Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 12
Cuidado ao mandar mensagens no ZupZup




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Corria com o máximo de velocidade e furtividade que a idade permitia e a experiência lhe proporcionava no meio da escura noite sem lua. Dava alguns passos entre um local e outro que usava de esconderijo entre as sombras geradas por lugares não atingidos pelas luzes da iluminação pública. Permanecia por alguns minutos imerso nas sombras noturnas e levantava a cabeça da forma mais discreta possível para verificar se estava ou não sendo seguido.

Até o momento, tudo corria bem. Perfeito.

Chegaria ao seu destino sem problemas, não estava muito longe.

Passou de detrás de um tapume de construção rapidamente para um beco, no qual se escondeu dentro de uma lata de lixo. No dia seguinte seria coleta de lixo reciclável, então não correria o risco de chegar fedendo onde queria.

Aguardou mais alguns minutos até ter certeza de que tudo estava limpo. Saiu da lata de lixo e correu furtivamente até alcançar finalmente seu destino.

O Shinsengumi.

 

*

 

Assim que acordou e tomou o café da manhã, saiu para a rua. Depois da conversa que tivera na véspera com sua contraparte do passado, Gintoki se sentia um pouco mais revigorado. Conversar consigo mesmo o ajudara a começar a lidar melhor com os temores e as dores que o dominavam naquele momento.

Percebia que faltara muito pouco para sua alma realmente se partir como a katana de Ginmaru se partira ao enfrentar aquele Yato.

E, por falar nisso... Após aquela conversa com seu outro eu, passou a noite na Yorozuya. Ao conversar com Kagura, a garota relatou que achava estranho que o tal Yato já estivesse naquele modo bestial desde o início da luta. E ela, mesmo protegendo Ginmaru, conseguiu dominar perfeitamente seus instintos para não ocorrer o mesmo. Aliás, desde que se lembrava de como a Kagura de sua linha temporal era, soube que ela perdera o controle sobre si apenas uma vez, enquanto ele enfrentava Housen em Yoshiwara. E isso, porque depois Shinpachi lhe relatara.

Era realmente muito estranho tudo isso. Será que o Pattsuan do Shinsengumi tinha alguma informação a respeito? Esperava que sim. Aliás, aqueles devoradores de impostos também tinham seus próprios rolos para resolver.

Sem contar o Mayora Jr., que seguia sendo uma incógnita.

Esperava também alguma atualização sobre a situação de Yoshiwara. Das três áreas de Edo em risco de receber ataques por oferecerem resistência aos darkenianos, aquela área era uma das mais bem guardadas. A Hyakka era uma força de combate formidável, não somente por ser liderada por Tsukuyo. Eram mulheres bem-treinadas e poderosas o bastante para intimidar os inimigos. Claro que a liderança da Cortesã da Morte era essencial, mas cada uma das integrantes era forte a seu modo.

Mesmo assim, se preocupava com a loira. Seu envolvimento com Tsukuyo só fizera com que os laços que os ligavam ficassem mais estreitos. Percebera isso na véspera, quando ela ficou com ele enquanto Ginmaru recebia os primeiros atendimentos. Por outro lado, seu envolvimento amoroso com ela a fazia correr certo perigo. Aliás, todos ao seu redor corriam perigo. O inimigo sabia que ele fora o homem capaz de matar o líder máximo dos enjilianos.

Poderia simplesmente sumir de Edo, para que ninguém fosse afetado por sua causa? Sim, poderia. Já cogitara várias vezes nos últimos dias e estivera na iminência de fazê-lo nas últimas horas. Mas havia uma coisa que o impedira de tomar tal atitude. Uma coisa que sua versão mais jovem o fizera resgatar do fundo de sua alma.

O seu bushido.

“Você vai seguir a porcaria do seu bushido como aprendeu quando era criança!”

Há trinta anos havia deixado de ser oficialmente um samurai, daqueles que portavam uma katana o tempo todo. Mas sua alma sempre fora a de um samurai e nela estava gravada seu próprio código de honra, seu próprio bushido. E esse seu código de honra lhe dizia principalmente para proteger tudo o que amava e prezava.

Sua alma tinha tantas marcas, tantas cicatrizes que mostravam o quanto ele havia lutado, mas havia vencido aquelas feridas, aquelas dores. E venceria as que viessem também. Por Ginmaru, por Shinpachi... Por Kagura também, mesmo ela não estando mais no mundo dos vivos. Pelo Distrito Kabuki, seu lar. E por Tsukuyo, cujo amor descobrira.

Sua espada, fosse de aço ou de madeira, mais uma vez seria empunhada para proteger aqueles que lhe eram queridos.

Não iria mais permitir a si mesmo se acovardar!

Esses pensamentos lhe ocorriam de tal modo que nem percebeu que havia feito todo o trajeto da ferraria de Murata Tetsuko até o hospital. Havia feito uma escala para deixar com a ferreira a katana do filho para fazer os reparos necessários na lâmina. Era uma excelente katana, como a que ele usara para enfrentar a Benizakura nas mãos de Okada Nizou. A katana de Ginmaru tinha uma lâmina e tanto, pois fora com ela que vencera Kasler. Era uma espada simples, mas eficaz nas mãos certas. Shinpachi o havia ensinado muito bem a manejar uma espada daquelas.

Adentrou o local onde Ginmaru estava e recebeu a informação de um dos médicos de que o jovem estava tendo uma evolução lenta, mas a princípio era consistente. Ainda precisava respirar com ajuda, mas começava a responder bem ao tratamento e os sedativos foram reduzidos. As previsões otimistas faziam com que seus temores tivessem menos peso em suas costas.

Era meio cedo para comemorar? Sim. Mas precisava ser otimista. Aquele moleque era filho do lendário Shiroyasha, que lutara e sobrevivera a duas grandes guerras.

Sakata Ginmaru era seu filho, do qual sempre se orgulhava e sempre se orgulharia.

 

*

 

No chão, ao seu lado, o smartphone acendeu a tela, emitiu um toque e vibrou. O Comandante Shimura pegou o aparelho, desbloqueou a tela e abriu o aplicativo de mensagens. Recebera mensagens que lhe traziam certa tranquilidade e permitiriam ter um pouco mais de foco para se preocupar mais especificamente com o Shinsengumi.

O número do remetente era de Ginmaru, mas sabia que o telefone estava nas mãos de outra pessoa:

 

“Quatro-Olhos,

Aqui em Kabuki parece que tá tudo calmo. Levei a katana de Ginmaru pra Tetsuko consertar. Ele está evoluindo devagar. O pessoal do passado está bem. Qualquer novidade te aviso.

Gintoki.”

 

Discretamente, respirou aliviado. Seria uma preocupação a menos e esperava que o próprio Gin-san também estivesse melhor de tudo aquilo. Encontrá-lo no hospital fez com que ficasse alerta, pois percebia o quanto ele estava mal.

Outro toque do telefone. Abriu novamente o ZupZup, era outra mensagem.

 

“Pattsuan,

Àquela hora que saí do hospital, tive uma conversa com meu outro eu e mudei de ideia. Cara, eu não sei onde tava com a cabeça!

Gintoki.”

 

Isso parecia ser um indício de que seu ex-chefe estava bem melhor do que na véspera. Fosse lá o que o Gin-san mais jovem dissera a ele, deve ter funcionado. Nem bem bloqueara a tela do aparelho, ele tocava alertando nova mensagem.

O ZupZup não parava.

 

“Shinpachi-kun,

Eu de novo. Só queria agradecer por ontem. Obrigado mesmo.

Gintoki.”

 

Aquela mensagem de gratidão o fez sorrir. Significava que ele realmente estava melhor, e isso o tranquilizava de verdade. Era um alívio.

Mal fechara o ZupZup e outra mensagem chegou. Talvez fosse de outra pessoa. Abriu o aplicativo e viu que era o número de Ginmaru. Gintoki não tinha muito interesse em ter o próprio smartphone, alegava preguiça e falta de paciência de ficar mexendo no aparelho. Apesar disso, usava o aparelho do filho para poder informar a situação dos últimos dias. Aprendera a manusear para poder facilitar o contato dos possíveis clientes para pedir serviços da Yorozuya Gin-chan, como opção ao telefone fixo.

Abriu a mensagem e deu de cara com uma foto um tanto quanto constrangedora. Gintoki havia tentado sensualizar fazendo uma selfie com pinta de galã, com direito a camisa aberta, piscadela e tudo.

 

“Gin-san, que negócio é esse?!”, ele questionou na mensagem.

“Ops, número errado! Era pra Tsukuyo! Faz de conta que não viu!”

“Presta atenção pro número que tá mandando! Não consigo mais desver essa foto!”

“Só faz de conta que não viu, Quatro-Olhos!”

 

Saiu do ZupZup e bloqueou a tela, deixando o telefone ao lado de sua katana. Ajeitou os óculos e olhou para a frente. Todos os homens do Shinsengumi estavam encarando seu atual comandante e, na fileira da frente, Kondo, Okita, o Hijikata de sua linha temporal e o Hijikata vindo do passado mostravam expressões meio constrangidas.

Shinpachi havia feito a troca de mensagens no meio de uma reunião importantíssima e havia esquecido esse pequeno detalhe. Empertigou-se, recuperando imediatamente sua compostura como comandante em exercício. Ajeitou os óculos novamente, realçando uma expressão mais séria e imponente no rosto.

A reunião precisava ser retomada e Shinpachi chamou mais uma pessoa para adentrar o recinto.

O veterano Yamazaki Sagaru havia regressado de sua missão de espionagem e iria relatar suas observações no período em que estava infiltrado no lado inimigo.


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