Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 29
Ramificações




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786802/chapter/29

A hora da saída foi cheia de choro e lamentações.

Cebola nem conseguia mais identificar as garotas, pois estavam todas praticamente iguais. Carmem ficou irreconhecível com aqueles cabelos pretos e cortados pela metade. Era bem provável que ela estivesse com um princípio de desidratação de tanto chorar. Ao lado dela, Irene e Isa choravam copiosamente, assim como Maria Mello que também teve seus cabelos cortados. Isso aconteceu com todas as garotas que tinham cabelos considerados muito longos.

— Mônica, você tá bem?

— Eu tô, pega nada não. Minha mãe é que vai virar bicho quando ver o que fizeram com o meu cabelo!

— Credo, véi! O que mais falta pra esse povo fazer?

— Daqui a pouco vão mandar a gente usar burca. – Magali respondeu mal humorada. Felizmente seus cabelos foram poupados porque eram pretos e não estavam muito compridos. Mesmo assim ela lamentava pelas garotas que não tiveram a mesma sorte.

— Podem esperar que vai ter muito mais! – uma voz falou e eles quase não reconheceram Denise, que estava com os cabelos pretos e presos num coque, nova regra do colégio.

A ex-ruiva contou para eles que pretendiam queimar os livros da biblioteca, deixando todos revoltados.

— Pindarolas, temos que fazer alguma coisa! – Cebola bradou socando a palma de uma mão com a outra. – Eles estão passando dos limites!

— Fazer o quê? Nem bater neles a gente pode! – Mônica lamentou, assim como Magali.

— Pela força bruta a gente não vai conseguir nada. Temos que falar com nossos pais.

Denise virou os olhos, pois ainda não gostava da presença daquela magrela. Mas o caso era de urgência.

— Nossos pais vão dizer que é só exagero. Tá, uns e outros podem até achar ruim, mas a maioria nem vai ligar. Essa organização tá tomando conta de tudo. Sabiam que tiraram o tio do DC do cargo de delegado?

— Sério? – todos falaram ao mesmo tempo.

— Claro! Não notaram como ele tem andado bonzinho ultimamente? É porque não tem mais o titio pra proteger!

Eles conversaram mais um pouco tentando encontrar uma solução e nada parecia bom. Os alunos estavam com muito medo para fazer uma manifestação e eles não sabiam como pedir ajuda dos adultos. Se saíssem contando para todo mundo sobre a queima de livros, a direção da Vinha poderia dizer facilmente que é só um boato. Quem ia conseguir provar algo?

E para piorar Cebola tinha empacado na sua investigação e não conseguia descobrir mais nada sobre o desequilíbrio.

“Droga, se o Paradoxo não me ajudar direito nessa, eu vou levar a vida inteira pra descascar esse abacaxi!”

—_________________________________________________________

— Ele fugiu de novo? – Rosália perguntou. – Como não conseguiram pegá-lo? – mais conversa do outro lado da linha e ela desligou o celular com o coração apertado. Por mais que odiasse a idéia de ver o filho preso, isso era melhor para ele do que viver como um criminoso foragido. Talvez um tempo na cadeia pudesse colocar juízo na cabeça dele.

Ele sempre foi uma criança difícil e ela pensava que era falta do pai, por isso tentava lhe compensar como podia com carinho e presentes. Seu marido não valia nada, mas pelo menos cumpria suas obrigações com o sustento da casa e também dava presentes ao filho, embora não desse nenhum afeto.

Ela suspirou ao lembrar do seu casamento. Tinha se casado por amor, mas com o tempo ele se mostrou um homem frio, grosseiro e até um tanto agressivo quando contrariado. E um malandro que saía com outras mulheres. Sem falar que não a deixava trabalhar fora e ter seu dinheiro. E por último, morreu deixando aquela dívida enorme.

A semana que Sr. Afonso pediu se esgotou e ela esperava ansiosa por notícias. Será que ele estava enfrentando dificuldade? Não teria conseguido nada? Ou desistiu do caso? Afinal, ele só estava fazendo aquilo porque era amigo do Cebola, mas não ia ganhar nada com aquele trabalho.

Como não podia fazer mais nada, ela resolveu ir para o trabalho, já que por enquanto decidiu ficar no emprego por mais um tempo. Ela ainda queria ter alguma renda garantida caso precisasse continuar pagando a dívida.

— Desculpe o atraso, Srta. Duister, eu estou tendo problemas com o meu filho.

— Não se preocupe. Como sabe, eu vou reformar essa casa, então preciso que me ajude a embalar tudo. Não se preocupe com a limpeza, apenas coloque tudo nas caixas.

Rosália começou a trabalhar sem se importar muito com aquele serviço. Reforma na casa podia significar alguns dias de folga, já que não fazia sentido sair limpando tudo com pedreiros trabalhando. Embora sua consciência pesasse, ela tinha que admitir que tudo era mais fácil sem aqueles velhos chatos dentro de casa. Agnes não era tão aficionada por limpeza e arrumação quanto sua velha patroa. Passava a maior parte do tempo em seu escritório ou fora de casa e não lhe causava nenhum aborrecimento.

Enquanto trabalhava, ela pensou no Sr. Afonso torcendo para que ele desse notícias logo.

— Hum... ele até que é bem bonitão! Quando ele ligar, vou convidá-lo para jantar!

—_________________________________________________________

Quando chegou na organização, Agnes viu uma movimentação anormal. Várias pessoas furiosas queriam entrar no prédio de qualquer jeito e os seguranças estavam com dificuldades para conter a multidão furiosa. Felizmente Penha não estava por perto, senão ia ser um grande caos.

— Ainda bem que você chegou, eu não sei o que deu na cabeça desses loucos! – Sr. Malacai bradou quando ela entrou em seu escritório.

— O que está acontecendo, senhor?

— São pais de alunos que não aceitam as novas regras que eu fiz para que as filhas deles sejam moças recatadas que devem ser!

Seu estômago embrulhou ao se lembrar daquelas regras odiosas, pois odiava cada uma delas. O velho falou brevemente sobre a regra dos cabelos das garotas e ela entendeu a razão de toda aquela bagunça. Mas é claro que aquele egocêntrico jamais seria capaz de entender o tamanho da besteira que tinha feito.

A conversa foi interrompida quando várias outras pessoas entraram na sala. Agnes reconheceu a mãe da Mônica.

— Eu vou processar todos vocês, podem esperar! Já trouxe meus advogados!

— EU vou processá-los primeiro! – Sra. Frufru também bradou com sangue nos olhos e cuspindo fogo. – O que vocês fizeram com os cabelos da minha filha é inadmissível!

Sr. Malacai se levantou e gritou para todos.

— Vocês estão fazendo esse escândalo todo só por causa de cabelos? Quanta futilidade!

O clima esquentou mais ainda e Agnes não estava com a menor paciência com aquilo, por isso se concentrou um pouco e todos os presentes se sentiram mal. Gradualmente eles foram se dispersando, deixando-a à sós com o presidente.

— Isso é um absurdo, eles não entendem que estou fazendo isso para o bem de todos!

— Sim, Sr. Malacai. Sabemos disso. Um dia irão entender. – Ela apenas falou e saiu da sala junto com Antônio, que ficou de providenciar um chá calmante para o velho.

— Srta. Duister, eu não entendo por que mulheres não podem ter cabelos claros... eu sou loiro e nunca me falaram nada.

— Você é homem. – Agnes falou amargamente. – Essa regra é só para as mulheres. Há anos eu tinjo meus cabelos de preto por causa disso.

— E a senhorita concorda?

Os olhos dela brilharam de forma estranha, mas ela só respondeu.

— Prepare o chá do Sr. Malacai. Cuidado para não adoçar muito, ele não gosta. Um quarto de torrão de açúcar é suficiente.

Ela saiu dali deixando-o no meio do corredor sem saber o que pensar. Mais uma vez ele lembrou-se de Denise e decidiu que estava na hora de buscar algumas respostas.

—_________________________________________________________

— É por aqui, moço! – os garotos foram guiando os policiais pelo terreno baldio. Um grupo de curiosos também os seguia para presenciar a novidade do dia. – A gente tava catando latinha pra vender e achou ele.

Após andar mais alguns metros, todos recuaram horrorizados com o que tinham acabado de ver. Os policiais tiveram trabalho para afastar os enxeridos de plantão e iniciaram os procedimentos para a remoção do cadáver.

— Tantos anos que isso acontece e eu não me acostumo de jeito nenhum! – o policial mais velho falou com pesar.

— Já tinha visto no jornal, mas ao vivo é de dar pesadelos! – o outro falou sentindo calafrios pelo corpo com a visão grotesca.

O corpo estava tão ressecado que se estivesse enfaixado, poderia se passar facilmente por uma múmia antiga. O que teria acontecido com aquele pobre coitado? O pior era conseguir identificar o cadáver porque não havia nenhum documento com o infeliz e o corpo estava seco demais para tirar as digitais. O jeito foi deixar no IML até que alguém o reclamasse.

—_________________________________________________________

No ginásio da escola, Cascão tinha ficado depois da aula para ver os outros alunos jogando futebol e de vez em quando suspirava de tristeza. Como ele queria poder jogar também!

— Cara, porque você não pede pra entrar no time? Aposto que você bota aqueles babacas ali no chinelo! – Magali falou se aproximando. Ela também tinha ficado depois da aula para fazer companhia para o amigo.

— Sei lá, e se o treinador falar não?

— Pelo menos tenta. Ele não vai recusar sem te deixar jogar uma partida pra ver como é.

Cascão ia pensando se devia ou não arriscar. Magali estava certa, ele era muito melhor do que aqueles manés. Era mais rápido, ágil e tinha excelente pontaria. E teoricamente, nada o impedia de jogar. Ainda assim, ele estava indeciso.

— Você pode tentar na aula de educação física, só de bobeira. Aí o treinador vai ver como você é bom. – ela sugeriu.

— Vou fazer isso. E você, como anda com as meninas?

— Até que melhorou. Agora elas falam comigo de boa. O chato é que a Denise vira a cara pra mim e nem responde quando eu cumprimento.

— Ainda bem que o pessoal não implica mais com você.

Desde o dia em que enfrentou Agnes, os alunos deixaram Magali em paz porque correu um boato de que o diretor Boris a proibiu de ir ao colégio por causa daquele incidente. Então de certa forma ela foi responsável por ter afastado aquela mulher tenebrosa e indesejável, junto com suas duas cupinchas das quais ninguém gostava. Era por isso que as meninas tinham aceitado que Magali andasse com elas.

— E o Quim? – ele perguntou sentindo ciúmes.

— A gente conversou um pouco ontem, quando eu fui comprar pão.

A conversa não tinha sido exatamente fácil para ela, mas ajudou a se desapegar de vez. Ele estava namorando outra garota e parecia feliz com ela, então o jeito era aceitar. Pelo menos não ia ficar um clima ruim entre eles.

— Agora vou seguir em frente que é melhor. Ele é passado.

O rosto do Cascão se iluminou.

— Isso mesmo! Esquece ele que é muito melhor! (cof cof), quer dizer, não fica pensando nele o tempo inteiro... er... tipo assim...

— Já entendi, manezão. – ela riu lhe dando um pequeno soco no braço. – Pra mim acabou mesmo.

Eles riram e continuaram a ver o jogo. Cascão estava mais esperançoso uma vez que ela tinha desencanado do Quim em definitivo. Só faltava chegar nela aos poucos. E, claro, seguir o conselho do Cebola: tomar banho com mais freqüência, de preferência todos os dias. Só de pensar nisso, arrepios desagradáveis percorriam seu corpo, mas não tinha outro jeito. Era preciso mudar seus hábitos se quisesse alguma chance com ela.

—_________________________________________________________

Era muito raro de acontecer, mas por causa dos problemas daquele dia, Sr. Malacai foi embora mais cedo e Antônio resolveu aproveitar esse tempo livre para ir atrás de respostas.

— Deixa eu ver... é aqui mesmo. – ele conferiu o endereço com o que tinha no papel. Era a casa da Denise.

Foi preciso respirar fundo várias vezes para criar coragem, pois havia uma chance dela bater a porta na cara dele.

— O que tá fazendo aqui? – Ela perguntou realmente surpresa ao vê-lo.

— Quero respostas. E não vou embora daqui até obtê-las.

— Tá, então fica aí parado o dia inteiro... aff, tudo bem. Pode entrar, meus pais não estão mesmo.

Aquilo o fez hesitar.

— Talvez eu devesse voltar outra hora...

— Ué, e o lance de querer as respostas? Anda, larga de frescura que eu não vou te morder. Você deve ter um gosto muito ruim!

Ele franziu o nariz, segurou uma resposta malcriada e entrou junto com ela.

— O que você sabe exatamente?

— É mais fácil eu mostrar do que falar.

Eles foram para o quarto dela e o rapaz ficou tonto com tantas coisas ao seu redor. Pôsteres nas paredes, bichos de pelúcia, apetrechos de beleza e maquiagem, almofadas coloridas sobre a cama, um grande puff no chão e pequenos enfeites por todos os lados.

— Como você consegue dormir aqui?

— Usando a cama, já ouviu falar ou lá na Vinha vocês dormem em cima de pregos? Agora deixa eu acessar aqui...

Ela digitou alguns comandos no computador que tinha aprendido com o Franja, que lhe deu uma introdução. O resto ela foi aprendendo por conta própria.

— Esse colégio militar onde você ficou...

— O que tem?

— Por acaso sabe quem o controla?

— ...

— Então você não sabe. Ele é controlado pela Vinha. – aquilo não o impressionou.

— Eles estão sempre tomando o controle de vários colégios. Esse deve ser recente.

— Já faz mais de dois anos. Você pode ver naquele recorte de jornal pendurado na parede.

Pela primeira vez ele reparou num mural cheio de recortes de jornais. Num deles tinha a foto do colégio militar onde ele ficou e na entrada, o logo da Vinha.

— E o que isso tem de mais?

— Eles são acusados de torturar os alunos, só que quando alguém noticia, seu pessoal dá um jeito de censurar. Mas eles não têm poder sobre tudo. Olha.

Ela mostrou algumas fotos em seu computador e por instantes Antônio pensou que era ele na foto. Mas não, era outro rapaz. Vários rapazes na mesma situação em que ele esteve e também muitas moças. O número de garotas parecia até ser maior e o estado delas bem pior.

— Eles fazem isso com outros?

— Sim. Quem não se dobra à vontade deles, é quebrado. Eles não te falaram algo parecido?

Ele recuou dois passos com os olhos arregalados.

— O Sr. Malacai não sabe de nada disso! Eles devem fazer sem seu conhecimento.

— Todos falam a mesma coisa: que depois de um tempo, o velho aparece para decidir se estão prontos ou não. E sempre aparece como um salvador, um homem bondoso.

Um gosto amargo invadiu sua boca.

— Por que eles fazem isso?

— Pra conseguir seguidores. Os mais dóceis são fáceis. Os mais resistentes tem que receber esse tratamento. Você foi resistente, mas no fim acabou se quebrando. Todos sempre se quebram.

Ela virou-se para ele e apoiou um braço no encosto da cadeira.

— Eles tiram tudo o que você tem, porque quando se está sem nada, você segue qualquer um.

— É mentira! Você está inventando tudo isso!

— Não achei que fosse acreditar.

— Como ninguém noticiou isso?

— Já falei: eles censuram até a internet.

— Isso aí...

— Existe uma porção da internet chamada deep web que eles não têm acesso, só que eu não vou te falar porque não confio que vai guardar segredo. É capaz até de ir correndo contar tudo pro Sr. Malacai.

Ele procurou se acalmar e quis saber.

— Por que você não espalha isso pra todo mundo?

A moça levantou-se e pegou um recorte do mural.

— Tá vendo esse cara aqui? Ele tentou denunciar sua querida organização.

— E?

— Morreu sob “circunstâncias misteriosas”. Sou linda demais pra ter o mesmo destino.

Ela lhe mostrou os recortes que tinha juntado ao longo do tempo. Quem se levantava contra a Vinha, era perseguido, perdia o emprego ou era até morto. Muitos jornais e outras mídias recebiam suborno para que só falassem bem da organização.

— Eu gosto de investigar e descobrir a verdade, mas não sou louca de sair contando tudo o que sei por aí. Nem devia ter falado nada pra você!

— Fique tranqüila porque eu não acreditei em nada mesmo. Você não passa de uma mentirosa que quer ver todo mundo na libertinagem! Mas isso não vai acontecer, Sr. Malacai vai colocar ordem nessa cidade!

Denise se cansou daquilo e o botou para fora de casa à vassouradas. Antônio foi embora furioso com tantas mentiras. Claro, aquela desmiolada não passou pelo que ele tinha passado. Os tapas da Magali não eram nada perto do que ele sofreu. Ela não sabia o que era estar no fundo do poço sem esperança alguma. Se não fosse pelo Sr. Malacai, ele ainda estaria confinado naquela solitária sendo maltratado todos os dias.

Ao invés de dúvidas, ele tinha mais certeza do que nunca.

—_________________________________________________________

Sr. Malacai olhava o rapaz pela janelinha da porta. Ele andava de um lado para outro, chutava as paredes e até tentou cuspir em seu rosto através da janela.

— Esse é o caso mais difícil que recebemos, senhor. – O diretor disse. – Faz mais de um ano que ele está conosco e até hoje não se dobrou!

— Um ano? É muito tempo, nunca vi nenhum deles agüentar tanto!

A tenacidade daquele rapaz era admirável, isso ele tinha que admitir. O mais resistente suportou por quatro meses. Antônio não agüentou mais do que dois! Alguém com tanta resistência e força de vontade poderia ser muito útil, mas era preciso convencê-lo de alguma forma. Ele mesmo tentou conversar e o rapaz o atacou. Se não fossem os seguranças...

— Nem a Srta. Duister conseguiu dobrá-lo!

Aquilo sim foi uma surpresa porque Agnes sempre teve uma habilidade excepcional para colocar adolescentes rebeldes na linha. Se ela não foi capaz de dobrá-lo, então ninguém mais no mundo seria. Só havia uma saída para aquele jovem, mas antes ele queria tentar mais uma coisa.

— Sabe... eu acho que sei de alguém que poderia tentar conversar com ele.

—_________________________________________________________

No dia seguinte, Cebola foi chamado na sala do diretor. O que aquele sujeito queria afinal? Fazia muito tempo que ele não tinha problema nenhum, nem briga, nem nada.

— Mandou chamar, Sr. Boris? – o rapaz perguntou.

— Sim. Sente-se, por favor. Eu fiquei sabendo que você está fazendo... pesquisas.

— Hein?

— Você parece muito interessado na organização Vinha.

— É só curiosidade mesmo, nada a ver.

Boris cruzou as mãos debaixo do queixo, apoiou os cotovelos sobre a mesa e inclinou o corpo para frente.

— Sim, rapaz, tem tudo a ver. Você está fazendo perguntas demais.

— Como o senhor sabe disso? Eu nem tenho usado os computadores do laboratório!

— Nós sabemos. Nós sempre sabemos.

O rapaz sentiu uma coisa desagradável. Por que não tinha pensado nisso? Uma organização tão poderosa poderia estar monitorando a internet facilmente, não poderia? Era bem provável que ele estivesse sendo vigiado há vários dias. Eles só não sabiam da sua pesquisa na biblioteca do bairro das Pitangueiras porque graças a ajuda de Paradoxo, foi como se nunca tivesse acontecido.

— Um conselho: não tente descobrir coisas que não são da sua conta. Falo isso para o seu bem. Fique longe dessa organização, não queira envolvimento nenhum com eles.

— O senhor faz parte...

— É o meu fardo e eu devo carregá-lo. Você não precisa passar por isso.

Ele tentou jogar um verde.

— É que têm acontecido umas coisas tão estranhas pelo mundo afora! Eu só queria poder ajudar a resolver isso.

Boris balançou a cabeça.

— Não há como você ajudar, acredite. Mas se continuar tentando descobrir o que não deve, poderá se complicar muito. Tome cuidado, rapaz. A Vinha tem muitas ramificações.

Cebola saiu dali assustado. Se ele estava sendo monitorado, por acaso estaria correndo algum perigo? E seus amigos? Ele era imortal, já os outros não. Era preciso redobrar os cuidados e talvez agir sozinho para não colocar ninguém em dificuldade. Era a sua missão e ele tinha que seguir até o fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Universo em conflito" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.