Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 35
Um Xeroque Holmes entre nós


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Quatro dias de espera pra finalmente descobrirmos quem é esse Fulano que bateu na porta das meninas... Fulano, né?
Boa leitura ;)



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— O que é que você tá fazendo aqui? — questionei de pronto ao abrir a porta, vendo Nathaniel parado do lado de fora.

Sim, Nathaniel Bonnet. Meu ainda chefe, dono da B Agence, ex-chefe e ex-peguete da Júlia e meu antigo crush. Com roupas chiques, cabelo com fios bagunçados e cara de cansaço em pessoa.

— Bonnet? — Júlia parou logo atrás de mim, tão surpresa quanto eu com a visita inesperada.

— Meninas, eu…

— Como você teve coragem de fazer uma coisa dessas com a coitada da Jú, hein? Hein? — interrompi-o sem pensar duas vezes. — Você conhece ela, Nathaniel! Você sabe que ela nunca nessa vida faria uma coisa dessas. O que ela iria ganhar com isso? Além de dinheiro e fama e etc. — Olhei pra cima, vendo que meu argumento tinha falhas.

— Mari, deixa o Bonnet falar — a voz da Júlia disse de algum lugar atrás de mim.

— A culpa foi minha, Nathaniel, minha! Então, se tem alguém que merece uma demissão aqui sou eu, não ela, tá ouvindo? — Quase meti o dedo no colete dele, vendo sua cara de espantado. Com meu sangue fervendo, continuei. — Então porque você…

— Marimar! Eu vim até aqui pra ajudar vocês! — Nathaniel exclamou alto, o suficiente pra me fazer para de falar feito uma matraca. E alto o suficiente pra um dos vizinhos colocar a cabeça pelo vão da porta, pronto pra ver a treta acontecer.

É, talvez eu estivesse surtando alto demais…

— Nos ajudar de que jeito? — Júlia questionou, dando um jeito de se espremer no espaço que eu deixava no batente da porta. 

— Posso entrar? — ele praticamente se convidou e demos passagem. Mesmo que eu ainda estivesse desconfiada. — Creio que teremos uma conversa um pouco longa.

Júlia me deu um olhar de "só você", como se fosse uma repreensão muda, e fechei a porta com vergonha.

— Me desculpa por não ter te deixado falar, Nath. — Voltei a tagarelar sem parar, enquanto minha amiga o guiava para um lugar à mesa. — Mas isso deixou a gente muito abalada, eu tô triste pela Jú, aí quando eu te vi… — Parei assim que vi os olhares dos dois sobre mim, em um pedido gentil para eu calar a boca. Só que sem essas palavras, é claro. — Vou terminar de fazer a janta. Mas tô ouvindo tudo!

Voltei para perto do fogão, vendo que meu arroz quase queimava, e desliguei o fogo. Comecei a picar a cenoura e ouvi mais uma cadeira ser arrastada. Júlia se sentou junto do nosso convidado.

— Eu ouvi a conversa de vocês na escadaria — Nathaniel começou. — Dava pra sentir a angústia na voz de vocês. — Um suspiro, que não sei de quem era.

Meu celular vibrou no meu bolso e ignorei. Quando voltasse, provavelmente teria 282939 mensagens no grupo com Kentin e Micalina.

— É nítido como você ficou abalada quando saiu da minha sala, Júlia, mas não estive escolha ao demiti-la, era justa causa. E Castiel poderia nos trazer problemas caso eu não o fizesse — ele continuou.

Acabei de cortar a cenoura com um baque da faca sobre a pia. Catei todos os pedaços e joguei na panela, vendo a água borbulhar junto da minha raiva.

— Ele é um dos modelos mais importantes da nossa agência, não podemos perdê-lo — Nathaniel continuou.  — Eu realmente sinto muito que você tenha que passar por isso, Jú. 

Fiquei toda derretida e comecei a descascar uma batata, morrendo por dentro. Por que tão fofo?

— Mas tínhamos muita coisa em jogo… Poderia trazer problemas para a agência, talvez um processo.

Parei de ficar com o dedo em círculos na batata, a faca suspensa na mão e analisando mentalmente tudo o que Nathaniel estava dizendo. Eu realmente não tinha pensado pelo lado dele…

— Eu sei, eu consigo entender tudo o que você deve ter passado — Júlia começou a falar quando o monólogo de meu chefe acabou. Pausa e então retorno. — A Mari não conseguiu não conseguiu ver tudo o que poderia acontecer, mas acho que agora ela entende. — Voltei a cabeça para o lado na hora, vendo-a me encarar com um olhar de "tá vendo só?".

Praticamente esqueci a batata sobre a pia, voltando-me para eles. Cada um estava numa cadeira em uma extremidade da mesa, com minha amiga tendo as mãos unidas sobre a mesa, a cabeça baixa, e sendo encarada pelo outro, as mãos largadas sobre a madeira. 

— Mas e agora? Como você vai ajudar? — Ela finalmente fez a fatídica pergunta.

— Quem além de você teve acesso a essas fotos? Enviou para alguém? — ele questionou, adquirindo uma postura investigativa, os olhos atentos.

— Espera, quando você disse ajudar, era sobre investigar? — Entrei na conversa, chamando a atenção dos dois pra mim. E que tipo de ajuda ele iria prestar, Marimar? Dinheiro? — Continuem, tenho que olhar a minha sopa.

Ri nervoso e fui para o fogão, fingindo que ajustava o fogo e voltando a descascar a batata.

— Isso é o mínimo que eu posso fazer. Ajudar vocês a descobrirem quem mandou as fotos para a revista — exasperou-se, realmente levando a sério o que eu tinha dito.

— É porque eu não esperava você ficar todo Xeroque Holmes assim — disse, gerando risos na minha amiga. Nathaniel nos encarou confuso.

— Isso é uma piada interna? — Já que nenhuma de nós se dignou a responder, balançou a cabeça. — De qualquer forma, ainda não compreendo o porquê vocês tiraram essas fotos. 

Nessa hora, todo o riso foi embora e gelei no meu lugar. Júlia com certeza fez o mesmo, pois me encarou, meio que perguntando o que dizer. De repente, até a batata pelada na minha mão parecia me julgar. "É tudo culpa sua!", ela diria se tivesse boquinha.

— Isso tudo é culpa minha, Nath. — Me intrometi no debate novamente. — Fui eu quem pediu pra Júlia tirar essas fotos, fui eu quem começou toda essa história, pra falar a verdade. Eu que estava curiosa pra saber o que aqueles dois tinham e acabei arrastando a Jú pra isso. Por isso que disse que ela não tem culpa de nada, sou eu a culpada disso tudo tá acontecendo. 

— Era uma curiosidade boba. Foi no calor do momento que tiramos as fotos, sei lá por quê. — Júlia tentou remediar pro meu lado e sorri em agradecimento. — Ninguém imaginava que ia acontecer tudo isso.

Nath franziu a testa, encarando a toalha de mesa e seus bordados. Sua mente provavelmente nos julgava mais do que a batata pelada na minha mão, porém, não comentou o que pensava. Pelo menos a batata não me julgaria mais, já que a atirei na água fervente.

Aquele com certeza foi o meu ápice de me sentir uma completa idiota. Como se me culpar o dia inteiro não tivesse sido o suficiente. Tá explicado porque o universo parecia tão legal comigo nos últimos dias. 

— Bom. — Ele respirou fundo, talvez organizando os pensamentos após perceber que parecíamos duas garotas adolescentes com o que aconteceu. — Você tem certeza que não mandou as fotos pra ninguém? — Retornou para o modo Xeroque Holmes. — Talvez... Você deixou o celular em algum lugar? Ou acessou algum site suspeito? Talvez você tenha pegado um vírus ou entrado em algum lugar onde suas informações poderiam ser hackeados. — Jogou várias possibilidades sobre a mesa, fazendo com que eu e minha amiga nos encarássemos com as sobrancelhas erguidas.

Parecia que alguém tinha uma certa veia detetivesca. 

— Nossa, pra que iriam querer hackear a Jú? — Peguei uma colher e mexi a sopa. — É mais fácil tentarem hackear o Castiel do que ela. Ele que é famoso, não ela.

— Querendo ou não, a Jú trabalha com todos os modelos, talvez acreditassem que ela tivesse informações confidenciais… — Parece que nem ele mesmo acreditava na própria teoria, já que deixou a frase morrer. — Mas faz sentido. — Meneou a cabeça.

— Okay, podemos riscar a opção hacker da lista de suspeitos — pontuei, gerando riso nos dois.

— Sim, sem hackers — Nathaniel concordou e passou a mão no rosto. — Você mandou essas fotos pra alguém? — reiterou uma das perguntas de anteriormente.

— Só pra Mari — Júlia respondeu.

— E eu não mandei pra ninguém — complementei e desliguei o fogo, em seguida erguendo as mãos em rendição. — Alguém quer sopa?

Os dois negaram com a cabeça, claramente não querendo misturar um assunto sério como aquele com comida. Bem, sobrava mais pra mim!

Comecei a encher um prato e Nathaniel continuou. 

— Elas estavam em algum outro lugar além do seu celular? — questionou para Júlia. 

— Não, não passei elas pra lugar nenhum — minha amiga confirmou o que eu suspeitava e vimos quando Nathaniel cruzou as mãos em frente ao queixo, maquinando.

— Mas não é como se tivessem invadido o celular da Jú, né? — comentei com a colher na mão. Tinha me esquecido do sal. — E nem foi roubado. 

— E você deixou ele em algum lugar? Onde outra pessoa além de vocês tivesse acesso? — Nath continuou o interrogatório enquanto eu me esticava para colocar uma pitada de sal na sopa.

Júlia franziu as sobrancelhas, conectando os pontos na própria mente. 

— Eu sempre deixei o celular na minha mesa quando precisava ir ao banheiro ou falar com você… — Ela pareceu hesitante, porém continuou. Tomei mais uma colherada. — Mas eu lembro que esqueci ele uma vez, depois que todo mundo foi embora. Eu até esbarrei com você — disse para Bonnet.

— Eu me lembro desse dia, você ficou até depois do seu horário — pontuou ainda com as mãos em frente ao queixo.

— Mas se a Jú deixa o celular em cima da mesa, então qualquer um poderia mexer quando ela sai, né? — joguei o contraponto na roda. 

— Mas nesse dia eu estava sozinha no escritório, todos já tinham ido embora — ela retrucou, e tive que dar a chance da dúvida.

— É, nesse caso…

— Eu posso checar as filmagens de segurança desse dia — Nathaniel sugeriu. — E ver se alguém pegou o seu celular. 

— Mas o meu celular estava no mesmo lugar que eu deixei… — Júlia tentou dizer, porém Bonnet a interrompeu.

— É a única pista que temos por enquanto. — Nós duas tivemos que concordar com ele. — Amanhã cedo irei verificar isso. 

Terminei de tomar a sopa e deixei o prato dentro da pia. 

— Por enquanto é isso. Aviso quando tiver mais notícias. — Ele se levantou da cadeira em que estivera sentado.

— Mas já vai?! Você ainda nem tomou minha sopa. — Fiz um bico e apenas vi-o negar com a cabeça.

— Eu preciso ir embora, Mari. Não quero incomodar vocês.

— Não é incômodo nenhum, Bonnet — Júlia disse, se levantando também. — Obrigada — ela agradeceu sinceramente, ganhando um sorriso como resposta.

— Eu posso te acompanhar até lá embaixo, Nath — sugeri, percebendo Júlia passar o dedo pelo canto do olho, e deduzi logo o que estava acontecendo. — Deixa a Jú jantar.

Nath apenas assentiu, dando uma última despedida para ela.

— Volto quando tiver novas informações — finalizou com essa, saindo junto de mim para o hall do nosso andar. — O que foi? — questionou ao ver que eu sorria.

— Nada, é que isso foi tão… Detetivesco. Você realmente parece que encarnou o Sherlock Holmes pra investigar isso. — Passamos a descer o lance de escadas. — E sem piadas dessa vez.

Nathaniel riu pela primeira vez desde que o vi naquela noite. E também era a primeira vez que eu o ouvia rir desde a vez em que saímos juntos… Ele realmente tinha uma risada bonita. Droga, paixonite, por que você não foi totalmente embora?

— Prefiro o Hercule Poirot da Agatha Christie — ele retrucou, me deixando confusa, sem saber que livro era esse. — Mas realmente fico feliz em poder ajudar.

Chegamos ao térreo e abri o portão, percebendo que estava frio do lado de fora. Puxei as mangas da blusa, vendo o carro de Nathaniel estacionado do lado de fora.

— Desculpa pelas coisas que eu falei quando você chegou. — Mudei de assunto, vendo-o parado entre a rua e o prédio. 

— É compreensível, você estava nervosa. — Ele tentou remediar e balancei a cabeça, soltando um respiro fundo.

— Isso é tudo culpa minha, Nath, a Júlia não precisaria passar por tudo isso se não fosse por mim… — Abaixei a cabeça, sentindo a voz vacilar. — Seria melhor se eu nem tivesse vindo pra França…

Senti uma mão no meu ombro e ergui o rosto, encarando-a, evitando olhar para os olhos dourados dele.

— Não diga isso, Mari. Se culpar agora não irá ajudar vocês em nada. — Foi suave na tentativa de me convencer, mas neguei mais uma vez. — Tente consolar a sua amiga, é o melhor que você pode fazer agora. E lembre-se que vocês não estão sozinhas nessa.

Assenti, sabendo que era verdade. Ergui o rosto e Nathaniel retirou a mão de meu ombro.

— Obrigada pelo que você tá fazendo, sério. — Sorri, vendo outro se formar no canto de seus lábios.

Nathaniel saiu para a rua, abotoando o blazer azul marinho. 

— É o mínimo que eu poderia fazer. — Deu um sorriso tímido e desativou o alarme do carro. — Até mais.

Com isso, entrou no veículo e foi embora. Assisti o movimento pacato da rua por mais alguns instantes, até fechar o portão e voltar pra dentro do apartamento.

Agora não era hora de pensar em romances que não deram certos. Principalmente com coisas mais importantes pra resolver e um Nathaniel que sequer tocou no assunto. Era melhor fingir que nunca tinha acontecido.

E melhor esquecer aquele dia de uma vez.

 


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Notas finais do capítulo

Ester:
Agora temos mais gente pra reforçar o time: Nathaniel Holmes! Não, pera -q Palpites? Teorias? Queremos saber tudinho :3
Até mais, povo o/

Bia
Então agora o Bonnet entrou na onda de investigação! Será que ele vai conseguir ajudar em alguma coisa? *emoji pensativo*
Até mais o/



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