Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 46
Cumplicidade




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Penha acordou de sobressalto com o toque do celular. Ver o nome da Agnes na tela a deixou preocupada, pois a amiga não tinha o costume de ligar naquela hora.

— Agnes? O que aconteceu?

— Preciso da sua ajuda, rápido! Tenho que me esconder!

Mon Dieu! Onde você está?

— Estou em frente a sua casa. Depressa, Penha! A polícia está atrás de mim!

Quando ouviu a palavra “polícia”, Penha vestiu um roupão, agarrou uma bolsa que tinha pendurada ao lado da cama e correu para a frente da casa.

— O que houve? – perguntou quando se encontraram.

— Eu tentei raptar aquele moleque, mas o cretino do Cebola apareceu e estragou tudo! Depois Boris chegou com a polícia e...

— Agnes, eu te falei para não fazer isso agorra!

— O que eu faço? Eles não podem me pegar! E ainda tem a Berenice que ficou lá em casa!

— Acho que por enquanto, ela não terrá problemas. Temos que cuidar de você. Aqui, tome.

Dentro da bolsa tinha um pequeno mapa com um endereço anotado, algumas chaves e dinheiro. Ela havia preparado aquilo para o caso de alguma eventualidade. 

— Meus pais têm uma casa que fica nos limites da cidade. De carro deve dar uns vinte minutos, não tem erro.

— Tem certeza de que é seguro?

Oui. A casa está fechada e não tem nem caseirro tomando conta. Você pode ir parra lá.

— E você?

Ela olhou para Agnes e viu que seu rosto estava pálido e cansado. Aquilo significava fome.

— Eles não vão me incomodar, qualquer coisa meu pai me protege. Amanhã te levarrei comida, você deve estar faminta! – ela pegou as mãos da mais velha, que apenas disse.

— Eu vou te compensar, juro.

Uma fraqueza desagradável lhe atingiu enquanto Agnes suspirava profundamente. Se não fosse sua marca de IOR, ela teria sido totalmente sugada. Ainda assim era desgastante.

— Isso é suficiente, não quero te machucar. Agora eu vou. Por favor, não me deixe sozinha.

Clarro que não, cherry! Tome cuidado!

Agnes saiu correndo e Penha voltou para casa andando com dificuldade. Ela só alimentava a amiga em caso de extrema necessidade e aquilo a deixava exausta demais. Ia levar alguns dias para se recuperar. 

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Eram quase três da manhã quando Cebola chegou em casa morrendo de cansaço.

— Valeu pela carona. – o rapaz agradeceu ao Boris.

— Você se arriscou muito, jovem. Ela poderia ter te matado.

— Tive que correr o risco, era meu amigo que tava na mão dela.

— Ainda não entendo como você conseguiu chegar mais rápido que a polícia.

Cebola pensou depressa.

— Usei o Uber. – Não lhe pareceu que Boris acreditou, mas também não tinha como provar o contrário. – O que vai acontecer com o Toni?

— Ele tem que ficar sob proteção policial já que Agnes ainda está à solta e pode ir atrás dele de novo. Minha nossa, não acredito que ela fez aquelas coisas!

O homem pareceu ter envelhecido uns dez anos e Cebola chegou a sentir pena dele.

— A Penha deve saber de alguma coisa, ela sempre foi muito amiga da Agnes.

— Falaremos com ela. Quanto ao outro rapaz...

— O Manezinho? Ele vai poder voltar pra casa? A família dele não para de ligar e só não vieram atrás porque não sabem onde moro.

Boris pareceu pensar um pouco e respondeu.

— Creio que ele pode voltar para casa agora. – Cebola ficou surpreso.

— Sério mesmo? O pessoal da Vinha não vai criar problema não?

— Eles têm preocupações mais urgentes. Por precaução, vou dar um jeito para que o deixem em paz. Agora preciso ir, tenho muitas providências a tomar. 

O homem foi embora e Cebola entrou ansioso por sua cama.

— Rapaz, o que aconteceu? Você sumiu! Cadê o Toni? – Manezinho perguntou assim que Cebola pôs os pés em casa.

Apesar de cansado, ele explicou por alto o que tinha acontecido, deixando o outro morrendo de medo.

— E ela fugiu? Tamos lascados!

— Calma que ela tá escondendo da polícia, não vai querer vir atrás da gente. E o Boris falou que você vai poder voltar pra sua casa. Eles não vão mais pegar no seu pé.

Manezinho vibrou, deu vários socos no ar e por pouco não deu um abraço no Cebola.

— Demorô! Quero voltar pra casa hoje mesmo!

— Depois da aula a gente vê isso. Agora vamos dormir que eu tô no pó da rabiola!

—_________________________________________________________

Toni acordou para tomar o café da manhã que a enfermeira trouxe e se movimentava com dificuldade. Ele estava na cama do hospital, um legista já tinha feito exame de corpo delito e seus pais pretendiam registrar uma queixa contra Agnes. Como ele ainda era menor de idade, ela ia ter problemas sérios com a justiça.

— Vem, filho. Você precisa comer. – sua mãe falou colocando a bandeja na sua frente. Tinha pão, um pequeno bule com café, outro com leite, duas fatias de presunto e um blister de manteiga. Um bom café da manhã para um hospital.

— Meu estômago tá enjoado.

— Coma só o que aguentar. Você não pode ficar com fome.

Ela cortou o pão ao meio, colocou as fatias de presunto e colocou café com leite na xícara. Após a primeira mordida, ele viu que não estava tão enjoado assim e conseguiu comer tudo. Depois que a enfermeira levou a bandeja embora, Boris entrou no quarto.

— Bom dia, espero não estar incomodando.

— Bom dia. – sua mãe respondeu secamente e Toni viu ressentimento nos olhos dela. – Você não veio levar meu filho embora de novo, veio?

— Fique tranquila, senhora. Eu só vim saber como ele está.

— Como queria que ele estivesse? Olha o que a sua irmã fez com ele! É esse tipo de gente que trabalha na Vinha?

Toni tentou acalmar sua mãe antes que ela começasse a brigar de verdade.

— Foi ele quem chamou a polícia, mãe. Sr. Boris, eu vou poder voltar pra casa?

— Sim, mas terá proteção policial até que Agnes seja encontrada.

O mau humor dela se dissipou rapidamente e Toni deu um sorriso de satisfação. No entanto, uma coisa ainda o preocupava.

— Eu vou ter que voltar pra organização?

— Você quer isso?

— Não, de jeito nenhum! Quero sair daquele lugar horrível, estudar numa escola normal e ficar com a minha família. – ao ouvir aquilo, sua mãe o encheu de beijos.

— Finalmente você vai voltar pra casa, não estava mais agüentando você longe de nós! Seu pai vai ficar tão feliz!

— Será feito. Cuidarei da sua transferência e você poderá estudar onde quiser.

Os dois suspiraram de alívio e sua mãe falou.

— Ainda assim ele sofreu muito nas mãos de vocês e foi afastado da família. E agora isso? Com certeza vamos processá-los! – Boris não se abalou.

— Faça isso, é direito seu. O que eles fizeram é inadmissível. Agora tenho que ir, passar bem.

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Ele quase riu da cara de espanto que os dois tinham feito. Sim, que eles processassem a Vinha e tirassem o máximo de dinheiro que pudessem daquela organização. Se a família de Manezinho fizesse o mesmo, melhor ainda. Isso poderia dar coragem às outras vítimas.

Aquela organização causou sofrimento demais e ele estava farto de tudo aquilo. Uns bons processos, mais propaganda negativa, juntamente com a morte do Sr. Malacai e o sumiço do conselho ia enfraquecer a Vinha de tal forma que ela não conseguiria sobreviver. Com o fim daquela organização horrível, ele ia estar livre para viver sua vida como quisesse.

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Quando soube o que aconteceu com Toni, Denise quase arrancou as marias-chiquinhas de preocupação e desespero. Tanto que depois da aula deu um jeito de fazer Cebola levá-la ao hospital para visitá-lo. Não interessava se os crimes de Agnes iam dar a melhor fofoca dos últimos tempos, nem em contar vantagem sobre quando foram ao porão dela e sobreviveram. Nada mais importava para ela.

— Será que vão deixar a gente ver ele?

— Acho que vão.

Eles falaram com a recepcionista e como estava no horário de visitas, obtiveram permissão para irem até o quarto do Toni. O rapaz estava deitado na cama e muito abatido, o que fez o coração dela partir.

— Oi, fofo. Como você está? – ela perguntou carinhosamente após dar um beijo nos seus lábios.

— Agora estou bem. Ei, não fique assim, isso não foi nada! – ele tentou confortá-la ao ver que ela estava à beira do choro. E a Agnes? Já foi encontrada? – perguntou ao Cebola.

— Que eu saiba não. Aquela doida deve ter se escondido por aí. A polícia tentou interrogar a Penha, mas também não conseguiram nada. O pai dela tem grana, aí fica tudo complicado.

— Grrr! Se eu pego aquela piriguete safada!

— Melhor não. – Toni disse. – Eu não sei o que aquela mulher tem, mas eu quase morri nas mãos dela!

— Ela suga a energia das pessoas. – Cebola esclareceu. – É tipo um vampiro.

— Credo, isso lá existe?

— Eu vi o que ela fez com o Sr. Malacai. Ele ficou todo seco que nem uma múmia!

— Me pinta que eu to bege! E ela tentou fazer isso com você?

— Teria conseguido se o Cebola não tivesse chegado com o... er...

— O Manezinho? - Denise tentou completar.

— Não. – Cebola respondeu. – O nome dele é Ângelo, é um amigo meu de longa data.

— Você é amigo de um anjo?

Denise arregalou os olhos.

— Anjo? Sério mesmo? Daqueles com asas e auréola?

— Ele não tinha auréola e as asas eram bem pretas.

— Quêeeeeee?

Eles não puderam conversar mais porque a mãe do Toni chegou trazendo alguns pacotes com guloseimas, pois ela tinha colocado na cabeça que seu filho estava magro e desnutrido. Se dependesse dela, ele ia sair do hospital bem gordo. Toni apresentou Denise para ela como sua namorada, deixando-a com o rosto vermelho e Cebola como seu amigo, o que foi uma surpresa. Eles conversaram mais um pouco e foram embora quando acabou o horário de visitas.

— Ai, tricota tudo aí! Eu quero saber que história é essa de anjo.

— Eu tô indo encontrar com o pessoal na Super Lanchão. Se quiser pode ir. – Ele não tinha outra escolha, pois ela não ia deixá-lo em paz enquanto não soubesse de todos os detalhes.

E saber que seu Toni estava a salvo lhe deixou tranquila e disposta a fofocar mais do que nunca.

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Se esquivar do interrogatório da polícia foi mais difícil do que ela pensou. Mesmo com todo seu poder e influência, seu pai não teve como evitar que ela fosse chamada à delegacia para prestar depoimento. O jeito foi se fazer de inocente e fingir que não sabia nada.

Berenice também foi chamada e Penha falou que ela era uma velha amiga de Agnes que estava doente e se hospedou em sua casa para recuperar. Até que ser assustadora e desagradável tinha lá suas vantagens, pois o delegado acabou a dispensando porque ninguém aguentava mais ficar na mesma sala que alguém que parecia querer cortar suas barrigas e devorar as tripas.

— Onde Agnes está? Precisamos dela! – a mulher reclamou quando as duas puderam conversar à sós.

— Está escondida. Não te dirrei nada por segurrança.

— E quem vai cuidar da casa? Aquela empregada foi embora.

Quando soube o que Agnes tinha feito com seu filho, Rosália saiu do emprego sem pensar duas vezes e ainda bradou para quem quisesse ouvir pelo menos vinte formas diferentes de torturá-la. Era impressionante a criatividade daquela mulher. 

— A polícia interditou a casa, mas eu providenciarrei um hotel parra você.

— Contanto que a comida seja boa, não ligo. Mas anda logo que eu ainda estou muito cansada.

— Você não devia ter infectado os policiais que te acompanharram. Isso te cansou. – a mulher deu de ombros.

— Nem foi tão grave assim. Os imbecis vão sobreviver.

Penha hospedou Berenice em um hotel barato, porém limpo e confortável. Depois foi providenciar comida para Agnes e essa parte foi a mais fácil. Difícil foi arrumar um jeito de ir até a casa onde Agnes estava sem levantar suspeitas. Nenhum táxi quis levá-la ir com o chofer do seu pai poderia ser arriscado.

Mas como o tempo estava passando e ela sabia que a amiga não tinha nada para comer, ela resolveu correr o risco e pegou um dos carros do seu pai que era pouco usado e foi dirigindo com dificuldade. Ela nunca teve aulas de direção, aprendeu com Agnes e não tinha muita experiência.

E ainda havia outro problema: aquela comida não ia ser suficiente. Agnes precisava de muito mais e ela não queria vê-la sem levar algo melhor. Foi então que teve uma grande ideia e parou na beira da estrada quando faltavam só uns cem metros para chegar.

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— Então o nome dele é Ângelo?

— Um anjo de verdade?

— Que doido, véi!

Quando Cebola contou o que tinha acontecido naquela madrugada, todos ficaram empolgados e assustados. Ele tinha corrido um perigo muito grande e saiu vivo.

— Você enfrentou ela sozinho? – Mônica falou.

— Foi mal, não ia dar tempo pra chamar ninguém. E o Ângelo não tinha como carregar nós quatro, ele quase não aguentou me levar.

— A Srta. Drácula apertou mesmo seu pescoço? Você não sentiu nada?

— Mais ou menos, só uma leve tontura. A marca de IOR me protegeu, senão eu teria virado maracujá de gaveta agora.

— E o que vai ser do Manezinho?

— Vou levar ele pra casa ainda hoje. O Boris garantiu que ele não vai mais ter problemas com a Vinha.

Como aquele assunto estava bem encaminhado, eles discutiram um pouco sobre a criação do grêmio estudantil usando as anotações do Cebola como referência.

— Beleza, pessoal. A gente vai fazer o seguinte...

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Agnes já não aguentava mais de tanta fome. A casa era boa e tinha muito conforto, mas nenhuma comida. Se as coisas continuassem daquele jeito, ela ia acabar definhando até morrer. Ela decidiu sair para procurar comida antes que ficasse fraca demais, mas o som de alguém mexendo na porta a fez ficar em alerta e ela se escondeu em um dos quartos temendo que fosse a polícia e torcendo para que fosse uma presa fácil.

— É por aqui, monsieur. – ouviu a voz inconfundível da Penha falar.

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— Puxa, são muitos pacotes!

— Pode deixar em qualquer lugar. – Penha falou aliviada por terem chegado.

Ela tinha parado o carro não muito longe dali fingindo estar com algum problema. Levou algum tempo até que um carro parasse. Era um sujeito beirando uns trinta anos que a olhou de um jeito muito desagradável.

— Oi, moça bonita. O que aconteceu com o seu carro? – ela se fez de aflita.

— Ele parrou de funcionar e não sei o que fazer. Mon dieu! Minha casa fica perto daqui, mas tem muitos pacotes e sacolas parra carregar.

— Você não é muito novinha para ficar dirigindo?

— Meus pais estão viajando e eu estou sozinha em casa, precisava fazer as compras.

Um sentimento forte de náusea a invadiu quando os olhos daquele sujeito brilharam e ele precisou fazer um esforço para não lamber os lábios.

— Eu posso te levar no meu carro, tem espaço pras suas coisas. Aí você me serve um cafezinho pra pagar o favor. – o tom malicioso com que ele disse “pagar o favor” a fez desejar que Agnes acabasse com ele da forma mais dolorosa possível.

— Se o senhor puder me fazer essa gentileza, agradeço muito.

Ele ajudou a colocar as compras em seu carro e a levou até a casa. Ela teve que se encolher bem contra a porta para evitar qualquer contato físico com aquele miserável. Felizmente a viagem foi curta.

— Casa bonita essa. – ele falou olhando ao redor sem fazer menção nenhuma de ir embora. Penha trancou rapidamente a porta de entrada e falou em voz alta.

— Tem mais alguém que vai adorrar te conhecer. Agnes! Você está aqui?

Não foi preciso chamar duas vezes e o sujeito levou um susto quando uma mulher esquisita apareceu na sala. Ela tinha os cabelos desgrenhados, olheiras profundas, a pele seca e sem brilho e seus olhos brilhavam como os de uma fera contemplando sua presa.

— Mas você disse que... – ele não pode completar a frase e logo sentiu uma fraqueza muito forte. – O que é isso? Mocinha, eu...

— Desculpe a demorra querrida. Aqui está o seu almoço. A propósito, ele estava sendo muito abusado comigo. Querro que faça ele sofrer bastante!

— Com muito prazer! – uma voz meio rouca falou e o sujeito só teve tempo de gritar antes daquela mulher avançar sobre ele como uma fera faminta.

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O reencontro do Manezinho com sua família foi emocionante. Muitas lágrimas, abraços e beijos dos seus pais que choravam felizes por terem de volta o filho que chegou a ser dado como morto. Cebola e Cascão acompanhavam tudo felizes com o desfecho daquela história.

— Malditos ninjas cortadores de Cebola! – Cascão murmurou enxugando uma lágrima que tinha começado a cair.

Felizes por verem o amigo bem encaminhado, eles foram embora conversando sobre a loucura que estava sendo aquele semestre.

— Rapaz, falta pouco pra gente resolver essa parada sinistra. Como você acha que vai ser? – Cascão perguntou.

— Confesso que nem sei o que esperar. Pode não rolar nada ou pode rolar de tudo. É bom você estar preparado. Por enquanto a gente precisa cuidar do grêmio pra não deixar a Vinha tomar conta do colégio de novo.

— Eles afrouxaram na disciplina. Eu tava lendo gibi no corredor hoje e os inspetores nem tchum!

— Eles enfraqueceram bastante e a gente vai aproveitar. Nunca mais eles vão mandar no colégio de novo!

Ambos estavam muito empolgados com a perspectiva de um futuro sem a Vinha estragando toda a diversão. A vida ia voltar a ser feliz de novo.

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— Como não a encontraram? – Boris estava física e mentalmente exausto. – Vocês não seguiram aquela garota?

— Sim senhor, mas tivemos alguns problemas. Uma grande briga estourou do nada e tivemos que resolver. E eles ainda viraram o carro da polícia de rodas para o ar!

Foi uma situação estranha. Eles estavam seguindo Penha o dia inteiro, mas em determinado ponto perderam a moça de vista por causa de um tumultuo que se formou e ninguém soube ao certo de onde tinha vindo. Depois disso, eles não conseguiram encontrá-la.

Ele desligou o telefone e foi tomar uma aspirina para abrandar a dor de cabeça. Claro que Penha sabia onde sua irmã estava e não contava a ninguém, talvez fosse até cúmplice. Ou estaria apenas sendo manipulada? Ele tinha lá suas dúvidas, pois sempre observou o relacionamento delas e muitas vezes pareceu que Penha tinha alguma dominância. Ele sempre estranhou aquela amizade porque a moça tinha idade para ser sua filha. Agnes tinha uma afeição muito grande por ela e a moça a seguia por toda parte sendo capaz até de se sujeitar a algumas regras da vinha para poder ficar perto dela.

Seus pais não gostavam daquilo, Sr. Malacai criticava, mas elas resistiam a tudo isso e continuavam juntas. Ele nunca falou nada porque já tinha visto que elas eram só amigas mesmo. Talvez fosse uma forma de Agnes exercer seu instinto materno, já que nunca sem casou e não teve filhos. Ainda assim ele estava aterrorizado ao pensar no ponto em que aquela amizade estava chegando.

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“Pronto! Agora todo mundo vai ver!” Denise postou a última foto num site underground responsável por espalhar notícias sobre a Vinha. Eram denúncias e críticas que eles faziam abertamente. O site já foi derrubado várias vezes e sempre voltava. Só que daquela vez, com a Vinha enfraquecida, nada ia detê-los.

Quando esteve no porão da Agnes, Denise tirou fotos e até gravou um vídeo dos objetos que aquela maluca colecionava. Trinta minutos depois, a seção de comentários estava em polvorosa por causa das fotos e dos vídeos.

Aquilo ia se espalhar de forma viral por toda web e não havia nada que a Vinha pudesse fazer para impedir e ela se sentia muito orgulhosa por estar dando sua contribuição para a queda daquela instituição maldita que torturou o seu Toni. O próximo passo seria reunir denuncias de tortura, rapto e coação. Eles não iam resistir à mais aquele golpe!

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Agnes estava deitada no sofá enquanto Penha guardava as compras que tinha trazido. A energia daquele homem não era assim um manjar dos deuses, mas foi suficiente para lhe ajudar a se recompor.

— Se sente melhor, cherry?

— Sim, obrigada. Você correu um risco muito grande trazendo aquele homem para cá.

— Não se preocupe, darrei um jeito de esconder o carro dele.

A mais velha ainda estava pálida e parecia cansada, fazendo de tudo para não gastar muita energia. Penha sabia que ela precisava de mais.

— A barreira está enfraquecendo. – Agnes falou. – Eu sinto que estou sendo cada vez mais sugada por causa do pacto com a serpente. Você também deve estar sentindo o mesmo.

Oui, eu sinto. Tudo ficarrá bem, não é? 

— Sim. Quando a serpente voltar, ela irá nos recompensar de forma que nem sonhamos e teremos tudo o que queremos!

— Quem sabe não arrumamos namorrados bonitões?

— Penha!

Ela riu ao ver a amiga de rosto vermelho. Apesar de estar beirando os quarenta anos, Agnes ainda tinha muitos pudores, fruto da educação castradora que recebeu. 

— Tenho que buscar o carro do meu pai e dar um jeito de esconder o daquele imbecil.

— Você precisa voltar para casa antes que percebam sua falta.

— Meus pais nunca percebem minha falta. Não se preocupe, ficarrei bem. Se puder, trarrei mais um lanchinho parra você!

—_________________________________________________________

Nena estava mais disposta naquele dia. Até o ar estava mais agradável do que de costume.

— A barreira está enfraquecendo. – ela murmurou enquanto enrolava a massa para fazer pão. Se tudo desse certo, a barreira ia ser normalizada e tudo ia voltar ao normal gradualmente.

Quando terminou de sovar a massa, ela colocou dentro de uma tigela e cobriu com um pano para deixá-la crescer. Sua mente parecia trabalhar melhor também e ela pegou um pedaço de papel para fazer algumas anotações antes que tudo sumisse da sua memória de novo. A barreira estava fraca, mas ainda era forte o bastante para dificultar seu trabalho.

— Agora me lembro... ah, devia ter falado isso para o Cebola antes! Ele vai precisar dessa informação.

Ela podia pegar o telefone e ligar para a Magali. Porem havia o medo de eles estarem sendo vigiados pela Vinha. Ou não? Pelo que ela tinha visto nos noticiários, a organização estava atravessando um caos muito grande com o sumiço do conselho e a morte do Sr. Malacai. E para piorar, várias instituições estavam se rebelando e denúncias de maus tratos e tortura brotavam de todos os lados. Advogados de todo país estavam trabalhando como nunca para processar a Vinha e arrancar um bom dinheiro deles. Com isso, eles devem ter enfraquecido muito. Mas ainda podiam ser uma ameaça.

Olhando para a tigela onde descansava a massa do pão, ela teve uma ideia e pegou o telefone.

—_________________________________________________________

— Alô? – Magali atendeu o telefone com o Mingau no colo.

— Magali?

— Oi, tia! Como vai?

— Tudo bem. Aqui, eu fiquei de passar uma receita para a sua mãe, mas acabei esquecendo. Pode anotar?

— Peraí. – ela correu para pegar lápis e papel. – Pode falar.

Sua tia falou os ingredientes e modo de preparo de uma receita bem simples de macarronada, deixando a moça desconfiada de que havia algo a mais naquela conversa. Sua mãe sabia fazer macarronada muito bem.

— Eu devia ter falado, mas andava tão cansada! Acredito que nem tenho dormido direito?

— Não? Por quê?

— Ah, não sei menina. Eu sempre acordo às 3 da manhã totalmente morta de sono, mas não consigo dormir. Vê se pode? Eu acordo nessa hora morta de cansaço e curso a pegar no sono de novo! E é sempre as 3 da manhã!

Nena repetiu várias vezes a mesma coisa, ressaltando que sempre acordava as 3 da manhã e naquela hora ela ficava morta de cansaço. Por fim a moça entendeu o enigma.

— Puxa, tia, que coisa chata.

— E é mesmo. Ah, antes que me esqueça, por acaso você vai a alguma festa no dia das bruxas? Vocês jovens precisam dessas coisas.

— Ainda não sei.

— Se for convidada, não deixe de ir! Eu ia adorar uma festa assim também, mas não tenho idade e com certeza vou ficar um caco depois de acordar às 3 da manhã porque nessa hora fico morta de cansaço.

Elas conversaram mais um pouco antes da moça desligar e chamar Cascão e Mônica para irem até a casa do Cebola. Havia mais uma informação nova que todos precisavam saber.


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