Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 6
Ingrediente 05: Tenha uma Crise Existencial e uma Irmã em Negação


Notas iniciais do capítulo

Olar o/

Sentiram o drama no nome do cap? Não? É, nem eu e.e
Mas tem, eu juro u.u

Sem muito a dizer porque estou morrendo de sono:

Tenham uma boa leitura ^^



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— Piper... — Reyna não tentou disfarçar a surpresa.

— Oi. — Disse, dando a atenção ao estojo cheio de dardos multicoloridos.

— Quando você disse que queria sair, eu achei que era pra comer, ou ver o acampamento ou... — Qualquer coisa na verdade, menos aquilo.

O que a aliviou imensamente, precisava admitir.

´´É um treinamento, só um treinamento. ``

Sentimentos contraditórios brotaram dentro de si em relação as interações de Piper.

— O que? — Achando graça, a grega encarou o alvo que demoraram quase uma hora para achar no arsenal. — Está com medo da zarabatana? — Empunhou a arma oca de cerca de trinta centímetros. — Não era você que sabia mexer em qualquer tipo de arma? — Mirou o alvo, marrom, laranja e preto pregado na árvore e atirou.

Acertou a parte laranja, quase chegando ao círculo preto menor, Piper a encarou, a desafiando a fazer melhor.

Reyna odiou ser tão facilmente provocada.

— Me dá isso aqui. — A filha de Afrodite estendeu a arma, apertou a zarabatana com as duas mãos, sentindo seu peso, procurando uma postura ideal para atirar, fazia tanto tempo que sequer encostava em um arco.

Levaria alguns treinos árduos até se acostumar com o estilo de luta das Caçadoras de Ártemis.

— Quer ajuda? — Negou com a cabeça, tentando se lembrar dos fundamentos básicos do tiro com arco.

´´Alinhe o corpo de forma perpendicular ao alvo, pés na distância dos quadris...``

Tentou segurar a zarabatana como um mosquete, o que obviamente não daria certo, já que não havia gatilho, peso para ser distribuído ou recuo com o tiro, dispôs a duas mãos junto a base onde deveria assoprar, não era uma postura familiar, entretanto parecia mais certa que as outras que imaginou.

— Acho que entendi, me dá um dardo. — Foi o que a grega fez, a observando com interesse. Mirou, prendendo a respiração profunda por um segundo e atirou.

Acertou no laranja, um pouco acima do dardo de Piper.

— Eu te odeio. — Riu do comentário.

— Você acertou mais no centro do que eu. — Pontuou, o bico da grega não diminuiu.

— É, mas eu não comecei hoje. — Resmungou, indignada por ter acertado. — Eu não achei que você se engasgaria com o dardo como meu primo, mas...

— Engasgou? Ele sugou ao invés de soprar? — Perguntou para confirmar o que seus ouvidos captaram, sem que acreditasse.

— Justin sempre entende tudo ao contrário. — Ela deu de ombros. — O que eu quero dizer é: você sacou tão rápido, assim nem tem graça. — E pegou a zarabatana de suas mãos, colocando outro dardo enquanto Reyna continuava achando a situação cômica.

— O que esperava? Ficar ajeitando minha postura e como eu deveria segurar? — Piper a encarou longamente antes de voltar sua atenção ao alvo, Reyna engoliu em seco. Era isso que ela queria?

´´É um treinamento, Reyna. É só um treinamento, você fez isso a vida toda. ``

— Toda filha de Belona é perfeitinha como você? — Ignorou seus pensamentos, notando que não sabia porque a visão da filha de Afrodite irritada daquele jeito era engraçada, mas era.

´´Não venha com essa história de ser perfeita outra fez. ``

A primeira quase a havia feito engasgar.

— Não sei. — Uma verdade. — Só conheço minha irmã. — Belona estava muito longe de ter tantos filhos como Júpiter, Mercúrio e....Vênus. — Mas você a acharia pior do que eu. — Tentou suavizar os sentimentos conflitantes na voz, seus problemas familiares não eram importantes para a grega.

— Por que? — O tom cauteloso deu a Reyna a pista que precisava para saber que seu cuidado não valeu de nada.

—Além de ter feito um motim em um navio pirata pra depois se tornar rainha das Amazonas? — Piper deixou a zarabatana abaixar, obviamente surpresa com a primeira parte. — Da última vez que ela quis me ver mandou as Caçadoras de Ártemis me raptarem. — Disse, com as palavras saindo de sua boca com dificuldade, seu orgulho ainda doía por não ter percebido antes. — E elas usaram uma zarabatana com sonífero para me pegar. — A filha de Afrodite abaixou ainda mais a arma quando seu olhar se prendeu nela por um tempo prolongado.

— E eu achei que a minha família era complicada. — Disse por fim, absorvendo as informações, Reyna pegou a zarabatana.

— E não é? Soube que sua irmã pega meio pesado. — Mirou enquanto Piper suspirava.

— Drew parou de ser insuportável quando notou que eu era a única pessoa com uma arma naquele chalé. — O tom aborrecido continuou. — Mas não era dessa parte da família que eu estava falando. Meu pai acha que estou sendo voluntária em um abrigo de animais. — Respirou fundo e atirou.

Demorou para notar o pequeno projétil amarelo no tronco da árvore acima do alvo.

— Sabia, era só sorte de principiante. — E pegou a arma de suas mãos enquanto Reyna desistiu de tentar usar a dúvida que as palavras dela causaram como desculpa para sua pontaria horrível.

´´Como seu humor melhorou ao me ver errar...``

— Ele não sabe que você está aqui? — Ao menos esperava que Tristan McLean não fosse um daqueles mortais fixados na Grécia a ponto de achar a presença da filha em território romano uma afronta, pois tinha certeza que o pai teria posição semelhante.

Ela atirou antes de responder: mais perto do ponto preto central, mas ainda na parte laranja.

— Ele não sabe que eu sou uma semideusa, ou que isso tudo existe. — E passou a zarabatana para Reyna, que pegou apenas por reflexo, pois estava em choque, Piper deu de ombros, levemente incomodada com sua surpresa. — Ele também não faz ideia de que minha mãe é uma deusa. — Sentou-se em uma pedra enorme dois passos atrás, sua voz sem qualquer resquício de bom humor. — É difícil de acreditar, eu sei.

E como era.

Era complicado para um deus esconder sua presença divina quando se apaixonava, Reyna já havia ouvido aquela história centenas de vezes, da boca de legionários, Lares e até dos próprios deuses, a magia simplesmente acontecia a frente dos olhos dos mortais, até o nascer de alguns meio-sangues desafiavam o mais cético dos humanos.

E Annabeth Chase era a prova concreta disso.

Reyna mirou por tempo mais do que o suficiente, perdida em pensamentos.

Pelo que sabia, mesmo que Percy fosse ignorante a própria condição até aos 11 anos, sua mãe sempre soube de tudo, a mãe de Leo morreu antes que pudesse relevar o filho a verdade, o mesmo acontecia a Frank, entretanto elas sabiam o papel que seus filhos teriam, os preparando como podiam para o futuro turbulento, lhe dizendo que todas as esquisitices que aconteciam tinham um propósito, ou que elas poderiam salvar sua vida.

Piper não teve nada disso.

Respirou fundo e atirou: na parte amarela, quase pegando na árvore de novo.

A pretora sequer imaginava como seria sua vida sem o treinamento, todo o conhecimento acerca do mundo antigo, seus instintos testados a todo momento desde que se lembrava, teria morrido antes de chegar à Lupa.

E a garota a poucos passos de distância conseguiu passar por todos os perigos de ser uma meio-sangue sem nem ao menos saber deles.

Um tipo de admiração especial despontou em seu peito, Piper era muito mais forte do que poderiam julga-la.

— O que foi? — Não era muito difícil que a grega notasse seu olhar.

— É que você estava certa. — Admitiu, sentando-se ao seu lado e deixando a zarabatana entre as duas. — Foi sorte de principiante. — Ela soltou um riso baixo e curto, olhando o alvo. — Nunca tentou contar a ele? — Com toda certeza Piper tinha seu estoque de néctar, ambrosia e armas em casa, não era possível que ele achasse normal uma adolescente andar com uma faca de 40cm por aí.

— Ele foi raptado uma vez, por um gigante, quando descobri que era uma semideusa. — Ela murmurou encarando os pés, a lembrança claramente não era boa. — Afrodite me deu uma poção para que ele esquecesse tudo.

Piper voltou os olhos para o céu poente enquanto Reyna apenas sentiu a brisa suave, sem necessidade alguma de apressar o momento.

— Meu pai, acho que no fundo ele sabe que tem algo errado, que os deuses existem e essas coisas todas. — Um sorriso que tentava ser sarcástico soou triste. — Naquele dia, mesmo traumatizado, a gente se entendeu. — Respirou fundo por um momento, a impressão que tinha era que falava de algo longe de sua realidade. — Mas ele não conseguiu. — A grega cruzou os braços, fitando a grama como se quisesse soca-la. —  E o pior de tudo, é que ele ainda gosta dela. — Para Reyna foi óbvia a tentativa de conter a raiva na voz. — Não é como se ela não se importasse com ele, mas...

Suspirou, como se tentasse não cometer sacrilégios com o nome da mãe.

 — Na primeira vez que conversamos, ela me disse que Jason e eu teríamos que ser como Helena e Páris para determos Gaia. — Até hoje aquele nome parecia lhe dar calafrios, Piper passou a mão pelas contas no colar do Acampamento Meio-Sangue, incomodada. — Tipo, morrer heroicamente, na época eu entendi como um incentivo. — Deu de ombros, perdida em seus pensamentos altos. — Mas no final ela só quer um espetáculo trágico.

Esperou por mais algum comentário, todavia a grega apenas seguiu encarando o nada.

— Você sabe que Vênus está longe de ser minha deusa favorita. — Começou com cautela, para não inflamar uma possível discussão. — Mas não acha que está pegando pesado demais com ela? — Para uma deusa do amor, querer um final mortal a própria filha parecia no mínimo hipócrita. — Era a primeira vez que se encontravam em uma situação caótica, talvez ela só... — A risada de Piper a cortou.

— Justo você defendendo minha mãe, por que não tenho uma câmera? — Rolou os olhos, a empurrando levemente com o ombro.

— Só estou sendo razoável. — Piper concordou, a graça sumindo aos poucos.

— É que... — Dessa vez ela a encarou, procurando pelas palavras certas, incerta sobre o que dizer. — Ela sempre me disse que tenho uma voz poderosa, e tenho que usa-la. Meu avô escolheu meu nome por causa minha voz, parece que tudo na minha vida me empurra pra esse mundo, mas eu também não quero isso, porque... — Seu maxilar tensionou, como se tivesse medo de dizer as palavras. — Não quero ser igual a minha mãe. — Piper a encarou, seus olhos camaleônicos demonstravam surpresa consigo mesma. — Ela quer que eu faça como a minha irmã, que brinque com os sentimentos dos outros, eu quase consigo sentir. — A voz agitada demonstrava o quanto a luta interna ainda não tinha acabado.

Perguntou-se a quanto tempo ela acontecia.

— Piper... — A grega não escutou seu nome dito em tom baixo e suave.

— E tem Hera, brincando com Jason e eu, como se fossemos bonequinhos, querendo um modelinho perfeito de algo que ela inventou, não vou fazer parte disso, não é o que eu quero. — Ela voltou a encarar o nada a sua frente, em busca de respostas.

— Piper. — Reyna poderia não saber lidar com os abraços surpresa de Frank, mas ainda era boa em notar quando alguém precisava de um.

— Não ligo pro desejo dos imortais, só quero sentir que pertenço a algum lugar, eu só quero me sentir em casa. — Seu braço passou pelo ombro da filha de Afrodite, trazendo-a mais para perto, em primeiro momento a tensão a tomou, para depois relaxar e deitar a cabeça em seu ombro junto a um suspiro. — Desculpe descontar as minhas frustrações em você, era pra ser divertido. — A voz de Piper soou cansada e baixa, como se houvesse acabado de sair de uma maratona.

— Não tem motivo algum para se desculpar. — O que era verdade. — Consegue ver Nova Roma daqui? — Ela respondeu com um som de concordância. — A maioria dos habitantes são legionários aposentados, que serviram a legião bravamente e conquistaram o direito de estar aqui. — Alguns não tão bravamente, mas essa parte não era importante para seu discurso. — Roma não é para aqueles que querem estar aqui, são para o que provaram seu valor a ela. — Era algo que Lupa fazia questão de ensinar. — E você também tem lugar entre nós. — Sentiu-a ficar tensa novamente, Piper afastou-se apenas o suficiente para encará-la, tentando pegar o significado de suas palavras.

— Reyna. — Seu nome soou incerto e tremido, o porquê, não imaginava. — O que está dizendo?

— Que, assim como os outros da Profecia dos Sete, você é bem-vinda aqui quando quiser. — Não sabia como explicar de forma mais clara. — O Acampamento Meio-Sangue é um lugar para treinamento, mas aqui ninguém precisa ir embora. — A pretora encarou a cidade novamente, sentindo o orgulho transbordar de seu peito. — Aqui você pode criar raízes.

Como a própria Reyna havia criado.

Era bom andar pelas ruas em paralelepípedo e sentir que conhecia cada esquina, ver as crianças brincando nas praças, sem medo ou receio de uma horda de monstros aparecer, andar até sua padaria preferida, onde o garçom já conhecia seu pedido e o tinha na ponta da língua, Nova Roma era um refúgio, onde a vida de um semideus poderia ser longa e tranquila.

Percy havia se encantado à primeira vista e, sabia exatamente o que ele havia sentido, Piper apenas deitou a cabeça em seu ombro novamente, sem cerimônia alguma.

— Obrigada. — Murmurou, o cansaço em sua voz diminuiu, mas a pretora não soube identificar se o tom era tímido ou apenas sonolento.

´´Você me ofereceu um lugar entre vocês, é tão surpreendente que eu faça o mesmo? ``

Poderia provoca-la com esse pensamento, mas para quem tinha falado tanto sobre as próprias angustias, talvez fosse demais.

— Disponha, Rainha da Beleza.

Se o Acampamento Júpiter havia sido seu lar por tanto tempo, por que não poderia ser o de Piper também?

***

Reyna estava irritada e, isso era visível para quem olhasse.

Ela sempre andava de toga e armadura pelo acampamento, como uma boa pretora em seu uniforme recorrente, portanto sua postura ereta não era um indício, mas a expressão fechada o era, junto com a aura assassina.

E, se isso não fosse o bastante, os espíritos do vento desviavam de seu caminho até a mesa, pressentindo a morte eminente, o refeitório perdeu um pouco de seu burburinho animado, quase como um respeito ao estado emocional de sua líder.

— Ou vamos entrar em guerra de novo ou ela descobriu tudo. — Drew sussurrou ao seu lado, Piper só conseguia escapar de jantar com a irmã quando Malcolm aparecia antes dela, o que não acontecia com frequência.

Quem diria que um filho de Athena seria tão ruim com horário.

Ao menos seus amigos conseguiriam uma folga das minhocas em sua cabeça.

´´O absurdo aqui é vocês não acharem a decisão dela estranha. ``

— Descobriu o que? — Indagou apenas por educação, nada que fosse do interesse de sua irmã poderia afetá-la, parou de mexer na comida e procurou a mesa da Quinta Coorte com o olhar, mas perdeu-se na tarefa ao notar a tonelada de olhares dirigidos a sua pessoa.

Engoliu em seco, tentando se convencer de que outra pessoa em sua mesa era o centro das atenções.

— As fofocas, vai me dizer que você não sabe? — Sua irmã pareceu indignada com a ideia.

— Drew... — Não queria discutir, queria respostas. Deixou os talheres na mesa, sua fome tinha perdido para o mal pressentimento.

´´Deuses, estava indo tudo tão bem...``

Uma tarde agradável alguns dias atrás, onde conseguiu colocar os sentimentos para fora, era quase como se o peso do mundo saísse de seus ombros, sentia-se mais leve e, ainda mais certa de que o lugar de Reyna era ali, a forma como ela falava de Nova Roma mostrava todo o amor que tinha pelo Acampamento e, seu coração ainda se aquecia com o convite.

Havia tentando em Oklahoma, na casa do pai na California, no Acampamento Meio-Sangue, por que não ali, onde seus amigos estavam?

— Todo mundo está shippando vocês, garota. — Ela lhe deu um empurrão com o ombro, como se isso fosse incrível.

— Estão o que? — O aborrecimento no rosto de Drew lhe deu vontade de socar sua cara.

— Shippando. — Repetiu devagar. — É quando você torce por um ca...

— Eu sei o que é shippar, Drew. — Estava perdendo a pouca paciência que tinha. — Quem? — O sorriso da irmã conseguiu soar diabólico, divertido e ansioso ao mesmo tempo.

— Na nossa recordista de indicações do MPT e você. — Ela bateu palmas, animada com o assunto. — E então, é verdade? Soube pela Leyla que vocês duas estavam juntas esses dias na... — A voz agitada deixou de ser captada por seus ouvidos.

´´Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara...``

Piper tinha certeza que conseguiria convencer Reyna a ficar.

Ela só tinha que continuar com o plano, fazer a pretora passear pelo Acampamento Júpiter, redescobrir o lugar e os amigos, mostrar a ela o quanto era importante para si mesma, assim notaria o quanto aquela ideia de Caçadoras de Ártemis não tinha cabimento nenhum.

´´Vocês só tinham que calar a maldita boca. ``

Romanos conseguiam ser mais fofoqueiros que os colunistas decadentes e paparazzi que tentavam invadir a mansão do pai.

— Piper? — Voltou a si quando a irmã estalou os dedos a sua frente. — Tá me escutando? — Sua única resposta foi um suspiro longo e cansado.

Teria que falar com Reyna e tentar o milagre de convencê-la a ignorar tudo isso.

— É verdade que vocês saírem esses dias? — A curiosidade de Drew fez pouco para interromper seus pensamentos.

Irritada do jeito que estava não ouviria a voz da razão: de que Vênus era apenas a cereja do bolo, ela estava em uma posição de destaque e as pessoas se interessavam por sua vida, como a própria Piper assistiu durante toda a vida junto ao pai, ou o quanto o Acampamento Meio-Sangue queria saber detalhes sobre o final de sua relação com Jason.

Era uma droga, mas era uma droga natural.

— É, Drew. A gente saiu sim. — Respondeu a contragosto quando sua irmã a cutucou, voltou para a taça disposta na mesa, querendo que o líquido roxo fosse vinho.

— Di Immortales... — Praguejou baixo, como se estivesse diante de uma loja vendendo Prada a um dólar a peça. — Nossa, eu não esperava isso de você, parabéns. Estou orgulhosa. — Era suco de uva, infelizmente.

— Drew. — Explicaria apenas uma vez, e se ela não entendesse a jogaria no Pequeno Tibre. — Você entendeu tudo errado...

— Eu entendi que você tem um fraco por roxo, maninha. — Por que ela parecia tão contente? — Sempre achei que você fosse tipo Romeu e Julieta, casar com o Spark e ter uma vida chata, mas nossa, estou impressionada, como você fez pra conseguir uma garota dessas? — Sussurrou a última parte, como se...Pedisse um conselho? — Ela parece tão inalcançável, tipo a Elsa naquele castelo de gelo.

Contou até 3, pensando se valia a pena o esforço de jogar a irmã no rio.

´´Vale, é claro que vale. ``

— Pare de incomodar sua irmã, Tanaka. — Malcolm surgiu do outro lado da mesa, inconscientemente salvando a...Namorada?

Ainda não sabia o que pensar daquela situação toda.

— Ela vive te enchendo né, Piper? Desculpe por isso. — Sua irmã sequer fez questão de responder, embora a coloração de suas orelhas mostrasse a raiva crescendo. — Ela está tentando passar mais tempo com você e fazer as pazes, mas não sabe dizer isso então...

— Cala a boca, Pace. — Ela não usou charme, mas o tom baixo e irritado foi o suficiente para que o loiro desse atenção ao yakisoba que surgiu em seu prato, enquanto a Piper sobrou refletir sobre usas palavras e, levar em consideração que Malcolm realmente estivesse sobre o poder de Afrodite. — Onde é que você se mete pra nunca chegar no horário certo? — O tom arisco não foi capaz de tirar a serenidade da expressão dele.

— Estava com o Jason, estou ajudando a montar a maquete dos templos, parece que finalmente vão construir. — Era bem nítido em sua memória as noites que o ex-namorado gastou no planejamento de cada um dos templos, eram tantos que ficava até difícil contar. — Não precisa ficar com ciúme.

Drew abaixou os talheres devagar, deixando sua salada de grãos esquecida, a expressão neutra escondia uma dúvida em seu olhar para o garoto sentado à sua frente: por que você existe?

— Retire o que disse. — Ela murmurou em uma voz calma que se mantinha assim a duras penas.

— Por que? — A inocência em seu rosto só poderia ser fingida. — Só estou dizendo que você não precisa se preocupar com...

— Cale a boca. — Murmurou irritada, jogando o cabelo sobre o ombro para trás com um tapa. — Maldito clone da Annabeth. — Um sorriso divertido brotou dos lábios dele.

— Estou tentando ter uma conversa normal com você. — Disse por fim, voltando-se ao próprio prato.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Falou encarando a taça prateada, a voz estava tão afiada quanto uma espada de bronze celestial. O filho de Athena a encarou novamente, como se estivesse analisando algo engraçado.

— Deuses, que educação. Por que está tão mal-humorada? — Era obvio que o olhar dele a incomodava, mas ela se calou. — Dreeew... — Malcolm se inclinou sobre a mesa e passou a chacoalhar a mão à sua frente, tentando chamar sua atenção, o que não deu resultado algum, o loiro apenas suprimiu o riso e deslizou o indicador pela bochecha dela.

O som estalo do tapa de Drew na mão dele a assustou, ela estava morrendo de raiva, como quando Lacy quebrou suas sombras supercaras.

O que você quer?! — Rosnou para ele, Malcolm abanou a mão estapeada, que não parecia estar doendo.

— Que olhe para mim quando falo com você. — Ele estava se divertindo muito e não fazia questão de esconder.

´´Acho que eles esqueceram que eu estou aqui. ``

E o restante da mesa também, que fingia não prestar atenção na discussão.

— Por que você não acaba logo com isso? — A pergunta séria e cansada a pegou de surpresa, o sorriso de Malcolm apenas cresceu.

— Porque não. — Athena ficaria triste por uma resposta tão mal embasada.

— Termine. — Mandou, simplesmente. O diálogo pareceu ficar menos interessante para metade da audiência.

— Não. — O grego tomou um gole da taça, pouco interessado nos chiliques de Drew.

— Malcolm... — Seus punhos cerrados bateram levemente na mesa, talvez pensando se valeria a pena quebrar as unhas e ter a satisfação de soca-lo.

— Por que você não termina comigo? — Foi a vez dele de questionar com seriedade, deixando o divertimento de lado. Sua irmã engoliu em seco, encarando a pizza em seu prato como se fosse a cena mais triste do Titanic. — Drew...

— Porque eu não consigo! — E se levantou de supetão, encarando ser nocauteada pelos pratos voadores até as portas do refeitório, Piper poderia fingir não notar, mas haviam lágrimas nos olhos dela.

— Ok. — Não queria se meter, já tinha problemas demais em sua cabeça, mas ver a cena de camarote era quase um convite para tal, no final das contas: Drew Tanaka ainda era sua irmã. — O que está acontecendo? — Indagou ao irmão de Annabeth.

— Quer a história curta ou a longa? — Seu suspiro de cansaço o fez rir. — Tá, eu vou dizer a minha parte, a Drew inventou tantas desculpas que nem sei por onde começar. — Comeu umas garfadas do macarrão antes de começar. — Basicamente: acho ela interessante. — E voltou a comer.

´´Tá, quando eu disse a história curta, não imaginei que fossem só três palavras. ``

— Faz mais ou menos um mês que comecei a notar seu padrão de comportamento. — A voz de Malcolm soou calma enquanto a grega simplesmente não sabia o que pensar. — Ela não sabe se aproximar das pessoas, então quando quer isso, é detestável. — Um gole da taça. — Na verdade eu só notei quando ela começou a fazer isso comigo. — Ele pareceu se lembrar de algo e riu. — Quando você pressiona do jeito que eu fiz ela acaba admitindo. Eu sempre achei que era só futilidade, mas ela só tem medo de se relacionar, é interessante. — Encolheu os ombros e sorriu sem graça quando notou seu olhar espantado. — Na linguagem dos filhos de Athena interessante é uma coisa boa.

— Ok... — Imaginou se Annabeth achava Percy interessante também. — Mas... — Os pratos voltaram a evitar o centro do refeitório, o que só poderia indicar uma coisa: Reyna estava saindo e, continuava pronta para encarar um exército sozinha.

Piper teve o ímpeto de segui-la, mas desistiu da ideia, isso apenas atrairia mais olhares, tentou massagear o pescoço.

Agora tinha dois problemas em suas mãos.


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Notas finais do capítulo

É Piper, agora são dois abacaxis pra descascar :v

As questões da Piper nessa cap e os pensamentos da Reyna no segundo foram retirados do enredo dos livros de Apolo, mas eu dei uma boa encrementada, então...É isso ^^

Para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^



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