicho de estimação da Penha? Boris ainda era seu irmão. Ela não teve receio de acabar com seus pais porque foram horríveis com a ela, mas ele nunca lhe tratou mal. E não tinha tanta energia quanto Sofia, que era bem mais jovem, forte e saudável. A escolha era cada vez mais óbvia.

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Ângelo sabia que era só questão de tempo até Agnes tentar atacar Sofia. A moça usava o broche com a marca de IOR, então a mulher não tinha como sugar sua energia tão facilmente. Só que aquele broche não era uma defesa absoluta.  Se Agnes conseguisse tocá-la, então tudo estaria acabado. Seria justo aquela moça morrer assim? Ela não tinha coração ruim, apenas foi manipulada e iludida. Bem... não cabia a ele julgar e só lhe restava torcer para que D. Morte tivesse pena dela quando chegasse no outro lado.

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A moça começou a andar de um lado para outro. Ela não queria enxergar, não queria admitir a verdade. Mas estava difícil continuar acreditando.

“A Penha sabe como a Agnes é e mesmo assim me deixou sozinha com ela.” Pensou. “Ela prometeu que ia voltar sempre pra trazer comida, mas e se ela não voltar?” não era preciso pensar muito para saber a resposta: Agnes ia sugá-la até não sobrar nada. Tudo ficou claro para ela. Penha a deixou ali para alimentar aquela mulher bizarra quando não tivesse mais nada disponível.

O pior de tudo foi fazê-la acreditar que só estava ali para fazer companhia. Ela acreditou que Penha se importava, mas era tudo mentira! Seu rosto ficou sombrio, o semblante carregado e seus punhos fecharam num aperto que teria quebrado facilmente os ossos de uma pessoa. Se elas pensavam que iam lhe pegar tão fácil, estavam enganadas.

Penha podia falar o que quisesse, mas ela sabia pensar muito bem e ia dar um jeito de sair dali. O primeiro passo era evitar que Agnes a tocasse.

“Ué cadê a chave do quarto? Droga, a Agnes deve ter tirado e eu não vi!” sabendo que Agnes não tinha muita força física, bastava se trancar em algum quarto para estar a salvo até que Penha chegasse. Se esconder no banheiro era uma opção. Por outro lado, quem garantia que ela estaria a salvo quando Penha chegasse? Depois de tudo, não dava mais para confiar. Outra ideia surgiu. Muito arriscado, mas podia ser sua única chance. Ela respirou fundo para criar coragem e saiu do quarto.

— O que pensa que está fazendo? – Agnes perguntou assim que ela colocou o pé para fora. Sofia procurou aparentar tranquilidade.

— Vou até a cozinha arrumar algo pra comer. Tô até fraca de fome!

— Então vá logo e volte para seu quarto.

Sofia entrou na cozinha e olhou ao redor. A porta dos fundos estava trancada com corrente e cadeado. Agnes deve ter tomado o cuidado de bloquear qualquer rota de fuga. Só dava para fugir pela porta da frente e para isso teria que passar por ela.

A moça fingiu ignorar isso e abriu a geladeira tirando de lá queijo e presunto para fazer um sanduíche e uma lata de refrigerante. Ela comeu rapidamente, pois precisava manter o disfarce, enquanto Agnes a vigiava de pé na porta da cozinha.

— Que coisa, a Penha não conseguiu voltar. – ela falou tentando puxar assunto.

— Ela voltará quando puder. Termine logo.

Ela deu mais algumas mordidas no sanduíche e voltou a falar.

— E o seu Boris? A gente não devia dar alguma coisa pra ele comer?

— Ele que fique com fome.

— É, mas com fome ele vai ficar mais fraco. Não custa dar alguma coisa pra ele comer, eu posso dar pão com presunto e queijo pra ele.

Agnes a olhou por um tempo e Sofia teve medo de que seu plano fosse descoberto. Após alguns segundos de silencio, que para ela pareceram durar horas, finalmente a mulher cedeu.

— Dê-lhe algo para comer e só. Não fale com ele e não o solte da cama. Ficarei vigiando a porta.

— Tá bom.

Ela fez outro sanduíche rapidamente, colocou num prato e foi até o quarto onde Boris estava trancado. A chave ainda estava na porta, pois Agnes não deve ter visto necessidade de escondê-la. Ela ia na frente com a mulher ao seu encalço. Quando chegou perto da porta, a moça virou-se e empurrou Agnes com força usando o prato como uma espécie de escudo para não tocá-la.

A moça era forte e como Agnes já estava muito fraca, ela voou quase um metro e se espatifou no chão ficando atordoada por um tempo. Sofia destrancou a porta rapidamente, tirou a chave e trancou pelo lado de dentro sabendo que Agnes não ia ter condições de arrombá-la.

— Sua miserável, você me paga! – ela ouviu a mulher gritando do lado de fora. – Abra! Abra agora!

Sofia ignorou os gritos e correu para soltar Boris da cama.

— O que está acontecendo?

— Fica calmo que a gente tá seguro aqui. – respondeu desamarrando o homem. Boris sentou-se com dificuldade, esfregando os pulsos estavam em carne viva por causa das suas tentativas de se soltar.

— Eu não contaria com isso, nós temos que dar um jeito de escapar!

O som de um tiro fez os dois pularem de susto e Boris bradou indignado.

— Maldição! Ela ficou com a minha arma!

Outro tiro foi dado e o homem se jogou no chão. Se continuasse daquele jeito, Agnes ia acabar entrando e Sofia deu um jeito de empurrar uma penteadeira bem pesada para bloquear a porta.

— A gente tem que sair daqui, mas pra onde vamos? Esse lugar é deserto e quase não tem ninguém.

— Se eu ainda tivesse meu carro...

— A Penha deixou uma caminhonete do lado de fora pro caso da Agnes ter que fugir. Ela até deixou a chave também.

— Então não podemos perder tempo!

Ela correu para a janela e bufou em frustração ao ver que tinha grades. Se bem a aquilo não era exatamente um problema para ela.

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Após descarregar o revólver, Agnes esmurrava a porta e gritava como louca. Ela girava a maçaneta, atirava objetos e nada acontecia. Sua força estava se esvaindo cada vez mais a ponto de ela mal se aguentar em pé.

— Sofia, abra essa porta! Eu não vou te machucar, só quero o Boris! Abra e não conto nada para Penha! – ela tentou prometer e ninguém respondeu, deixando-a mais zangada ainda.

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Penha estava deitada na cama com os olhos doendo de tanto chorar quando a porta do quarto abriu. Pensando que fossem seus pais lhe tirando do castigo, ela levantou-se rapidamente. Seu sorriso morreu ao ver dois policiais bem na sua frente. Seu pai estava junto com eles.

— Penha. Você precisa dizer a verdade. Onde está aquela assassina? Sr. Boris pode estar em perigo!

— Vão emborra e me deixem em paz! – a moça gritou atirando objetos no seu pai e nos policiais. Ela não estava com a menor paciência para inventar desculpas ou continuar mentindo.

— Você terá que ir até a delegacia conosco, mocinha. – o policial falou após se desviar de um vidro de perfume.

Penha se concentrou um pouco e um policial deu um soco no rosto de outro, que revidou enfurecido. Os dois começaram a brigar enquanto seu pai tentou apartá-los. Os três saíram do quarto rapidamente e a porta foi trancada de novo, para sua frustração. Pelo menos a deixaram em paz.

— Eu tenho que fugir agorra mesmo! – ela correu até a janela e pela primeira vez em sua vida lamentou por seu quarto ficar no terceiro andar da mansão. Não havia como pular e nem por onde descer.

Ela até tentou amarrar os lençóis da sua cama e ficou frustrada quando viu que não eram suficientes. Era preciso mais pano para fazer a corda e ela percebeu que teria de fazer um sacrifício supremo para fugir dali.

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Sofia abriu a janela e viu que as grades não eram tão grossas assim. Eram apenas barras verticais relativamente finas e ela segurou duas com força, entortando para os lados a fim de abrir uma saída. O espaço ainda era pequeno e ela continuou puxando e movendo as barras até arrancá-las. Suas mãos se feriram, mas a descarga de adrenalina bloqueou toda a dor.

As batidas na porta estavam enfraquecendo, mesmo assim Sofia não quis arriscar. Sair pela janela ainda era mais seguro.

— Como você faz isso? Boris perguntou espantado ao ver aquela moça entortando barras de ferro.

— Sempre fui bem fortinha. Era por isso que Penha andava comigo. – a moça respondeu após arrancar mais uma barra de ferro. O espaço era suficiente para que Boris fugisse, mas ela ainda não conseguia passar por ali.

— Tem espaço suficiente para eu passar.

— Mas...

— Preciso que confie em mim. Me ajude a pular essa janela. Quando chegar até o carro, vou dar um jeito de tirar Agnes de perto da porta. Assim você poderá sair e fugiremos juntos.

A moça hesitou. E se aquele homem saísse correndo lhe deixando para trás? Então ela ia ficar presa naquele quarto e desprotegida caso Agnes conseguisse entrar pela janela.

— Por favor, não temos muito tempo. Eu vou te ajudar, prometo.

— Não me deixa aqui, pelo amor de Deus! Eu não quero morrer!

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Do lado de fora, Ângelo viu Boris pulando a janela com a ajuda de Sofia. O homem correu pelo terreno e alcançou a caminhonete facilmente. Por um instante, o anjo pensou que ele fosse dar a partida e sumir dali, mas ao invés disso começou a buzinar várias vezes.

— O que esse maluco tá fazendo?


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