de: João Pedro

para: Bruno Garcia

07 de dez. de 2019 22:00

assunto: O cara do cafezinho

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Bruno

Ou cara do cafezinho.

Estou começando a pensar que está a mentir a idade. É muito sábio para os seus anos, ao que parece.

Espero que essa mensagem o encontre bem.

Ontem falei com Thiago, ele me disse que anda aflito com a época de provas pré-recesso.

Fiquei curioso sobre o começo do semestre tão tardio, até lembrar o quanto a federal aí vivia em greves.

Espero que esteja se cuidando.

Do seu amigo.

João

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de: Bruno Garcia

para: JotaPedro@hotmail.com

09 de dez. de 2019 21:00

assunto: Re: Cara do cafezinho

enviado por: gmail.com

Meu caro estranho.

Pois é. Greves.

Eu aqui com medo de ficar preso em Setealém, mas o perigo mesmo é ficar preso na universidade desse jeito.

É tipo aquela coisa, sofre para entrar, sofre para sair. Ôh vida. Parece o pessoal da caverna do Dragão.

Mas estou indo bem. Só um bando de seminários para apresentar. Eu tenho que me esforçar, não quero decepcionar minha mãe e Laura.

O pessoal da minha sala não parece tão preocupado, talvez por ser o primeiro semestre e todo mundo ser tão novo. Eu sou um dos mais velhos por lá. Me sinto um pouco estranho conversando com eles. Não só em relação a idade, mas é tanto gosto diferente entre todo mundo.

Meio como se eu tivesse aprendendo um idioma novo por aqui, entende?

Thiago é um bom sujeito. Ele me deixa estudar sempre que as coisas estão menos agitadas e me deu uma folga extra sem mexer no salário.

Ele me falou muito de você também e como se conheceram, de como ele só está com Maria por sua causa.

A vida funciona de forma engraçada né? Você está na história deles para sempre.

Estou ansioso pelo recesso, para passar o natal em casa.

Mas também estou triste porque John vai ficar sozinho.

Ele me chamou de idiota por isso, talvez eu seja. Cada vez mais eu penso que sim em relação a essa situação toda.

Eu comecei a meditar como falou. Está funcionando e ao mesmo tempo não.

As visitas ficaram esporádicas, mas as poucos se tornaram demoradas.

Nesse ponto está quase um costume.

John disse que não posso ir mais, que eles já notaram.

Eu não sei quem são 'eles'.

Eu não sei de muita coisa.

Do seu cara do cafezinho

Bruno

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de: João Pedro

para: Bruno Garcia

09 de dez. de 2019 23:00

assunto: Re:Cara do cafezinho

enviado por: hotmail.com

assinado por: hotmail.com

Bruno

Seja o que for que Thiago falou é mentira.

Ou não.

Depende do que ele falou. Se for bem é verdade.

Brincadeiras a parte, fico feliz por eles. Namorei Maria por um ano enquanto estava aí, terminamos as coisas bem até. O fim não teve nada de absurdo, só a vida mesmo que entrou no meio. Ela é uma pessoa querida e fico feliz por eles. Eu não imaginei que ele pensasse isso, mas fico feliz de ter colocado os dois no caminho um do outro.

Fico feliz de ser uma parte boa dessa história.

Ah, universidade. Você fez uma descrição apropriada. Não sinto falta disso, mesmo que voltando no tempo possa admitir que era uma pessoa mais relaxada naquela época.

É engraçado como você enxerga tudo diferente por fora.

Eu achava que a vida era tão mais complicada naquela época, mas enfrentar o mundo depois foi o pior. Não estou tentando te assustar, cada um experimenta a vida de forma diferente, afinal.

Mas vamos a um assunto mais complicado.

Eu acho que entendo também a sua situação.

Eu ponderei muito em como falar sobre isso, porque não queria entender errado. É só que você transborda tanto em sua escrita, Bruno. Eu já disse que saio catando as peças que joga para mim, montando esse quebra-cabeça complexo.

Espero que não me leve a mal com essa pergunta, Bruno. É só algo que me peguei pensando: Nesse ponto agora, a parte pelo receio de ficar preso, você realmente está tentando não ir para esse lugar?

Eu realmente entendo se for esse o caso.

Eu te entendo, Bruno. Mais do que pensa.

Do seu caro estranho.

João.

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de: Bruno Garcia

para: JotaPedro@hotmail.com

17 de dez. de 2019 18:34

assunto: Complicações

enviado por: gmail.com

Meu Caro estranho

Eu demorei a responder.

Queria dizer que foram os seminários, mas acho que não foi isso.

Thiago me falou que perguntou como eu estava e me senti mal por demorar tanto. Obrigado pela paciência.

Você me fez pensar. Eu queria negar o que disse, mas percebi que não adianta.

Eu realmente não estou tentando como deveria.

A verdade é que as coisas são complicadas, entre John e eu. Em quase dois meses que me mudei ele se tornou uma parte importante na minha vida. Parece tão absurdo falar isso, sinto como estivesse ficando maluco.

Eu não quero que ele vá embora. Não quero deixar de vê-lo. Depois do terror inicial, eu fico quase aliviado com as nossas visitas, de ter um vislumbre a mais sobre ele.

Talvez eu também esteja procurando peças de um quebra-cabeça.

E talvez eu entenda o porquê de você entender antes de mim, o que estava acontecendo.

Estou certo?

Ou acha que estou ficando maluco? Talvez eu esteja.

Só um maluco ia se apaixonar por um cara que talvez nem exista.

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de: João Pedro

para: Bruno Garcia

17 de dez. de 2019 20:00

assunto: Estrelas no teto

enviado por: hotmail.com

assinado por: hotmail.com

Bruno

Eu lembro de uma tarde quente de domingo. Eu estava deitado no sofá escrevendo. Foram os meses mais inspirados da minha vida, até recentemente. Eu estava sempre escrevendo nessa época, as ideias fervilhando em minha mente e escorrendo pelos os meus dedos.

Um surto de inspiração: algo maravilhoso para um escritor.

Eu lembro bem desse dia. Como eu pausei por alguns momentos e o vi deitado no chão da sala, olhando pela janela. Era uma noite nublada lá fora e o rádio estava tocando uma música bem antiga. Ele sabia toda a letra.

Eu lembro de ele me dizer que sentia falta de ver as estrelas, porque ultimamente estava tudo coberto de fumaça quando olhava pela janela.

"Aqui acho que não tem tanto esse problema."

Eu não entendi bem isso na época. Agora eu entendo que ele estava falando de casa. Da real casa dele. Desse mundo escuro que de vez em quando eu via pela janela. Desse mundo escuro que você agora tão frequentemente visita.

Bruno, era domingo. Oito da noite.

Eu peguei o carro e fui para a Walmart mais próxima e comprei um saco de estrelas fluorescentes.

Coloquei no teto e desliguei as luzes. Só para ele. Eu queria que ele ficasse feliz.

Foi quando eu percebi.

Então é, eu sei como se sente. Você não está maluco.

Se estiver, somos dois.

Quando ele sumiu, eu não consegui ficar mais aí. Não era a mesma coisa.

Eu entendi antes de você, porque eu passei pelo menos que está passando agora.

Seu caro estranho.

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de: Bruno Garcia

para: JotaPedro@hotmail.com

18 de dez. de 2019 06:00

assunto: Re:Estrelas no teto

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Caro estranho

Eu sinto muito.

Você deve não gostar muito de mim no momento, não é?

Que bagunça que isso está virando.

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de: João Pedro

para: Bruno Garcia

19 de dez. de 2019 20:00

assunto: Re:Estrelas no teto

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Bruno

Eu penso em duas impossibilidades nessa minha vida no momento.

Uma delas é que era impossível não acabar amando ele. É daquelas coisas inevitáveis. Pelo menos agora sei que não me apaixonei por um cara morto ou uma alucinação da minha cabeça.

A outra é que começo a perceber que é impossível ter algum sentimento negativo em relação á você. É algo absurdo, então não se preocupe com isso.

Além do mais, esse sentimento é algo que passou.

Não quebre a cabeça com isso.

Já está em casa? Para o natal?

Seu caro estranho.

P.S: De verdade, fico feliz que as coisas estejam assim agora. Fico feliz que tenha me mandado aquele e-mail.