Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 44
O caos se instala




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Agnes ficou bem tonta por causa do soco e não teve como correr atrás do rapaz. Como não havia mais nada para fazer ali, ela pegou a bengala do Sr. Malacai, saiu correndo e ligou para o celular da Penha.

— Já acabei com o velho. Vá até meu carro, precisamos fugir!

Oui. Estarrei lá.

Para não perder tempo, ela saiu pela portaria mesmo e correu até o local onde tinha estacionado o carro. Penha já estava lhe esperando e as duas saíram dali a toda velocidade.

Mon Dieu! O que aconteceu com o seu rosto? – a resposta pareceu um rosnado furioso.

— Aquele moleque desgraçado fez isso. Eu vou acabar com a raça dele, juro que vou! Ele vai morrer do pior jeito possível!

A mulher guiou o carro até sua casa resmungando várias formas de torturar aquele rapaz atrevido. Aquilo não ia ficar impune de jeito nenhum!

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Quando viu a paisagem familiar do bairro do Limoeiro, Toni respirou aliviado e deu o sinal de parada em uma rua que ele sabia ser perto da casa da Denise. Passava da meia noite e ela já devia estar dormindo, mas ele não tinha outra opção e começou a jogar pedrinhas em sua janela. Levou mais de cinco minutos até a janela abrir e Denise aparecer bocejando e com os olhos inchados de sono. Ao vê-lo, num instante ela acordou.

— Toni do céu! O que tá fazendo aqui?

— Eu... eu... Denise... – ele estava prestes a desmoronar e felizmente ela entendeu percebeu.

— Dá a volta que eu te encontro lá nos fundos.

Ele fez o que ela pediu e pouco depois Denise apareceu na porta da cozinha.

— Ei, gato! O que foi? Nossa, você tá gelado e tremendo!

— Uma coisa horrível aconteceu! O Sr. Malacai, ele... ele...

Quando se lembrou do que tinha visto no hospital, seu estômago se revirou terrivelmente e ele caiu de joelhos no chão despejando tudo o que tinha jantado naquela noite.

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Quando chegaram, Penha correu para a cozinha e arrumou gelo para Agnes colocar em seu rosto.

— Eu mato aquele miserável! Ele não perde por esperar! – a mulher falava o tempo inteiro e ela achou melhor não discutir por enquanto.

— Aqui está. Pressione contra o seu rosto parra não ficar roxo.

Agnes pegou o saco de gelo e fez uma careta quando aquela coisa fria encostou no local onde o moleque tinha batido.

— Ele viu o que você fez?

— Não sei. Ele escapou antes que eu entrasse no quarto. Consegui encontrá-lo no corredor e tentei acabar com ele. Foi quando o imbecil me deu esse soco. Vou acabar com ele nem que seja a última coisa que eu faça!

— Você terrá sua chance. Mas agorra precisa se preparrar porque já devem ter visto que o velho virrou uva-passa. Vão te ligar a qualquer momento.

— Malditos, eu não aguento mais! – o saco de gelo foi jogado para longe num acesso de fúria. Com toda paciência, Penha foi buscá-lo e lhe entregou novamente.

— Dá parra disfarçar com maquiagem, mas é bom que seu rosto não fique com marca nenhuma ou eles vão desconfiar.

— Tira isso de perto de mim! Berenice dará um jeito nisso amanhã. – ela falou afastando a mão da Penha com um safanão.

Oui, clarro. Quer que eu te faça um chá? Você está muito nervosa.

— Não quero chá! – Agnes falou mais alto e fechou os olhos tentando se acalmar. – Eu não estou bem, Penha. Melhor você ir para o seu quarto e ficar por lá. Estarei melhor quando amanhecer.

— Está bem, cherry. Me chame se precisar de alguma coisa.

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— Calma, tá tudo bem. Eu tô aqui. Vou te trazer copo d'água e... – ele segurou a mão dela com força.

— Não me deixa sozinho!

— Tá bom... você quer falar o que aconteceu?

Foi com muito custo que ele conseguiu falar o que tinha acontecido. Denise ouviu tudo chocada e com os olhos arregalados.

— Que perigo você correu! O Cebola tava certo mesmo.

O rapaz a olhou surpreso.

— Por quê?

— A gente já esteve na casa dela uma vez. Escondido, viu? Daí fomos pro porão e vimos um monte de objetos. Tipo carteira, chaveiro, essas coisas. Aí o Cebola achou um isqueiro que foi do primo dele.

O rapaz entendeu.

— O primo dele também apareceu morto. Vi nos jornais. E você esteve no porão da casa dela sua doida?

— Ela nem tava em casa. Bom, ela não vai ter como te achar aqui. Pelo menos não nessa hora. Vem, vamos entrar.

— E os seus pais?

— Eles têm sono pesado e nem vão notar. Você não pode ficar aqui fora.

Ela andou pela casa pé ante pé levando-o pela mão. O rapaz a seguia com o rosto queimando de vergonha ao imaginar como seria constrangedor se os pais dela acordassem e pegassem os dois naquela situação. Denise trancou a porta do quarto por segurança.

— Você precisa tentar dormir, passou por muita coisa.

— Onde eu vou dormir?

— Comigo, de conchinha. – e deu uma risadinha abafada ao ver como o rosto dele ficou vermelho.

Ela estendeu no chão o colchonete que levava para a casa das amigas quando tinha festa do pijama e arrumou um travesseiro para ele. Não precisou de coberta porque fazia calor.

— Você pode dormir aqui. Amanhã a gente vê o que faz. Tenta dormir, você precisa.

— Obrigado, de verdade.

— De nada, lindo. – ela deu um beijo no rosto dele e os dois foram dormir. Pelo menos Denise, já que ele teve muita dificuldade para conciliar o sono.

A todo instante a imagem de Agnes agarrando Sr. Malacai pelo pescoço e secando o corpo dele vinha a sua cabeça e no meio da madrugada ele acordou aflito e suado quando teve um pesadelo onde ela tentou matá-lo. Ele não ia conseguir dormir direito por muito tempo.

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Penha estava certa. O relógio mal passou de uma da manhã quando o telefone tocou fazendo-a despertar com vontade de matar alguém.

— Alô... – atendeu com a voz cansada e irritada.

— Agnes, venha para a sede agora! Aconteceu uma tragédia!

— Que tragédia? – sua mente ainda estava um tanto anuviada pelo sono.  

— O Sr. Malacai! Me ligaram dizendo que ele sofreu o mal da múmia.

— Como? – daquela vez ela conseguiu fingir surpresa.

— Venha logo, estamos com um grande problema!

— Está bem...

Morrendo de raiva e sono, ela teve que se levantar e levou um susto quando se olhou no espelho e viu o hematoma se destacando muito sobre sua pele excessivamente branca. Maquiagem nenhuma ia cobrir aquilo e foi preciso travar uma batalha para acordar Berenice a fim de que aquela criatura desse um jeito em seu rosto.

— Acha que o rapaz contou alguma coisa parra eles?

— Não foi o que me pareceu pela voz do Boris. Vou ter que arriscar de qualquer forma, não comparecer pode despertar suspeitas.

D'accord (tudo bem), mas tome cuidado oui?

Depois que Agnes saiu, Penha voltou para a cama e resolveu conferir o seu celular. Nenhuma ligação ou mensagem dos seus pais. Provavelmente nem perceberam que ela dormiu fora. Era sempre assim. Seus pais lhe davam pouca ou nenhuma atenção. Contanto que não causasse problemas, podia fazer o que quisesse que eles não se importavam. Foi por isso que se apegou tanto a Agnes, pois era alguém que lhe dava atenção e sabia entendê-la. Era como a irmã mais velha que ela nunca teve.

Penha se acomodou de novo em sua cama. Era um quarto bonito, digno de uma princesa, que Agnes fez para ela. Depois que a Serpente retornasse para mudar o mundo, as duas iam viver juntas e ser amigas para sempre. Seus pais nunca se importaram com ela, então por que se importar com eles? Apesar de tudo, eles não iam sofrer nenhum mal. Isso era bem mais do que mereciam.

A moça ficou olhando para o teto lembrando de como a amiga estava mesmo zangada. Na maioria das vezes, ela conseguia acalmá-la, mas havia momentos em que o melhor era ficar longe e esperá-la se acalmar sozinha. Penha nunca teve medo, pois apesar de tudo Agnes era cuidadosa com ela e nunca lhe fez nenhum mal.

Esperro que não causem problemas parra ela...” Agnes podia se tornar uma força destrutiva quando estava com raiva de verdade e não era nada bonito de se ver. Apesar de tudo, Penha tentava se manter otimista. Quando o dia chegasse, tudo ia dar certo e Agnes ia ficar feliz novamente.

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Toni acordou sobressaltado e levou um tempo até lembrar que tinha dormido no quarto da Denise. A moça não estava por perto e ele não tinha como sair dali para lhe procurar. De onde estava, ele ouvia vozes e conversa.

Pouco depois, a porta do quarto abriu e seus olhos ficaram esbugalhados quando a moça entrou enrolada numa toalha. Ele tratou de virar o rosto para o outro lado reclamando entre dentes.

— Você devia ter me avisado! 

— De que jeito? Gritando do outro lado da porta? Meus pais nem sonham que você tá aqui! Agora fica quieto que vou trocar de roupa. Não espia, viu?

— Claro que não!

Ele não precisou esperar muito e quando disse que podia se virar ela já estava com o uniforme, só calçando os sapatos.

— Eu vou sair pra ir a escola e despistar meus pais, mas logo eu volto.

— De jeito nenhum! Eu devo estar sendo procurado. Se você não aparecer na escola, vão desconfiar!

— E você?

— Eu vou ficar bem, não se preocupe. Tem o endereço da casa do Cebola?

— Tenho, só que ele não vai estar lá.

— O Manezinho sim. Vou dar um jeito pra ver se ele abre a porta pra mim.

— Tá bom, mas toma cuidado!

— Pode deixar. Eu preciso sair agora, antes que seus pais vejam.

Denise teve que fazer malabarismo para que Toni pudesse sair pela porta dos fundos, se aproveitando de um breve momento quando seu pai foi tomar banho e sua mãe fazer a maquiagem para ir ao trabalho. O caminho ficou livre por um tempo e ela o levou para a porta dos fundos. Dali ele pode sair para a rua e correr para a casa do Cebola.

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Boris precisou ir até a cantina para tomar a enésima xícara de café. Que loucura! Desde que o corpo do Sr. Malacai tinha sido encontrado seco que nem uma múmia, ele não teve um minuto de sossego. Pouco depois Agnes apareceu com grandes olheiras e expressão um tanto envelhecida.

— Não entendo como isso foi acontecer. – a mulher falou se servindo de café também.

— Eu muito menos! Seja lá o que aconteceu, pegou até os seguranças. É uma loucura!

— O que vai acontecer com a Vinha? Sr. Malacai está morto e os membros do conselho desapareceram.

Ele não soube o que responder. Por mais competente que fosse, Agnes não ia conseguir administrar tudo sozinha e ele não pretendia fazer parte daquilo. Ser diretor de colégio já era ruim o suficiente.

— Senhor, senhorita, já trouxeram as gravações das câmeras de segurança do hospital. – um secretário anunciou entrando na cantina.

— Já não era sem tempo. Vem, vamos ver o que aconteceu!

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Eles foram passando as imagens e Agnes tentava se manter tranquila na esperança de que ninguém fosse lhe reconhecer.

Tudo o que eles viram foi uma enfermeira sensual e espalhafatosa andando pelos corredores e fazendo desmaiar algumas pessoas que tiveram o azar de aparecer em seu caminho.

— Essas pessoas, o que aconteceu com elas? – ela perguntou fingindo espanto.

— Dizem que estão bem. – o secretário respondeu. - Um dos seguranças foi para a UTI, mas não sei se ele vai aguentar. O outro morreu.

Boris mandou parar a imagem e ampliar.

— Quem é essa mulher? – ele perguntou para si mesmo. – E como ela fez isso com as pessoas?

— Talvez algum tipo de gás venenoso? – o policial sugeriu. – De qualquer forma, ela deve ser a responsável pelo mal da múmia. Veja o que ela fez com aqueles dois pobres coitados!

— É isso que eu não entendo! Ela só tocou neles e não vi nada nas mãos dela! Como pode isso?

O policial não soube responder. Há anos ele se debatia com esse mistério. Pelo menos havia uma chance de resolver aquilo, embora eles nem fizessem idéia de como encontrar aquela mulher.

O vídeo continuou e depois de abater os seguranças, a mulher entrou no quarto. Algum tempo se passou e eles viram o secretário do Sr. Malacai saindo de outro quarto. Ele parou para olhar os seguranças por um tempo, a porta do quarto abriu e a tal mulher apareceu e agarrou seu pescoço. Por um momento ele pareceu ter ficado tonto, mas depois deu um soco que a jogou no chão e saiu correndo.

Logo em seguida a mulher saiu correndo também segurando a bengala do Sr. Malacai e falando com alguém no celular. O vídeo foi visto várias vezes sem que nenhuma pista importante fosse encontrada.

— Pelo menos Antônio conseguiu fugir. Por acaso ele foi encontrado? – Agnes arriscou a pergunta e Boris a olhou com expressão cansada.

— Até agora não.

— Esse rapaz pode ser a chave para esse mistério. – O policial disse. – Imagino que ele deve ter testemunhado o que aconteceu com o Sr. Malacai e felizmente conseguiu fugir. Temos que encontrá-lo de qualquer jeito, pode ser nossa única pista.

Agnes não falou mais nada e agradeceu Penha mentalmente pelo trabalho bem feito, pois nem mesmo Boris a reconheceu. O passo seguinte era encontrar aquele cachorrinho, mas ele estava desaparecido e ela nem fazia ideia de onde poderia estar. Mas havia uma forma de descobrir.

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Era hora do recreio e eles estavam sentados no gramado ressecado fingindo estudar.

— Vocês notaram como os inspetores estão esquisitos hoje? – Cebola perguntou. – Até mais do que ontem!

— Estão mesmo. – Mônica disse. – Parece que eles não estão ligando pra mais nada. Um deles viu o Jeremias mexendo no celular e nem se importou!

— Será que tem a ver com o sumiço dos velhos do conselho? – Cascão perguntou. – Vai ver eles acham que não precisa trabalhar mais.

— Pode ser. – Magali concordou. – Parece que não tem mais nenhuma autoridade na Vinha.

Cebola refletiu um pouco e viu que a amiga estava certa.

— Se os líderes sumiram de uma vez só, então é claro que todo mundo deve estar perdido. A organização deve ter enfraquecido, o que pode ser bom pra nós. É uma garantia de que não vão atrapalhar a gente.

— E vocês não sabem da última!

Os quatro levaram um susto quando Denise se materializou perto deles, sentando-se entre Mônica e Cebola na maior cara de pau.

— O que tá pegando? – ele quis saber e ela abaixou bem o tom da voz e se inclinou para frente. Os outros lhe imitaram.

— Gente, vocês não vão acreditar! O Sr. Malacai bateu as botas ontem a noite!

Choque total. Por essa eles não esperavam.

— Morreu? Mas como? – Cebola falou num fio de voz.

— Foi do mal da múmia! Dá pra imaginar?

— Então é por isso que os inspetores estão estranhos hoje. – Magali refletiu.

— Engraçado que não vi nada nos jornais! Como você soube? – Mônica quis saber.

— Foi o Toni quem me contou. Vocês não sabem do perigo que ele passou ontem!

Ela contou para eles o que Toni tinha lhe contado, deixando todos apreensivos.

— Me quebrem um ovo que eu tô chocada! Bem que o Cebola falou que era ela quem fazia essas coisas! – Denise parecia mesmo preocupada.

— Véi! E a gente esteve no porão dela! Mó doideira!

Cebola também estava preocupado.

— A Agnes deve estar que nem doida atrás dele! Onde ele tá, Denise?

— Ele não quis ficar na minha casa, então foi pra sua encontrar com o Manezinho.

— Ele tá arriscando demais! Se a Agnes pega ele, pega o Manezinho também.

— Mas ele tomou muito cuidado. E não acho que ela vai adivinhar que ele foi pra sua casa, né?

Ele tinha sérias dúvidas e achou melhor não subestimá-la, pois tinha certeza de que ela o reconheceu no dia que invadiu a organização e quebrava a cabeça tentando imaginar por que não contou a ninguém sobre sua identidade. Com certeza tinha gato naquela tumba.

— E será que o Manezinho vai abrir a porta pra ele? – Cascão interrompeu seus pensamentos. – Você cansou de falar pra ele não abrir a porta pra ninguém!

— Aí eu não sei, imagino que pro Toni ele vai abrir sim. De qualquer forma tenho que manter os dois bem escondidos.

— Você vai mesmo ajudar o meu boy magia? – todos olharam para ela com cara de espanto e seu rosto ficou vermelho. – Er... vai ajudar o Toni? – Cebola respondeu.

— Vou sim, fica tranquila. Se ninguém foi me procurar lá em casa, também não vão procurar por ele. Ainda assim a gente precisa ficar de olho e... o que tá pegando?

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A casa toda estava fechada, com as cortinas cerradas e os dois conversavam no porão onde era mais seguro. Foi com muita sorte que Manezinho conseguiu identificá-lo e abrir a porta para ele, senão ia ficar no terreiro até o Cebola chegar da escola.

— Fala sério, nunca imaginei uma coisa dessas! – o rapaz falou depois que Toni lhe contou tudo. Se soubesse que seu desejo ia se realizar, teria pedido para ganhar na loteria.

— Nem eu! Aquela mulher é o diabo em pessoa, só pode!

— Se o velhote morreu, finalmente vamos poder voltar pras nossas casas!

— Você talvez, mas eu tenho que ficar escondido.

— Por que não voltou pra organização e pediu ajuda?

— Porque é pra lá que aquela mulher vai todo dia! Eles nunca iam acreditar se eu dissesse que foi ela quem matou o Sr. Malacai. E também porque preciso entregar uma coisa pro Cebola. Depois eu vejo o que faço.

Na verdade, ele estava morrendo de medo porque viu o que aquela mulher era capaz de fazer e temia pelos seus familiares. Talvez fosse melhor ficar longe de casa por um tempo.

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A conversa foi interrompida pelos gritos de um aluno. Mais adiante eles viram um inspetor dando vários tapas num rapaz sabe-se lá por qual razão. Mônica ficou espantada.

— Credo! Eles nunca fizeram isso antes!

— Não mesmo. – Cebola concordou. – Acho que eles ficaram perdidos e não sabem mais o que fazer.

— Mas eu sei! – ela levantou-se e foi até o inspetor antes que alguém pudesse lhe impedir. – Ei! Você! Por que não briga com alguém do seu tamanho?

— Olha lá como fala ou eu te mando pra diretoria! – O sujeito ameaçou ainda segurando o braço do rapaz com força.

— Então manda que eu quero ver!

— Sua abusada, vou te mostrar com quem você está falando!

O inspetor tentou dar um tapa no rosto dela, que segurou sua mão com força e torceu seu braço. Os outros alunos aplaudiram e o inspetor saiu dali esfregando o braço. Outros vieram ajudar e Magali se colocou ao lado dela pronta para a briga. Cascão não ficou atrás. Já Cebola teve outra ideia.

“É agora ou nunca!” pensou antes de partir para o ataque.

— Vocês não podem fazer isso com a gente! – o rapaz falou alto para que os outros alunos também ouvissem. – Nós temos nossos direitos e isso que vocês estão fazendo é crime! Vamos denunciar vocês!

— Seu moleque, acha mesmo que vai adiantar? – outro inspetor disse com cara de cínico.

Ele assumiu uma postura corajosa e falou para os outros alunos torcendo para não ficar no vácuo e passar vergonha.

— Se nós deixarmos, eles vão continuar tratando a gente que nem lixo! Nós temos que nos unir!

Os outros alunos ficaram em silêncio e alguns deram um passo para trás. Mônica tentou ajudá-lo.

— Separado ninguém dá conta mesmo, mas juntos somos muito mais fortes!

— É isso mesmo cambada! – Magali também falou enérgica. – Eles só botam moral porque a gente deixa.

— Daqui a pouco eles vão amarrar bolas de ferro nos nossos pés. – Cascão disse. – Eles estão cada vez mais abusados e vai piorar mais ainda se a gente deixar!

— Calem a boca agora mesmo! Vocês vão para a diretoria por perturbação da ordem pública!

Os alunos, que até então estavam quietos, foram avançando aos poucos. Cascuda falou para as amigas.

— Eles estão certos! Olhem o que eles obrigaram a gente a fazer com nossos cabelos. – daquela vez Carmem se revoltou.

— Eles me obrigaram a cortar e tingir meus lindos cabelos! Ah, isso não vai ficar assim não!

— O Cebola tá certo! – Jeremias também se pronunciou . – Tá na hora da gente parar de aceitar as regras deles!

— Essas regras são um saco! – Nimbus gritou.

Cebola viu que pouco a pouco os alunos estavam criando coragem, para desespero dos inspetores. Em poucos minutos, todos começaram a gritar, tirar os paletós dos uniformes e os inspetores não conseguiram mais estabelecer a ordem.

Os professores ficaram apavorados e o vice diretor sem saber o que fazer. Cebola reuniu alguns colegas e contou para eles seu plano.

— Nós temos que montar um grêmio estudantil! Só assim pra gente poder se organizar melhor e lutar pelos nossos direitos!

— Vamos criar nosso grêmio! – Denise incentivou a todos. – Cebola pra presidente! Vai Cebola!

Os outros alunos continuaram gritando junto com ela. No início o rapaz ficou receoso, mas acabou gostando. O cargo de presidente combinava muito com ele.

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— Como é? Eles fizeram o quê? – Boris falou ao telefone. Do outro lado, estava o inspetor-chefe que parecia desesperado.

— Uma revolta geral, senhor! Não estamos conseguindo conter os alunos!

— Eu já estou indo para o colégio!

Ele desligou o celular e entrou no carro. O que mais faltava acontecer?

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A organização estava um caos. Com a morte do Sr. Malacai e o sumiço dos demais membros do conselho, ninguém mais sabia o que fazer e a notícia tinha espalhado depressa. Vários colégios, orfanatos e outras instituições estavam se revoltando contra a Vinha.

Agnes não se importava com aquilo nem um pouco, pois estava adorando ver aquela instituição maldita desmoronar. Mesmo que se importasse com alguma coisa, aqueles idiotas jamais iriam lhe dar ouvidos por ser mulher e não ter mais o apoio do Sr. Malacai, então por que perder tempo com eles? Foi pensando nisso que ela decidiu ir para casa, pois tinha um assunto pendente para resolver.

— Chegou cedo hoje... – Rosália falou quando Agnes entrou em casa e deixou a bolsa de lado.

— Estou exausta e preciso de descanso. Como está Berenice? – a empregada deu de ombros.

— A mesma coisa. Ela só levanta para comer e ir ao banheiro. Durante o resto do dia, dorme.

— Melhor assim. Não a perturbe. Eu vou descansar também.

Quando Rosália foi cuidar do serviço, ela correu até o porão e acendeu a vela de sempre. Assim que as sombras começaram a dançar ao seu redor, ela falou em voz suplicante.

— Eu imploro a vocês um favor. Preciso encontrar alguém com urgência.


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