Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake
Notas iniciais do capítulo
Hey Hey Hey! Olhem eu aqui de novo :3
Espero que gostem do novo capitulo! Não se esqueçam de comentar ;-; isso me apoia muito e vocês são mauzinhos para mim :')
Brooklyn, Nova Iorque, E.U.A, 1980
— Vou andando. Até logo!
— Leva as chaves! Posso não estar acordada, quando voltares.
Mais uma sexta-feira à noite, em Brooklyn. Cocaína, sexo e álcool nos bares do fundo da rua, já se tinham tornado rotina para a maioria da comunidade mais nova dos arredores. Desvio uma mecha de cabelo da frente e procuro freneticamente pela chave certa, no molho delas, no móvel da entrada.
— Íris. – Delilah chama-me. Olho imediatamente para o corredor, onde ela encontra-se encostada com o telefone fixo na mão. Ela está numa chamada. – Liga-me se precisares de algo está bem? Posso ir-te buscar a qualquer hora e em qualquer lugar.
Sorrio para a minha colega de quarto e aceno com a cabeça, antes de abanar a cópia da chave de casa, pendurada nos meus dedos.
Trabalho como empregada de mesa num bar de strip. Aceitei a primeira coisa que me apareceu à frente. Não julguem. Fui obrigada a sair da Instituição no dia em que fiz dezoito anos de idade. Tinha apenas vinte dólares roubados no bolso e muita fome, quando disse que sim. “Porque é que ela esteve numa Instituição?” – vocês talvez se perguntem. Nunca conheci o meu pai e a minha mãe era toxicodependente. Acabei por ser retirada e posta para adoção, mas nunca me adotaram. Lá, conheci a Delilah e ficámos melhores amigas.
Empurro a porta das traseiras com força e deparo-me com o segurança. Ele acena e deixa-me passar, em direção aos camarins, onde várias mulheres e jovens se preparam. Coloco a minha mala num cacifo, quando de repente, sinto uma mão rápida nas minhas nádegas.
— Hey SugarTits!
Olho para o lado. Candace, uma colega de trabalho, assopra um bafo de fumo de cigarro para cima de mim como boas vindas, e encosta-se nos cacifos. Eu começo a tossir.
— Quando é que vais parar de me chamar “Peitos de açúcar”? – Pergunto num sorriso de brincadeira.
— Quando é que entras para o negócio a sério? – ela riposta antes de dar um novo bafo.
— Não sou uma puta. – Fecho a porta do cacifo com firmeza.
— Toda a gente é uma puta. – Sorri Candace. – Apenas vendemos coisas diferentes por preços diferentes.
Ela apaga o cigarro num cinzeiro e segura o meu queixo. Os olhos cor de mel fazem um leve contraste com o cabelo castanho curto com franja. Num movimento suave, Candace pega num batom e começa a pintar os meus lábios.
— O vermelho fica-te bem. –Ela olha-me de uma certa maneira. Uma maneira que me arrepia dos pés à cabeça. O seu dedo passa levemente por uns dos cantos da minha boca.
Uma última jovem sai do camarin, batendo com a porta. Sou só eu e ela, agora. Minutos depois, num dos cubículos da casa de banho, pequenos gemidos vão-se ouvindo, se se prestar atenção. A língua dela percorre o meu pescoço e os seus dedos escondidos no meio das minhas pernas, fazem-me arfar. As minhas bochechas estão vermelhas e quentes. A parte de cima do meu vestido está para baixo, revelando assim os meus peitos rosados com resíduos de batom.
— Tragam-na até mim!
O velho estava fulo. Cego de raiva de tal forma que as veias na têmpora e no pescoço pareciam que iam arrebentar a qualquer momento. As ordens mergulhadas em cuspo no canto da boca, eram para ser cumpridas, e morto estaria quem não o fizesse. Raphael pega na pistola da cintura e dispara, acabando assim com o sofrimento do soldado banhado em sangue. Os restantes em volta dele, fecham os olhos e desviam a cabeça para o lado. O som do tombo é audível.
— Eu quero a cabeça dela. – Murmura Raphael entre os dentes. – E a cabeça de quem a ajudou. Encontrem-nos! Ou serão as vossas cabeças que irão rolar pelo penhasco!
Os militares apressam-se a sair e deixam o velho sozinho a encarar os campos cobertos de vermelho.
******
O plano era simples: Encontrar Liv e Kaira e pô-las a salvo, e encontrar Nanuk e Ignis para estes ajudarem a matar Gabriel e Raphael. Parece uma tarefa simples e rápida, mas não é.
Nour salta de telhado em telhado em busca dos lobos, misturando-se nas sombras como um gato preto em noites de lua cheia. Ela salta numa acrobacia silenciosa e aterra com ambos os pés e as mãos num telhado mais baixo, quando vozes repentinas rodam figurativamente a sua orelha direita.
Ela encontrou-os.
Escondidos num barracão ainda de pé, Nour desvia uma cortina que serve para tapar o enorme buraco na parede e entra. Ela arregala os olhos, quando vê por volta de cinquenta pessoa todas em cima uma das outras. Elas estão na mesma: Magras e com rostos de escravos há meses. Algumas comem restos, outros aproveitam para descansar e os choros de algumas crianças mais pequenas e bebés fazem arrepiar o espírito. Eles olham para ela. Alguns cobrem-na com esperança. Outros com tristeza e outros com raiva.
—Demoraste.
Nour olha em frente. Seth caminha em direção a ela com um ar sereno. Nour sorri levemente e vai ao encontro de quem agora toma a coroa de rei por aqui.
— Também estou contente por te ver. – diz ela.
— O que foi aquele uivo? – Seth pergunta num tom irónico. – Quase começaste um motim por aqui. Eu tive pessoas a quererem enfrentar o Raphael sozinhas. O que está a acontecer?
— Este pesadelo termina esta noite, Seth. – Nour responde. – Mas eu preciso de alguma ajuda. Reúne os lobos mais fortes…-
— Estão mortos. – Seth interrompe-a. Nour arregala os olhos.
— Nour!!
Kaira, em pele e osso, corre em direção a Nour e abraça-lhe a cintura o mais que pode. A “Loba Preta” agacha-se a devolve o abraço.
— Vieste buscar-me? – pergunta Kaira. A voz da menina de dez anos sai abafada por conta do abraço.
— Sim, querida. – Os olhos de Nour começam a marejar. – Eu vim-te buscar. E à mãe também. Onde é que ela está?
—Ela foi à procura de comida. Deve de estar por aí, algures. – Kaira olha para os lados.
Nour olha para Seth, enquanto envolve a criança nos braços dela, decidida a continuar a conversa.
— Como assim, “mortos”?
— Acredito que a palavra "Mortos" ainda não tenha mudado de significado. – Ele ri irónico. – A Miko é a única que me resta. Os restantes mal têm forças para carregar o próprio corpo…– Seth trava. – Quanto mais para lutar.
— Então, é assim? Apenas desistes? É suposto eu deixar-vos aqui? – Nour aumenta o tom.
— Eu não tenho lutadores, Nour! – Seth quase grita. – Olha à tua volta! Os caçadores e os batedores morreram! Eu sou o único que sobra do meu ofício.
— Por favor, não discutam. – Implora Kaira, olhando para eles os dois.
Segundos de silêncio ecoam entre Nour e Seth. O jovem de dezoito anos passa as mãos no cabelo e inspira fundo.
— Vai. Leva a Kaira e a tua mãe e fujam para longe daqui. – Ele sussurra. Nour abre a boca para dizer algo, mas Seth continua. – Eu nasci no meio desta gente e vou morrer de mãos dadas com eles. Não conseguiria viver comigo mesmo se partisse…
— Seth…
—Vai. – Pede. – Pelo menos que um de nós sobreviva…
*****
O Alfa atravessa o braço à frente de Bear para que este pare, e aponta para a quantidade enorme de soldados na rua, antes de chegarem à fogueira central. O pátio escuro e lamacento está coberto de soldados em todos os cantos e nas ruas em volta.
Luckyan faz sinal para que Bear espere ali, pois teve uma ideia. Um soldado mais afastado, limpa a arma e assobia tranquilo, completamente distraído. Luckyan vê uma faca ao lado e caminha em pés de lã para a obter. O soldado nem se aperceberá do que lhe aconteceu. Num movimento rápido, O Alfa esfaqueia-o no pescoço e arrasta-o para a escuridão. Bear olha para o lado e cobre a boca com a mão, enojado, quando vê Luckyan pingar sangue das roupas e das palmas das mãos.
— “O que vais fazer com ele?” – pergunta o gordinho ruivo, gesticulando com as mãos.
—Vou entrar na Fortaleza. Preciso das roupas dele.
Luckyan veste a farda do soldado degolado e olha para Bear. Este acena com a cabeça
— Vamos ter que nos separar. – afirma Luckyan. – Encontra o Nanuk. Eu vou lá dentro buscar a Ignis. A Nour descreveu-a. Não deve de ser difícil de encontrá-la.
— “Mas é perigoso! Deixa-me ir contigo!” – Bear riposta, a tremer das mãos.
Luckyan nega.
— Se formos os dois, vamos ser apanhados. E para além disso… - Luckyan dá-lhe um leve soco no ombro. – Acho que nenhuma farda irá tapar essa barriga.
Bear faz uma careta e transforma-se. Um rosno amigável ecoa perante o Alfa.
— Tem cuidado, está bem?
Bear assente de cauda levantada e corre dali para fora, deixando assim Luckyan sozinho. O Alfa espira fundo e caminha em direção ao pátio, de arma empunhada na mão. “Eu tenho um mau pressentimento quanto a isto”— pensa ele.
*****
Eu cheguei, mas Nanuk não está. Os meus pés chutam a bainha do vestido bege, de forma impaciente, pois eu não paro um segundo. De trás para a frente e de frente para trás, caminho pela divisão da casa em ruínas nervosa e com as unhas entre os dentes. Estou com um sentimento estranho na barriga. Parece que as minhas entranhas deram um nó. Os meus interiores não resistem e corro até à rua para vomitar. Não tinha quase nada no estômago, mas agora o pouco que tinha foi completamente desperdiçado.
Oiço quatros patas apressadas e Nanuk regressa com um pequeno saco na boca. O “Husky” roda as orelhas para trás e baixa a cauda, mais do que o costume, quando me vê sentada com a cabeça encostada na entrada.
— “Estás bem? O que fazes aqui?” – Pergunta, enquanto fareja com o focinho por todo o meu corpo.
— Estou bem. – Sorrio, com as mãos a segurarem o seu rosto canídeo. Os olhos azuis claros dele encaram os meus. – Nanuk, eu acho que a tua irmã está na Vila.
Nanuk arregala os olhos e pousa o saco. O jovem de vinte e três anos vem ao de cima e passa a mão pelos cabelos.
— Ouviste o uivo? – Ele pergunta, aflito. Eu acento.
— Ouvi. O Raphael também ouviu. – Acrescento. – Os soldados saíram quase todos da Fortaleza, acho que a tua irmã fez uma chacina nos campos de cultivo ao pé do rio.
Nanuk encara o chão, pensativo.
— Eles também devem de estar aqui…
— Quem? – Pergunto.
— Anda, Ignis! Precisamos de ir.
O casal corre em direção ao velho barracão na esperança de encontrar Nour, Luckyan e Bear, mas o Alfa acabara de entrar na boca do lobo e Bear estava nas ruas, sozinho, em busca de Nanuk.
Luckyan caminha pelos corredores de pedra. Parece um castelo medieval, visto por dentro. Um soldado sai de um dos quartos e quase atropela-o.
— Desculpa aí. – É Ívar.
—Tranquilo.
Os dois encaram-se e fazem uma cara de surpreendidos, quando ambas as Auras saem dos seus corpos para se cumprimentarem. Ívar puxa Luckyan para dentro rapidamente e fecha a porta.
— És o amigo da Nour? – Pergunta o afro-americano.
— Pergunto o mesmo. – Devolve o Alfa. Ívar assente com a cabeça. – Preciso de encontrar a Ignis, sabes onde ela está?
Ívar leva as mãos à cabeça.
— O que foi?
— A Ignis saiu à socapa para se encontrar com o Nanuk, nas Ruínas! Ela não está aqui.
Luckyan faz um gesto chateado. Todos se tinham desencontrado.
*****
Nour sai do barracão acompanhada por Kaira e Seth. A pequena caminha ao lado da irmã adotiva, como se esta lhe fosse fugir a qualquer momento.
— Onde raio é que a minha mãe se meteu? – Pergunta-se Nour. Seth encolhe os ombros.
—Socorro!
Um grito espalha-se pela rua. Nour e Seth deparam-se com algo a cambalear à frente deles. A jovem de cabelo preto arregala os olhos quando vê quem é.
—Mãe!!
Ela corre e agarra-a, um segundo antes de esta tombar no chão, sem forças. Ela desvia-lhe o cabelo castanho da boca e do rosto e encara Liv, com uma mancha de sangue enorme na zona da barriga. Kaira aproxima-se e ajoelha-se junto delas, com os olhos encharcados de lágrimas.
— Kaira, sai daqui! – Ordena Nour.
— Não! Eu quero ficar aqui! – Kaira soluça.
— Seth! Leva-a.
A criança debate-se, quando Seth a agarra. Outros lobos observam a cena.
— Mãe! – Nour chama-a. – Mãe, o que aconteceu?!
Liv demora, mas acaba por responder:
— Eu encontrei-me com outro lobo… - Ela trava. Sangue cai de um dos cantos da boca. – Raphael disparou uma seta…eu consegui fugir, mas acho que ele ficou para trás…ele salvou-me…
Os olhos de Nour piscam, várias vezes seguidas.
— Outro lobo… - Nour sussurra, processando. - Que lobo? Mãe que lobo?!
Mas Liv morre nos braços dela, antes de responder. Kaira apercebe-se do que acabara de acontecer e solta-se de Seth. Durante um grito de raiva e dor, ela tem um espasmo. Kaira cai no chão e arranha a terra negra. O pequeno corpo dela começa-se a contorcer e a forma humana a desintegrar-se e a dar lugar a uma loba tom de mel. Todos perdem o fôlego. Kaira tinha-se acabado de transformar, cinco anos mais cedo do suposto. Era impossível. Ou todos assim julgavam. Ela tropeça nas quatro pernas, em pânico. A pobrezinha não faz grande ideia do que acaba de acontecer.
Nanuk e Ignis chegam a correr. Seth vai ao encontro deles.
— O que vocês estão a fazer aqui? – Pergunta de forma rude.
Nanuk ignora-o e desvia-se para ir ter com a irmã, ainda agarrada ao corpo da mãe. Seth agarra-o pelo braço.
— Estou a falar contigo!
— Hey, deixa-o ir! – Grita Ignis. – Só estamos a tentar ajudar!
— Nós não queremos a vossa ajuda.
Ignis franza a testa. Nanuk tenta acalmar a Kaira, que gane e olha para todos os lados, bastante confusa e atordoada.
Nour, ainda com os olhos mergulhados em lágrimas secas, fecha as pálpebras da mãe para que esta finalmente descanse, e olha em frente. Raphael, acompanhado por um pequeno pelotão, caminha a passos largos. A “Loba Preta” pousa a mãe no chão e olha para o filho de Raphael com um olhar de morte.
—Nanuk, Ignis. – Nour chama-os. – Corram. Levem a minha irmã.
— Mas Nour…
— Eu vim aqui, por ti! Então faz o que eu te estou a mandar! Uma vez na vida, Nanuk! – ela suspira, antes de continuar. – Vai, irmão…
Nanuk engole as palavras da irmã com alguma tristeza, mas obedece. O “Husky” pega na mão de Ignis e Kaira corre junto com eles, em direção à floresta. Seth aproxima-se de Nour, preocupado.
— Sabes o que estás a fazer?
— Eu não faço a mínima ideia. – Ela responde. – Fujam todos!!
Todos os lobos se dispersam. Os soldados começam a disparar e a confusão instala-se num abrir e fechar de olhos. As balas saltam das armas e o tilintar das cápsulas a caírem no chão, impregnam o cenário perfeito de guerra.
Nour e Seth correm, quando de repente, dois soldados aparecem diante deles. Seth começa a rosnar, mas Nour grita:
— Ívar!
— Sentiram a minha falta? – Ele brinca.
O afro-americano desvia-a rapidamente e começa a disparar em direção a um grupo de soldados mais próximos. Nour vai contra o soldado ao lado dele, que rapidamente tira o capacete.
— Fico sexy de farda? – Pergunta Luckyan, com um sorriso.
— Tu és impossível.
— Vocês os dois são amorosos, mas eu preciso de ajuda aqui!
— Tenta não acertar nos meus!
Luckyan saca das armas e começa a disparar. Nour aproveita a cobertura e ataca os soldados também, ficando os dentes afiados nas suas carnes. Um por um, todos têm o mesmo fim.
— Onde estão o Raphael e o Gabriel? – Seth pergunta, ao sair de trás de umas caixas.
Todos olham em volta. Eles tinham quase a certeza de que eles vinham mesmo atrás.
— O Nanuk e a Ignis… – Nour conclui. – Eles foram atrás deles!
— Precisamos de encontrá-los. – Luckyan finaliza. – E ao Bear também.
— O Bear não está contigo? – Nour arregala os olhos. – Era suposto ele estar com um de nós!
Nour empurra-o. Ívar coloca-se no meio.
— Estivemo-nos de nos separar! – O Alfa grita de volta.
Nour coloca as mãos na cabeça e passa-as pela cara, aflita.
—Vocês os três… – Ela chama-os. – Encontrem-no. Eu vou atrás do Nanuk e da Ignis.
Ela trepa acrobaticamente entre duas casas até aos telhados e salta entre uma e outra, a uma velocidade incrível. A noite recheada de estrelas é camuflada pelo luar brilhante de verão, que cristaliza as lágrimas dela. Ela está quebrada, mas não pode parar de correr.
Imaginem sobrevoarem uma guerra e saberem que não podem desviar os olhos do caminho à vossa frente…ou nunca chegarão a casa.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Curiosos para o que aí vem!? PORQUE EU ESTOU!
Não se esqueçam de deixar ai em baixo um pouquinho de amor! ♥ ♥