Assim que a Azuma abriu a porta do porão conseguiu ouvir os gritos de dor da prisioneira. Sua ajudante de tortura – que estava ali por livre e espontânea vontade – e ex-colega da classe negra Takechi Otoya se divertia enquanto cortava alguns membros de Harume. Por mais que tivesse visto coisas piores àquilo ainda era no mínimo enjoativo.

— Tudo bem, já chega – Tokaku falou firme, fazendo a outra parar, estavam ali desde a madrugada – Suba, eu vou falar com ela.

Sem questionamentos a assassina saiu do porão limpando suas tesouras. Tokaku olhou para o estado de Harume, deplorável. Desde que acordará acorrentada a rosada não falará nada. Conversou com ela por longos minutos até chegarem a uma espécie de acordo, Tokaku então retornou para a sala deixando a porta do porão trancada.

No dia anterior a azulada cuidou do ferimento da esposa ao mesmo que cobrou alguns favores de Shiena Kenmochi, Otoya veio de brinde por ser namorada da hacker e lhe acompanhar aonde fosse servindo também de ajuda para arrancar informações de pessoas como Harume. Tokaku sabia pelo histórico psicopático e tentativas de assassinar sua esposa no passado – mais de uma vez vale ressaltar – que a Takechi fazia a tortura por puro prazer e não por um favor a ela.  

— Tokaku–san, tudo certo com as câmeras – A Azuma fez careta ao escutar a forma que fora chamada, porém não reclamou - Ontem mesmo quando me ligou eu invadi o sistema de segurança do shopping e das áreas em volta muito antes dos seguranças ou qualquer outra pessoa possa pensar em olhar as filmagens. Ninguém sabe ou viu nada e por sorte não houveram gravações em celulares de terceiros, já verifiquei tudo, só precisamos nos preocupar com o sangue deixado no local e a destruição parcial do corredor.

— Isso não vai nos incomodar... 

— Está na boca do povo, todos comentam e saem a todo o momento no jornal. Estão chamando muita atenção – Shiena continuou – Chamam de o caso sem solução.

— Que nome péssimo – A namorada da castanha resmungou.

— Certo – Tokaku sentiu uma parte do peso dos ombros sair, o resto poderia ser resolvido já que tudo que comprovavam que houve um ataque ali - ou quase tudo - tinha sido resolvido.  Tokaku havia contatado uma equipe com quem ela já trabalhou que fazia o trabalho "sujo" removendo corpos e limpando os locais após o assassinato, a policia só encontraria o revolver de Harume que fora deixado de propósito para que mantesse policias e repórteres ocupados. 

— Você se sente melhor Haru? 

— Sim, não se preocupe – Sorriu segurando com delicadeza o ferimento que a azulada cuidou tão bem – Por sorte Haru tem uma ótima enfermeira em casa – Apontou para Ichigo que estava ao seu lado com uma maleta de brinquedos um estetoscópio rosa de plástico pendurado em seu pescoço e uma seringa sem agulha que estava sendo preparada com um remédio imaginário para por no braço da ruiva.

— Eu ainda não consigo acreditar que você Azuma, agora é mãe – Otoya usou um tom de deboche, como sempre Tokaku ignorou quase tudo que saia da boca da Jack estripadora do século vinte e um.

“O que não da para acreditar é que Shiena namora você sem sentir medo de ser fatiada por uma dessas tesouras” – Pensou em dizer, mas guardou o pensamento para si.

— Vamos descer. Ela esta pronta para falar – Dito isso todas desceram deixando Haru que preferiu não se envolver e ficou aos cuidados da "doutora" Ichigo.

Ao abrir a porta Harume se agita com a volta de Otoya que sorria se deliciando com as lembranças da tortura. Shiena notando o jeito da namorada lhe da um soco no braço chamando-lhe a atenção, não era segredo para ninguém de que a maníaca por tesouras sentia prazer sexual enquanto rasgava a pele de alguém com algum objeto cortante. O forte soco – a Kenmochi não havia se incomodado em não usar força, pelo contrario usou toda força que tinha – trouxe Otoya de volta a “sanidade” afastando os pensamentos e focando na namorada e na herdeira do clã Azuma que já começava o interrogatório.

— Quero que me dê respostas.

— Sim tudo bem, me lembro do nosso acordo hum? – Harume forçou um sorriso, porém se arrependeu ao sentir dor.

 - Vou direto ao assunto. Quem são vocês e o que querem com Ichigo?

— Eu me chamo Nanake Harume, sou assassina de aluguel, trabalho junto a minha irmã mais velha. Mais ou menos um mês atrás fomos convidadas a participar de uma "caçada" junto a mais quatro pessoas. Prometeram uma quantia alta de dinheiro para assassinar Inamae Ichigo, alertaram de que mesmo sendo uma criança a tarefa não seria fácil, pois teriam pessoas protegendo ela. Dois paspalhos chamados Akira e Yuki foram logo atrás da garota, mas sempre voltavam de mãos vazias, como nos disseram não seria fácil a garota sempre encontrava alguém para proteger ela, eles mataram todos que entraram no caminho e se gabavam de que estavam perto do prêmio, porém um dia voltaram machucados e com pavor, não disseram o que havia acontecido, mas deixaram claro que a garota tinha escapado novamente e que desta vez ninguém conseguiria mais matá-la, pois estava com alguém que todos ali temiam. Agora entendo o medo daqueles dois. Ninguém em sã consciência mexeria com alguém de um clã tão perigoso quanto dos Azuma.

Tokaku suspirou cansada, não havia um assassino que não soubesse sobre os Azumas, todos temiam ao clã e depois que fora exterminado os assassinos relaxaram, a maioria não sabia que ela sobrevivera e quando se deparavam com ela simplesmente lhe temiam pelo o que o clã fazia nas histórias contadas. O que de certa forma era bom, já que todos esses medos dos próprios assassinos faziam de sua vida algo bem mais simples já que não entrava em combates com quase ninguém - a menos claro quando Haru as metia em problemas. 

— Essa caçada é algo bastante complexo Tokaku-san - Shiena comentou,  ela estava com um notebook em mãos que Tokaku não havia reparado que ela havia trago para o porão e com ele a castanhada lia algo - Na verdade é bem parecido com a classe negra, o site que hackei não diz quem é o responsável por esse evento, mas tem uma lista aqui, vejamos... Mulheres assassinadas, participantes, prêmios. 

— Já participei desse evento - Otoya deu de ombros. 

— Você participou disso?! - Shiena arregalou os olhos, sua namorada sempre lhe surpreendia - Quando foi isso? 

— Uns anos depois da classe negra, mas não consegui o premio, tínhamos que agir em dupla e não sou boa com essas coisas quando o assunto envolve cortar alguém com meus bebezinhos - Otoya deu de ombros - Matei o alvo sem esperar pelo meu parceiro e fomos desclassificados, parece que a caçada continuou meses depois com outro alvo - Otoya notou que a namorada ia perguntar mais alguma coisa e foi logo se adiantando - Também não vi quem eram os responsáveis, tirando os participantes, claro. Nós recebíamos cartas com instruções e ficávamos todos hospedados em hotéis, na área mais luxuosa da cidade. 

Tokaku analisou toda a situação, o que elas falavam batia com o que ela tinha lido no site da policia durante suas pesquisas, aquilo esclarecia muitas coisas, mesmo assim tinha uma pergunta que não saia de sua mente.

— Harume, no supermercado você pareceu conhecer a Haru, por quê? - A rosada não pareceu interessada em lhe responder e isso lhe irritou, Tokaku se aproximou com  os olhos ardendo em raiva profunda - Você ainda quer que eu cumpra o acordo não é? - Com isso Harume suspirou derrotada. 

— Depois que o alvo escapou, eu e minha irmã decidimos que era nossa hora de agir e fomos atrás de pistas, o que nos levou até essa casa, procuramos os documentos da casa e eles estavam no nome de Ichinose Haru. Contamos o que descobrimos para os outros participantes, apenas para mostrar que estávamos na frente deles, porém a menção desse nome fez tudo mudar, nós temos uma juíza que julga o que fazemos durante o desafio, mas quando dissemos o nome de Ichinose ela sorriu de uma forma psicopata e depois de um telefonema nos avisou que pela cabeça da Haru também haveria um prêmio, um desejo, qualquer coisa que quiséssemos nós teríamos. Foi então que eu e minha irmã resolvemos montar guarda e vigiar por turnos a casa – Harume umedeceu os lábios secos e rachados, esse ato a fez sentir a garganta seca implorar por água – Bem quando era meu dia de ficar vigiando vocês saíram para ir ao shopping. 

[...]

— Sua irmã é uma tola, sendo capturada pelo inimigo deste jeito – Notawa um homem moreno alto e musculoso com uma longa barba tão preta quanto seus cabelos encaracolados, disse enquanto ascendia um cigarro.

— Ela age muito no impulso, eu avisei para ela me ligar caso visse movimento – A mais velha das Nanake respondeu enquanto checava a quantidade de munição em sua arma, ela estava claramente irritada. 

— Acho que está fora do jogo Haruchi-san. Você sabe que as duplas devem agir juntas – Takeshita esposa de Notawa comentou enquanto se ocupava olhando as revistas que o salão de conversas do hotel em que estavam hospedados lhes proporcionava.

— Elas ainda estão no jogo caso a Haruchi-san aqui consiga salvar sua querida e tola irmã mais nova – Uma mulher de longos cabelos loiros e ameaçadores olhos vermelhos se pronunciou.

— Se a juíza diz... – Takeshita deu de ombros.

[...]

— Está claro quem está por trás de tudo isso – Otoya comentou tirando a azulada de pensamentos.

— Sim... Hashiri Nio e aquela maldita diretora – Shiena responde.

— Vocês as conhecem? – Harume parecia surpresa ao ouvir o nome das organizadoras da caçada. 

— Você está em um porão com assassinas queridinha – Otoya sorriu debochada – Já participamos desse joguinho.

— E assim como antes, ninguém vai ganhar esse maldito prêmio! – Tokaku olhou ameaçadoramente para a debilitada Nanake, entregou uma seringa contendo morfina para Shiena antes de sair – Aplique isso na prisioneira e mantenha sua namorada longe dela.

— Obrigada – Harume conseguiu agradecer por ela cumprir com o acordo antes que a mesma saísse deixando ela sozinha com o casal.