Beast Hunters escrita por HAlm


Capítulo 6
Os Caçadores Ferais


Notas iniciais do capítulo

Continuação da história!!! Não deixem de comentar e compartilhar ou recomendar para seus amigos!!!



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3 ANOS DEPOIS

Era como se fosse há poucas horas que todos viram o reino em chamas. Os templos, suas estátuas e objetos sacros, ou foram queimados e destruídos ou roubados por possuírem algum valor.

Os homens de Varl'Ha não tinham piedade com os fiéis. Se o rei tirano permitisse a eles, estes também fariam os mesmos horrores que o leão pessoalmente já cometeu.

Mas qual o motivo além de apenas o poder? Vael não conseguia imaginar que o leão poderia atingir o poder apenas por tê-lo.

Tentava buscar em sua cabeça alguma ligação, uma resposta lógica... Claro que era inútil o tema, e ele mesmo usava estes pensamentos inúteis a seu favor como distração.

Embora antes fosse menos exercitado, agora Vael tinha um motivo e obrigação para ficar em forma: sobreviver e lutar.

Sua noção de lógica o tornava bom com algumas armas que pudesse ser capaz de empunhar, o que geralmente se limitava a arco e pistolas. Nunca tentou usar armas de rajadas, pouco precisas ou grandes, tampouco pensou em entrar em combates corporais. Pela própria sobrevivência, a furtividade era único elemento que um guaxinim como ele poderia usar além da precisão.

O guaxinim carregava um arco, usava um arpéu para se pendurar em lugares altos, como as partes superiores de árvores... E era bem o que estava fazendo.

O reino sempre tinha além das cidades, vastas florestas habitadas, e era ali onde Vael saltava de árvore em árvore com ajuda de seus ganchos para se balançar e ir para a frente.

Para ele era uma aula prática de física.

O motivo da locomoção era uma caça. Apesar de viverem em uma cabana improvisada, seu pai era alguém que poderia interceptar informações de rádio de forma rápida e fácil com alguns aparelhos improvisados ou tirados de veículos de soldados que sofreram "acidentes".

Pelo que viram, a interceptação do veículo em questão era uma caminhonete vermelha que estava passando por aquela área. Ali, com o motorista, havia informações de planos militares para serem entregues e, atrás, bem protegidas, as armas e munições.

— Vai Liane! - exclamou através do walkie talkie em seu ombro.

Não obteve resposta...

Senão a tigresa cair de algum lugar ao céu sobre o capô do veiculo.

Com o impacto, o passageiro quebrou o pescoço enquanto o motorista continuou seguro com o cinto e o air bag. Sentiu dor de cabeça e tontura com o impacto antes de ser tirado à força pela tigresa.

Ele encarou cada detalhe do rosto sério de Liane, seus bagunçados cabelos castanhos e olhos que transpareciam o ódio pelo rei tirano e aqueles que o seguissem.

— Não é nada com você - falou com frieza.

A última reação do animal foi a de sentir o pulmão cheio de ar, grito de medo suprimido pela velocidade em que era arremessado ao chão e em seguida, seu pescoço sendo esmagado pela nuca quando Liane pousou com os pés sobre ele.

— Bom, Vael... - Ela começou a revistar os bolsos do casaver. -Aqui já temos as armas e... - Apanhou um papel com detalhes de uma localização. - Isto aqui... Praticamente uma mina de ouro.

Vael pousou ao lado do veículo e recolheu a corda com uma expressão de chateação por não ter feito nada.

— Mas pra que vamos usar o ouro?

— É uma expressão... Vamos ganhar grana e algumas coisas se vendermos para as pessoas certas.

— Não está falando do governo né?

— Claro que não, bobo. Tô falando de qualquer revolucionário que aceitar. Você vai ver.

Ela pegou uma bolsa do veículo, colocou ali algumas armas e munições enquanto Vael fazia o mesmo com outra bolsa. Liane empilhou tudo o que conseguia e o papel no meio de tudo, fechou o zíper e colocou a carga de forma vertical nas costas.

— Tá pronto maninho. Com isso que a gente conseguiu aposto que conseguimos encontrar a Karin... Um pouco de comida e informações sobre ela.

— Espero que sim...

— Relaxa, maninho... Vamos encontrar sua irmã. - Bagunçou os cabelos do guaxinim e começou a andar de volta ao barraco que chamava de casa.

— Vamos mesmo? - Colocou a mochila nas costas e foi, com dificuldade pelo peso, em passos lentos.

Quase não saíram do lugar quando uma mancha amarela apareceu e Liane caiu de frente no asfalto e, sem conseguir perguntar se a irmã estava bem, Vael caiu para trás sobre a mochila de armas.

Ao retomar a visão, Vael conseguiu ver com nitidez, a figura de uma chita, e não parecia nada amigável.

— Liane! Vai rápido!

— Mas...

— Vou ter que tentar segurar ela. Ninguém pode pegar o que tem na sua bolsa. Se eu sair dessa, vamos continuar procurando, ok?

Ela apenas assentiu e continuou correndo.

Sarah tentou correr, porém, se encontrou com o chão e sentindo o gancho do arpéu de Vael enroscar-se em sua panturrilha.

— Você não vai sair daqui, gatinha.

Ela o encarou furiosa e rapidamente tirou o gancho de seu calcanhar. Levantou-se e pegando uma faca de suas costas, se concentrou no único alvo em sua frente.

Vael voltou o gancho em sua mão e pegou o outro. Não gostaria de matá-la se não fosse parte do exército real, e pela falta do uniforme não parecia ser parte dele.

Ele se preparou, entrando numa posição de guarda.

— Agora sabe que não pode mais tentar fugir, né? - Sarah observou com frieza. - Se esta faca fizer um corte sequer, você está morto. Ela está envenenada, então o que vai ser, guaxinim?

— Desde o começo de tudo isso a vida de todos está em jogo. Ou viramos trabalhadores para aquele maldito leão ou lutamos... E sabemos as consequências de lutar.

Sarah relaxou sua postura.

— Hum... Está lutando pela sua irmã tigresa? Pela sua família?

Vael desviou o olhar para a mata.

— Não... Não só eles. Pelo meu país. Mas não dá pra lutar sozinho né? Então, tentamos sobreviver com o que podemos desde alguns meses após começar.

— Entendo. Alguém do seu tamanho nunca poderia ser parte da guarda real.

Em segundos, Vael não pôde mais ver nenhum sinal dela e sua voz continuou em suas costas. A corda que estava presa em seu gancho se despedaçou, caindo no solo.

— O que...

— Você deveria agradecer, garoto. Salvei sua vida. Esta corda iria matar você, frágil demais...

Ela se abaixou, pegou a bolsa e seguiu o caminho na direção em que Liane foi.

— Primeiro, esta faca não está envenenada de verdade... Segundo, você tem coragem... Terceiro, eu fico com isto...

— Você?

— Sim... Precisávamos das armas. Já vai chegar uns caras pra pegar as armas do carro que ficou lá... Obrigada pela ajuda.

— Bom, de nada, mas é que nós iríamos usar essas armas para conseguir algumas coisas em troca... Bom, trocar com revolucionários por comida, remédios, coisas que fossem necessárias...

— Mas você disse que queria ajudar seu país, guaxinim.

— Meu nome é Vael.

— Bom, Vael... Você estaria ajudando a nós. Que tal?

— Não! Eu tenho que ajudar minha família antes! Eles são mais importantes pra mim!

Ela parou, olhou para ele com um sorriso caloroso e acariciou a bochecha do guaxinim.

— E quando dissemos que não vamos ajudar? Eu tô dizendo que você, se virando sozinho dessa forma com sua família conseguiu bastante coisa. A gente tava rastreando o mesmo veículo então teríamos que nos encontrar a qualquer momento. Posso oferecer moradia, comida, trabalho caso não atuem em campo e medicamentos, além de todo mundo por lá se ajudar no que for necessário.

— Legal - Vael resmungou distraído.

— Não tá tão animado?

— É claro que estou? Por que não estaria?

— Bom... deixa pra lá... - Ela pegou um aparelho de seu bolso e seguiu com Vael por uma trilha no meio das árvores.

Nenhum deles falou uma palavra durante a trilha, mas notaram que chegaram logo quando viram motocicletas paradas com diversos animais de armas empunhadas relaxando, apoiados à parede de madeira ou alguma árvore. Quando Sarah passou, todos ficaram eretos de fuzis cruzando o corpo em continência.

— Superior Sarah! - o bode se apresentou. Seus chifres iam para trás de suas orelhas e projetavam suas pontas ao lado dos olhos como duas espirais.

Vael olhava maravilhado para todos. Usavam coletes e fardas do exército ou da polícia. Provavelmente quando apareceu nas notícias pelos rádios que as delegacias estariam cada vez mais vazias enquanto os que ajudavam no processo eram executados. Era para eles todas as coisas desaparecidas...

— A chefe tá lá dentro - falou apontando para a casa.

Sarah olhou ao guaxinim, segurou em sua mão e o puxou.

— Provavelmente ela vai querer ver você de novo.

— Espera! Me ver de novo? Mas... Mas como assim?

— Você vai ver - ela abriu a porta e passou por ela.

Todos lá estavam como se nada tivesse acontecido, afinal Lorena, Chris e Liane a conheciam. Yara, a raposa das neves, correu ao encontro de Vael e o abraçou forte e visivelmente alegre por isso.

— Disse que nos explicaria tudo quando estivéssemos reunidos. Então?

— Já falo, só venham comigo... Explico tudo no caminho, vamos ter que destruir os equipamentos de rádio que vocês têm por segurança. Quando chegarmos lá, a Karin vai ficar feliz de ver vocês.

— Karin? Você achou ela? - Vael a encarou com olhos brilhando arregalados.

— Não isso, mas ela sempre esteve comigo. Estávamos procurando vocês, como se fosse um objetivo secundário.

Um soldado entrou com a ordem de Yara e apontou seu rifle para o equipamento sobre uma mesa improvisada de madeira.

— Nós temos os equipamentos que precisarem no lugar aonde vamos - falou enquanto atravessava a porta. 

Há pouco tempo devia ter chegado o novo veículo. Uma caminhonete. Yara se sentou em um dos bancos que colocaram atrás do veículo e a família subiu atrás dela com os sons da metralhadora funcionando contra os aparelhos.

***

 

Levou algumas horas para verem pela primeira vez as estradas do deserto, onde Yara julgou enfim estarem seguros após a passagem da fronteira da floresta.

Sarah corria centenas de metros à frente dos veículos para tentar detectar algum perigo.

Chris estava visivelmente chateado pela perda de seus equipamentos, montados por suas mãos depois de um ano inteiro juntando as peças.

— Bom... Acho que chegou a hora de vocês saberem. A nossa organização revolucionária, Beast Hunters é a mesma que compunha antes o órgão de inteligência do país especializado em espionagem, infiltração, resgate e reconhecimento e, bom, umas coisas a mais.

— Então por isto eram vocês que estavam sempre conseguindo interceptar veículos militares? - Chris perguntou tentando esconder o descontentamento. - Os outros grupos revolucionários nunca teriam chance.

— E não tiveram. Foram massacrados pelo exército real, Chris. Ou se juntaram a nós. Eram trabalhadores que tentavam se defender, mas não podiam fazer nada sobre os ataques em massa contra eles. Tentavam se proteger, mas todos acabavam morrendo. 

— Que triste... E eles não sabiam nada sobre vocês? Tipo um grupo antes meio que secreto, agora está contra o rei... - Liane abraçou Vael, pensando se fosse ele na situação.

— Provavelmente não. E com tanta gente espalhada não tem como alcançarmos a todos. - Yara olhou carinhosamente para Vael. - E sim, Vael. Sua irmã está bem e também está preocupada com você.

— É bom ouvir isso... - Ele não esboçou nenhuma grande reação além das palavras. - E você? Você parece que sabe bastante sobre os Beast Hunters... O que você era antes de tudo isso?

— Eu? - Ela pegou um aparelho de seu bolso e fixou seu olhar sobre a tela. - Era grã-mestra da organização. Por mais que nosso serviço de espionagem fosse bom, Varl'Ha parecia ter uma organização própria para nos despistar e fazer pensar que o que houvesse de iminente fosse um ataque exterior e não em nosso próprio país. - Ela começou a assistir o vídeo das câmeras que Beka havia colocado quando entregou as informações para o leão.

Ela era uma boa espiã...

Uma lágrima sutil caiu de seu olho direito e Yara a limpou logo. Não poderia permitir que uma das suas fosse torturada, estuprada e morta daquela forma. Não poderia permitir que mais gente fosse enganada e se tornasse um mero "soldadinho de brinquedo".

Por sorte, conseguiram pegar a família da loba a tempo. Ninguém mais foi morto.

— E meus amigos? Sabem deles? - Vael a encarou, e ela conhecia tanto a ele quanto sua irmã o suficiente para saber que ele estava preocupado, mas não conseguiria transmitir o sentimento.

Yara puxou Vael e o abraçou.

— Acho que sim. Conseguimos encontrar todos eles. Uma quokka, uma coala, o lobo tubarão, o esquilo coelho, uma serpente, uma coelha, uma vaquinha, uma sergal onça... Conseguimos encontrar eles.

— Eles todos estão bem?

Vael a apertou e começou a chorar.

— Sim, meu querido... Todos estão bem...


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