Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 15
Capítulo 15- As areias não apagam o passado




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Depois da tempestade me empolguei mais ainda em treinar e dominar meus poderes. Na maior parte do dia, eu ficava sozinha, até conseguir controlar com facilidade, sem precisar de muita concentração quanto no início, e assim que essa primeira parte foi concluída, Suna me pediu para tentar criar jatos de água, já que o máximo que eu poderia fazer antes era afogar uma pessoa incapaz de se defender. Ao contrário do que imaginei, criar os jatos não foi difícil. Eu apenas precisava criar a água com mais força e velocidade, o que claro, no início foi um fracasso, mas que bem rápido já estava sendo bem-sucedida.

Todos os dias eu treinava até a exaustão, não tinha sonhos há tempos e acordava cansada e dolorida, no entanto, minha força de vontade e minha busca por justiça continuava a me fazer prosseguir com certo vigor. Shizen sugeriu que fosse feito um tipo de revezamento, para que eu também aprimorasse minhas técnicas em lutas, assim não iria exaurir tanto meu corpo no que tangia meu poder. Suna concordou, alertando que logo ele iria iniciar o treinamento de combate com os poderes. Basicamente: iria lutar contra Suna e seu tremendo poder para, então, ser capaz de enfrentar as demais lutas que estaria por vir.

De início, Suna lançava alguns jatos de areia com pouca intensidade em minha direção, com o objetivo de que fossem impedidos de alcançar meu corpo, sendo assim, eu criava uma pequena barreira de água para segurar os grãos ali, mas alguns ainda passavam e me atingiam de leve, então repetíamos até o objetivo ser concluído, para então avançarmos um pouco. Em seguida, jatos mais fortes e demorados viam em minha direção, a princípio não importava se eu criava uma barreira de água ou se jogasse um jato de água para ir contra o jato de areia, eu apenas precisava permanecer intacta, sem ser atingida por um grão sequer. O treinamento escalou rápido de nível, e logo apenas as barreiras não eram suficientes.

Como de costume, levantei junto ao sol, fui em direção ao rio e joguei um pouco de água no rosto, observei que minhas mãos tremiam, talvez devido ao cansaço, e também estavam avermelhadas. Mandei esses pensamentos para longe e me virei em direção ao meu local de treino com Suna, que já me esperava impaciente. Dessa vez, apenas bloquear a areia não era suficiente, agora estávamos simulando lutas e, por isso, tanto luta corporal, estratégia e o uso de poderes era necessário. Claro que o lorde não usava todo seu poder, pelo menos por enquanto, mas isso não tornava a situação menos tensa.

—Você está pronta? – como de costume, ele já se prepara – Vamos.

Não respondo, apenas crio uma grande bolha de água e arremesso em seu rumo, o mesmo desvia com um olhar confiante, mas já estou a caminho em sua direção, com punhos cerrados. Ele lança um jato de areia que me persegue mesmo desviando, como um míssil teleguiado. Espero por ele de frente, e quando está próximo o suficiente, pulo sobre o mesmo enquanto lanço um jato de água contra Suna, que desvia novamente.

Embora lançar a água estivesse se tornando natural, o que exigia menos concentração por minha parte e a única coisa que precisava fazer era pensar em como eu queria que a água se comportasse que logo obtinha o resultado, usá-la enquanto luto e tento não ser atingida pelo habilidoso senhor de areias era uma tarefa difícil e desesperadora. Pensar em fracassar com ele me levava a loucura, já que a Imperatriz dos Sentidos tem importantes e fortes aliados ao seu lado. Falhar na luta contra Suna também significava falhar na luta contra aquele monstro.

Suna aproveita meu devaneio e manda uma onda de areia em minha direção que tinha tanta força que era possível ouvir os grãos se chocando uns contra os outros enquanto avançavam contra o alvo: eu. Antes que pudesse pensar, meu corpo se mexeu sozinho e criei uma bolha de água ao meu redor, que barrou boa parte dos grãos e diminuiu o impacto daqueles que a atravessaram. Meus olhos ainda estavam fechados de desespero e reflexo, quando percebi que Suna avançava em minha direção para iniciar um combate corpo a corpo. Me posicionei e defendi um chute na altura do lado esquerdo do meu rosto com o antebraço, aproveitei para segurar sua perna direita com minha mão esquerda, e então usei minha outra mão para criar um jato muito forte de água que saia em espiral, fazendo com que meu corpo girasse e levasse Suna junto. O soltei, arremessando-o para longe, fazendo-o cair rolando pelo chão e imediatamente me preocupo. Penso em correr em sua direção e até mesmo início a ação, mas paro e espero por algum sinal de que a luta iria continuar. Suna não se mexe por mais alguns minutos e decido ir até o mesmo, ao me aproximar, uma onda de areia novamente me acerta e me derruba ao seu lado, fazendo com que alguns grãos entrassem em meus olhos e também em minha boca. Suna se levanta.

—Não deveria demonstrar compaixão ao inimigo! – ele afirma enquanto sacode a poeira da roupa – Por isso você perdeu, deveria ter me atacado com tudo.

—Acontece que isso não é uma luta real Suna! – me levanto frustrada ao mesmo tempo que tento amenizar o incomodo dos meus olhos – Eu fiquei preocupada com você!

—Era uma luta, deveria ter esperado ela acabar para manifestar sua preocupação.

—Ela havia acabado quando você ficou imóvel no chão depois de eu ter te arremessado com toda minha força! – falo alto, quase gritando e com muita mágoa na voz – Quer saber? Vamos parar por hoje, o céu está começando a mudar de cor e eu quero banhar no rio enquanto ainda é possível ver a luz do dia.

Me viro e parto para a caverna, frustrada e com muita raiva. Meu corpo estava dolorido do impulso do golpe que usei e meu orgulho estava ferido por ter perdido a luta de forma tão trivial.

—Ser derrotada por me preocupar com ele... – murmuro sozinha – Que estúpido!

—Oi! – Shizen chega com todo aquele ar otimista que, ás vezes, me irritava – Como foi o treinamento hoje? Percebi que Suna tá acabado e...

—Não enche Shizen! –exclamo enquanto parto em direção ao rio – Irei banhar no rio, por favor, não saia da caverna.

—Eu ein... – ele coça a cabeça e observa minha silhueta se afastando – Agora tô confuso.

—Ela perdeu. – Suna adentra o ambiente e fala naturalmente – Conseguiu me derrubar e confesso que o espanto por tal feito me deixou sem reação por um tempo, ela se preocupou e correu em minha direção, para me socorrer.

—Ah não... – Shizen balança a cabeça negativamente, interrompendo o lorde – Me diz que você não derrotou ela dessa forma...

—Aproveitei para ensinar uma lição a ela. – o loiro parecia confuso com a fala do amigo.

—Suna! – ele o chama indignado – Ela foi te ajudar, já não era um treinamento mais. – dá de costas e começa a preparar a fogueira e a comida –Tem razão do mau humor...

Enquanto me despia para banhar, observei que o sol estava se escondendo mais rápido do que gostaria e o céu já apresentava uma coloração de avermelhada e roxa. A água do rio estava gelada, mas o suficiente para refrescar e não congelar de frio. Aproveitei esse momento para brincar um pouco com meu poder e tentei criar diferentes formas com a água, além de bolhas, jatos e tubos, eu não havia tentando mais nada. Então, imaginei uma ponte simples que ficaria por cima de um pequeno riozinho e consegui. A empolgação tomou conta do meu corpo e para tirar minha mente do motivo de estar ali, brinquei por mais algum tempo, criando pequenos animais e até mesmo bonecos que dançavam conforme o vento soprava.

Em um momento especifico, percebi pelo canto do olho, que Suna estava sentado de costas para o lago, com os braços cruzados e as pernas abertas, se apoiando em uma pedra que ficava por ali. Sempre que banhávamos era uma preocupação muito grande caso fôssemos atacados, então alguém sempre tentava ficar de olho na situação, normalmente Shizen era o escolhido para estar à postos nesses casos, ele sempre me avisava que ficaria de costas pro lago, apoiando em uma das várias árvores que estavam por perto. Ele é um homem muito alegre e extrovertido, mas leva tudo que eu digo muito a sério, quando pedi para que o mesmo não saísse da caverna, deve ter pedido ao Suna para assumir seu cargo, pelo menos por hoje.

Embora a água estivesse gostosa e reconfortante, não poderia passar a noite dentro dela, então me retirei e vesti meus trapos de roupas. Voltei para a caverna apenas para encontrar um Suna entediado, brincando com os próprios dedos enquanto aguardava meu retorno. O loiro adentrou a caverna assim que eu o fiz e se sentou ao meu lado, me entregando um espetinho e insinuando que eu deveria comer.

—Shizen acha que minha atitude de mais cedo não foi condizente com o que era esperado que eu fizesse. – Suna dispara meio cabisbaixo – Você ficou ofendida?

—Desculpa? – falo com ironia – Meu tom de voz e minha fala não deixou isso claro antes?

—Pensei que estivesse brava por ter perdido de novo. – Ele olha nos meus olhos – Você não lida muito bem com derrotas.

—Já entendi. – corto ele, seu olhar me constrangia – Talvez eu tenha tido uma reação mais exagerada do que deveria, mas somos amigos agora, certo? – ele confirma com a cabeça, confuso – Sendo assim, me importo com você e não queria ser responsável por te ferir.

—Mas seu rosto está cheio de arranhões que a areia casou. – sua voz parece neutra, mas sua expressão ainda é confusa – Machucados acontecem em treinamentos, e está tudo bem.

—Certo, certo. – o cortei novamente – Só vamos deixa isso de lado, ok?

—Não sei reagir a isso. – ele afirma baixinho e olha o jovem e inocente soldado com a boca cheia, enquanto aponta em minha direção – Shizen, isso é culpa sua.

—Ok. – disparo para logo em seguida mudar o foco do assunto – Sempre tive curiosidade em saber sobre seu relacionamento com Chikaku. – ele me olha impaciente – Enquanto estávamos no alojamento sempre ouvia comentários sobre o ciúmes dela para com você.

—Chikaku é perturbadora... – ele fita o chão e mexe com suas mãos – Os tempos que passamos com ela foram os piores da minha vida. – agora seu olhar passa por Shizen e repousa em meus olhos – Depois do que mencionei para vocês, ela não deixou que eu visitasse minha família por 4 anos, e depois de insistir muito, ela concedeu para mim e Kasai, três dias com nossas famílias. Ficamos muito empolgados com tudo isso e estávamos ansiosos para ver todos novamente. Ela não gostou disso...

—Disso? – impulsivamente pergunto e me aproximo mais um pouco do mesmo – De vocês visitarem suas famílias?

—Não, ela não gostou de que outra pessoa pudesse ser o motivo da minha felicidade senão ela. – seu olhar volta para Shizen – Chikaku gosta de todos aqueles que a servem, mas seu gostar é um pouco distorcido do que eu considero aceitável. Shizen sabe disso, porque ele também já foi um dos que esteve próximo à ela.

—Não como você lorde. – seu lado cordial retoma com a vinda do assunto – Eu não passei por tudo que você passou...

—Bom, ela ficou furiosa com meu interesse por outra pessoa e quando voltei para o Castelo Imperial ela me prendeu no quarto por uma semana, fez o mesmo com Kasai, no entanto, ele foi libertado dois dias antes de mim. Quando sai... – sua voz é embargada de sentimentos – Ela me avisou que eu não poderia voltar a ver minha família, e ao perguntar o motivo daquela decisão, ela sorriu e disse: você não pode se interessar por mais ninguém, eu sou o suficiente para você, então os matei.

—Suna... – o silêncio preencheu o lugar – Eu sinto muito...

—Eu estava acostumado com as torturas e o jeito assustador que ela olhava para mim enquanto dizia que me amava, mas... minha família não merecia isso.

O clima estava difícil de suportar, Suna se levantou e andou em direção a entrada da caverna, dessa vez Shizen se juntou a ele. Eu não conseguia me mexer, havia uma mistura de emoções e sentimentos em mim: eu sentia muito por ter tocado no assunto tão casualmente, sentia muito por Suna e os outros terem passado por essas situações, me sentia estúpida por um dia ter dito que a dor deles era inferior a minha, e não conseguia segurar minhas lágrimas, não somente por ele, mas por temer que a minha família já não existisse mais. Nesse momento me senti muito egoísta e as lágrimas queimavam meus olhos enquanto umedeciam minhas bochechas.


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