Until My Last Breath escrita por Lady
Notas iniciais do capítulo
Nota esclarecedora: Nico [no início de HdO] era um adolescente de recém 14 anos. Ele já "frequentava" o acampamento Meio-Sangue. Quando a saga terminou ele ainda tinha 14, mas "mais próximo do 15". Então, Nico aqui tem 16 anos [dois anos de 'campista normal'], e 1 ano e meio de namoro com o Will porque no livro O Oráculo Oculto Nico e Will tem 15 anos.
Daí o Jason era dois anos mais velho que o moreno, ou seja, ele tem 18 anos agora. Entenderam?
Jason olhava curioso para Nico.
O amigo estava a bons cinco minutos andando de um lado a outro dentro do chalé 13 e parecia ansioso com algo. Ele sabia que Nico tinha algo a contar, os olhos castanhos do italiano brilhavam em alegria e ele não conseguia esconder o sorriso alegre da face. Mas, toda vez que Nico parava de andar e tomava fôlego para dizer algo, as bochechas se tingiam de rosa e ele travava.
— Calma Nico! — Jason disse. — Respira fundo e me conta o que aconteceu.
Nico mordeu o lábio inferior e se sentou na cama de frente a Jason. Durante os dois anos que se passaram desde a guerra contra Gaia e a estadia de Nico no acampamento, e também as longas temporadas que o loiro passava no lado grego, os dois se tornaram grandes amigos.
Na verdade Jason já era o melhor amigo de Nico e mesmo inconscientemente, o moreno confiava no rapaz.
— Ele disse... — falou tão baixo que Jason quase não escutou.
Nico não falou mais depois daquilo. As bochechas ruborizadas denunciavam a vergonha dele, mas o sorriso e os olhos brilhantes diziam que mesmo envergonhado, Nico estava feliz. Jason demorou apenas alguns segundos para entender o que ele dizia.
E quando entendeu, abriu um sorriso enorme. Sem pensar muito, ele pulou da cama e puxou Nico para um abraço apertado.
— Pelos deuses! Não acredito! — o tom de voz aumentava gradativamente. — Eu to tão feliz por você!
Quando o loiro soltou Nico, o menor tinha um rosto extremamente vermelho. Jason gargalhou alto e deu tapinhas nos ombros de Nico.
— Relaxa, Nico — brincou. — Vem, vamos conversar lá fora.
Nico suspirou e assentiu. Aos poucos a coloração natural voltava ao seu rosto e os batimentos cardíacos se acalmavam. Conversar sobre aquilo ainda era muito difícil para si, mesmo sendo com Jason, a pessoa que mais o apoiou quando descobriu seus sentimentos pelo Solace.
Ambos os rapazes andavam lado a lado. Vez ou outra, alguns campistas os cumprimentavam e voltavam as suas atividades. Jason esperava o momento que Nico se sentiria mais confortável para iniciar a conversa e sorria abertamente. Ele quase sempre estava sorrindo.
— Onde ele foi afinal? — perguntou quando viu que Nico não iria começar a falar.
— Ao Mc Donalds — Nico respondeu e sorriu de novo.
Jason estava feliz por Nico. Ele via o quanto o filho de Apolo fazia bem ao amigo. Desde quando os dois começaram a namorar Jason via Nico sorrir mais, usar cores vivas, ser menos sombrio e se tornar um adolescente comum a cada dia que passava.
Jason se sentou num toco de frente a lareira de Héstia e chamou Nico para se sentar ao seu lado. Aquele local não estava tão movimentado e dava um pouco mais de segurança para eles conversarem. O sol da tarde estava escondido por entre algumas nuvens e o vento fresco tornava àquela hora do dia mais suportável.
— Hoje de manhã, quando eu e Will estávamos juntos... — Nico ruborizou levemente e desviou os olhos para a lareira. — Nós sentimos que Afrodite nos abençoou.
Jason, que fitava atentamente Nico, arregalou os olhos azuis e tampou a boca escancarada. A vontade que tinha, era a de abraçar Nico e dizer o quão feliz estava por ele. Entretanto ele sabia que aquela atitude seria totalmente reprovada pelo moreno.
— Uau — foi apenas o que disse. A incredulidade estava estampada na face e o sorriso não saia da boca. — Eu estou realmente feliz por você, Nico!
Nico respirou fundo e averiguou se não havia ninguém que pudesse escutar o que falaria a seguir.
— Eu queria fazer uma surpresa pra ele essa noite — segregou baixinho. A face num tom violento de escarlate.
Jason tombou a cabeça para o lado e depois de compreender o que Nico dizia, riu com gosto. Lágrimas caíram de seus olhos azuis elétricos e a barriga doeu.
— Vocês ainda não...? — não foi preciso terminar a pergunta. A face corada e raivosa de Nico já dizia tudo.
— Dá pra parar de rir? Eu tô falando sério aqui! — gritou o mais novo.
Jason respirava fundo para tentar parar de rir. Limpou as lágrimas dos olhos e se ajeitou melhor no tronco da árvore.
— Desculpa — falou ainda sorrindo. — Continua o que você tava dizendo.
Nico respirou fundo e enfezou o rosto. A combinação de cara amarrada e bochechas rosadas fizeram Jason querer colocar Nico num ambiente seguro para sua inocência dos anos 70.
— Toda vez que a gente começa a esquentar o clima, sempre tem alguém que atrapalha... Dá última vez Quíron apareceu no chalé 13 bem na hora que nós dois estávamos sem blusa e Will estava tirando minha calça... — Nico escondeu o rosto entre as mãos e corou fortemente ao lembrar-se da cena embaraçosa.
Jason, como um bom amigo, gargalhou com vontade ao imaginar o flagra de Quíron. O simples fato de que Nico e Will tiveram seus momentos quentes sempre interrompidos já era engraçado o suficiente para o loiro.
Nico cruzou os braços magros e esperou até que Jason terminasse o surto de risos. Ele não achava nada daquilo engraçado e ver o quanto Jason parecia se divertir com aquilo estava começando a incomodar o moreno.
— Já acabou? — perguntou revoltado assim que o amigo cessou os risos.
— Ai Nico... — Jason ainda riu um pouco e tomou fôlego para falar com o mais novo. — Desculpa os risos, mas é que é muito engraçado ver você falando dessas coisas e saber que Quíron pegou vocês dois no maior climão.
Nico bufou exasperado e revirou os olhos, já começava a se arrepender de ter procurado Jason para lhe ajudar.
— Mas o que você quer saber? — o loiro perguntou depois de se recuperar e perceber que aquele era um assunto sério para o outro.
— Ainda não sei ao certo o que fazer... — a frase não terminou e Nico suspirou derrotado. Aquilo seria mais difícil do que imaginara.
— Bem, eu não posso te ajudar muito com isso — Jason confessou. — Mas você já sabe quem vai ser o passivo? Aquele que bem... Você sabe... Vai ser p-penetrado...
Nico corou e não foi preciso Jason perguntar de novo.
— Okay... — o loiro riu constrangido. Nunca imaginou que estaria tendo aquela conversa com Nico. — Pra início de conversa tem que usar a camisinha.
Nessa hora um pequeno grupo de garotas passou e deu risadinhas maliciosas ao escutaram a fala do loiro. Nico se afundou ainda mais no lugar e pôs as mãos no rosto vermelho.
— E tem que ter lubrificante pra ajudar na penetração — Jason continuou a falar alheio com o rapaz que mais parecia um pimentão ao seu lado. — Vocês dois tem que estar confortáveis e as preliminares são indispensáveis... Nico? O que houve?
Jason estranhou a reação repentina do moreno. O rosto antes vermelho, agora estava pálido e estático. As mãos tremiam e a respiração estava desregulada. Nico levantou-se do toco e as pernas bambearam, os olhos estavam lacrimosos quando miraram Jason.
Ao seu redor o chão enegrecia. A grama verde murchou e morreu, o ar ficou gelado e Jason sentiu o chão tremer e dele grotescas rachaduras partirem o gramado murcho. A cena era bem parecida com a que ele presenciara quando Nico havia sido forçado a revelar sua queda por Percy Jackson. Entretanto a que se desenrolava à sua frente era bem pior.
Nico caiu de joelhos e suas mãos tocaram o gramado já morto. Uma áurea lúgubre envolvia o filho de Hades e sombras se propagaram por todo o acampamento. Jason sabia que algo havia acontecido ao amigo porque Nico jamais se descontrolaria daquele jeito por pouca coisa. Viu lágrimas caírem pesadas pelas bochechas pálidas do rapaz e se agachou perto dele.
— Nico? — chamou e não teve resposta.
Os olhos estavam opacos e Jason se sentia enjoado e melancólico em apenas estar perto do menino. As ondas de dor e desespero que o atingiam eram muito fortes e o loiro se questionava o motivo daquilo tudo. O corpo de Nico tremia e as mãos agarravam a grama morta.
Foi então que Jason notou que o sol já não estava brilhante no céu e nuvens negras tomaram conta daquela imensidão azul. Um raio ribombou no céu e uma forte chuva caiu no Acampamento Meio-Sangue. A escuridão se intensificou e os gritos assustados dos campistas tiveram início.
— Mas o que...? — sussurrou confuso. Nico chorava ao seu lado e a chuva parecia se intensificar ainda mais.
Jason sabia que aquilo não era, nem de longe, normal. O dia não estava propício para chuvas e, se reparasse melhor, apenas no acampamento chovia. Zeus estava nervoso, ele percebia apenas pela frequência dos raios. Seus pelos se eriçaram pelo o que podia vir a acontecer e a mera possibilidade de uma nova grande profecia, fazia o loiro ter calafrios.
Ouviu um sussurro dolorido de Nico e olhou atento ao amigo. Os olhos opacos assustaram Jason.
— Eu senti... — a voz quebrada e soluçada de Nico preocupou o loiro. — Jason, eu senti! Por favor, me diz que não é verdade...
A cada soluço, o mais velho via a escuridão envolver ainda mais o corpo de Nico e o rapaz ficava cada vez mais pálido. A grama negra tremeu nas mãos do menino e outra rachadura apareceu, porém com algumas pequenas mãos esqueléticas se esticando para fora. Jason olhou horrorizado e sentiu o coração palpitar mais forte.
O garoto soluçava e os cabelos negros grudavam na testa devido à chuva. A face cada vez mais pálida preocupava Jason.
Então Nico desmaiou e os esqueletos caíram ao chão.
*
Seis seres celestiais estavam reunidos na sala do trono.
Uma mulher jovem e de aparência bela andava de um lado a outro, irritada com algo. Sentado num trono dourado com esculturas em forma de sóis, estava um adolescente em roupas despojadas e com uma harpa em mãos, a melodia ressoava triste por toda a sala.
— Inadmissível! Como puderam fazer isso? — o tom de voz perigoso da bela mulher arrepiou as três velhas que estavam reunidas a frente do trono do rei dos deuses.
— Foi um engano — Nona falou. A voz estava límpida e a postura altiva demonstrava que ela estava aberta para a consequência que aquele erro custaria.
— Meu filho — o adolescente gemeu sofrido. — Meu menino... Moiras vocês têm noção do erro cometido?
Nona respirou fundo e se voltou para o rapaz loiro.
— Oras, era apenas um semideus. Vocês deuses estão sempre entre os mortais fazendo mais filhos a cada momento — o som da harpa parou e o ar pesou na sala do trono.
Apolo estreitou os olhos para Nona e se levantou do trono. Os olhos azuis faiscavam perigosamente, a aljava dourada do deus surgiu em suas costas e os dedos tremeram para apontar uma flecha para as três moiras inconsequentes.
— Apolo, guarde a aljava — Zeus se pronunciou. Os olhos tempestivos miraram as moiras e a estática ficou no ar.
Sem perceber, Zeus fazia chover no acampamento Meio-Sangue. Era uma chuva pesada, melancólica e que anunciaria a morte de filho de Apolo. O deus do sol falava tanto de seus filhos que todos no Olimpo conheciam os que mais o ajudaram e lhe deram apoio Austin Lake, Kayla Knowles e Will Solace com seu maravilhoso (segundo Apolo) dom da medicina.
Foi um choque para o loiro olimpiano descobrir que as moiras haviam errado o fio da vida e por consequência agora Will estava morto.
— Tragam meu filho de volta a vida! — Apolo vociferou e foi prontamente repreendido por Zeus.
— Moiras, não entendo como puderam cometer um erro dessa magnitude — o rei dos deuses falou. — A partir de agora, vocês ficarão confinadas aqui no Olimpo para serem supervisionadas de perto e não receberão mais nenhuma regalia por duzentos anos. Talvez assim repensem o erro e não repitam novamente.
Nona suspirou e assentiu. Sabia que aquela punição era justa, então não teve como reclamar. Errar o fio da vida já era terrível, mas cortar por engano o fio de um semideus promissor e abençoado por um deus era ainda mais terrível.
Então, em meio a uma fumaça cinzenta, as moiras sumiram da sala do trono e apenas os três deuses permaneceram por lá, num silêncio incômodo.
— Apolo! — Afrodite falou depois de segundos na quietude e andou elegante até o adolescente que voltava a tocar uma melodia melancólica na harpa. — Você tem aquele filho... Esqueci-me do nome dele, mas ele pode fazer a cura da morte!
Como para frisar que ele ainda não havia pensado naquela possibilidade, os olhos azuis do deus brilharam em compreensão e um sorriso contente emoldurou os lábios do rapaz. Como não havia pensado naquilo?
— Sim, sim! Asclépio com certeza nos ajudará! — falou animado.
Um trovão chamou a atenção dos dois deuses para Zeus. O homem olhava sério ara Apolo e Afrodite e tinha uma tempestade em seus olhos. O ar autoritário que emanava dele fazia qualquer um temer o poder dele. Qualquer uma menos a única mulher naquele recinto.
— Vocês não reviverão um semideus. Isso é estritamente proibido. Se eu souber que um de vocês reviveu Will Solace, sofrerão as consequências — ditou sério.
Apolo olhou incrédulo o pai e tomou fôlego para protestar.
— Me conteste para ver, Apolo — o tom perigoso arrepiou a espinha do deus do sol. — Tu acabaste de voltar para o Olimpo, já quer virar mortal de novo? Garanto que desta vez, farei com que fique décadas por lá.
O loiro olhou inconformado o pai, mas se calou. Respirou fundo e se retirou da sala do trono. O silêncio voltou a preencher aquele local e Zeus viu Afrodite andar até si, o barulho dos saltos femininos ecoavam por todos os cantos daquele salão e o olhar voraz da deusa dizia quão irritada ela estava.
— Tu achas mesmo que vai me impedir de fazer algo a respeito desse erro ridículo das moiras? — perguntou com o tom de voz baixo. Uma sombra passou pelos olhos coloridos dela e um ar perigoso tomou conta do lugar.
Já se fazia séculos, talvez milênios, que Afrodite não se descontrolava com algo. Zeus arqueou as sobrancelhas e fitou a deusa a sua frente.
— Chega a ser patético você achar que pode me dar uma punição! Já me basta eu ter me calado quando tu quiseste me casar com Hefesto! — grunhiu irritada. — Eu sou uma deusa primordial!
E, pela primeira vez em milênios, Zeus viu Afrodite reivindicar seu poder e importância a muito negligenciada.
— Eu sou a primeira cria da separação da terra e do céu, sou filha do começo. Antes mesmo de Réia pensar em ter vocês deuses, eu já andava por esse mundo. Vivi a Era de Ouro, fui venerada na Mesopotâmia, Chipre e em outras culturas que vocês deuses nem ao menos conhecem. Posso ter aparecido a vocês depois de tu ter derrotado Cronos, mas não pense que só por isso eu não tenho poder ou influência sobre os humanos e seres imortais — a deusa falava baixo, a voz era carregada de ameaças implícitas e uma promessa contida. — Já me cansei de ser rejeitava por vocês, deuses que se acham no controle de tudo. Lembre-se que muito antes de vocês nascerem, já existiam estátuas e poesias sobre mim. Sou tão antiga quanto Cronos e tão perigosa quanto ele.
Zeus olhava abismado para a deusa e sentia a raiva pelas ameaças da mulher. A estática estava solta pelo ar e qualquer um que entrasse na sala do trono veria que o clima era tenso. Os deuses se encaravam mortalmente e cada um ameaçava o outro silenciosamente.
Por fim, Afrodite sorriu presunçosamente e olhou de cima a baixo o homem de terno e barba aparada.
— Tente me impedir e tu verás uma nova guerra se ascender neste Olimpo — falou perigosa — Lembre-se que os homens, mesmo os deuses, matam e morrem por amor.
E com essa frase, Afrodite sumiu deixando no ar um perfume adocicado e uma ameaça velada ao senhor dos céus.
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Até o próximo!