Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 24
Quando o Sol se Põe- Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Hey hey hey! Eu juro que não morri! Mas no entanto, sinto que vos tenho que dar algumas explicações: Eu estou na reta final do meu curso e a meio de Março, a coisa ficou louca. Eu tive 3 disciplinas a quererem 3 trabalhos e projetos cada, e isso deu comigo em doida. Só para terem uma noção, eu tinha aulas o dia todo e quando terminava as aulas ás 17/18h, ia despachar trabalho.

Eu literalmente não peguei no word durante 3 semanas a não ser para fazer relatórios e portefólios e me matei para conseguir terminar tudo mais cedo, para ficar com a ultima semana livre e poder escrever-vos um novo capitulo.

Era para ter postado ontem, mas o Nyah decidiu armar-se em parvo.
Mas aqui está e espero que gostem ♥



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Canadá, Lago Moraine, Julho,1972

 

 

É verão nas altas montanhas. O verde vivo e denso das árvores e vegetação faz questão de se sobressair, juntamente com o sol quente e ofuscante. Onde o Lago nunca seca e os rios e riachos nunca param de correr, duas vozes dão fim ao sossego de início de tarde.

Luckyan, com os seus recentes dezoito anos, eleva Nanuk, de cinco, nos seus ombros, na esperança que o pequeno conseguisse cutucar um ninho de abelhas. O lanche estava em causa.

— Para de te mexer tanto! Estou a tentar subir! - grita Nanuk, enquanto bate levemente com a ponta oposta do galho na cabeça de Luckyan.

— Se mantivesses esses pés sujos de terra afastados dos meus olhos, eu não me mexeria tanto!

— Mais alto! Mais alto!

Aquela ideia estava condenada ao fracasso desde o momento em que pensaram nela. Luckyan coloca-se nas pontas dos pés rápido demais e Nanuk desequilibra-se. O pau que segurava na mão bate com força no ninho de abelhas, e ambos os rapazes vêm em câmara lenta a imensa bola estatelar-se no chão.

— Corre!

Luckyan pega rapidamente em Nanuk e coloca-o nas cavalitas para fugirem ao enxame. O jovem de dezoito anos corre pela pradaria com o pequeno às costas, em direção ao Lago. Lá estarão a salvo.

—Segura-te!

Luckyan atira-se da cascata e ambos mergulham na funda água gelada. A corrente leva-os e eles aproveitam a boleia, até chegarem a umas das margens mais calmas do Lago Moraine e saírem, encharcados. Luckyan, ofegante, diz:

—Lembra-me de nunca mais ir atrás de um ninho de abelhas.

— Estás a brincar?! Foi super divertido! Podemos fazer outra vez?

Umas gargalhadas ali perto interrompem a conversa dos dois. Luckyan pega em Nanuk e empurra-o para os arbustos, enquanto ele averigua. Um casal com uma bebé e um filho mais velho, fazem o que parece ser um piquenique do outro lado da margem. Estão felizes e o filho mais velho brinca com a irmã perto da margem.

Nanuk sai do arbusto e espreita por entre as pernas de Luckyan. Ele reconhece-a.

— É ela, não é...? - pergunta o pequeno, num tom apagado. Luckyan engole em seco.

— É. - responde. - Vamos, aproximámo—nos demais da Vila.

Luckyan começa a andar, mas repara que Nanuk não o segue. Ele olha para trás. A pequena criança está agachada no meio das raízes de uma árvore, a espreitar a irmã separada pela vida, agora com dois anos de idade.

Ele começa a soluçar. Luckyan regressa e coloca-lhe a mão no ombro, e diz:

— Um dia, ela voltará para nós. E irá odiar-nos por um momento ou até mesmo para o resto da vida, mas com o tempo, saberá que o que aconteceu foi o certo e que não foi culpa de ninguém.





 

Aslam estava a ficar sem ar. Exausto, ele cai de joelhos com as mãos sob um edifício e deixa-se cair. Ele tosse, engasgado com oxigénio que não tem. A jovem inglesa olha para trás e depara-se com Aslam em dificuldades. Ela pensa em continuar caminho e deixá-lo ali, mas num resmungo, corre para ajudar a levantá-lo.

— A minha avó tem mais resistência do que tu. - Ela começa. - E ela já morreu.

Ela olha em volta, à procura de um sítio onde os esconder. Eles não veem os caçadores, mas conseguem ouvi-los a ficarem cada mais perto. Num movimento rápido, Aslam é arrastado para dentro de um beco, mas há um problema: A única saída é um muro com metros de altura.

— É demasiado alto e não dá para voltarmos para trás.

— Vamos ter que nos transformar. - afirma Aslam. Ela arregala os olhos

Mesmo ofegante, Aslam dá uns passos atrás e começa a mudar. Em segundos, um grande lobo branco está diante dos olhos dela.

— "Vemo-nos no outro lado".

Ele começa a correr e aproveita a altura de um caixote do lixo para saltar para o outro lado, sem grandes problemas. Ela é a seguir.


 

— Ali! Apanhámo-los!

 

 

 

A jovem olha para trás, onde os caçadores já lhe miram uma arma, prontos a disparar. Aslam espera, do outro lado, com os olhos postos no topo do muro, na esperança que ela consiga saltar. De repente, uma loba em tons claros aparece, como se estivesse a voar e pousa as patas dianteiras no chão com alguma delicadeza.

Ela é linda. Com uma base branca e um casaco bege com castanho pastel, ela parece-se com Luckyan, mas mais clara. Uma marca preta e outra cinzenta nas costas fazem o contraste perfeito, entre os tons claros e escuros. O pormenor que Aslam mais aprecia, são os semicírculos que lhe amparam os olhos vermelhos, dando-lhe uma expressão mais calma e tranquila.

Aslam estende a mão humana, para acariciá-la.

—O meu nome é Aslam.

— "Malika".




*****

 

 

 

O meu coração nunca esteve assim, ansioso. Uma ansiedade agonizante que me vira do avesso e me torce por dentro. Lágrimas de medo escorrem pelas minhas bochechas, porque eu não sei ser forte sem deixar de ser eu mesma. Estou apavorada. Tenho apenas vinte anos, não é suposto eu ser uma heroína.

Sentada no chão, debruçada sob a mesa de cabeceira, eu cravo as unhas na mesma. O som da madeira a ser arranhada lentamente causa-me arrepios na espinha, mas é agradável de se ouvir. Levanto a cabeça e inspiro fundo. Algo em mim diz-me que o sol já se pôs e que a noite começou o seu turno. Está na hora.

Mas algo me interrompe. Passos, do outro lado, a caminharem em direção à porta. Ela abre. Percebo que é Luckyan, apenas pela presença que emite no espaço. Aquele silêncio estranho paira no ar durante segundos, até eu ganhar coragem para encarálo por cima do ombro.

O rosto demonstra até aquilo que ele não queria transparecer. Luckyan parece um humano, que passou a noite inteira num bar a beber depois do término de uma relação amorosa. A dor é visível, tanto emocional quanto física. Não saberia dizer de qual das duas ele está a sofrer mais. Levanto-me e caminho em direção à porta, de cabeça baixa e com o olhar focado no chão.


—Adeus Luckyan...

— Eu amo-te.


Uma bala no coração não teria feito tanto dano. Nour trava os pés e a respiração durante um momento, antes de se virar para o Alfa, quebrado em mil pedaços.

— Não faças isso a ti mesmo, Luckyan... - Sussurra ela. Luckyan abana a cabeça.

— Não entendes? - Ele aumenta o tom. - A forma com tu dizes o meu nome..., é como um lobo que uiva para a lua. Nour, por favor! Eu amo-te!

— Então para de me amar!

— Eu não consigo!!

Aquele grito..., aquele grito atravessou-me o peito e agarrou a minha alma pelo pescoço. Ele explodiu e o chão vibrou por debaixo dos meus pés, quando ele o fez.

— E eu sei... -ele continua. - E eu sei que lá no fundo, tu também me amas...

— É esse o problema. - Nour sorri irónica. - Amor não é para estar lá no fundo, mas sim à superfície.

Luckyan cerra o maxilar. Nour baixa a cabeça. Lágrimas começam-se a formar nos cantos dos olhos.

— E desculpa, mas eu não te amo! - ela grita. - Eu não te amo da forma que tu quererias. Desculpa! Pois a única coisa que te posso dar é o meu corpo, pois o meu coração... - ela trava. - O meu coração caiu daquele penhasco, naquela noite... e morreu coberto de neve.

Luckyan eleva os braços e segura-lhe o rosto com uma calmaria, nunca antes vista. O polegar dele acaricia a pele dela e, os olhares que ambos trocam entre si, são de pura doçura. Ele limpa-lhe as lágrimas e dá um sorriso triste, antes de dizer:

— Não precisas de pedir desculpa. - Luckyan engole o choro. - Eu soube desde sempre que tinha uma conexão especial contigo, mas o nosso "nós" é como um pôr de sol Californiano - Ele trava. - Destinado a morrer a qualquer momento... e eu sei que tens que te vingar, então vinga-te. Mata-os a todos.

As mãos dele seguram-me com força. Os olhos dele olham para mim, bem abertos e sérios, então eu sei que é sentido. Ele não me está a prender, está a deixar-me ir...




*****

 

 

 

— Se o Aslam não aparecer aqui em minutos, eu vou-

Saaya é interrompida com a porta a abrir. A morena de olhos escuros olha imediatamente para a mesma, onde Aslam acaba de entrar.

— Finalmente. - Ela caminha até ele. - Onde raio é que tu... - ela trava, quando vê Malika a entrar atrás dele. - ...estavas.

Todos olham para todos. Aqueles segundos de constrangimento surgem, quando ninguém sabe o que dizer. Miroslav resmunga, enquanto suspira e fecha o jornal, surpreendido com a falta de capacidades sociais Saaya.

— O que é que vos aconteceu? - pergunta Miroslav quando se aproxima, ao ver o estado de ambos. Malika e Aslam trocam olhares.

— Fomos atacados. - Aslam responde. - Alguém disparou uma seta com um explosivo. Quase ficámos sem cabeça.

— Porquê é que ela está aqui? - Saaya apressa-se.

— Estávamos aqui perto. Pensei que ela pudesse jantar connosco. - Aslam riposta.

— Jantar? - Saaya fica incrédula.

— Eu tenho o carro. - Malika resolve falar. - Aslam disse-me que vocês precisam de ir para o Canadá o mais rápido possível.

A boca de Saaya fica aberta. Miroslav dá um pequeno sorriso e cutuca de leve a pele morena dela.

— Se eu fosse a ti, deixava-a jantar.




 

*****

 

 

 

Era pura noite. A lua já estava no seu turno, dando lugar a todas as criaturas da escuridão. As coisas mais selvagens acontecem apenas quando o sol se põe.

Uma pata grande, peluda e preta pisa o chão, em câmara lenta. Uns olhos sangrentos e luminosos emergem das sombras e os caninos afiados e brancos refletem o luar. O rosnar dela faz qualquer um baixar o olhar, como sinal de respeito.

Nour caminha até à beira dos limites da gruta e olha para o céu. Ela sente o seu animal interior querer sair. Ela sente-o a querer abrir-lhe o peito e gritar para o mundo o que já deveria ter sido dito e imposto. E como é que os olhos comunicam?

Eles uivam.

   

E ela assim o faz. Com o focinho projetado para cima, Nour solta um som profundo e intenso e o mesmo chega até à Vila. Nanuk abre os olhos e sobe ao pouco telhado que ainda resta da casa para escutar melhor, e nota que todos saíram à rua.

Husky faz o impensável. Muda de peles e uiva de volta. Todos habitantes da Vila ficam chocados e hesitantes, mas começam a fazer o mesmo. De repente, uma serenata ecoa no meio dos destroços e da miséria.

Ignis deixa cair a loiça de chá ao ouvir os cânticos. Raphael sente algo. Um desconforto no estômago e olha para Ignis, que responde com um sorriso.

— Esse desconforto no estômago... - ela começa. - É porque sabes que ela está a vir por ti.

Ele resmunga e, rapidamente, dois soldados pegam-na, cada um pelos braços.

— O que é que está a acontecer?! - pergunta Raphael num grito, a centímetros dela.

— Não sei, mas algo que me diz que as coisas estão prestes a mudar.




*****

 

 

 

Um par de olhos vermelhos espreitam, no meio dos arbustos. Nour emerge dos mesmos e fixa o olhar caçador para dois soldados à volta de uma fogueira. Ela agacha-se e olha em volta. Não parece haver nenhuma forma de não passar por eles e a entrada principal da Vila está fora de questão.


—Não os vais matar?


Nour espevita-se com o susto, olha para o lado e depois para cima. Munin está num dos ramos da árvore a olhar para ela com um olhar de julgamento.

— Se vais aparecer sempre assim, como um fantasma, ao menos usa correntes. Sempre dá para te ouvir. ­- Ela resmunga. - Estou a pensar no que fazer. Cala-te, deixa-me pensar.

Segundos passam-se em silêncio.

— "Estás com medo". — Afirma o corvo.

— Eu não estou com medo! Deixa-me em paz.

 "Receio que não seja possível. Estou encarregue pelos Deuses para garantir que cumpres o acordo."

Nour revira os olhos.

— "Oh... parece que tens companhia."

A "Loba Preta" olha para trás. Luckyan e Bear correm até ela e travam a corrida, quando se aproximam.

— O que raio é que vocês estão a fazer aqui? - Pergunta Nour chateada.

— "Nós não podíamos deixar-te fazer isto sozinha" - Responde Luckyan arfando pelas narinas. - "Eu não podia ficar escondido na gruta com o rabo entre as pernas e a continuar a dizer aos outros o que fazer com as suas vidas."

Nour suspira e dá um pequeno sorriso, ao ouvir as suas outroras palavras saírem, desta vez, pela boca dele.

Bear abana a cauda e aproxima-se dela. Nour segura e afaga o seu focinho e as bochechas peludas e gordinhas com um enorme carinho.

— Bear...por favor. - Ela implora. - Vai para casa. És uma presa fácil para eles.

Ele nega com a cabeça canídea e solta uns grunhos. O seu nariz molhado cutuca a bochecha dela como forma de carinho. Ele não vai a lado nenhum.

 "Apenas diz-nos qual é o teu plano. Nós seguimos".




*****

 

 

 

Pé ante pé, Ignis escapa-se pelas traseiras da fortaleza e caminha apressada, até às ruínas. O vento de verão quase lhe arranca o carapuço da capa, então a jovem ruiva segura-o com mais firmeza.


—Vais ter com ele?


Ela congela e encara Gabriel que sai do seu esconderijo com um ar prepotente. Está de noite, mas os candeeiros a óleo e fogo deixam ver perfeitamente parte do rosto dele, pois o resto ainda está coberto de ligaduras. Ignis fica sem saber o que responder. Ela pensa em inventar uma mentira, mas depois de respirar fundo, resolve dizer a verdade.

— Sim, vou. - Responde firmemente. - E tu vais-me deixar passar. Ou talvez queiras a outra metade da cara tostada também...

Gabriel arregala os olhos e cerra o punho, e prepara-se para ir contra a Ignis, quando um braço o impede.

— Ívar... - sussurra ela. Gabriel fica possesso.

— Como é que te atreves?

— Bater nela não vai mudar nem resolver nada, acredito.

—Tira...a mão...de mim... -Gabriel sacode-se. - O meu pai irá saber disto.

— Aproveita para acrescentar que lhe ias bater. - Riposta Ívar.

Gabriel cerra os dentes e resmunga, acabando assim por ir-se embora, depois de dar um olhar de morte a Ignis. Ela limita-se a olhá-lo pelo canto do olho.

— Já podes ir ter com ele. - Ívar sorri para ela, que arregala os olhos.

—E-Eu não sei do que...- Ela começa, mas Ívar corta-a.

— O Nanuk está num dos telhados, vai.

Ela abraça-o. Um abraço curto, mas agradecido, e corre em direção às ruínas. Ívar vai para dentro, sem ter a noção de que estava a ser vigiado. Um soldado pega no Walkie-Talkie e diz:


 

—Confirma-se. Ele está a ajudá—los.

—Ótimo.


 

Raphael levanta-se da sua cadeira de couro e pega no copo com Whisky para ir até à janela. O luar cristaliza o copo e dá alguma vida aos olhos negros do velho. Com um pequeno sorriso no canto da boca, ele eleva a bebida até à boca e termina-a num gole rápido, quando, de repente, um soldado entra pelo escritório adentro com uma expressão de pânico.

—Senhor, temos um problema! - exclama.

Raphael inclina um pouco o rosto de lado e encara o soldado, inquieto.

— O que aconteceu? - pergunta o velhote.

O soldado gagueja-se todo. As palavras embrulham-se umas nas outras e o homem não consegue formar uma palavra que faça sentido.

— Homem, fala! - grita Raphael. O soldado treme-se como varas verdes.

— É melhor vir ver com os seus próprios olhos.

Raphael carrega as sobrancelhas e segue o soldado até aos campos de cultivo, com bastante pressa. Outros militares estão juntos em semicírculo a olharem para algo.

O velhote empurra alguns membros para o lado, para ver o porquê de tanta balburdia e depara-se com um soldado ferido, encostado a um poste de madeira. A mão dele está sob o pescoço e os olhos encharcados de lágrimas e medo.

Raphael aproxima-se, mas um soldado coloca-lhe o braço à frente para o travar.

—Ele disse que tem um recado para lhe dar.

Raphael assente e agacha-se perante o soldado, que balbucia palavras banhadas em sangue cuspido.

— Ela...- ele trava. - Ela mandou perguntar se você gosta da vista...

Raphael olha em frente e apercebe-se que os campos, uns metros mais abaixo do olhar, estão cobertos por qualquer coisa. O velhote recompõe-se e dá uns passos em frente. Uma chacina decora agora os campos de cultivo. Corpos empilhados uns nos outros estão espalhados por todo o lado.

Raphael cerra o punho.

— Tragam-na! - ele berra. - Tragam-na até mim!

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥



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