— Tá sentindo alguma coisa, mãe? — Rose perguntou a Hermione, estranhando a forma como a mãe agia à mesa.

— Não, meu amor. Está tudo bem — respondeu ansiosa, colocando requeijão nas fatias de pão da menina.

— O seu Rony já acordou? — Julie perguntou e Hermione derrubou a faca sobre o prato. As duas olhando para ela com estranhamento.

— Já, sim! — respondeu levemente gasguita.

—  A senhora sabe se ele não vai trabalhar no escritório hoje?

— Não, eu não sei — respondeu ainda mais nervosa e Julie e Rose se olharam em silêncio.

— Bom dia! — Rony saudou às mulheres na cozinha e Julie percebeu a face de Hermione esquentar.

— Bom dia! — ele recebeu a resposta de todas, sendo o de Hermione um pouco baixo.

— O senhor não vai para o escritório hoje?

— Vou sim, Julie, mas dormi muito bem esta noite — Hermione tossiu, aparentando engasgo — Resolvi ficar um pouco mais em casa e aproveitar para levar a boneca do pai para a escola — ele também parecia estranho, Julie percebeu, mas preferiu não comentar. Não sabia o que havia acontecido com os dois desde o último dia em que esteve na casa, mas tinha certeza que havia sido algo importante.

“Por que ele fica falando essas coisas? Não percebe que vai todo mundo perceber?”

“Por que ela está tão estranha? Não percebe que vão notar algo estranho se continuar assim?”

*Após a conversa com Harry*

Rony voltou para casa naquele fim de tarde com os pensamentos confusos. A conversa com Harry havia deixado o ruivo conturbado e sem saber o que pensar ao certo.

Os últimos dias com Hermione haviam sido ainda melhores que os vividos até ali. Ela era, além de uma mãe incrível, uma amiga presente, também uma mulher fantástica, uma amante sem igual.

Apaixonava-se por ela a cada novo instante e não conseguia identificar o quê, verdadeiramente, fazia com que ele se envolvesse tão completamente por aquele sentimento.

Por um longo tempo, Ronald Weasley pensou que não voltaria a se apaixonar, a sentir algo mais forte por outra mulher que não fosse aquela que ele imaginou amar, até aquele momento.

Por anos, aventurou-se com várias mulheres que conheceu em sua vida, oportunidades trazidas pelo seu trabalho, mas nunca se deparou com uma mulher como Hermione, uma que fizesse seu coração disparar daquela forma.

Ela era completa para ele. E suas qualidades superavam, e muito, os seus defeitos. Estar com ela se tornou um refúgio para Rony. Sua família era a representação de uma recarga de energias, a qual ele buscava todos os dias.

Guiou o carro de volta para casa com um pensamento decisivo. Arriscaria seus sentimentos com Hermione e partiria para o tudo ou nada. Levaria em consideração as palavras ditas pelo amigo e não perderia mais tempo. Colocaria tudo para fora, independentemente do que ocorresse em seguida.

~algumas horas depois~

— Está tudo bem?

Rony se direcionou à Hermione, naquele fim de noite. A mulher estava na varanda, diante da imensidão daquela cidade. 

Ela parecia distante em seus pensamentos e se abraçava com seus próprios braços. Ele a abraçou por trás. O vento era frio devido à altura na qual estavam.

— Está, sim! — ela respondeu e a mão foi de encontro à mão dele, acariciando-a.

— Parece tão distante... 

— Só pensando um pouco na vida — virou-se para ele e lhe deu um selinho.

— Gostaria de saber o que se passa na sua cabeça...

— Tenho minhas dúvidas sobre isto — ela sorriu com carinho.

— Por quê?

— São apenas alguns pensamentos… Não é nada que interfira em nossas vidas.

— Hermione... — ele começou um pouco constrangido, nervoso — Preciso falar algo importante com você...

— Rony, não se preocupe comigo sobre as coisas que estão acontecendo entre a gente, porque...

— Não, Hermione... — ele a interrompeu — Você sempre tem algo a dizer quando quero falar com você. Dessa vez eu quero que você apenas me escute, pode ser?

— Sim... — ela parecia nervosa. Rony não saberia dizer o motivo.

— Depois que eu te falar o que preciso, você pode dizer o que quiser e eu vou aceitar sem titubear, tudo bem? — ela afirmou com a cabeça e Rony continuou — Hermione, faz um tempo que eu penso em te falar essas coisas, mas, de alguma forma, por você ser quem você é, eu tive medo. 

“Por muito tempo eu pensei que era um idiota, que estava confundido em meus pensamentos, em meus sentimentos, mas eu sei que não é bem assim, eu sei que não estou louco.

“Você é uma mulher incrível. Sou grato que tenha sido você a compactuar comigo as loucuras impostas pelo meu pai e sou feliz por viver o que temos vivido, mas não estou satisfeito com isto.

“Eu tentei por um bom tempo, mas estava me enganando e isso estava me fazendo mal. Eu sei que você é muito independente em seus pensamentos, em seu jeito de ser. Você é uma mulher incrível e é impossível não se envolver com você.

“Hermione, mesmo que você tenha me mostrado ser uma pessoa bem liberal, como eu não imaginei que fosse, por mais que nosso relacionamento seja o mais estranho possível, isso se compararmos aos relacionamentos que costumamos reconhecer... — ele inspirou profundamente e coçou a nuca — Estou me sentindo um adolescente descobrindo as sensações da vida e me enrolando nas palavras como um bobo... 

“Isso tudo é nervoso e o que eu estou tentando dizer é que eu me apaixonei por você — ele observou os olhos de Hermione se arregalarem — e mesmo que você não sinta o mesmo por mim, não importa. Eu precisava dizer isso pra você. Eu estava me sentindo preso, mentindo para mim e para você. E estou me sentindo bem melhor agora... 

“Então... Pode dizer o que quiser agora, eu vou aceitar sua posição.

— Eu também — Hermione falou como um sussurro, olhando fixamente nos olhos azuis de Rony.

— Você também? — ele perguntou, confuso.

— Eu também gosto de você. Também me apaixonei. Só tinha medo de dizer... Achava que você só me via como uma louca.

— Claro que não... Eu que sempre me achei o louco por tudo o que fiz você passar…

— Você não é louco, Rony, você é um homem incrível que mudou completamente o seu modo de viver depois que seu pai falou aquelas coisas. Não são todas as pessoas no mundo que são capazes de fazer o que você fez…

“ Você fez tudo o que estava ao seu alcance para que os sonhos do seu pai, realizados na empresa, não deixassem de ser dele. Você foi capaz de fazer um contrato incrível dando todas as melhores condições para que uma mulher que você nem conhecia pudesse te ajudar nisso.

“ Você confiou cegamente no seu amigo e na palavra dele, confiando, por ele, em mim também. E ainda foi capaz de se casar com uma completa estranha. Rony, você amou a minha filha mais do que o próprio pai. Você a aceitou como sua sem se importar com nada do que havia acontecido no meu passado. Você é incrível!

“ E por mais que tente esconder por trás dessa carapuça de homem de negócios que fez com que a Gina desconfie de você até hoje, você é inteligente, gentil, amável, carinhoso, companheiro, amigo, sempre me incentiva nas minhas ideias, me ouve, torce por mim… você é a melhor pessoa com quem eu poderia ter vivido toda essa loucura. E eu me apaixonei por cada uma das suas qualidades de modo que os poucos defeitos se tornam insignificantes.

— Hermione…

— Eu só tive medo de falar… me sentia uma idiota por sentir algo assim. Me via como uma louca que vendeu o útero por dinheiro.

— Por sua filha. Você é a mulher mais forte que eu conheço. Nunca se sinta pequena por ter feito isto. Só prova o quão valorosa você é.

— Eu não estou sonhando, estou?

— Não... Você não está…

— Hermione…?

— Hmm?

— Você quer namorar comigo? — ele perguntou com as bochechas vermelhas. Hermione sorriu para ele e, em rápidos instantes, passou em sua cabeça que eram casados, mas não se importou. Olhou em seus olhos e afirmou com a cabeça.

— Sim. Eu quero namorar com você!

Rony selou aquela conversa com um beijo que começou lento e delicado e se aprofundou rapidamente. Em pouco tempo, os dois estavam em seu quarto, aquele quarto dividido que, agora, já não fazia sentido. 

Ali, se amaram. E mais uma vez. O sentimento parecia ainda mais intenso, as sensações estavam muito mais prazerosas. Tudo parecia, finalmente, completo.

~/~

Hermione passou o melhor mês da sua vida nos braços de Rony. Por vezes se sentiu estúpida por não ter falado antes sobre os seus sentimentos, mas, ao mesmo tempo, se perdoava ao considerar a situação absurda na qual estava envolvida com ele.

Agora, tudo parecia um sonho. Rony era o homem mais amável e carinhoso que ela poderia conhecer. Acreditava que aqueles sentimentos só poderiam ser vivenciados em filmes de romance, aqueles que ela já era tão acostumada a assistir.

Mas, não. Ela estava experimentando aquela mágica inexplicável. Sentia-se uma boba, uma adolescente descobrindo as maravilhas de uma paixão correspondida e, como uma boba apaixonada, sentia que tudo o que envolvia Ronald Weasley era perfeito, era incrível.

Incrível até que, naquele fim de junho, depois de tantos bons momentos vividos ao lado do ruivo, ela soube que Chloe Wrigth e que, em breve, estaria novamente na cidade, com Rony.

Hermione tentava ser adulta e madura sobre os seus sentimentos, ainda mais depois de tudo o que vivenciou com Rony, depois daqueles meses intensos, depois de toda a declaração que fizeram um ao outro, mas algo em Chloe a desestabilizava, lhe deixava incomodada.

Agora, novamente naquela varanda onde declararam seus sentimentos um ao outro, lembrando-se dos momentos que estavam vivenciando juntos, ela olhava para a imensidão daquela cidade escura, diante de seus olhos, esperando que Rony, em reunião com aquela mulher desde o início da tarde, chegasse. 

*Dias atrás*

— Como demorou…

— Me desculpa — ele se lançou no sofá, sentando-se ao lado da mulher. Trazia um semblante exausto depois de horas de reunião com acionistas da empresa — O que está assistindo?

— Jogos Vorazes — ela riu com a expressão de surpresa dele.

— Não sabia que gostava de lutas sangrentas e mortes sem sentido…

— Não gosto — ela respondeu acanhada — Mas esse filme é bem mais que lutas sangrentas e morte. Fala de liberdade. Tem muito de problemas políticos…

— Estou impressionado!

— Eu li os livros há alguns dias, Rony — ela sorriu e ele sorriu de volta — E eu gostei bastante da perspectiva. De alguma forma, vivemos nos jogos.

— Uau!

— Que chato você é quando quer… — ela ralhou e o beliscou.

— Mas eu sei que você gosta mesmo das minhas chatices — respondeu e lhe deu um beijo no pescoço.

— Vem… — ela desligou a TV e levantou-se lhe estendendo a mão — Vou preparar um banho quente pra você e te ajudar a relaxar…

— Hmmm… Isso é bem melhor que Jogos Vorazes.

— Bobo…

***

— Hermione…

Rony entrou na sala e ela, tão imersa em seus pensamentos, não notou. O homem, em pé, parado à porta da varanda, chamou por ela, temendo assustá-la.  

— Como foi a reunião? — ela perguntou ao se aproximar. Um selinho tímido sobre os lábios do rapaz.

— Exaustiva, como sempre — ela duvidava. Tentava manter aqueles pensamentos descabidos longe de sua mente, mas não conseguia ignorar a beleza de Chloe e de que eles foram amantes por anos.

— Hermione… O que está te incomodando?

— Nada…

— É a Chloe…

— Não… Não é nada, não se preocupe — ela passou por ele e se encaminhou para a sala. Ele a acompanhou com os olhos — Você vai comer alguma coisa?

— Não — respondeu com receio do que estava acontecendo — Jantamos na empresa.

— Hmmm… Entendo — ela parou alguns instantes antes de continuar — Vem. As crianças já estão dormindo. Vou preparar um banho quente pra você.

Rony suspirou. Ele sabia que não seria fácil desenvolver aquele projeto. Por vezes pensou em cancelar, mas Chloe tinha muitos anos vinculada à sua empresa e os acionistas clamavam por ela. Ela sempre trazia bons lucros para todos. Não sabia o que fazer, mas sentia que aquela maravilha vivenciada com Hermione estava prestes a ruir.