Alguns dias depois Haru e Tokaku continuavam isoladas em casa com Ichigo, neste meio tempo Tokaku treinava bastante e vigiava a casa, sempre de expressão séria e poucas palavras ela evitava muito contato com a criança que aos poucos começava a se acostumar com o ambiente e principalmente com Haru. Ichigo não saia do lado dela, apenas algumas vezes quando brincava no celular da ruiva com algum joguinho bobo, nesses momentos Haru aproveitava para passar um tempo com a esposa que estava claramente incomodada com a situação que agora se encontravam. 

Naquela manhã Haru encontrou Tokaku dormindo no sofá, o que não era muito incomum visto que desde que Ichigo chegou ela se recusava deitar-se com a criança, Tokaku dizia que crianças se mexiam bastante - o que não era mentira, Haru podia comprovar, pois dormia com Ichigo e acordava com ela com quase todo o corpinho em cima de si - e que tinham o sono pesado, como a azulada fora treinada para ficar atenta, isso inclui também durante o sono, ela não conseguiria dormir por ter um sono extremamente leve.

Haru perguntou-se o porquê dela ser tão cabeça dura, poderia muito bem ter dormido ao lado dela, mas não! Ao invés disto preferiu dormir solitária no sofá. Com um longo suspiro a ruiva então resolveu preparar um café da manhã e depois acordar sua esposa e filha dorminhocas.

Haru parou subitamente com este pensamento.

Filha?! 

Ichigo não era sua filha!

Claro que Haru se apegou a criança, ela era tão gentil e fofa que não teve como não gostar, mas pensar na garota como filha era algo bem mais complicado. Por mais que a idéia lhe parecesse agradável Tokaku nunca que concordaria em adotar a criança, mas para onde ela iria quando tudo acabasse? A garotinha estava sozinha assim como Haru estivera há anos atrás antes de conhecer a herdeira do clã Azuma.

Enquanto cozinhava um café da manhã simples e tradicional chamado de okay que era feito de mingau de arroz, a ruiva pensava o quão sozinha e triste a pequena Ichigo poderia estar se sentindo. Acredite ou não, mas Haru lutou muito contra os sentimentos quando acabou cedendo e tomando uma decisão que deixaria a Azuma com bastante raiva. 

— Bom dia Haru – Tokaku parou na porta da cozinha soltando um curto bocejo, havia sentido o aroma do okay e despertou-se faminta.

Os olhos de Tokaku ainda estavam se acostumando com a claridade quando focalizou no rosto da esposa. Assim que notou à expressão determinada de Haru ela sentiu um frio na espinha, seus instintos lhe mandaram um alerta já conhecendo tão bem aquele olhar, a azulada deu um passo atrás tentando evitar o que quer que fosse que Haru faria ou falaria. 

— Tokaku! – A mais baixa foi se aproximando enquanto a mais alta recuava em direção ao sofá – Tokaku não fuja!

 - Eu conheço muito bem essa expressão – Tokaku esbarrou no sofá caindo sentada nele. Sentia-se como uma criança que fugia do banho depois de horas de brincadeiras e suor, e Haru era como a mãe que lhe perseguia dizendo que não poderia fugir daquilo.

Ela não deveria ter medo, afinal era Haru, a sua doce e bondosa esposa. Não, não quando ela tinha aquele olhar determinado. Haru poderia sugerir e fazer as maiores loucuras quando estava sustentando aquele olhar, aquele maldito olhar que foi um dos fatores dela ter ficado ao lado da ruiva durante a classe negra. A azulada gostou daquele olhar, mostrava que Haru não estava mesmo pensando em desistir e a Azuma quis pagar para ver indo até o final por ela.

Haru sentou-se no colo da azulada e então sorriu marota, passou os braços envolta de seu pescoço e aproximou os rostos, as respirações quentes se misturando, aquilo atiçaram os sentidos de uma certa ex-assassina.

— Você está tensa Tokaku-san – Chamou-a pelo apelido que usava quando ainda estudavam e sorriu ao notar ela respirar profundamente, claramente tentando se controlar.

— Hm – Concordou com um resmungo, suas mãos seguraram a cintura da mais baixa receosamente, Haru estava brincando com o perigo tentando lhe seduzir daquela maneira.

O beijo não demorou a acontece. Haru alisava seus cabelos enquanto Tokaku deslizava suas mãos por dentro da roupa da ruiva, causando arrepios pelas mãos geladas estarem em contado com as costas e barriga quentes. Haru separou-se da esposa com um  sorrisinho, agora ela tinha total atenção de Tokaku que logo tratou de beijar-lhe o pescoço, desde a chegada da criança elas não tinham tido um momento só delas.

— Haru estava pensando... E se Haru e Tokaku adotasse a Ichigo? 

No segundo seguinte a fala Tokaku parou as caricias para lhe encarar severa.

— Não.

— Tokaku, ela não tem nem lugar e nem ninguém para ir. 

— Isso não é nosso problema... Haru pessoas estão tentando matá-la, quer comprar essa briga? – Haru desviou o olhar e Tokaku continuou – Não faz muito tempo em que estávamos fugindo de terroristas nos Estados Unidos – Lembrou a ruiva de que elas se meteram em problemas depois que Haru disse algumas coisas ofensivas a esposa homofóbica de um terrorista meses atrás. Este evento até tinha sido um dos motivos do casal tirarem folga do trabalho, as duas andavam sob muito estresse - Sempre nos metemos em problemas desnecessários, já notou? Eu venho sempre dizendo para nós deixarmos a pirralha com  a policia, não há necessidade de nós duas ficarmos correndo perigo por causa de alguém que nunca vimos. Haru ela não é nada nosso. 

— Mas Haru e Tokaku sempre conseguiram dar um jeito nos problemas! Tokaku, por favor! Ela é apenas uma criança!

— Você sabe que não me dou bem com crianças e eu não quero mais problemas para as nossas vidas... Você não devia se apegar tanto a ela.

— Você não é a Tokaku que Haru lembra! – A azulada se surpreendeu ao notar a decepção no rosto e voz de Haru – A Tokaku que Haru lembra é uma mulher forte e corajosa, pois mesmo sendo designada para matar Haru ela não o fez, pelo contrário, ficou do lado de Haru e foi contra todas as outras assassinas para salvar Haru!

— Isso era diferente Haru... 

 - Diferente como?! Pessoas querem matar alguém inocente! - Tokaku nunca havia visto Haru daquele jeito, brava e decepcionada - A Tokaku que Haru vê agora é uma mulher medrosa e de coração gelado – A Azuma se assustou com as palavras de decepção da esposa – Haru não gosta dessa Tokaku...

O silêncio preencheu a sala por longos minutos, Tokaku pensou nas palavras de Haru, palavras dolorosas que lhe perfuraram a alma. A herdeira do clã de assassinos não queria ter deixado sua garota mau, sabia que era fria e não conseguia demonstrar seus sentimentos por isso não se relacionava tão bem com as pessoas, a culpa não era totalmente sua visto que fora criada assim, primeiramente por sua família e segundamente por Kaiba na academia de assassinos.

Tokaku só queria proteger sua família. Haru era seu bem mais precioso e faria de tudo por ela, não gostaria nunca de vê-la triste, porém a magoou profundamente ao negar-lhe a mais um membro da família, uma filha. Não era surpresa nem uma que Haru acabasse sugerindo algo daquilo, durante a classe negra Haru sempre fora amigável com todas as assassinas mesmo sabendo o real motivo delas, se ela apegou-se a mulheres más - o que inclui Tokaku - imagine a uma criança. Com um grande suspiro a azulada concluiu que a ruiva estava certa, ela não era assim e assim como Haru ela também entendia o que era perder as pessoas que amava. Neste caso não tinha nada mais a fazer a não ser concordar - mesmo que a contra gosto.

— Tudo bem, eu... – Não pode nem completar a frase, pois no segundo seguinte Haru já estava com os lábios colados aos seus em um beijo que demonstrava o quão feliz estava.

As duas sorriram durante o beijo, Tokaku segurou nas pernas de Ichinose que ainda estava sentada em seu colo e a levantou um pouco girando elas no sofá a azulada posicionou melhor a esposa de forma que ela ficasse por cima com o quadril perfeitamente encaixado entre as penas de Haru. O beijo ia ficando cada vez mais urgente, há dias que não ficavam daquele jeito, até que o som de algo caindo no chão assustou ambas. Tokaku levantou o olhar para ver Ichigo desesperada por ter chamado atenção ao esbarrar em um jarro com flores artificiais que Haru tanto insistirá em colocar ali ao pé da escada.

— Ichigo! – Haru empurrou desesperadamente a azulada que quase foi ao chão.

— De- Desculpa... – A garotinha envergonhada segurava a barra da enorme camisa que usava enquanto tentava segurar as lagrimas que já se formavam no canto dos olhos, não queria que elas ficassem com raiva. Tokaku revirou os olhos não suportava crianças choronas. 

— Não tem problema – Haru sorriu também envergonhada por ter sido pega aos beijos por uma criança.

— Cheiro de queimado... – Tokaku murmurou emburrada por ter sido interrompida pela mais nova “filha”.

— O café da manhã! – Haru desesperou-se saindo em disparada para a cozinha deixando as duas na sala.

Tokaku ficou tensa, sem saber se deveria dizer algo o que deixou Ichigo com medo de ter aqueles olhos azuis lhe encarando, a verdade é que ela sentia certo medo da Azuma, sua presença lhe trazia segurança e perigo ao mesmo tempo, o que deixava a pequena extremamente confusa, Tokaku era uma pessoa misteriosa. Minutos depois as duas estavam na cozinha ouvindo Haru falar o quão sortuda foi ao conseguir salvar o okay.

Enquanto comiam Haru olhava a todo o momento para Tokaku como se perguntasse se era a hora certa para dizer a Ichigo sobre a decisão delas ou não. A mais alta balançou os ombros sem se importar muito com aquilo, ela queria mesmo era que Haru nunca falasse nada e que tudo voltasse a ser somente as duas.

— Ichigo... - A criança encarou Haru curiosa enquanto Tokaku só assistia sem dar muita importância - Haru e Tokaku conversaram de mais cedo e pensamos, se você quiser é claro, em adotar você – A criança parou a colher frente à boca e olhou nos olhos das duas procurando algum vestígio de que aquilo fosse uma brincadeira – O que nos diz? Gostaria de ser nossa filha?

A resposta veio com um grande choro, um choro de felicidade e alivio. Haru prontamente se juntou a criança enquanto lhe abraçava. Tokaku encarou aquilo surpresa, não esperava por aquela reação da garota e principalmente não esperava que ela, Tokaku, sentisse tantas emoções em um choro. Tokaku sentiu o alivio da criança por encontrar um lar e sentiu a felicidade dela por estar com alguém que  ela goste. Tokaku começou a se sentir estranha, de repente ela não sentia mais tanta raiva de Ichigo assim, o sentimento de querer vê-la longe começou a diminuir.

Haru olhou para Tokaku emocionada, a Azuma ainda estava surpresa com o quão feliz a criança havia ficado. A decisão foi certa.