Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 7
Ingrediente 06: Converse, Converse Muito - Parte 01


Notas iniciais do capítulo

Olar o/

Eu tento escrever caps com 3k a 5k de palavras, menos acho pouco para a forma que escrevo e mais que isso é cansativo.
Então tomei vergonha na cara e dividi esse capítulo, mas vou me redimir pra frente, juro u.u

Tenham uma boa leitura ^^



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Era óbvio, que quando se estava em uma posição delicada, com sua privacidade invadida, as pessoas procurassem um refúgio.

No caso de Tristan McLean era viajar até um lugar remoto, normalmente floresta ou montanha e relaxar por alguns dias ou semanas. Sem ligações, internet ou avisos, a ponto de Piper não se preocupar com os desaparecimentos do pai, passou anos odiando esse comportamento, quase como se ela também fosse alguém a quem ele queria distância, embora hoje conseguisse compreender que aquela era a forma dele de passar pelos piores momentos, se afastar dava certo, fazia bem, recarregava suas baterias e dava força para seguir e enfrentar os problemas.

E mesmo consciente de tudo isso, Piper preferiu passar pela principia antes de ir até o Jardim de Baco.

Encontrou um Frank, — que começou a fita-la de um jeito esquisito desde que perguntou sobre que doces Reyna gostava, — com os olhos cheios de solidariedade e vergonha, porque o povo que ele liderava mostrava seu lado mais colunista de fofoca.

Não que Piper estivesse impressionada.

´´Você não mora com uma celebridade a vida toda e sai ilesa da imprensa. ``

Agora, subindo lentamente a colina do Jardim de Baco naquele final de tarde cheio de nuvens, indagava-se se deveria ter preparado um discurso.

O reflexo de Argentum descendo a colina atrás de uma lebre quase a cegou, ao menos significava que estava no lugar certo. No topo um cheio suave de jasmim poderia ser sentido, a grama foi substituída por paralelepípedos brancos, a treliça coberta por videiras, cheia de cachos com uvas purpuras, Baco em sua pose, — no mínimo cômica, — continuava a jorrar água e, o objetivo de sua caminhada estava sentada no chão, ao lado da fonte.

Quando os olhos de Reyna a encontraram houve um momento de surpresa, que foi logo substituído por uma expressão mais contida e profissional, embora ainda conseguisse ver o desconforto brilhando nos olhos em obsidiana.

Ela não queria fomentar fofocas e, era bem claro que as pessoas evitavam aquele lugar lindo porque Reyna gostava de ficar sozinha nele. A ideia de estar junto a ela em um lugar que ficariam sozinhas era no mínimo um tiro no pé, Piper tinha considerado falar com a pretora na principia, embora fosse o tipo de conversa pessoal demais para se ter no ambiente de trabalho, — mesmo que Frank fosse um fofo, — apenas por consideração a Reyna.

´´Eu não vou mudar a minha vida em nada por causa de cochichos. ``

Mas sua filha de Belona preferida não pensava assim.

— Olá, McLean. — O tom polido e levemente impessoal a irritou, andou até a treliça para pegar uma uva, não queria brigar com ela. — Precisa de alguma coisa?

´´Achei que já tínhamos passado dessa fase. ``

— Nada que o Frank possa resolver. — A uva madura explodiu em sua boca, doce como as que seu pai trouxe da Toscana quando gravou o remake de algum filme italiano antigo.

— Oh. — Se estivessem em outra situação teria achado a surpresa mal fingida engraçada. — O que posso fazer por você?

´´Parar de se importar com o que os outros dizem, dar um soco em Vênus e tirar essa ideia de virar uma Caçadora da cabeça. ``

Pegou mais uma uva e andou até ela, analisando o lugar com mais calma.

Atrás da fonte, às costas de Reyna Nova Roma se expandia em casas, ruas e prédios, havia até algumas águias gigantes rondando um edifício de 4 andares.

— Você quer que eu diga a verdade ou finja como você está fazendo ago...

— Se for se sentar aqui não fique tão perto de mim. — Seu tom não era sussurrado, mas não deixava de ser baixo e constrangido, mais do que o suficiente para fazê-la parar de andar, o olhar dela se fixava em todos os lugares, menos em Piper. — Estamos sendo observadas. — A romana indicou com a cabeça um pequeno prédio que as águias rondavam, Piper não teve o mesmo cuidado, viu apenas algo ser apanhado pelo pássaro gigante, provavelmente comida.

— Tá.  — Reyna tinha motivos para dizer o que havia dito, mas... — Sabe, eu fiquei com uma vontade enorme de me jogar em cima de você. — Não ligava a mínima se ela tinha motivos ou não.

Deu um passo na direção dela, o que fez a pretora se levantar rapidamente, pigarreando para disfarçar o nervosismo.

— Senta. — Mandou em um tom monótono, a expressão de Reyna enrijeceu, claramente irritada com o imperativo usado contra ela. — Eu não acredito que você me fez perder a paciência tão rápido. — Estava a cultivando por tanto tempo, jogou a outra uva na boca, terminando de andar a curta distância, sentou-se de costas para o chafariz com as pernas em posição de meditação, mesmo a vista estonteante não ajudou a recuperar seu humor.

— Desculpe. — Falou depois de um momento em silêncio, Reyna se sentou, com bons 40 centímetros entre as duas, tinha certeza que Katoptris se sentiria confortável naquele espaço. — Eu só não quero que esse boato cresça mais. — Murmurou, fitando o chão. — Ou que respingue ainda mais em você. — Completou com pesar na voz, o suspiro de frustração demonstrava a impotência que ela sentia. — Eu sinto muito por isso, não tem nada a ver com você e mesmo assim...

— Espera um segundo... — Levantou o dedo para que ela se calasse, analisando suas palavras. — Você. — Apontou para Reyna, para não deixar margem de dúvida ao cérebro lenteado. — Você está preocupada comigo? — A pretora pareceu ofendida com a pergunta.

— É claro que eu estou. — Respondeu com indignação no olhar. — Já me acostumei com isso, com todo mundo olhando pra minha vida como se fosse um reality show, mas você não deveria ser afetada com isso. — A amargura em sua voz contribuiu para um sentimento morno crescer no coração de Piper.

Era parecido com o que sentia ao ver vídeos de gatinhos fofinhos.

— Reyna. — Chamou, um sorriso bobo estava crescendo em seus lábios. — O que as pessoas dizem ou deixam de dizer não me interessa. — Sua voz saiu mais amável do que pretendia, a pretora a fitou com receio no olhar.

— Não? — Indagou, ainda descrente, Piper não tentou conter o riso.

— Não, nem um pouco. — Os olhos escuros continuavam a sonda-la, como se não pudessem acreditar em suas palavras. — A minha irmã acha que é verdade e ficou muito feliz, me deu até parabéns.

— Você realmente não liga? — Ela não esperou que respondesse para suspirar aliviada. — Deuses, eu estava com tanto medo que você... — Parou de falar, com o significado de suas palavras finais chegando a seu cérebro. — Sua irmã disse o que? — Piper sabia que não deveria achar a situação tão engraçada, mas achava.

— É a Drew, ok. Eu não sei. — E considerando toda a confusão com Malcolm, talvez nunca chegasse perto de entender a irmã. — Nas palavras dela: todo mundo está shippando a gente. — Reyna a encarou como se tivesse falando em francês. — Shippar, é quando eu gosto de um casal e torço por ele. — A descrença nos olhos da filha de Belona cresceu. — Tipo, eu gosto que o Frank e a Hazel estejam juntos, então eu shippo eles.

— As pessoas... — Ela parecia estar com dificuldade de raciocinar. — Realmente fazem isso?

— Acho que é mais comum com personagens de filmes e livros. — Deu de ombros, não era como se fosse uma expert no assunto, a pretora assoviou, absorvendo aos poucos o novo conhecimento.

Deveria ser estranho pensar que um acampamento todo poderia estar realmente torcendo para que...que...

´´Espera...``

Claro, Drew com certeza estava exagerando, ela poderia ter fofocado com um monte de gente, mas nunca com toda a população do Acampamento Júpiter, mas era engraçado o uso justo daquela palavra, ao invés de dizer que a fofoca sobre estarem namorando ou coisa do tipo.

E, a ideia que começou a florescer na cabeça de Piper provavelmente estava errada, ou era apenas uma forma muito positiva de ver a situação, entretanto se o que Reyna disse sobre o acampamento era verdade, — o que com certeza o era, — sobre os romanos valorizarem o mérito de cada um para com a legião, era possível dizer que, como líder deles a tantos anos, o prestígio de Reyna deveria ser enorme e talvez, apenas talvez...

Aquela rede de fofocas fosse apenas a forma da Décima Segunda Legião Fulminata torcer por algo que sua pretora queria e, com toda certeza merecia.

— Por que está me olhando assim, Piper? — Despertou de seus pensamentos, sem saber porque o olhar de Reyna parecia apreensivo.

— Nada. — Não dividiria sua pequena teoria agora. — Posso me sentar do seu lado ou você vai sair correndo? — Reyna ponderou, o que fez a irritação de Piper querer se acender.

— Se você realmente não se importar com... — Escorregou para o seu lado, próxima a ponto de seus braços encostarem, a romana encarou o ponto de contato.

— O que foi? Estou invadindo seu espaço pessoal de meio metro? — Sua voz soou ranzinza, Reyna apenas riu.

— Não era meio metro. — Foi sua única resposta.

A filha de Afrodite se pôs a encarar o horizonte, as nuvens afastando-se do sol que começava a se por, teve vontade de deitar a cabeça no ombro de Reyna e assistir ao espetáculo, mas deixou o impulso de lado, não era ela quem precisava de apoio hoje.

— Então... — Não soube bem como começar. — Quer falar sobre o que aconteceu? — E mesmo com sua falta de detalhes Reyna pareceu entender pelo suspiro cansando que desprendeu.

— Não tem muito o que dizer além do que você já sabe. — Deu de ombros, seu tom não era formal como antes, entretanto revelava pouco incentivo a continuarem com o assunto.

Piper perguntou-se se era assim que agia com todos que tentavam se aproximar dela, ou se a armadura emocional era retirada em algum momento, será que com Nico ao menos Reyna se abriria? Será que o fazia com a irmã?

Tratou de varrer o crescimento de um tanto de mágoa em seu interior, havia se disposto a ouvi-la e oferecido compreensão, queria que Reyna confiasse nela.

Mas Nico não confiou em Jason logo de cara.

Ainda se lembrava da forma como o irmão de Hazel se escondia nos cantos mais escuros do Argos II, assustado, deslocado e solitário, traumatizado pelos sofrimentos do passado e sem conseguir confiar em ninguém o bastante para dar vazão a toda a raiva, medo e tristeza que sentia.

Piper mal conseguia acreditar que aquele garoto com nada mais que o vazio nos olhos era o mesmo que andava de mãos dadas com Will pelo Acampamento Meio-Sangue com um sorriso no rosto, que hoje era capaz de compartilhar partes de sua vida com os amigos, não apenas as ruins, mas as boas também.

Os motivos poderiam ser outros e, talvez soubesse disfarçar melhor do que ele, todavia era difícil para a grega não fazer comparações.

— Lembra quando conversamos depois da guerra? — Arrancou uma flor de jasmim nascendo entre os paralelepípedos. — Quando descobri que você doava força na batalha? — Acariciou as pétalas com a ponta dos dedos, querendo soar tão delicada quanto seu toque.

— Sim, me surpreendo até hoje que você tenha notado. — O tom de sua resposta a questionou onde queria chegar.

— E você me contou sobre Vênus. — Conteve a vontade de arrancar uma pétala, sua mãe era impossível. — E eu disse que ela era idiota, você tinha amigos, e que, por mais que seja a Miss Perfeição. — Não conseguiu conter a provocação, mesmo que sua voz continuasse calma e sem humor. — Precisava buscar forças nos outros também. — Continuou brincando com a flor ao encarar a pretora.

Faziam quase dois anos desde que aquilo aconteceu, mas Piper se lembrava de forma tão nítida que poderia ter ocorrido a poucas horas.

— E depois eu disse que você tinha jeito com as palavras. — O sorriso nos lábios de Reyna era amistoso e nostálgico. — Você disse que não estava usando charme, e eu, que sabia disso. — Piper ficou feliz por não ser a única com uma memória rica em detalhes. — Apertei sua mão e disse que nos veríamos de novo. — A romana abraçou os joelhos, encarando as tímidas estrelas que começavam a despontar.

— Depois que você foi embora, fiquei algum tempo lá no lago, pensando que você estava certa. — Deixou a flor escapar por seus dedos, concentrada no rosto tranquilo da pretora. — E que agora éramos uma família, gregos e romanos. — Os olhos escuros voltaram aos seus, o sorriso que lhe deu foi cheio de satisfação e tranquilidade, como se gostasse daquela frase. — Foi a última vez que me senti em família. — Uma sensação de pertencimento e união que só experimentou a bordo do Argos II.

— Piper... — Ela franziu a testa de preocupação e, a grega quis se bater por ser o motivo disso.

— Família de verdade, a que tem brigas, brincadeiras idiotas e na maior parte das vezes você nem entende porque gosta tanto deles. — Rolou os olhos para as brincadeiras de Leo. — Mas você gosta, faz o que pode pra ajudar quando é preciso, dá força e escuta. — Reyna a ouviu com atenção e, Piper gostou desse monopólio. — Você faz parte da minha família também, eu me importo com você.

A filha de Afrodite não contou os momentos que ficaram em silêncio, os olhos da romana tinham um brilho que não soube identificar, parecia um misto de surpresa e incredulidade, ao mesmo tempo em que queria acreditar em suas palavras, ela parecia tão frágil, mesmo com a armadura dourada e um manto indestrutível.

— Você não precisa aguentar tudo sozinha. — Conteve a vontade de pegar sua mão, a intuição dizia que se pressionasse demais ela se fecharia. — Se você quiser conversar, eu gostaria de ouvir. — Mordeu seu lábio inferior, para tentar dar vazão ao nervosismo, Reyna pegou seu movimento sutil por um segundo, voltando o olhar para colina a baixo.

— Eu... — Começou em um fio de voz. — Fico chateada com as pessoas falando da minha vida, me olhando com pena e cochichando como se soubessem o que é melhor para mim. — Não havia raiva em sua voz, apenas pesar e cansaço, muito cansaço. O coração se Piper apertou.

— É disso que a minha mãe fala, sobre curar o seu coração? — Reyna pareceu surpresa com a pergunta, como se nunca houvesse parado para pensar naquela possibilidade.

— Acho que não. — Uma de suas mãos foi até os jasmins nascendo, apenas a passando por cima deles, como se fizesse carinho em um cachorro. — Até porque, isso só acontece tanto porque ela fez questão de espalhar para todo mundo, se Vênus não tivesse dito nada minha dor de cabeça nem aconteceria. — Ela fitou o nada a sua frente, aborrecida, a grega não evitou rir, mas tratou de voltar a compostura, necessitava da precisão de um cirurgião.

— Se não era sobre isso, por que seu coração está machucado? — Passou anos pensando nisso vez ou outra quando a conversa a margem do lago voltava a sua mente, não chegou à conclusão alguma, ver o maxilar da pretora enrijecer foi o suficiente para saber que não teria a resposta tão cedo.

— Não quero falar sobre isso. — A grega conteve o suspiro de frustração a própria pressa.  — Desculpe, Piper. Não é que eu não confie em você, é só...

— Ei... — Deu um soquinho em seu braço, descartando a ideia de empurrar com o próprio ombro o dela protegido pela tira de couro da armadura. — Está tudo bem, não é fácil falar sobre essas coisas. — Mesmo que não soubesse o que essas coisas eram. O sorriso agradecido que ganhou em resposta pareceu robótico, apenas para que pensasse que estava tudo bem.

´´Ok, eu não vim aqui para te deixar mal. ``

— Acho que sei como parar com as fofocas. — Soltou o comentário no ar, o olhar interessado de Reyna quase ofendeu sua autoestima.

´´Eu não faço seu tipo, saquei. ``

— Vai pegar um megafone, usar o charme e fazer todo mundo calar a boca? — Piper não deixou de notar que a piada era apenas uma forma de desviar a atenção de seu estado real de espírito.

— Seria legal testar se funciona. — Provavelmente entraria em coma com toda a energia que teria de usar.

— Você fez Gaia dormir, Rainha da Beleza. — Foi a vez de Reyna lhe dar um soquinho. — Não se subestime, isso não é nada. — Ela pareceu tão sincera que Piper sentiu as bochechas esquentarem.

Não era todo dia que recebia elogios de uma das semideusas mais incríveis que já havia conhecido.

— Então, qual o plano? — Ajeitou a pena de pegasus no cabelo, tentando disfarçar o quanto o elogio a afetou.

— Você não precisa fazer nada. — Ela arqueou a sobrancelha, desconfiada. — Só precisa me deixar agir, sem questionar. — Frisou as últimas palavras, Reyna quis protestar, mas a impediu. — Família, confiança, lembra? — Ela sequer tentou cobrir o sorriso desafiador.

— Ok, vou confiar esse problema a você. — Piper adoraria arrancar aquele sorriso de seus lábios. — Pode começar. — E apontou para trás. — A duas quadras daqui tem uma loja que vende alguns megafones...

— Você está brincando com a minha cara, pretora? — Tentou manter o rosto sério, o que durou 5 segundos. — Tá, eu vou começar agora. — Olhou de relance para o prédio, as águias ainda estavam ali: perfeito. — Feche os olhos e...Não me olhe desse jeito.

— Tá, confiança, entendi. — Seguiu com seu pedido, ainda rindo levemente.

— Eu vou pegar a sua mão, não me bata. — Tentar acordar Lacy era quase um treino de boxe, não queria ser nocauteada por um reflexo. — E relaxe. — Não sentiu culpa em usar um pouco de charme para que Reyna deixasse que conduzisse seu braço, com um movimento suave passou por seus ombros, aproximando-se mais dela.

— Piper, você usou...? — A voz sumiu quando se aninhou a ela, porém o que a deixou receosa foi a total falta de movimentos.

Era como se a pretora tivesse dado uma boa encarada na Medusa.

Em sua cabeça Reyna poderia se afastar, ficar envergonhada ou lhe dar um cascudo, — mesmo que fosse igual ao dia em que treinaram com a zarabatana, — nesses cenários soltaria um comentário ácido e tudo seria resolvido, a cada segundo que se passava a filha de Afrodite se sentia mais incomodada com o barulho de uma cigarra distante ser a única coisa viva nas redondezas.

´´Que ideia excelente, Annabeth ficaria orgulhosa. ``

— É o jeito mais fácil de parar com as fofocas. — Justificou, tentando se convencer de que sua voz estava firme. — Se fossemos desmentir acho que a gente teria que se evitar. — Não sabia exatamente porque estava sussurrando, mas estava. — Eu não queria te assustar. — O corpo de Reyna ficou ainda mais rígido, se é que aquilo era possível.

— Eu não estou assustada. — Pontuou com o tom de comandante ressurgindo das cinzas, pela primeira vez a grega ficou feliz de ouvi-lo, sorriu para a colina a baixo, vendo as luzes do acampamento fazer frente com a escuridão da noite. — Você só me pegou de surpresa. — Mordeu o lábio para conter o sorriso, rir do orgulho ferido de um oficial romano não parecia boa ideia.

— A é? — Infelizmente seu senso de autopreservação não conseguiu prender sua vontade de alfinetar. — Não sabia que era tão fácil pegar um pretor de surpresa. — Riu da própria piada, nem o suspiro de Reyna a fez deixar o humor para trás.

Sentir a mão dela em seu queixo é que foi o responsável por isso.

— Não me provoque, Piper. — Disse em uma voz baixa e macia enquanto a encarava com firmeza, um tanto perto demais para quem queria distância poucos minutos atrás. — Você não vai gostar se eu resolver descontar. — Os dedos de Reyna escorreram de seu queixo enquanto ela se virava para encarar qualquer coisa a sua frente, levemente aborrecida com os cacos de seu orgulho.

Restou a filha de Afrodite engolir em seco, fazer o cérebro pegar no tranco e ignorar o coração martelando rápido em seu peito.

´´Desgraçada. ``

Que ideia era aquela de agir como se quisesse...

´´Não pense no que a Drew falou, não pense no que a aquela idiota falou, não pense no que...``

Tarde demais.

´´É tarde demais desde aquele dia que fui na casa dela. ``

Quando Reyna abriu a porta vestindo um kimono curto de seda, que valorizava muito suas pernas, diga-se de passagem, — e que não poderia descrever de outro jeito além de sexy, —descalça, com o cabelo solto e bagunçado, como se houvesse acabado de sair da cama, Piper pensou em muitas coisas, algumas preferiu ignorar, tamanha sua vergonha e, nenhuma tinha a ver com a palavra castidade ou com a deusa Ártemis.

Meio anestesiada, deixou que o pensamento óbvio de que Reyna estava esperando, — ou escondendo, — alguém para a manhã seguinte.

´´Se você está saindo com alguém nem pensaria em se juntar as Caçadoras de Ártemis, foi um rolo que deu errado e você teve essa ideia maluca? ``

Se o fosse, convocaria o acampamento todo para darem uma surra em sua pretora.

— É só isso que a gente tem que fazer? — Com a voz calma que conhecia, Reyna perguntou antes que pudesse dizer qualquer coisa. — Você vai sair comigo em locais públicos e vamos fazer isso? — Ela não poderia estar mais desanimada com a ideia, que deu a deixa para o orgulho de Piper se jogar na lama.

— Eu posso ir na sua casa comer pizza de novo. — Rebateu em tom mordaz, ignorou sua irritação, ponderando a ideia.

— Você não liga mesmo para o que as pessoas vão dizer. — Disse, como se constatasse pela primeira vez.

—Por favor, sabe quantas abelhas rainhas já enfrentei? — Estava colocando Drew na conta. —Você estava esperando alguém aquela noite? — Aproveitou sua irritação, caso contrário a pergunta não sairia.

— Por que isso de repente? — Tentou inventar uma desculpa plausível a sua dúvida sincera.

— Nada. — Deu de ombros, esquecida que o braço de Reyna continuava ali, o riso baixo a fez desviar o olhar.

— Sabe... — Começou o sussurro em seu ouvido, como se contasse um segrego. — Eu não preciso do Aurum ou do Argentum para saber quando alguém está mentindo pra mim. — O estômago de Piper virou de cabeça para baixo, como se Godzilla houvesse começado uma festa. — Eu estava esperando o Nico. — Seu olhar se ligou ao dela de supetão, absorvendo a franqueza nos olhos negros. — Você achou que fosse um encontro? — Ela pareceu achar graça da ideia.

— Bem... — Foi a única resposta que pode dar, já que sua mente se ocupava em mantê-la quieta, ignorando o quanto ela estava perto, de novo.

— Não, Piper. Não estou saindo com ninguém, quero me juntar as caçadoras, lembra? — A frase tratou de matar a lagartixa gigante em seu estômago, Piper encarou os próprios pés.

— É, eu lembro. — Não fez questão de esconder o mau-humor que a informação causava.

— De vez em quando o Nico aparecia por aqui, a gente comprava comida e assistíamos algum filme. — A mudança de assunto para aliviar o clima não deu certo. — Se você gostar da ideia a gente pode fazer isso sábado que vem.

Primeiro, Piper fitou os paralelepípedos, havia entendido direito? Lentamente, encarou a pretora, que esperava uma resposta, foram precisos mais alguns segundos para entender que ela queria dar continuidade a seu plano.

— Ok. — Sua resposta saiu sem emoção, pois eram tantas disputando espaço a ponto de deixa-la meio zonza. — Mas eu vou escolher o filme. — Ela sorriu para seu tom mandão. Os olhos de Reyna pareciam animados ou era impressão sua?

Piper estava irrita, pela pretora ainda ter a ideia de caçadora na cabeça.

— Meu gosto pra filmes é excelente, se é com isso que está preocupada. — Seu tom de falsa ofensa a fez rir.

Estava feliz, porque havia conseguido uma brecha por entre a armadura de Reyna.

— Você tem cara de quem gosta daqueles filmes de guerra que ganham Oscar e romances de época. — A graça sumiu do rosto dela.

Estava triste, por tudo que Reyna havia passado ainda estar preso dentro dela, sem que conseguisse falar sobre toda aquela dor.

— Como é que você sabe disso? — A fala soou indignada enquanto a filha de Afrodite apenas sorriu, inocente.

Estava surpresa pela teoria da irmã sobre a pretora estar certa. Aliviada pela confirmação de que não estava namorando ninguém e preocupada.

Muito preocupada.

— Intuição. — Piscou para ela, dando o assunto por encerrado. Encostou a cabeça em seu ombro para terminar de ver o fim do expediente de Apolo no Acampamento Júpiter, sentiu-a ficar rígida outra vez, embora tenha durado por bem menos tempo dessa vez.

Preocupada porque, Reyna gostar de alguém seria o bastante para desistir da ideia de se tornar uma caçadora, era a resolução de seus problemas, não deveria se sentir aliviada, era no mínimo assustador, e Piper deixaria para pensar que provavelmente estava apaixonada por ela em outro momento. Tinha que se preparar psicologicamente para aquela noite de filmes.

E torcer para que Reyna não quisesse usar o kimono outra vez.


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Notas finais do capítulo

Sim, tudo isso foi pra uma cena só, mas valeu a pena, não? Pelo menos a Piper se tocou u.u

Para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^



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