Já haviam se passado mais de duas semanas desde que Tokaku e Haru decidiram adotar Ichigo. Tudo ocorreu confidencialmente e rapidamente graças a alguns "pauzinhos" que Haru moveu para que o processo fosse aceito sem muitas perguntas ou interesse, o que importava era que agora era oficial, Tokaku e Haru tinham uma filha e aquilo ainda assustava a Azuma.

Por recomendação de Tokaku ninguém saiu da casa durante este tempo, a atenção da azulada estava dobrada desde o dia em que aqueles homens perseguiram Ichigo, ela ainda não conseguia entender o porquê de estarem atrás da pequena, havia feito algumas pesquisas e descobriu que não era tão incomum aquilo ocorrer, perseguições eram feitas de dois em dois anos à algumas mulheres aleatórias de diversas idades, de qualquer forma tudo que encontrou era muito raso, mesmo usando o site oficial da policia - que ela hackeou sem grandes problemas - nada ali lhe era muito útil, talvez devesse encontrar alguém especializado em internet que pudesse pesquisar mais profundamente sobre o assunto. Mesmo assim no fim Tokaku achava melhor evitar serem vistas caso seja lá quem ainda esteja a procura de Ichigo - o que ela não duvidava. Porém mesmo com tudo isso, naquela manhã sua preocupação era no quarto da criança que Haru insistiu em comprar pela internet desde o dia da decisão e ainda não havia chegado.

Tudo o que se possa imaginar e mais um pouco a ruiva comprou para a filha, que por enquanto dormia na cama de casal no meio das mães. Não que Tokaku se importasse – claro que se importava, a criança mexia-se muito durante a noite e dava chutes e socos durante os sonhos o que acordava a azulada que sempre teve um sono leve, além de que Ichigo dormia no meio da cama, abraçada a Haru. A mesma Haru que Tokaku não conseguia abraçar para dormir de conchinha ou ter uma noite mais "picante", a Azuma estava sentindo saudades – não mesmo, Tokaku não se importava, apenas queria que o quarto chegasse logo.  

— Eu deveria ter saído e comprado em uma loja física – Resmungou Tokaku ao assinar o papel de entrega de uma cadeirinha para por no carro.

— E ignorar o mais novo aplicativo de compras online da empresa? – Haru carregava a caixa de papelão para dentro de casa.

O carteiro agradeceu e foi embora, Tokaku fechou o enorme portão e seguiu a esposa enquanto desbloqueava o celular para mostrar um aviso do aplicativo que Haru tanto se gabava desde que a equipe de desenvolvimento de aplicativos da empresa lhe enviaram a algum tempo atrás. Como uma boa CEO Haru logo tratou de instalar os app tanto em seu celular quanto no de Tokaku, fazendo as compras de todo o quarto de Ichigo por ele. 

— De acordo com o acompanhamento de entrega do aplicativo... Nossas compras estão em Madagascar.

— Estamos em fase de testes – Haru sorriu tímida por terem entregado as compras em outro lugar completamente diferente de onde estavam. O aplicativo queria revolucionar a entrega de grandes compras tornando elas mais rápidas, porém houve um problema de código e algumas foram mandadas para lugares totalmente diferente do real destino – A boa noticia é que a cadeirinha chegou e em ótimo estado!

Tokaku revirou os olhos com um pequeno sorriso nos lábios, já estava acostumada com o jeitinho de Haru e ver toda aquela animação de esposa a deixava contente. Ichigo já esperava animada na porta, ela não pudera sair até o portão por precaução, as novas mães estavam em  total alerta para qualquer coisa que viesse de fora. Assim que a porta fora aberta pela Azuma a garotinha pulou para ver o que Haru trazia em seus braços, as duas igualmente animadas começaram a abrir a caixa de papelão enquanto Tokaku sentava-se calmamente no sofá. Ver toda animação das duas despertou algo em Tokaku e antes que percebesse ela havia falado: 

— Que tal estrearmos a cadeirinha? – A proposta foi dita antes que Tokaku pudesse pensar muito a respeito e resolver não a fazer – Temos que fazer compras mesmo, esses dias em casa acabaram com nosso estoque.

— Para o shopping! – Haru gritou animada.

Arrumaram-se e antes de partiram no carro, Tokaku travou uma árdua batalha com a cadeirinha, não era tão fácil instalar aquilo como ela imaginará, mas tudo ocorreu bem. Durante o caminho Haru cantava uma canção com Ichigo enquanto a Azuma que dirigia olhava atentamente a estrada e tudo a sua volta, o carro era totalmente blindado embora não parecesse, mesmo assim não evitava outros perigos como um caminhão ou algo do tipo bater no carro. Tokakau reparou em uma moto lhe seguindo e ficou tensa, isso aconteceu por algum tempo até pararem no semáforo e a moto simplesmente seguir não se importando em avançar o sinal vermelho e sumir em uma rua. Tokaku suspirou aliviada, era apenas alguém louco que não tinha nada haver com elas. No shopping foram até um enorme supermercado elas achavam muito difícil alguém atacar em um local movimentado como aquele, ao entrarem Ichigo apontou animada para um carrinho de compras que era feito para crianças, pois seu formato imitava um carro aonde a criança se sentava e "conduzia" o carro com um volante de plástico de cor bastante chamativa.

Haru puxou o carrinho notando ser a primeira vez que usavam aquilo e não sabiam como colocar Ichigo nele, por sorte um casal com dois filhos – já acostumados com o carrinho de compras infantil - ajudaram elas, logo estavam nos corredores com a pequena girando o volante de brinquedo para todos os lados possíveis, Tokaku agradeceu mentalmente por aquele volante realmente não conduzir o carrinho, pois elas já teriam batido em todos.

Como sempre a função da Azuma era empurrar o carrinho e pegar coisas muito altas ou pesadas, nem sonhava em fazer compras sem a companhia da esposa, Haru era quem sabia quais marcas eram as melhores e a quantidade certa para passar o mês. Sem Haru a azulada viveria apenas a base de cup noodles e fast food, já que não sabia cozinhar nada de útil – não por falta de tentativas, mas todas frustradas. 

Com o carrinho cheio elas foram para o caixa, Tokaku relaxou o suficiente para não prestar tanta atenção ao pessoal em sua volta, sentia que alguém as observava, mas todos faziam isso, a maioria estava intrigada com a família diferente que tinha. Enquanto aguardavam na fila Haru lembrou - se esquecerá de pegar o ketchup e então voltou para buscar. 

Olhando as prateleiras em busca do que queria Haru observou pelo reflexo do pote uma mulher de cabelos rosados lhe encarar fixamente e quando menos esperou ela puxou da calça uma pistola e atirou em direção de Haru explodindo o frasco em sua mão, uma adolescente ao seu lado gritou em pânico e saiu correndo chamando atenção de todos que não ficaram para descobrir o que ocorria e começavam a correr para a saída aos gritos, aquilo ativou um alerta em Tokaku que agarrou Ichigo nos braços evitando  de ser levada pela multidão, e contrario as pessoas as azuladas iam em direção de Haru.

A ruiva olhava espantada para sua mão ensanguentada coberta de cacos de vidros do pote, com dificuldade removeu o maior deles o sangue fluiu mais rápido para fora do seu corpo, manchando seu braço, o chão e um pouco da prateleira que era branca.

— Foi por um triz – A mulher responsável pelo ato falou enquanto analisava a situação – Minha irmã tem razão quando diz que sou péssima em mira...

“Como assim por um triz? O que essa mulher queria acertar?!” – A ruiva pensou espantada.

— Quem é você?! – Haru consegue perguntar mesmo se sentindo fraca pela falta de sangue.

— Onde estão meus modos? Prazer, Nanake Harume assassina de aluguel! – Sorriu maldosa enquanto fazia uma breve reverencia – E você está com meu alvo – Riu com o olhar de espanto de Haru que aos poucos virava seu corpo em direção dela – Ora essa... Você não me é estranha - Harume falou ao ter a visão completa do rosto da ruiva. 

A mulher foi interrompida ao ter uma faca presa na mão em que segurava pistola fazendo solta-la instintivamente. Ichigo corria até Haru e Tokaku já chutava a pistola para longe da inimiga enquanto se preparava para atacar com outra faca que desta vez fora desviada com facilidade, os reflexos da rosada eram bons.

— Muito lenta! – Harume retirou a faca de Tokaku da mão ensanguentada e com a mão boa segurou a faca pertencente à inimiga e correu em sua direção, pronta para matá-la - Odeio quem atrapalha meus planos!

— Não fez o dever de casa? – Tokaku desviava dos golpes e tentava contra atacar, culpou-se, deveria ter prestado mais atenção – O seu alvo está sendo protegido por outra assassina! – A faca da azulada se chocou contra a de Harume e as duas mediram força.

— Está tudo bem, Haru está bem não se preocupe – Haru tentava tranquilizar Ichigo que chorava cada vez mais que via o ferimento da ruiva sangrar – Vamos sair daqui...

As duas se prepararam para sair quando uma faca passou diante dos olhos de Haru e ficou presa na prateleira ao seu lado, a ruiva estancou assustada, fora por muito pouco. 

— Você não vai a lugar algum – Harume aproveitava para falar enquanto Tokaku empurrava ferozmente alguns dos cinco carrinhos de compras que a rosada empurrará para cima dela fazendo-a ficar presa – Vejam se não é a Inamae Ichigo, pirralha esperta... Não me admira você ter ido logo atrás de-

Fora interrompida novamente pela Azuma que virou a estante encima dela. Harume era rápida, mas nem tanto, ela não esperava por aquilo então não houve como escapar totalmente, suas pernas ficaram presas embaixo da enorme estante, o estrondo fora ouvido por todo o ambiente os vidros dos potes quebraram sujando e cortando a rosada.

Tokaku respirava com dificuldades, por estar perto o suficiente um dos destroços tinha lhe feito um corte na testa manchando parte do seu rosto com o sangue que escorria. Ela verificou se esposa e filha estavam bem, por sorte elas conseguiram escapar logo quando viram a estante que estava caindo, Tokaku amarrou um pedaço de pano na mão de Haru e então deu um mata leão em Harume que tentava sair debaixo dos destroços a desmaiando. A Azuma verificou se havia recolhido suas facas do lugar antes de pegar o carrinho de compras e deixar o dinheiro no balcão do caixa, colocou o corpo desmaiado da assassina em outro carrinho e com destreza empurrou os dois até o estacionamento.

O shopping estava completamente vazio, pois havia sido evacuado pelos seguranças que ali trabalhavam – por normas a prioridade daquele local era evacuar todos até terem certeza que estavam seguros e ai sim junto a polícia irem atrás do problema, o que dava bastante tempo de Tokaku fazer tudo o que queria, por este motivo escolheu ir aquele shopping – quando voltassem não achariam nada além de sangue e destruição, pois Tokaku já fechava o porta-malas com as compras e o corpo de Harume firmemente amarrado e ia para casa.

Já em casa ao adentrarem a garagem e esperar o portão automático fechar Tokaku retirou Ichigo da cadeirinha que dormiu de tanto chorar e pôs na cama, em seguida fez o mesmo com Haru que protestou afirmando que ela conseguia andar. Por fim retirou Harume que estava dando indícios de que estava acordando, por tanto lhe deu um soco que a fez voltar ao mundo dos sonhos, levou a rosada para o porão – aonde guardava alguma de suas armas – e a prendeu com correntes em uma cadeira, trancou tudo e subiu para retirar as compras e cuidar de Haru, sua mente já trabalhando em como encobrir o acidente no supermercado.