Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 16
Capítulo 16- Prenúncio




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Os dias seguintes de treinamento foram semelhantes aos que já havia se passado, sempre repetíamos os mesmos desafios, mas aumentando a dificuldade aos poucos. A água que fluía por meu corpo e desmanchava-se aos meus comandos estava cada vez mais natural e agora não era necessário pensar muito, me concentrar muito, ou fazer tanto esforço, era simplesmente parte de mim. Eu sabia liberar a quantidade e a força da água necessária para atingir meu inimigo sem que perdesse o equilíbrio ou sofresse de algum efeito colateral, como o impulso contrário à força. Tudo foi possível graças aos dois homens que me acompanharam e confiaram em mim durante esse percurso, nos aproximamos cada vez mais e nossos laços também se tornaram mais claros, assim como meu poder.

O dia estava chegando ao fim, bem como meu último dia de treinamento antes de uma batalha decisiva. O céu estava cinza, carregado de nuvens de chuvas que, por coincidência ou não, representava a força da nossa determinação. O clima estava confortável, o vento úmido soprava minhas bochechas e refrescava meu corpo da batalha que acabara de se encerrar. Shizen estava treinando junto dessa vez e todos demonstravam o cansaço e a tensão nitidamente através de nossos corpos.

—Vamos descansar por hoje! – Suna ordena e nossos corpos imediatamente atingem o chão – Devemos estar em boas condições para o que estar por vir.

—Vamos revezar no banho e discutir o plano enquanto jantamos? – Shizen indaga com a respiração acelerada e entrecortada pelas palavras.

—Acredito que assim seja bom. – o loiro afirma – Você pode banhar primeiro Amaya, eu e Shizen ficaremos de guarda como sempre.

O banho dessa vez foi mais cansativo do que costumava ser, já que antes a sensação era de alivio, agora, o silêncio que tomava conta do lugar transformava o momento mais constrangedor do que a própria situação por si só, sem mencionar o clima decisivo de quem estava prestes a desafiar a maior representante de um sistema injusto e cruel. Todos ali possuíam fantasmas que deveriam enfrentar. Suna deveria lutar contra aquela que, através de uma forma distorcida de amor, o fez sofrer mais do que qualquer pessoa no mundo, tirando sua família para sempre de si e o privando da liberdade que o mesmo ansiava. Shizen sempre foi um jovem muito justo, entrou para esse mundo de servir ao Reino para honrar e respeitar seu pai, que um dia fora soldado também. Quanto a mim... Não fazia ideia do status da minha família, se estavam vivos ou mortos, ou pior, sendo torturados pela Imperatriz sádica, perdi minha inocência e meu coração quando vi Rin ser morta da forma mais cruel e covarde que poderia imaginar.

Tive sorte por ter encontrado esses dois grandes amigos, que apesar das dificuldades de cada um, permanecemos tentando alcançar um novo amanhã. A possibilidade de perdê-los durante a batalha também me assustava muito, eles eram, de fato, aquilo que me restou, que querendo ou não, esteve comigo nos momentos mais difíceis e que salvou minha pele várias vezes.

Após todos terem tido seu momento de higiene e reflexão, havia chegado a hora de discutir sobre o que deveríamos fazer e como fazer e nos preparar para aquilo que nos esperava. Suna e Shizen foram os líderes da missão, já que ambos tinham conhecimentos fascinantes a respeito de estratégias, além do conhecimento prévio do Castelo Imperial, daqueles que morreriam sendo fieis a Chikaku e aqueles que iriam ser aliados em potencial para nossa causa.

Estávamos sentados ao redor da fogueira, cada qual com seu graveto e uma carne espetada no mesmo.

—Antes de ir ao Castelo Imperial, seria bom se comprássemos roupas novas, não é mesmo? – Shizen dispara com um sorriso largo no rosto, mas que não parecia sincero – Sabe, as nossas estão bem surradas.

—Eu concordo, deve ter alguma cidade no meio do caminho até lá. Suna? – busco por afirmação.

—Seria legal. – ele é direto, mas sua voz é gentil e suave – Então no caminho iremos comprar roupas que seja apropriadas para essa batalha. Nem todos iremos para o castelo diretamente. – ele olha para Shizen – Preciso que você fique longe, para ajudar Amaya, e até mesmo a mim, a se safar dos soldados fieis.

—Não tenho arma Suna... – Shizen parece decepcionado, sua voz quase não é audível – Eu sinto...

—Não se preocupe, já que iremos comprar roupas, também podemos comprar uma arma para você. – ele coloca a mão sobre o ombro do mais jovem – Eu tenho alguns contatos espalhados por todas as cidades de todos os reinos. – Shizen parece mais aliviado com a informação nova – Eles serão uteis agora. Então você se posicionará à uma distância segura para você, ao passo que também seja útil.

—Entendi. – ele braveja – Serei aquele que dará cobertura para suas ações?

—Sim, em um determinado momento você será obrigado a escolher quem irá dar mais cobertura, porque eu e Amaya vamos seguir caminhos diferentes também.

—Como assim? – pergunto surpresa e com certo medo – Iremos nos separar completamente?

—Chikaku tem reféns, provavelmente Kasai e Kuroi são alguns dos muitos que estarão em suas mãos. Ela não hesitará em usá-los contra nós. Talvez sua família esteja lá – meus olhos se abrem ferozmente quando ouço tais palavras sendo ditas de forma tão sensível e firme ao mesmo tempo – Eu sinto muito, mas devemos pensar em todas as possibilidades.

—Eu entendo... – tento conter minha emoção, mas as lágrimas que se formavam desciam vagarosamente por minhas bochechas – Então quem irá resgatá-los?

—Você. – ele me olha com tranquilidade, mas esboça um tímido sorriso ao ver meu olhar indignado e antes que eu pudesse reivindicar algo, ele dispara – Você irá resgatá-los, ao mesmo tempo eu estarei em direção à Chikaku. Querendo ou não, sou um pequeno ponto fraco nela. Posso usar de minha influência para abalar sua moral enquanto você vem ao meu encontro para enfrentá-la.

—Deixar você sozinho com uma psicopata sádica que demonstra amor por você em forma de tortura não me parece, nem de longe, uma ideia! – retruco frustrada – Você a traiu! Ela está furiosa, não vai querer te ouvir!

—Eu a conheço. – ele tenta mentir, mas seu rosto fica vermelho e ele aperta suas mãos uma contra a outra – Ela vai tentar conversar comigo, não vai querer me matar, pelo menos.

—Isso não é reconfortante agora Suna. – continuo brava, mas tento ser sensata e deixar meus sentimentos de lado por hora – Mas irei confiar em você. – suspiro – Contra minha vontade, claro.

—Isso já é o bastante. – ele sorri mostrando seu lado mais simpático e doce, o que me derrete ao passo que me deixa envergonhada – Eu irei resistir até que você possa vir me ajudar.

—Quando eu devo ir? – Shizen quebra o clima de exclusão com o mesmo.

—Você não deve ir a menos que a situação esteja totalmente sobre o controle. – o olhar de Suna é sério e pesado – É perigoso e...

—Não! – Shizen salta de seu lugar – Eu posso ajudar, não me entenda como fraco ou covarde, não vou deixá-los sozinhos.

—Você não tem poderes. – Suna retruca, o deixando mais irritado ainda.

—Você realmente não vai nos deixar sozinhos. – tento apaziguar a situação – Você estará nos protegendo durante todo o trajeto. – minha mão segura a dele enquanto meu olhar pede para que o mesmo se sente – Será muito difícil lutar apenas contra Chikaku, se mais soldados continuarem a atrapalhar... Entende?

—Era isso que eu estava dizendo. – Suna parecia confuso, o que aliviou o clima e todos caímos na gargalhada, mas essa logo sumiu e a tensão voltou – Espero que vocês fiquem vivos. – sua voz soava trêmula.

—Eu espero que todos nós, – o olho dando ênfase – sobrevivamos.

—Eu realmente me aproximei de vocês nesse breve momento que passamos juntos. – Shizen segurava as lágrimas, o que fez com que meu rosto ficasse molhado com rapidez, enquanto minha boca inchava e meus olhos ardiam.

O silêncio voltou a reinar, juntamente a tensão, mas dessa vez foi diferente, porque fomos capazes de dizer aquilo que queríamos para o outro. O jantar foi calmo e ao finalizarmos, nos forçamos a dormir, para termos energia no dia seguinte. O grande dia. Enquanto meus olhos estavam fechados, derramando pequenas lágrimas por sua lateral, imagens da minha família passavam pela minha cabeça, sendo substituídas por uma Rin sorridente com seu noivo, um jovem soldado de cabelos castanhos retornando para casa e encontrando as pessoas importantes para si, e um rapaz loiro e alto com um sorriso tímido nos lábios enquanto se despedia para sempre de mim. E foi assim que adormeci.


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